Caracterizada pela postura humanística e filantrópica assumida pelos obreiros, alicerçada na tríade
fé, esperança e caridade.
Compromissados com a melhoria das condições de vida do ser humano, a ação destes Irmãos não se restringe ao mundo maçônico, mas, quase sempre, dão assistência material e espiritual também aos profanos e a todas as pessoas menos favorecidas, que foram abandonadas pela sociedade, esquecidos pelos políticos e que estão por toda a parte, nas ruas, sob as pontes e viadutos, levando uma vida indigna e desumana.
A beneficência na visão Maçônica
A Maçonaria é considerada como uma organização filantrópica porque não visa a obtenção de lucro, ao contrário, suas arrecadações e seus recursos se destinam à beneficência e à busca do bem-estar do gênero humano.
No Tronco de Beneficência, ato litúrgico obrigatório nas Sessões Maçônicas, são arrecadados óbolos para fins caritativos.
Originalmente ele foi criado na Igreja Católica pelo Papa Inocêncio III como uma caixa nas entradas das igrejas cujo valor era destinado aos pobres.
Nas antigas “guildas” era costume recolher contribuições dos que podiam ofertá-las, para socorrer os congregados, às viúvas, órfãos, inválidos e servia até para defesa judicial dos membros.
Essa tradição passou à Maçonaria.
Essa ajuda era praticada principalmente entre os seus membros, pois muitos deles morriam jovens deixando desamparados viúvas e filhos. Apenas no inicio do séc. XX, a Maçonaria brasileira começou a competir com as Igrejas em matéria de caridade a Profanos.
Apesar da Maçonaria ser uma entidade filantrópica, não se considera que ela exista apenas por causa da Solidariedade e da Beneficência.
Ao contrário, a solidariedade e a beneficência é que são consequências do aperfeiçoamento do maçom, que “foi criado para as boas obras”, numa visão possivelmente herdada do protestantismo.
O socorro aos necessitados faz parte dos juramentos e compromissos de todo maçom.
Em outras palavras, a maçonaria considera a beneficência como uma das principais virtudes que o homem deve praticar, mas a beneficência não constitui a principal finalidade da Maçonaria, sendo apenas consequência natural das doutrinas que ensina.
O objetivo principal de uma Loja Maçônica consiste no aprimoramento moral e intelectual de seus Obreiros, em busca de realização da "Grande Obra", que é a transformação de pessoas comuns em pessoas espiritualizadas, com um estado superior de consciência e sentimentos nobres.
Há muitos séculos os Maçons se reúnem não com a finalidade de exercer a caridade, mas para procurar a verdadeira luz.
Para isso, a Ordem busca de um lado facilitar a procura da Verdade e, do outro, ensinar o duro e penoso trabalho do desbaste da Pedra Bruta.
Embora a Maçonaria americana compartilhe deste objetivo de aperfeiçoamento dos seus membros, que é a tónica da Maçonaria mundial, ela dá grande importância à filantropia, considerando-a como polo essencial da sua atividade, diferente da Maçonaria continental europeia, que considera a filantropia importante, mas não com o nível de essencialidade dado pela Maçonaria dos EUA.
Essa vertente filantrópica predomina de tal forma na Maçonaria americana que ela, apesar de contar com muitos membros ilustres, não tem se preocupado em exercer influência relevante nas esferas de poder político daquele pais.
Historicamente, a sua atividade filantrópica foi sustentada pelo grande fluxo de novos elementos ocorridos até a década de 1960, quando se chegou a 4 milhões de maçons naquele pais, levando a outra caraterística distinta da Maçonaria americana, que é a existência de várias Lojas com centenas e até milhares de membros, mas com poucos efetivamente ativos.
Após aquela década, houve progressivamente uma grande redução na quantidade de maçons, acompanhando a mudança global do comportamento da sociedade de menor tendência a filiações em entidades associativas, chegando atualmente a cerca de 1,5 milhões de maçons.
