Na língua chinesa: hanyu 漢語, a maçonaria é conhecida como a Sociedade gongjihui 共濟會.
Em 1767, os membros da Companhia das Índias Orientais organizaram oficialmente a primeira loja maçónica na China, com o nome de Amity na cidade portuária de Guangzhou ou Cantão, no sul do país.
O surgimento da Maçonaria na China é efeito do processo de interpenetração dos interesses das potências marítimas europeias que através das suas Companhias das Índias Orientais demandaram o país do Meio e o Japão à procura de mercadorias raras na Europa como a seda, o chá e a porcelana.
A primeira potência europeia a chegar à China foi Portugal, em 1515, através de iniciativa do navegador Jorge Álvares que a partir de Malaca realizou várias viagens ao Sul da China estabelecendo inúmeras feitorias na província de Cantão.
Jorge Álvares terá participado em inúmeras incursões contra o sultão de Bintão vindo a estabelecer-se na ilha de Sanchoão junto a Tamang (Cantão), passando a ser considerado o feitor português da cidade. Narra a história que durante a segunda metade do século XVI os portugueses terão participado com quinhentos homens numa batalha marítima contra piratas que assolavam a costa do Sul da China, captando a confiança e agradecimento do mandarim de Cantão.
Em 1557, surge o estabelecimento de Macau, tornando-se o entreposto um porto florescente na rota comercial dominada pelos portugueses, de Goa e Malaca até ao Japão e à China.
Praticamente até a meio do século XVII os portugueses detiveram o exclusivo do comércio com a China e o Japão, perdendo pouco a pouco o seu papel dominante para outras potências europeias, como a Holanda e já no século XIX (1842) para a Grã-Bretanha, por via das Guerras do Ópio.
O primeiro sinal de actividade maçónica na China surge na segunda metade do século XVIII quando um barco da Companhia das Índias Orientais, o “Prince Carl”, aportou a Macau para iniciar actividade mercantil entre os portos da China.
Nele viajavam vários maçons que detinham uma carta-patente que os autorizava a realizar sessões maçónicas nos portos por onde aportassem. O facto da língua mercantil (da altura) nessa zona do mundo ser o português, a localização estratégica do enclave e os direitos de exclusividade de Portugal nas rotas de comércio da China, levou a que se estabelecessem laços de companheirismo entre esses maçons, oficiais da guarnição portuguesa e membros destacados da comunidade europeia e macaense.
Desse intercâmbio surgiu uma loja maçónica, com obreiros de várias nacionalidades e não integrada em qualquer Obediência que terá funcionado por alguns anos. Ao mesmo tempo, a partir de Macau mas também de outros pontos da Ásia do Sul, pastores protestantes demandaram o território chinês desenvolvendo significativa obra de evangelização junto dos gentios, com a aparente permissividade das autoridades imperiais chinesas. Entre eles encontrar-se-iam maçons. Segundo fontes sínicas, a partir de 1747 (dinastia Qing), levantaram colunas inúmeras lojas em território chinês em zonas de concessão europeias instaladas em portos chineses, ficando essas lojas na dependência das grandes lojas dos países de origem. São assinaladas lojas americanas, italianas, alemãs, francesas e inglesas a funcionar na China durante parte significativa dos séculos XVIII e XIX.
Vivendo com grande autonomia face à metrópole, os portugueses em Macau incentivaram o cruzamento de culturas, modos de vida, práticas religiosas e casamentos interraciais, sendo muito reduzido o número de senhoras portuguesas que vieram instalar-se em Macau. A maçonaria acompanhou este fluxo e várias lojas emergiram associando portugueses e estrangeiros membros das profissões liberais, do clero, do exército, marinha e ainda comerciantes. A distância da metrópole (a um mês de viajem por barco) implicou que essas lojas funcionassem com grande autonomia e sem particular articulação com as obediências portuguesas que na sequência da explosão do movimento liberal se expandiam ou retraiam, consoante o pendor absolutista ou mais liberal do monarca que reinava em Portugal.
Na parte final do século XIX (1872) uma loja de nome “Luís Camões” ergueu colunas, ao que tudo indica, sob a tutela da Loja Lusitânea, criada em Londres por exilados liberais. Esta última foi reconhecida pela Grande Loja de Inglaterra. A criação da Loja Camões terá sido facilitada pelo reconhecimento do estatuto da presença portuguesa em Macau, por força do Tratado de 1862, enquanto poder soberano, passando o enclave a ser uma colónia de Portugal em termos idênticos a Goa, Damão, Diu ou Timor.
Contemporâneo deste eventos, Sun Yat-Sen (孫文/孫中山/孫逸仙), que seria mais tarde o primeiro Presidente da República Chinesa, desenvolveu uma relação privilegiada com os maçons de Macau.
Segundo se relata, Sun terá sido iniciado numa loja americana, em Honolulu, vindo a residir em Hong Kong em 1887, onde se licenciou em medicina. Exerceu clínica em Macau no Hospital Kiang-Wu, abrindo uma farmácia sino-europeia com a ajuda de amigos portugueses, entre os quais personalidades de Macau referidas por várias fontes como Macons. Foi forçado a deixar Macau, indo para Cantão, onde participou na criação do partido republicano, que mais tarde se transformaria no Partido Kuomintang (中國國民黨).
