O TRABALHO MAÇÓNICO E A ESPIRITUALIDADE

Resultado de imagem para maçonaria e espiritualidade
Uma Loja maçônica, que pode simbolizar o mundo, o universo em que vivemos, é uma plataforma que permite o crescimento do maçon, o seu desenvolvimento espiritual assim como a sua elevação ética e moral. 
Uma plataforma, que quando utilizada de forma correta, de coração aberto e em verdade, permite ao indivíduo aperfeiçoar-se e crescer, em suma, tornar-se um homem melhor e mais apto, livremente responsável, que, partilhando um desígnio com os Irmãos, se aperfeiçoa e aperfeiçoa o meio onde se insere, á sua dimensão.
O trabalho maçônico, tem como objetivo tornar o mundo melhor. 
Isto parece vago e inalcançável, que tudo permite dizer e nada diz, porém, somos convictos que é mesmo isto que fazemos todos os dias.
Uma L.’.  tem por obrigação ser uma escol dos melhores de uma comunidade, mais capazes e mais aptos a fazer esse mesmo trabalho, o de potenciar o cumprimento dos homens, desbastando a pedra em bruto, aperfeiçoando-se. 
Um primado da Razão e da Filosofia, da bondade Moral e Justeza das ações.
Com os pés no chão, com a certeza de que não resolveremos os problemas todos, nem mesmo muitos ou alguns, apenas aqueles que conseguirmos depois de a isso nos dispormos.
Esse trabalho faz-se mudando os homens, que através do crescimento espiritual e cultural, vão, a pouco e pouco, alterando a sua forma de interagir com a comunidade onde se inserem. 
Crescendo e aperfeiçoando-se, o maçon muda para melhor, e mesmo que inconscientemente, o mundo que o rodeia. 
Do somatório puro e simples do aperfeiçoamento dos maçons, observamos uma transformação na sociedade, quer tenhamos ou não disso noção. 
Um processo que se apresenta como profundamente individual assume então a sua generosidade. 
O trabalho do maçom é aperfeiçoar-se!
E como é que isso acontece? 
Esse é o trabalho da L.’., à luz dos códigos de elevação moral e espiritual, onde o Ritual assume um papel preponderante, tornar homens bons melhores, dispostos a preparar o futuro e construir o presente à luz dos ideais maçónicos. 
Para isso deve ter a Loja  critério rigoroso de escolha dos seus candidatos, sob pena de se transformar num clube de amigos que transferimos do mundo profano, desprovido de sentido.
Os candidatos devem ser convidados pela luz das características dos seus talentos, para que possam ser uma valia para o trabalho, que está na gênese da Maçonaria e é a sua razão de existir. 
E porque talentos per si não valem nada, é aqui que os potenciamos e aprendemos que o que conta é o que com eles realizamos, com um código de moralidade e de valores que escolhemos livremente e em consciência para nós.
Estes homens  têm de ser capazes de conceber... 
-o Divino; o Indizível; 
-de sonhar; 
-de terem visão; 
-de terem a Força, a Sabedoria e o desprendimento de se entregar a projectos aparentemente impossíveis, utópicos e belos; 
-têm de conceber a fraternidade leal fruto da partilha do Desígnio. 
Porque é disso que falamos! 
De uma escol de Cavaleiros, que foram Cavaleiros da Terra, depois Cavaleiros do Mar e hoje Cavaleiros do Mundo. 
Essa dimensão espiritual é a sua característica mais importante. 
Entendemos que a espiritualidade é uma dimensão indissociável da condição humana, mais do que o bem exclusivo de Igrejas, Religiões ou Escolas de pensamento. 
Na prática, fala-se de Espiritualidade para a parte da vida psíquica, fruto da inteligência humana, que nos parece mais elevada: aquela que nos confronta com Deus ou com o absoluto, com o infinito ou com o todo, com o sentido da vida ou a falta dele, com o tempo ou com a eternidade, com a oração ou o mistério. 
Temos a felicidade de ter na nossa Ordem homens de religiões reveladas diferentes, de escolas de pensamento diferentes, sem opção por nenhuma das religiões reveladas, sem se reconhecerem em nenhuma escola de pensamento, homens de profundo esoterismo e outros que nem por isso.
Não temos ninguém despojado da assunção da sua espiritualidade. 