Isto tem gerado a necessidade de fomentar o aumento da quantidade de iniciações de novos membros e de assegurar suas rápidas progressões em novos graus, como forma de continuar financiando a atividade filantrópica.
Na Inglaterra a filantropia também tem uma grande importância, mas, diferentemente dos EUA, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados.
Na Inglaterra a filantropia também tem uma grande importância, mas, diferentemente dos EUA, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados.
Alguns críticos apontaram que existiu em algumas épocas, particularmente nos países católicos, uma dedicação a obras de caridade aparentemente com o objetivo de ganhar simpatia para, através disso, implementar os objetivos de propagação e a aplicação dos princípios sociais maçônicos. Este método foi abertamente rejeitado pela Maçonaria dos países latinos e por muitos Conselhos Supremos do Rito Escocês Antigo e Aceito. Este método foi também repudiado pelas maçonarias germânicas, britânicas e americana. A desconfiança que hoje existe em relação à atuação da Maçonaria se deve ao fato de ao longo do tempo ela ter defendido princípios humanistas que serviram de base para alguns movimentos revolucionários. Realmente, a Maçonaria sempre pretendeu ser uma associação benéfica e progressista, e, por isso, em alguns momentos, participou ativamente de movimentos nacionalistas, como exemplo no Brasil, a independência e a proclamação da República.
A beneficência como meio de atendimento de necessidades
Segundo Maslow, as pessoas são dominadas por suas necessidades internas insatisfeitas, que orientam e determinam seu comportamento. Segundo ele, há uma hierarquia dessas necessidades, com uma escala de prioridades, sendo que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto, conforme abaixo:
Constatou-se que a hierarquia de necessidades pode surgir concomitantemente, ou seja, uma necessidade de auto-realização pode surgir antes que uma necessidade fisiológica esteja completamente satisfeita.
Normalmente o ser humano encontra-se satisfeito apenas por um curtíssimo período de tempo, pois ao satisfazer um desejo, logo em seguida surge outro.
Neste contexto, o dinheiro não tem servido para uma felicidade duradoura.
A única exceção a isto tem sido o caso específico de superação da difícil condição de subsistência, quando a satisfação resultante costuma durar de 5 a 10 anos.
Para complicar, dependendo da importância que alguém atribua ao fato de ter dinheiro, ele pode suprir uma necessidade na base da hierarquia (como alimentação), ou satisfazer alguma necessidade no alto da hierarquia como status na sociedade.
Por isso é que Maslow define que "quando indagamos o que os indivíduos querem da vida, estamos lidando com sua própria essência".
Desde os tempos remotos os seres humanos buscam prazer e evitam a dor. O prazer normalmente ocorre em consequência do atendimento de uma necessidade ou de um desejo, sendo que Jordan afirma que a satisfação dos desejos traz um prazer mais duradouro que o proveniente da satisfação das necessidades, com a exceção já mencionada da fase de superação da miséria.
Historicamente tem se constatado que o aumento da riqueza traz satisfações decrescentes.
Depois de superado o nível de subsistência, as melhorias nas posses aumentam cada vez menos a felicidade. Por exemplo, o nível de riqueza na sociedade americana aumentou absurdamente da década de 1950 até hoje, mas o nível de felicidade se manteve estável. Estranhamente, o americano ainda continua a buscar mais dinheiro, mesmo à custa de sacrifícios pessoais e familiares.
Isto mostra que a abundância per si não está associada a uma maior felicidade.
Por outro lado, tem se comprovado a tese de Aristóteles de que a existência de uma pessoa feliz está associada a um nível materialmente confortável, o que mais uma vez comprova a importância maior do dinheiro para quem está no nível de subsistência.
A famosa frase “felizes para sempre” no final dos contos de fadas, que normalmente retratam pessoas miseráveis que ascenderam socialmente, reflete a ideologia dominante nos piores períodos da idade média, quando milhões de pessoas morreram de fome. Também explica a referencia na Bíblia judaica à terra prometida por Deus para Abraão, como o lugar onde “corre leite e mel”.
