A afirmação de que o que se busca na Maçonaria é o aperfeiçoamento individual através da interação com a Loja transcrita para linguagem matemática seria qualquer coisa como...
...Maçom + Loja = Aperfeiçoamento.
O primeiro termo da equação, o Maçom, é abundantemente tratado nos escritos, nos seus mais variados aspetos.
É natural: os maçons que escrevem sobre Maçonaria integram eles próprios o primeiro termo da equação, conhecem-no literalmente por dentro e por fora, é mais fácil escrever sobre o que se conhece, analisar o que o próprio sente, definir os objetivos que o próprio anseia.
Mas, para que a equação funcione, exista realmente, é indispensável a presença e o efeito do seu segundo termo: a Loja.
É a Loja que é o ponto de confluência de todos os obreiros, onde todos levam as suas idiossincrasias pessoais, mas também os seus esforços, preocupações e anseios.
É no confronto de tudo aquilo que se junta e partilha na Loja que cada um escolhe e retira os materiais e as ferramentas que utilizará no seu próprio desbaste.
Ser maçom só faz plenamente sentido se e quando integrado em Loja.
Aí, sim, o método disponível para ao aperfeiçoamento individual concretiza-se. Maçom e Loja completam-se e mutuamente se influenciam.
Há muita matéria escrita sobre o primeiro termo da equação, o maçom. Sobre o segundo termo dessa equação, a Loja, os elementos disponíveis são muito menos.
Não é só por ser mais fácil escrever sobre o maçom do que sobre a Loja. É também porque, se bem virmos a coisa, a relação entre o maçom e a Loja é similar ao que, dizem os entendidos no assunto, sucede no âmbito da física quântica: o observador, pelo simples fato de observar o fenomeno, altera esse fenomeno.
Efetivamente, o maçom integra-se numa Loja.
É influenciado por ela, mas também ele próprio a influencia.
O simples fato de o maçom observar, analisar, efetuar juízo crítico sobre a sua Loja, faz com que, seja a sua análise melhor ou pior, seja o resultado dela mais ou menos agradável, altere a perceção que dela tinha.
E, ao tal suceder, inevitavelmente que se modifica, quiçá impercetivelmente, a sua relação com a Loja e, assim, a forma como a Loja o influencia, mas também a sua própria influência sobre a Loja.
O simples fato de observar a Loja resulta na modificação da Loja observada, tal como na modificação do próprio observador.
Mudanças insignificantes, impercetíveis, talvez.
Mas estão lá, ficam lá, interagem com outras subtis modificações.
Assim evolui o maçom.
Assim evolui a Loja.
Assim evoluem ambos.
Esta relação mutuamente influenciadora entre o maçom e a sua Loja deve alertar-nos para a necessidade de não nos concentrarmos apenas no primeiro termo da equação, o maçom, isto é, nós - apesar de ser esse, de sermos nós, o objetivo principal -, mas também não descurar a atenção no segundo termo da equação, a Loja.
Não nos enganemos:
- a Loja não são as paredes dentro das quais nos reunimos.
Não são os adereços que nos rodeiam.
Não é o mero ambiente que criamos.
Nem o conjunto de lições que aprendemos.
A Loja é, somos, o conjunto de maçons que nela se integram.
A Loja não é ELA.
A Loja é NÓS.
A Loja, sendo algo diverso de nós, é algo de que nós fazemos parte, que nós influenciamos e que nos influencia.
O maçom deseja aperfeiçoar-se.
É meritório.
Ao fazê-lo, está a cuidar de si.
Mas o maçom sabe que a sua tarefa só plenamente se executa se em consonância, em interação, com sua Loja.
Assim sendo, o mínimo de bom senso manda que também se preocupe com a sua Loja, com o bom estado dela.
E, repito, o que aqui menos importa são as paredes, a decoração ou os artefactos.
O que importa, a essência da Loja, são os seus obreiros.
Um a um.
Todos.
O conjunto de todos.
A influência de cada um sobre cada um e sobre todos e a influência de todos sobre cada um.
Observar, estudar, a dinâmica da Loja, procurar determinar o estado dela, as correções que nela porventura haja a fazer, o contributo que relevantemente a ela possamos dar, é tarefa que o maçom não deve, não pode descurar.
É uma tarefa ciclópica!
Parece, muitas vezes, uma tarefa impossível, de tal forma se nos afiguram insignificantes os resultados que a nossa ação individual é suscetível de obter, também o sei.
Mas a colmeia vive e cresce graças ao aparentemente insignificante resultado do trabalho de cada uma das suas abelhas...
O maçom que aprendeu a sê-lo não esquece que tem de zelar pelos dois termos da equação.
Porque o resultado individual depende do coletivo.
Porque o coletivo depende do individual, mas também influencia o individual.
Ao zelar pelo bom estado da sua Loja, o maçom está simultaneamente a melhorar-se a si próprio.
Ao melhorar-se a si próprio, está a contribuir para a melhoria da sua Loja.
Bem vistas as coisas, sim, a relação entre o maçom e a sua Loja é como a física quântica: parece muito difícil, aparenta ser muito inacessível, mostra-se muito esotérica, mas o que é preciso é afinal apenas trabalho e bom senso!
Rui Bandeira
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