Todas as Obediências (Instituições) Maçônicas
são regidas por uma Constituição. A primeira que se tem registros é a Constituição Francesa, de 1523, no entanto, esta não se difundiu de maneira expressiva. Mesmo possuindo em seu contexto linhas mestras e pétreas da Antiga Maçonaria, provavelmente não tenha sido amplamente aceita visto estar impregnada do espírito mais rebelde e menos místico, inquieto pelo destino da pessoa humana.
A segunda Constituição maçônica mais conhecida é a Constituição do Venerável e Pastor Presbiteriano James Anderson, publicadas pela primeira vez no ano de 1723. Essa Constituição é impregnada pelo espírito místico-religioso, demonstra uma Maçonaria como um sistema de ordem moral, um culto para conservar e difundir a fraternidade e união entre os homens e a crença na existência de Deus.
Com o passar das centenas de anos, as Constituições de cada Obediência, foram sendo adaptadas em harmonia com a modernidade, entretanto sempre abrigando em seus contextos muitos dos princípios contidos na Constituição de James Anderson.
As Constituições das Obediências brasileiras se acham todas impregnadas do espírito dos Estatutos redigidos por James Anderson, demonstrando que o trabalho de Anderson era amplamente conhecido na Maçonaria Brasileira desde os primeiros tempos.
James Anderson
James Anderson, habitualmente denominado de “pai da Maçonaria Especulativa”, nasceu na cidade de Aberdeen, (Escócia), por volta do ano de 1680. Estudou teologia em sua cidade natal, no “Marischal College”, onde acabou recebendo o seu título de “Doutor em Teologia”, naturalmente presbiteriano, religião então predominante na Escócia.
Ainda antes de 1710, Anderson veio fixar residência em Londres, onde ele, mais tarde, comprou os direitos de vicariato de uma Capela Presbiteriana, situada em “Swallow Street” (Rua das Andorinhas), onde ainda em 1735 o encontramos fazendo as suas pregações.
Em sua qualidade de vigário presbiteriano ele se tornou muito conhecido do povo londrino, em face de suas inúmeras pregações, muitas das quais chegou a publicar em folhetos avulsos.
As que mais admiração causaram foram as cinco seguintes:
1. “Nós esperamos a paz, que não veio; Dia da Saúde” (Jeremias 8-15), pronunciada em 16/01/1712 na Igreja de Swallow Street.
2. A pregação de 30/01/1714, teve como título: “Assassinos de Rei, não”, um nome assaz curioso. Tratava-se de uma pregação a favor do Rei George I, recentemente coroado, contra as falcatruas e confabulações do partido católico do pretendente Jacobus III.
3. “Crença nos Santos”, pronunciada em 01/08/1720 teve intenções de caráter puramente religiosos, e representava a interpretação que os presbiterianos davam a este tema.
4. Esta foi uma pregação fúnebre no dia do 1º aniversário do falecimento do padre William Lorinzer, um ministro presbiteriano que tinha feito a sagração de Anderson.
5. E finalmente, merece destaque ainda a pregação de 03/07/1737, pronunciada sobre o tema “A Prisão dos Devedores”, onde analisou a legislação concernente à “insolvência financeira”.
E não há duvidas que Anderson, ao abordar este assunto, falava de experiência própria, pois consta que por volta de 1720 tinha perdido todo o seu patrimônio, e a sua situação financeira estivera tão precária, que os seus credores o lançaram na “torre dos devedores”, de onde o tiraram os seus Irmãos Maçons, depois de terem pago as suas dívidas.
No ano de 1732, Anderson traduziu para o inglês as “Taboas Genealógicas” do historiador e geógrafo alemão “Hans Hubner”, que chegou a reeditar em 1736 de forma ampliada.
Logo no ano seguinte, de 1733, publicou o livro: “A Unidade na Trindade, e a Trindade na Unidade”. Em 1739 editou o livro “Notícias de Elysium” e “Conversas com os Mortos” e, finalmente, em 1742, ainda surgiu, em edição póstuma a “História genealógica da Casa Nobre de Ivery” uma antiga estirpe irlandesa, cujo membro vivo na ocasião era o Conde de Egmont.
Mas, incontestavelmente, a obra mais importante de Anderson foi a conhecida “Constituição Maçônica, de Anderson”, que publicou às suas expensas no ano de 1723, época em que era Venerável da Loja nº 17.
Nunca se soube em que Loja Anderson fora iniciado, mas é provável que ainda tenha sido na Escócia, de modo que já era Maçom feito a filiar-se a uma Loja em Londres.
Na reunião da Grande Loja de 29/09/1721, onde 16 Lojas estiveram representadas, o Irmão James Anderson A. M. (Magister Artium) foi encarregado de estudar as cópias das antigas constituições góticas, consideradas falhas e fundi-las numa Carta Magna mais concisa e clara.
Deve ter trabalhado com incrível rapidez, a não ser que já tenha feito os estudos preliminares, pois já em 21/12/1721, apresentou o Manuscrito Projeto, que foi entregue a 14 Irmãos competentes, e esta mesma comissão depois de feitas as resolvidas emendas consideradas necessárias, aprovou a nova Constituição em 25/03/1722.
Em 17/01/1723 a Grande Loja aprovou a Constituição já impressa, e nomeando Anderson para seu Grande Vigilante. Em 1723 o nome Anderson também consta dos registros da Loja: “Horne Tavern”, de Westiminster e em 1725 no da “Lodge of Salomon’s Temple” de Hemmings Row.
A autorização da impressão da Constituição e sua venda criou grande celeuma, e por isto, o Irmão Anderson parece ter ficado afastado dos trabalhos durante quase 10 anos das Lojas. Mas em 24/02/1735 Anderson apresentou-se novamente à Grande Loja, pedindo licença para imprimir uma Edição da Constituição aumentada, cujo novo texto foi finalmente aprovado em sessão de 25/01/1738, pelos representantes das 56 Lojas presentes, sendo impressa logo em seguida.
Já no ano seguinte, em 01/06/1739, Anderson transportou-se para o Oriente Eterno, sendo enterrado com Honras Maçônicas no Cemitério de Bunhills Fields.
O esquife foi carregado por 5 prelados presbiterianos e o Reverendo Desaguliers, considerado colaborador de Anderson na feitura da Constituição, sendo o caixão seguido por apenas uns 10 ou 12 maçons paramentados.
Desapareceu assim o Maçom que mais serviços prestou à Ordem, que em vida nunca mereceu o menor apoio, prestígio e agradecimento, e que pelo contrário foi atrozmente combatido, mas que acabou sendo o único, cujo nome nunca foi e nem será esquecido.
Kurt Prober
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