Devido aos prolongados momentos de escassez, há muito tempo se associou gastar dinheiro a uma sensação boa. Comprar tem sido historicamente uma oportunidade de exercer um poder pessoal.
Por isso, para a grande maioria das pessoas hoje, as satisfações são obtidas ao se fazer compras no shopping. Secundariamente, são obtidas também satisfações em assistir programas de televisão e torcer para times esportivos. Porém muitos estão enfastiados. Estudos mostram que uma vez que uma compra é realizada, os níveis de dopamina rapidamente voltam ao normal e muitos ficam até arrependidos com o que comprou. Para os abastados, a compra de comida há muito tempo deixou de ser um prazer para se tornar apenas uma rotina e obrigação.
Embora o dinheiro tenha uma utilização decrescente, o mito moderno de que o dinheiro não traz felicidade não tem unanimidade, pois se assim o fosse, todos os sábios recomendariam a doação de tudo.
O que verificamos é que efetivamente os que recomendam isso não o fazem como sugestão para se viver melhor no mundo. Ao contrário, eles normalmente sugerem isso para deixar o mundo habitual em favor de uma nova comunidade extravagante, normalmente em busca de iluminação espiritual.
Em sua maioria, os filósofos e sábios querem os amores e prazeres comuns, buscando beleza e maravilhamento dentro do próprio mundo material.
Para McClelland, existem três necessidades secundárias adquiridas socialmente: realização, afiliação e poder. A combinação para cada indivíduo normalmente se faz com o predomínio de uma delas, que caracteriza um padrão de comportamento. Na realidade, os comportamentos são determinados por causas que frequentemente escapam ao controle e entendimento do próprio homem. São necessidades ou desejos conscientes ou inconscientes direcionados para objetivos que podem ou não satisfazer as suas necessidades.
Além disso, dificilmente se consegue satisfazer as necessidades ou desejos na sua plenitude pois eles são frequentemente transferidos ou compensados e constantemente estão se sofisticando.
O autor do livro “O Monge e o executivo”, James Hunter, defende que a generosidade implica em satisfazer as necessidades dos outros, mesmo que isso implique sacrificar suas próprias necessidades e vontades. Para ele, um líder deveria se perguntar constantemente quais são as necessidades das pessoas que ele lidera e procurar satisfazer aquelas necessidades e não as eventuais vontades deles, pois o seu principal objetivo deveria ser atender aos liderados e não ser um escravo das vontades alheias. Sjogren e Robinson descreve na “teologia do Cachorro e do Gato" como a mesma realidade pode ser interpretada de formas diferentes:
O cachorro diz:
"Você me acaricia, me alimenta, me abriga, me ama, VOCÊ deve ser Deus"
enquanto o gato fala:
"Você me acaricia, me alimenta, me abriga, me ama, EU devo ser Deus",
ou seja “você existe para me servir”.
Segundo Hunter, o líder deve procurar fornecer todas as condições para as pessoas mudarem, mas são as pessoas que devem fazer as próprias escolhas, ou seja, o foco é apenas na criação de um ambiente saudável para as pessoas crescerem e terem sucesso.
Apesar da dificuldade de implementação, esta recomendação leva em conta a complexidade do sistema e dos seres humanos, e diferencia bastante da postura de algumas religiões e políticos que querem impor a sua visão moral, baseados no pressuposto de que os humanos vivem em um vácuo material e moral que deve ser preenchido pelas autoridades, definindo o que é certo ou errado.
O sistema capitalista vigente, que se baseia no conceito de troca e premiação do mais esperto, apresenta grande dificuldade para equalização da distribuição da riqueza, que seria mais compatível com uma sociedade onde prevalecesse o amor incondicional e o comportamento altruísta.
O comunismo e o socialismo foram tentativas de atingir uma divisão diferente de riqueza, direcionando a cada um conforme sua necessidade e não conforme a sua capacidade. Infelizmente, foram utopias que não deram resultados, pois a distribuição igualitária dos resultados desestimulavam os trabalhadores mais produtivos e criativos e as economias entravam em estagnação.
