Amor… Rutilante... véu de estrelas que veste de luz o corpo de pérolas negras da noite da humanidade… Rosa de fogo, orvalhada por uma poesia em chamas, despontando nos jardins do horizonte, para almas vagantes inebriar com o perfume de um imortal Sol de felicidade…
Cálice de sonhos e feitiços derramado sobre os corações dos Antigos Egípcios pela sensual Háthor, soberana de um éden de felicidade perene, em cujo esplendor brotava o cobiçado fruto do amor, nascia a maviosa nascente da música, em cujas águas vogava a sensualidade das danças, desabrochavam as orquídeas selvagens do erotismo e brincava a doce brisa da alegria.
Sua alma, cosmos de amores constelados, renovava-se nos semblantes de todas as apaixonadas que devotadamente a inundavam de preces ardentes, na esperança de escravizarem o coração dos seus amados e, por conseguinte, alcançarem “a felicidade e um bom marido”.
Venerada em Dendera por nas suas mãos divinas florescer o amor, a bela deusa, filha de Rá, inúmeras vezes representada sob a forma de uma vaca, desempenhava, tal como sucedia a um rol imensurável de outros deuses, díspares papéis, em diferentes zonas do Egipto.
Podemos afirmar que as suas origens remontam a uma época longínqua da história, já que a deusa consta do documento egípcio mais antigo conhecido até ao momento: a “Paleta de Narmer”, cuja leitura nos permite conhecer a unificação do Egipto por Narmer, primeiro faraó da I Dinastia, acontecimento que constitui a inauguração da instituição faraónica.
Ambas as faces deste documentos estão ornadas
com cabeças de vaca que, tal como referido anteriormente, simbolizam a deusa Háthor.
No Delta, é associada ao céu, sustendo o disco- solar no seu toucado, enquanto, em Tebas, surgia como uma deusa da morte.
Enquanto protetora da necrópole tebana, Háthor é representada como uma vaca emergindo de uma montanha escarpada que simboliza a falésia onde estão escavados os túmulos.
Aqueles que se aproximavam da morte, suplicavam, assim, pela sua protecção, ao longo das suas viagens até ao além.
Com efeito, tal como a maioria das divindades egípcias, Hátor sabia mostrar-se cruel e devastadora.
Tomemos como exemplo uma das lendas, que procura explicar as mudanças de estação, na qual, após uma feroz discussão com o seu pai, Hátor refugia-se no desero, permitindo que as trevas invadissem a terra, uma vez que o Sol somente ocuparia o seu legítimo lugar, quando a deusa retornasse.
Em torno desta personagem, tece-se ainda outra narrativa, notavelmente, violenta.
Indignado por a humanidade lhe haver desobedecido, Rá toma a decisão de massacrá-la, enviando, para este fim, a sua filha, tornada num olho solar fulminante.
Porém, ao contemplar a devastação que a sua filha causava, Rá compadece-se daqueles que lhe haviam desobedecido e toma a resolução de por fim a tão hediondo crime. Deste modo, convida a sua filha a sorver uma cerveja cor de sangue, que, além de a embriagar, lança-a num sono profundo. Ao despertar, a sua cólera insaciável havia-se desvanecido, pelo que os derradeiros sobreviventes da sua chacina permaneceram incólumes.
Tomemos como exemplo uma das lendas, que procura explicar as mudanças de estação, na qual, após uma feroz discussão com o seu pai, Hátor refugia-se no desero, permitindo que as trevas invadissem a terra, uma vez que o Sol somente ocuparia o seu legítimo lugar, quando a deusa retornasse.
A euforia rasga tão profundo pesar, quando, persuadida por seu pai, Hátor regressa, enfim, banindo a noite.
Em torno desta personagem, tece-se ainda outra narrativa, notavelmente, violenta.
Indignado por a humanidade lhe haver desobedecido, Rá toma a decisão de massacrá-la, enviando, para este fim, a sua filha, tornada num olho solar fulminante.
Porém, ao contemplar a devastação que a sua filha causava, Rá compadece-se daqueles que lhe haviam desobedecido e toma a resolução de por fim a tão hediondo crime. Deste modo, convida a sua filha a sorver uma cerveja cor de sangue, que, além de a embriagar, lança-a num sono profundo. Ao despertar, a sua cólera insaciável havia-se desvanecido, pelo que os derradeiros sobreviventes da sua chacina permaneceram incólumes.