O respeito por essas opções é a nossa riqueza, a base para a geração da harmonia. 
Isto exige uma reflexão profunda do que é a tolerância maçónica, sempre á Luz de um ideal maior que todas as religiões e escolas de pensamento. 
Porque a Maçonaria está num patamar diferente. 
Não se preocupa com a forma como cada um vive a sua espiritualidade nem ambiciona ter voto nessa matéria. 
A preocupação da Maçonaria é o Individuo e depois o Mundo, onde vivem os homens hoje e os de amanhã, a sua preocupação última é a vida dos homens na Terra, e não oferecer salvação ou condicionar a sua existência á salvação eterna. 
Para isso existem outras sedes, cujo sucesso e eficácia jamais se poderá questionar ou até medir. 
A espiritualidade que aqui tratamos remete-se para a relação do homem com o divino em vida, aqui na Terra e como essa relação pode condicionar as suas acções com vista ao cumprimento de um ideal ou Desígnio.
E como os seus obreiros são homens plenos em todas as suas dimensões, a Maçonaria não se omite de aprofundar a relação dos homens com o divino, lutando para que isso os una e jamais os divida, porque a Maçonaria quer libertar os homens das grilhetas profanas e levar esses mesmos homens a realizar a sua dimensão espiritual em total liberdade e no pleno respeito pelas crenças alheias. 
O que nos une será o sentir o Universo, o Todo, que nos contem e nos transporta, uma presença universal…
Será possível uma espiritualidade universal? 
Claro que sim, mais do que uma espiritualidade clerical e redutora ou do que uma laicidade desprovida de espiritualidade!
Uma espiritualidade universal… 
Será uma “espiritualidade da imanência, mais do que da transcendência, da meditação mais do que da oração, da unidade mais do que do encontro, da lealdade mais do que da fé, do amor mais do que da esperança, e que será igualmente motivadora de uma mística, ou seja, de uma experiência da eternidade, da plenitude, da simplicidade, da unidade, do silêncio…”.
É a essa espiritualidade universal que podemos chamar Espiritualidade Maçônica. 
Mas podemos afirmar que é apenas no trabalho maçônico que ela poderá ser verdadeiramente aprofundada. 
Não um conceito que se aprenda nos livros... 
...tem de se sentir e de se viver, fruto de um percurso iniciático.
No entanto, a Maçonaria não revela nenhuma verdade superior nem dá respostas cabais ás questões que atormentam a nossa dimensão espiritual. 
Pelo contrário, convida os II.’. a procurarem saber quem são, conhecerem-se a si mesmos, com o intuito de se cumprirem, o que é profundamente diferente, colocando-os na via dessa procura e dessa realização, situando-se aqui o verdadeiro significado da iniciação, o primeiro passo de um caminho a percorrer e trabalho para fazer na construção do nosso templo interior.
Assim, a tolerância apresenta-se como uma das principais virtudes da Maçonaria e do maçom. 
Trata-se de uma atitude interior que repousa no respeito pela individualidade espiritual do candidato, pela liberdade de pensamento e pelo percurso intelectual e espiritual que cada maçon depois de iniciado escolhe para si. 
É neste pressuposto que assenta a minha afirmação de que a Espiritualidade Maçônica é uma Espiritualidade Livre: 
-ao sugerir um caminho individual para a relação com o divino, constrói também um percurso libertador, é um processo livre. 
Para isso ser possível, precisa no seu seio de homens diferentes dos demais.
O trabalhode hoje, ao escolher esses homens, é com a convicção plena de que hoje se podem encontrar em qualquer proveniência, podem ter estado ao nosso lado toda a vida, serem os nossos amigos de infância, familiares ou colegas de profissão, como podem estar por detrás de um e-mail manhoso sem rosto.
Temos é de estar certos de que estão a altura do desafio, é de critério que falamos, não de forma de ingresso nem de sede de relação. 
Porque é lógico que apenas podemos indicar homens que conhecemos minimamente e por isso têm de vir das nossas relações pessoais, todos temos porém pessoas de quem gostamos muito que sabemos não terem os requisitos mínimos para poderem ser iniciados, por mais que de disso gostássemos, fosse porque razão fosse. O critério é tudo.