O que se observa atualmente é que a principal dificuldade para a evolução de uma sociedade baseada numa visão altruisticamente igualitária, é a possibilidade concreta do crescimento exponencial dos receptores que se acomodem com esta situação e sempre procurem mais benefícios, sem dar nada em troca.
Concluimos que...
A beneficência se depara com duas grandes alternativas: “dar o peixe” ou “ensinar a pescar”.
Apesar da grande preferencia pela segunda opção, é necessário levar em conta o grau de subsistência dos beneficiários.
Se as pessoas realmente não tem o que comer, não há dúvida da necessidade de primeiro “dar o peixe” e depois “ensinar a pescar”.
Para as pessoas que já estão se alimentando normalmente, o melhor é oferecer alternativas de aperfeiçoamento e crescimento para que elas possam evoluir. A maior dificuldade é evitar o desperdício de recursos, através do controle do direcionamento destes gastos, associado a alguma medida da eficácia destas ações.
Jesus Cristo deu grande importância à caridade, colocando-a em uma perspectiva muito mais ampla do que uma simples esmola.
Para Ele, a verdadeira caridade é aquela que tira o outro da situação ruim em que se encontra e nela está implícita a igualdade entre as pessoas, inexistindo superioridade no doador.
O catolicismo e o protestantismo tem tido enfoques diferentes para o trabalho e para as boas ações por parte dos crentes, resultando, na prática, que a contribuição da população de países protestantes para filantropia tem sido historicamente maior que as dos países católicos.
A Maçonaria é uma instituição beneficente, pois não visa lucro e procura ajudar o próximo. Entretanto, seu principal objetivo consiste no aprimoramento moral e intelectual de seus Obreiros, sendo a beneficência apenas uma consequência natural das doutrinas que ensina.
No mundo, as Maçonarias americana e inglesa são as que mais priorizam a filantropia, diferenciando-se apenas nas suas fontes de recursos.
Enquanto a Maçonaria americana obtém seus recursos principalmente das iniciações e elevações a graus superiores, na Maçonaria inglesa as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados.
Para saber como ajudar as pessoas, é necessário conhecê-las, por isso são muito importantes as teorias a respeito das necessidades internas insatisfeitas que orientam e determinam seus comportamentos.
Existem vários estudos neste sentido, mas a conclusão mais importante é que, após a superação da miséria absoluta, são as pessoas que deveriam fazer suas próprias escolhas, ou seja, o foco deveria ser apenas na criação de um ambiente saudável para as pessoas crescerem e terem sucesso.
Para a maioria das pessoas que já superaram o nível de subsistência, as satisfações no mundo atual são obtidas normalmente nas atividades de comprar em shopping, ver programas de televisão e torcer para times esportivos, sem ligações com eventuais buscas de sentido para suas existências. Ou seja, não existe nenhum conteúdo mais profundo ou iluminação espiritual que possam ser utilizados para ajudar outras pessoas a serem mais felizes.
Concluindo, apesar das redes de seguridade social serem necessárias para suprir as carências extremas, o foco deveria ser a geração de oportunidades e a criação de um ambiente favorável para que as pessoas aproveitassem essas oportunidades.
Caso contrário, os programas de assistência apesar de possibilitar a alimentação de famílias carentes, na prática aprisionariam muitas pessoas em uma dependência prejudicial, condenando-as a uma existência de pobreza patrocinada pelos programas.
Neste contexto, o papel da Maçonaria deveria ser buscar implementar as condições necessárias para que as pessoas mudassem suas situações desfavoráveis.
Sua participação na filantropia assistencialista, além de exigir grandes volumes de recursos inexistentes, esbarraria nas dificuldades naturais deste tipo de assistência como discutido neste trabalho.
O melhor seria aproveitar o nível cultural e a consciência social dos Maçons para iniciativas culturais que realmente impactassem de forma positiva na capacidade das pessoas buscarem suas próprias alternativas para saírem daquelas situações indesejáveis.
Vale a avaliação pessoal do que é realmente o conceito pessoal do que é Caridade.
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