A ESPIRITUALIDADE.







Quando admitimos vida ou existência após a morte, adentramos no mundo espiritual, ou seja, na espiritualidade.

Tomando como pressuposto que exista uma espiritualidade fundamentada por razões de fé, de carácter esotérico ou por razões de temor, essa de carácter exotérico, existe também uma terceira visão de espiritualidade de carácter totalmente individual, não solitária, porem solidária e libertária na sua essência, que chamaremos de maçônica.


A espiritualidade maçônica se fundamenta na crença em Deus, mas se posiciona numa linha de laicismo, pois como citamos anteriormente, a mesma soma a essa convicção, o fato de ser cultivada por homens livres e de bons costumes, ou seja, que apliquem seus discernimentos tanto no plano material como no espiritual, dentro da ética e da moral.

É de conhecimento geral a origem cristã da Maçonaria Operativa e apesar da descristianização que ocorreu na Maçonaria Especulativa, parte por parte da maçonaria inglesa, pela deliberação de criação de uma porta para inserção dos judeus no seu seio, parte também pela concepção iluminista da maçonaria francesa e parte ainda pelos ranços de uma cruel perseguição promovida pela Inquisição que se estendeu pela Europa e alcançou o Novo Mundo.
Será possível uma espiritualidade laica?

Acredita-se que sim, pois a mesma independe de crenças.

Será necessário acreditar em Deus para que viva um espírito em nós?

Acredita-se que não, pois crentes ou ateus, somos essencialmente espíritos.
Dessa forma cabe posicionarmos os ensinamentos maçônicos com as interfaces de um mundo material restrito em que vivemos, com o irrestrito mundo espiritual em que viveremos e ao qual denominamos por Oriente Eterno.

Quando iniciamos nossa caminhada maçônica, desbastando a pedra bruta para podermos nos alçar ao primeiro degrau da Escada de Jacó, nossa tarefa consiste em levantar templos às virtudes e cavarmos masmorras aos vícios, o que em termos de espiritualidade, significa nos reformarmos no sentido de absorvermos qualidades éticas e morais e nos desprendermos da efêmera materialidade que nos cerca e sufoca nesse mundo profano de consumismo irrefletido em que estamos envolvidos e interrompermos a ávida procura por prazeres momentâneos, aparentemente despidos de responsabilidades, pelos quais tantos anseiam.


Ao refletirmos sobre a espiritualidade, imbuídos da certeza de sua existência, temos que ter a noção de que estamos vivenciando um estado hipotético, pois ninguém sabe com absoluta certeza como se processa a vida nessa dimensão, mas nos conforta também a certeza de que nela o merecimento é o fiel da balança.

Não podemos falar de espiritualidade, sem considerarmos o merecimento como bússola de seu cenário e por isso que ao iniciarmos nossa jornada no objetivo de desvendar e conhecer os segredos reais, nos é exigida à crença em Deus, sermos livres e de bons costumes, estabelecendo assim a condição” sine qua non”, para que o processo individual de mudança de postura diante da vida, quer material no presente ou espiritual no futuro, seja pautada por atitudes que contemplem o respeito pelo semelhante em qualquer circunstância que se nos apresente.


Essa passagem da atual vida material que estamos vivenciando para a espiritual que a segue, se dá através da mistificada figura da morte, que tanto horror causa a tantos em sua realidade e desdobramentos e cuja cultura relegamos quase que ao ostracismo e na prática teimamos em lhe varrer para debaixo do tapete.

A morte é um designo de Deus e como tal não pode ser horripilante, pois do Criador emana somente bondade.
Além do mais não podemos querer conceder a uma existência de 90 / 100 anos, na realidade um hiato temporal ínfimo dentro da eternidade, uma importância exagerada e tão pouco a ter como uma perda irreparável, quando na verdade não existe nenhuma perda, mas apenas uma breve separação entre os que aqui permanecem em relação àqueles que partiram face uma transformação dentro de um contexto físico para um espiritual.
Assim como a lagarta se extingue para dar vida à borboleta, a morte nos permite a passagem da materialidade para a espiritualidade.
Do rastejar automotivo e a aparente repugnância de uma ao voo etéreo e de graciosa beleza da outra, existe um casulo adequado para essa metamorfose e por analogia também podemos perceber que a Maçonaria, assentada em sua laica espiritualidade, também é um casulo transformista do ser material no espiritual e mesmo não sendo uma religião, colhe em seu cerne de forma holística, homens humanistas e livres pensadores, mesmo que circunstancialmente estejam confinados e/ou acorrentados.

Nosso Irmão Fernando Pessoa, mestre em tantas lições, nos diz forma simples e objetiva: 
a morte é a curva da estrada; morrer é só não ser visto.

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