Em Dendera, ergueu-se, no templo ptolomaico, um imponente templo em sua honra, que a deusa deixava, anualmente, para, após uma prolixa viagem através do Nilo (em que o seu temperamento bravio era suavizado por músicas e bebidas) consumar o seu divino casamento com o deus- falcão Hórus, que a aguardava em Edfu (cidade situada a cerca de cento e sessenta quilómetros a montante do Nilo).
Esta diligência mítica, que mantinha Háthor afastada da sua morada durante cerca de três semanas, era celebrada pelos egípcios com um festival alegre e faustoso.
Procurando reproduzir o trajecto executado pela deusa, a solene procissão seguia então pelo rio, rasgando com uma barca (“A Bela de Amor) onde, detentora de uma fastígio inigualável, uma estátua de Háthor se elevava.
Concomitantemente, os sacerdotes de Edfu preparam o encontro dos esposos, que ocorrerá no exterior do santuário, mais exactamente numa exígua capela localizada a norte da cidade. Este encontro deveria suceder num momento preciso, ou seja, à oitava hora do dia da lua nova do décimo primeiro mês do ano.
Quando por fim Háthor abençoa Edfu com a sua magnífica presença e perfuma aos lábios de seu esposo com o incenso de um beijo, iniciam-se então as festividades, no decorrer das quais a deusa é aclamada, saudada e inebriada com a música docemente tocada em sua honra.
Não era pois Háthor a “Dourada”, a “Dama das Deusas”, “A Senhora” e “A Senhora da embriagues, da música e das danças”?
Esta diligência mítica, que mantinha Háthor afastada da sua morada durante cerca de três semanas, era celebrada pelos egípcios com um festival alegre e faustoso.
Procurando reproduzir o trajecto executado pela deusa, a solene procissão seguia então pelo rio, rasgando com uma barca (“A Bela de Amor) onde, detentora de uma fastígio inigualável, uma estátua de Háthor se elevava.
Concomitantemente, os sacerdotes de Edfu preparam o encontro dos esposos, que ocorrerá no exterior do santuário, mais exactamente numa exígua capela localizada a norte da cidade. Este encontro deveria suceder num momento preciso, ou seja, à oitava hora do dia da lua nova do décimo primeiro mês do ano.
Quando por fim Háthor abençoa Edfu com a sua magnífica presença e perfuma aos lábios de seu esposo com o incenso de um beijo, iniciam-se então as festividades, no decorrer das quais a deusa é aclamada, saudada e inebriada com a música docemente tocada em sua honra.
Não era pois Háthor a “Dourada”, a “Dama das Deusas”, “A Senhora” e “A Senhora da embriagues, da música e das danças”?
Seguidamente, os esposos separam-se e ocupam as suas barcas, para que o cortejo possa dirigir-se para o santuário principal, onde os sacerdotes puxam as embarcações para fora de água e instalam-nas no recinto.
Uma vez mais acompanhada por seu marido, Háthor saúda então seu pai, o Sol, que ao lado de Hórus velava por Edfu, como referem os inúmeros textos encontrados: “ela vai ao encontro de seu pai Ré, que exulta ao vê-la, pois é o seu olho que está de volta”.
Terminado este encontro, tão lendários esponsais são enfim celebrados, prometendo, entre sumptuosos festejos, os dois deuses a divinas núpcias de luz.
No dia seguinte, dá-se início a uma faustosa festa, que se demora pelos catorze dias do quarto crescente, num período de tempo marcado por um rol quase inefável de ritos, sacrifícios, visitas a santuários, celebrações, solenidades, entre outros eventos.
Um grande banquete, no fim do qual dá-se a separação de Háthor e Hórus consagra o fim das festividades.
Tal como salienta Plutarco, o escritor grego, na escrita hieroglífica o nome de Háthor lê-se Hut- Hor, isto é, “a morada de Hórus” ou “a habitação cósmica de Hórus”, sendo portanto flagrante que a deusa representa o espaço celeste no qual o Hórus solar se desloca.
Uma vez mais acompanhada por seu marido, Háthor saúda então seu pai, o Sol, que ao lado de Hórus velava por Edfu, como referem os inúmeros textos encontrados: “ela vai ao encontro de seu pai Ré, que exulta ao vê-la, pois é o seu olho que está de volta”.
