A Escada de Jacó é um interessante simbolismo utilizado pela Maçonaria como representação da sua própria estrutura filosófica. Esse termo designa o próprio catecismo maçônico, tomado em toda sua integralidade,Escada de Jacó .
No Induismo já se falava numa Escada de Brahma, que todos os iniciados nos mistérios daquela religião deviam subir. Os hindus acreditavam que o mundo era composto por sete estratos, cada um atingível por um escada, ou nível de sabedoria iniciática.
O primeiro estrato era a terra, e a consciência humana, o mais ínfimo deles.
O segundo era o mundo dos espíritos, ou da reencarnação. O terceiro era o céu.
O quarto era um estado intermediário onde as almas ficavam, assim que desencarnassem.
O quinto era o mundo da regeneração, onde as almas eram preparadas para reencarnar novamente.
O sexto era o Palácio do Grande Rei, onde habitava Brahma, o Grande Princípio Criador dos céus e da terra.
O sétimo era o mundo de Brahma, onde habitava Brahman, a Essência, o Incriado, a Verdade em Si Mesma, o En Shoph dos cabalistas, o próprio Deus em sua essência, o Pai da Luz.
Subir a Escada de Brhama era uma jornada em busca da luz, na qual o espírito ia se depurando até se livrar de todo resquício de matéria em sua essência. Quando isso acontecia, ele se tornava pura luz, em condição de reintegrar-se ao Princípio Único, de onde um dia saiu nessa condição. Por isso toda a jornada de mentepsicose que o espirito deveria suportar, em sucessivas reencarnações, para atingir esse status.
Essa crença também tinha um interessante paralelo na religião egípcia, embora a aplicação do processo fosse diferente. Os egípcios acreditavam que essa jornada, que os hindus cumpriam reencarnando, era realizada em duas etapas. Uma em vida, pela prática da Maat, ou seja, o viver de forma virtuosa, obedecendo os preceitos dos deuses e vivendo segundo a ética e a moral recomendada. Quando isso acontecia, o indivíduo, depois de ter a sua alma pesada na balança de Anúbis, com o contrapeso da pena de Maat, percorria o longo caminho pela Tuat, a terra dos mortos, enfrentando uma série de perigos, para chegar, enfim, ao território luminoso de Rá, o sol radiante, no qual ele se tornava um astro brilhante. Nessa jornada, se ele tivesse adquirido mérito no cumprimento da Maat, ele seria guiado por Osiris e completava, sem problemas essa jornada.
Uma ideia foi adaptada por várias tradições iniciáticas. Os seguidores do mitraísmo também tinham uma Escada de Mitra, do mesmo modo que os Rosa-Cruzes têm a sua escada rosacruciana. A teologia católica também dela se utiliza para representar as sete virtudes teologais, que são representadas, em alguns cultos, como sendo uma escada de sete degraus, que devem ser subidos pelo praticante.
Na maçonaria o simbolismo da Escada de Jacó é foi uma inspiração dos maçons jacobitas ao criarem o Rito Escocês Antigo e Aceito. É próprio da maçonaria escocesa e designa os trinta e três graus do catecismo maçônico previsto no desenvolvimento daquele rito.
É interessante lembrar que a visão que o patriarca Jacó teve em Betel foi escolhida para simbolizar a cadeia iniciática maçônica porque ela mostra bem o sentido ascendente que o espírito humano deve seguir quando se procura, realmente, uma forma de aprimoramento. É uma escalada em todas as direções, do Ocidente para Oriente, do Setentrião ao Meio Dia. No sentido dos dois eixos traçados pelo esquadro (vertical e horizontal, que significam justiça e perfeição) e na forma traçada pelo compasso (a circunferência, cujo limite está em parte alguma e cujo centro está em toda parte), representação do universo.
Isso porque, no tempo e no espaço, o espírito maçônico precisa ser incansável no combate aos vícios, á injustiça, á tirania e a corrupção dos costumes. A escada que Jacó viu em sonhos tinha os pés fincados na terra, mas seu cimo tocava os céus. Por ela, os anjos de Deus subiam e desciam da terra para o céu e do céu para a terra, respectivamente. Essa alegoria demonstra bem o tipo de comportamento que o maçom deve adotar. Discípulo da razão, não pode ele desprezar o reino sutil do espírito. Se seus pés devem permanecer fincados na terra, mas seu espírito, que é luz, precisa dirigir-se constantemente a Deus.
A Escada de Jacó simboliza, portanto, essa ascensão vertical do espírito humano na sua procura por Deus, e a constante necessidade de descer á terra para cumprir as finalidades da própria vida, trazendo para ela as virtudes conquistadas nessa escalada. Nesse sentido temos aí uma representação da ligação possível entre o sagrado e o profano, entre o céu e a terra, numa interação que complementa as duas estruturas cósmicas e reabilita a idéia da unidade primordial do universo. Exatamente como faziam os egípcios na aplicação do conceito da Maat. Maat levava para o ceú os influxos da boa ação humana sobre a terra e trazia do céu as benesses dos deuses em troca dessas boas ações.
Na tradição da Cabala, a Escada de Jacó é um simbolismo de grande significado para os judeus. Pela aplicação da técnica na gematria (associação do significado das letras com o seu valor numeral) a palavra Escada equivale ao número 130. Esse número também corresponde ás palavras Sinai e ao nome Abraão.
Com isso os cabalistas efetuam a ligação simbólica de três nomes sagrados para eles: Abraão, o pai da sua nação, o Monte Sinai, onde o Senhor apareceu a Moisés e a visão de Jacó em Betel. Assim, a visão da Escada de Jacó passa a ser a própria experiência de Israel em busca da sua sacralidade como nação. Essa visão, profundamente mística e de profundo significado, na maçonaria ganhou um sentido ético e moral, porquanto ela é ritualizada como uma escada dupla na qual, de um lado, á medida em que o Irmão vai subindo os seus degraus, ele vai crescendo em virtude, (levantando templos á virtude), do outro, á medida em que ele vai descendo os seus degraus, vai enterrando os seus vícios (cavando masmorras ao vício).
Colaboração: João Anatalinoa
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