Envolvido num motim de soldados chineses contra as autoridades imperiais, no fim da guerra sino-japonesa, viu-se obrigado a fugir para Macau onde foi acolhido por Francisco Fernandes, membro da Loja Camões. Dali fugiu para Londres, ficando detido na embaixada chinesa e sendo posteriormente libertado a exigência do governo britânico. Em Outubro de 1911, eclodiu o movimento revolucionário em Wuchang e a república foi proclamada a 3 de Novembro, tornando-se Sun Yat-Sen, seu primeiro Presidente, em 10 de Janeiro de 1912. O apreço pelos maçons portugueses encontram-se registado em cartas suas.
Uma segunda loja com a mesma designação “Luís de Camões” ergueu colunas em 1908 sob os auspícios da Loja “Pró Veritate” de Coimbra subordinada ao Grande Oriente Lusitano, integrando figuras proeminente do Conselho do Governo e do Leal Senado como Constâncio José da Silva, editor do jornal “A Verdade”, o capitão Rosa Duque, o poeta Camilo Pessanha e provavelmente o governador Carlos da Maia. Seguindo a orientação prevalecente na maçonaria portuguesa (de então), os maçons de Macau participarem na difusão dos ideais republicanos e laicos junto da comunidade expatriada, combatendo a influência dominante da Igreja Católica e as ordens religiosas no ensino, na cultura e nos círculos do poder.
Na sequência da revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, exigiriam a proclamação da república em Macau, a expulsão das ordens religiosas e a separação da Igreja e do Estado, exigências parcialmente satisfeitas pelo Governador Álvaro de Melo Machado. Vários maçons foram nos anos seguintes à proclamação da República eleitos como senadores e deputados em Portugal, em representação de Macau, entre eles Francisco Valdez e Francisco Anacleto da Silva.
Quase no fim da segunda metade do século XX foi fundada, em Xangai, em Março de 1949 a Grande Loja da China sob os auspícios da Grande Loja das Filipinas. Na sequência da proclamação da República Popular da China (1949) e com a auto-suspensão das actividades maçónicas (1951), as lojas localizadas no continente chinês dividiram-se. Parte delas transferiram-se para Hong Kong (associando-se no Zetland Hall), transformando-se em lojas distritais na dependência das três grandes lojas britânicas; outras mudaram-se para Taiwan, em 1954.
Durante algum tempo, as lojas transferidas para Taiwan procuraram o reconhecimento da Grande Loja Unida de Inglaterra o que lhes foi recusado, entendendo a UGLE que as lojas se deveriam subordinar aos Distritos regionais de Hong Kong. Em sequência deste processo, as lojas localizadas em Taiwan foram reactivadas sob a chancela de Grande Loja da China de que seria Grão-Mestre o filho do Presidente de Taiwan, Chiang kai-Shek (蔣介石 蔣中正), o General Chiang.
A Grande Loja da China encontra-se reconhecida pelas grandes potências maçónicas do mundo, designadamente a Grande Loja Unida de Inglaterra. Mantém actividade regular agregando cerca de onze lojas, com maçons de diversas nacionalidades, praticando os ritos de emulação e escocês antigo e aceite tanto em língua inglesa como em mandarim.
Hong Kong tem cerca de setenta lojas subordinadas à jurisdição das três grandes lojas britânicas apenas em língua inglesa, a Grande Loja Unida de Inglaterra, a Grande Loja da Irlanda e a Grande Loja da Escócia. Hong Kong é uma região administrativa especial da China usufruindo por cinquenta anos do sistema legal, do modo de viver e do conjunto de direitos, liberdades e garantias deixados pela administração colonial britânica.
Existem indicações de que a actividade maçónica foi reatada em Xangai em 2004 com maçons oriundos da Grande Loja da China (Taiwan) formando uma Loja circunscrita a expatriados. Existem informações que levantaram colunas na cidade de Pequim uma loja francesa e outra norte-americana, cuja filiação é desconhecida.
Em Macau, levantou colunas na década de 70 uma loja subordinada ao Grande Oriente Lusitano formada por membros da comunidade portuguesa expatriada e da comunidade macaense.
Em Janeiro de 2007, levantou colunas um triângulo com o nome Luz do Oriente, subordinado à Loja Anderson da Grande Loja Legal de Portugal (GLRP), formada por maçons portugueses.
Em 26 de Janeiro de 2011, o Triangulo transformou-se em Loja adoptando o nome e o registo ‘Loja Luz do Oriente n.º 80’ e praticando o Rito Escocês Antigo e Aceite. Encontra-se a levantar colunas, uma segunda Loja, sob jurisdição da Grande Loja Legal de Portugal, a funcionar no Rito de York e constituída por Macons de diferentes nacionalidades que vivem em Macau ou em zonas adjacentes da Republica Popular da China.
Macau usufrui por cinquenta anos como região administrativa da China do sistema de direitos fundamentais e liberdade de associação deixada por Portugal em 1999.
Texto: Arnaldo M. A. G., Cav.’. Kad.’.
Conselho Kadosh Marquês de Pombal, Supremo Conselho dos Grandes Inspectores do Grau 33, Lisboa – Portugal
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