Terminado este encontro, tão lendários esponsais são enfim celebrados, prometendo, entre sumptuosos festejos, os dois deuses a divinas núpcias de luz.
No dia seguinte, dá-se início a uma faustosa festa, que se demora pelos catorze dias do quarto crescente, num período de tempo marcado por um rol quase inefável de ritos, sacrifícios, visitas a santuários, celebrações, solenidades, entre outros eventos.
Um grande banquete, no fim do qual dá-se a separação de Háthor e Hórus consagra o fim das festividades.
Tal como salienta Plutarco, o escritor grego, na escrita hieroglífica o nome de Háthor lê-se Hut- Hor, isto é, “a morada de Hórus” ou “a habitação cósmica de Hórus”, sendo portanto flagrante que a deusa representa o espaço celeste no qual o Hórus solar se desloca.
Denominada “Senhora do Sicômoro”, deusa das árvores, Hátor surge inúmeras vezes a amamentar os defuntos, especialmente, os faraós, mediante os longos ramos de um sicômoro.
Háthor, como deusa benevolente, possuía a intensa devoção, não somente de nobres, mas também dos mais humildes, erigindo-se, deste modo, em seu redor um culto que se proliferou no Império Romano.
Todavia, a crescente popularidade do culto, tecido em torno de Osíris e Ísis, levou a que este deidade passasse a deter algumas das funções de Háthor, acabando estas por fundir-se numa única divindade.
Em matéria de iconografia, a sua representação mais interessante é aquela que lhe permite surgir como soberana dos quatro cantos do céu e senhora dos pontos cardeais.
Os quatro semblantes que a representam simbolizam cada um deles um determinado aspecto da sua personalidade, ou seja...
Háthor- leoa, sublime olho dos astro solar, que os inimigos de seu pai, Ré, aniquila sem hesitar;
Háthor- vaca, poderosa soberana do amor e do renascimento;
Háthor- cobra, incarnação da beleza e juventude; e, por fim,
Háthor- gata, eterna protectora dos lares e, claro, ama real.
Háthor, como deusa benevolente, possuía a intensa devoção, não somente de nobres, mas também dos mais humildes, erigindo-se, deste modo, em seu redor um culto que se proliferou no Império Romano.
Todavia, a crescente popularidade do culto, tecido em torno de Osíris e Ísis, levou a que este deidade passasse a deter algumas das funções de Háthor, acabando estas por fundir-se numa única divindade.
Em matéria de iconografia, a sua representação mais interessante é aquela que lhe permite surgir como soberana dos quatro cantos do céu e senhora dos pontos cardeais.
Os quatro semblantes que a representam simbolizam cada um deles um determinado aspecto da sua personalidade, ou seja...
Háthor- leoa, sublime olho dos astro solar, que os inimigos de seu pai, Ré, aniquila sem hesitar;
Háthor- vaca, poderosa soberana do amor e do renascimento;
Háthor- cobra, incarnação da beleza e juventude; e, por fim,
Háthor- gata, eterna protectora dos lares e, claro, ama real.
Não lhes sendo possível distinguirem-se noutros planos profissionais, muitas mulheres tornavam-se sacerdotisas de Hátor (mais tarde designadas por “cantoras de Ámon”,) uma vez que as actividades musicais que desempenhavam permitiram-lhes investir-se de funções honrosas.
Por seu turno, fora dos cortejos religiosos, as bailarinas de Háthor, ostentando somente uma tanga curta, arredondada na frente, entretinham os convidados de um banquete.
Por seu turno, fora dos cortejos religiosos, as bailarinas de Háthor, ostentando somente uma tanga curta, arredondada na frente, entretinham os convidados de um banquete.
Detalhes e vocabulário egípcio:
O nome Háthor significa “ a casa de Hórus”.
Nebet- per- dona de casa.
Neferet- a bela;
Merout- amor;
Hensi irem- viver juntos
Sen- beijar / “respirar um odor”
No Antigo Egipto, os apaixonados seduziam as mulheres amadas com epítetos plenos de doçura, alguns deles ainda empregues na sociedade contemporânea, como é o caso de “gazela”, gatinho”, “andorinha”, “pomba”, enquanto outros facilmente podem ser qualificados de impopulares e até perigosos para a integridade física do amante, como “meu hipopótamo”, “minha hiena” ou “minha rã”.