É tudo porque a eles vão ser exigidos sacrifícios, de tempo para dedicar ao trabalho, para comparecer ás sessões, para se despojarem de títulos e posições, para se disporem a aprender, a aceitar criticas quando para isso não estão preparados e cuja propriedade da origem questionam, a aguentar ouvir aquilo que não entendem sem julgar, a sentir que fazem parte de algo maior e viver com essa avassaladora responsabilidade sem ser esmagado, quando finalmente se torna clara a missão a que se propuseram.
Por mais capaz que qualquer um seja, tem um percurso a fazer, para poder identificar ferramentas, e então dedicar-se ao trabalho. 
Uma L.’.  é uma elite dentro de uma comunidade, coisa que facilmente assumimos sem complexos nem soberba.
Entre nós deverão estar os mais capazes nas suas áreas de intervenção, que podem ser profissionais ou não, têm apenas de ser úteis ao projeto, estar dispostos a aprender e a ensinar partilhando. 
Ser maçon é uma vivência, uma forma de estar na vida e perante a vida, onde a Honra, a Ética Moral, o sentido de missão, o espírito cavaleiresco das suas acções, fruto da Responsabilidade de se ser e sentir Diferente, assumem um aspecto fundamental.
Não somos com certeza homens plenos de virtudes, todos temos as nossas arestas para desbastar. 
E este é o local para o fazer, a L.’., depois de responder ao chamamento e livremente bater á porta do Templo, para servir o Desígnio. 
Com a orientação de todos os obreiros, tornar ferramentas capazes em ferramentas melhores. 
Porque somos ferramentas de trabalho, somos os que cumprem e efectivam o Desígnio, como outros o fizeram antes de nós.
Os desígnios dignos desse nome sempre tiveram um cunho marcadamente iniciático, porque não se prendem com objectivos de pedra, betão ou madeira, mas com a realização dos sonhos, sendo perpetuados no tempo indefinidos enquanto matéria, mas muito claros quando conceptualizados por homens que se dispuseram a um processo de transformação e crescimento como o nosso, essa ideia indizível transmite-se pela iniciação, pelos rituais, pela via iniciática. 
E para isso, a dimensão espiritual do homem têm de ser a sua consciência maior, aquilo que lhe rege as acções e circunscreve as paixões e os sonhos á luz das suas capacidades e talentos.
E neste trabalho não há espaço para paternalismos com os menos capazes e aptos, para soberbas profanas ou para alimentar egos com comendas. 
Não se faz parte da Maçonaria, não se pertence à Maçonaria, é-se maçom
Da sua relação com a L.’. e da sua condição de maçom só o individuo pode ser responsável, se não se sente capaz ou a tarefa assusta, mais vale arrepiar caminho. 
Sem jamais hipotecar a solidariedade inerente à fraternidade leal, todos temos momentos menos bons e felizes e para isso cá estamos todos e nessa altura dizemos presente.
Não estamos  aqui para tomar conta de ninguém, proporcionar benefícios ou oferecer a salvação, estamos aqui para trabalhar, o nosso tempo é curto e o trabalho imenso
Para que cumpramos à luz do que aqui nos trouxe, temos de ser objectivos, sob pena de se esvaziar o sentido da Ordem Maçônica e o trabalho ficar por fazer, comprometendo o Desígnio.
Reconhecendo os méritos e as virtudes dos nossos II.’., não potenciando e exacerbando os seus defeitos, que desses não precisamos, usando o fole com cautela na forja para que a ferramenta que lá se aperfeiçoa não enfraqueça por falta de atenção ou derreta por excesso dela. 
Desbastando a pedra em bruto, com a lealdade que a critica exige, com a fraternidade que o sacrifício cultiva, com a generosidade a que partilhar o desígnio não é alheia, com o reconhecimento da força e inteligência para o fazer cumprir. 
Dessa partilha nasce a riqueza da Irmandade, do respeito pelo trabalho e pela forma como é executado. 
Não sendo santos nem isentos de virtude, temos todos consciência do Desígnio.
Assumamos o objetivo que aqui nos trouxe e não deixemos que nada perturbe a caminhada para a realização desse mesmo Desígnio, que não assume forma material, mas é apenas uma ideia que todos partilhamos… Uma ideia de Homem e de Mundo.
José Eduardo Sousa, M:.M:.
R:.L:. Alengarbe (G:.L:.L:.P:.), a O:. de Albufeira, Portugal

Comentários