Na realidade, o amor era representado discretamente pelos artesãos encarregados de enaltecer os túmulos egípcios com a sua arte, surgindo este sentimento sob a forma de um tímido gesto, em que a mulher rodeia os ombros do seu marido com o braço ou se apoia nas suas costas (o oposto jamais sucede).
De fato, o perfume era um dos mais conhecidos símbolos do amor, o que sustenta a filosofia de que os egípcios abdicavam da vulgaridade de uma manifestação direta, em prole de uma doce e subtil sugestão, com frequência plena de sensualidade.
O teto da sala hipostila do templo de Háthor em Dendera enleva os seus visitantes com a visão de sublimes decorações contendo cenas de natureza astronómica, considerados por muitos como as mais originais jamais encontradas.
Nele, o nosso olhar extasiado possui o privilégio de conhecer as horas do dia, da noite, os decanos, as regiões celestes, as décadas, os deuses dos pontos cardeais, as constelações, entre outros.
Ao observarmos o vão sul, somos maravilhados com uma cena, reproduzida não raras vezes em díspares pontos do santuário, que nos o corpo de Nut, a abóbada celeste, cujo corpo, banhado pelas ondas do oceano inferior, prolonga-se de uma extremidade à outra da sala.
Os seus pés acariciam o este, enquanto que a sua cabeça repousa a oeste.
Ao executar o seu trajeto cíclico, o deus solar incarna alternadamente os corpos diurnos e noturnos de Nut, alumiando a terra de dia, enquanto, por oposição, de noite a lança nas trevas, desaparecendo, tragado pela deusa, para ir iluminar as regiões subterrâneas.
Outra imagem oferece-nos, assim, a ressurreição do Sol , que os seus mil raios derrama sobre o templo de Dendera, personificado pela cabeça de vaca de Háthor, colocada sobre um edifício.
O nome Háthor significa “ a casa de Hórus”.
Nebet- per- dona de casa.
Neferet- a bela;
Merout- amor;
Hensi irem- viver juntos
Sen- beijar / “respirar um odor”
No Antigo Egipto, os apaixonados seduziam as mulheres amadas com epítetos plenos de doçura, alguns deles ainda empregues na sociedade contemporânea, como é o caso de “gazela”, gatinho”, “andorinha”, “pomba”, enquanto outros facilmente podem ser qualificados de impopulares e até perigosos para a integridade física do amante, como “meu hipopótamo”, “minha hiena” ou “minha rã”.
Na realidade, o amor era representado discretamente pelos artesãos encarregados de enaltecer os túmulos egípcios com a sua arte, surgindo este sentimento sob a forma de um tímido gesto, em que a mulher rodeia os ombros do seu marido com o braço ou se apoia nas suas costas (o oposto jamais sucede).
De fato, o perfume era um dos mais conhecidos símbolos do amor, o que sustenta a filosofia de que os egípcios abdicavam da vulgaridade de uma manifestação direta, em prole de uma doce e subtil sugestão, com frequência plena de sensualidade.
O teto da sala hipostila do templo de Háthor em Dendera enleva os seus visitantes com a visão de sublimes decorações contendo cenas de natureza astronómica, considerados por muitos como as mais originais jamais encontradas.
Nele, o nosso olhar extasiado possui o privilégio de conhecer as horas do dia, da noite, os decanos, as regiões celestes, as décadas, os deuses dos pontos cardeais, as constelações, entre outros.
Ao observarmos o vão sul, somos maravilhados com uma cena, reproduzida não raras vezes em díspares pontos do santuário, que nos o corpo de Nut, a abóbada celeste, cujo corpo, banhado pelas ondas do oceano inferior, prolonga-se de uma extremidade à outra da sala.
Os seus pés acariciam o este, enquanto que a sua cabeça repousa a oeste.
Ao executar o seu trajeto cíclico, o deus solar incarna alternadamente os corpos diurnos e noturnos de Nut, alumiando a terra de dia, enquanto, por oposição, de noite a lança nas trevas, desaparecendo, tragado pela deusa, para ir iluminar as regiões subterrâneas.
Outra imagem oferece-nos, assim, a ressurreição do Sol , que os seus mil raios derrama sobre o templo de Dendera, personificado pela cabeça de vaca de Háthor, colocada sobre um edifício.
Verónica Freitas
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