Os instrumentos do Aprendiz são o malho e o cinzel, o avental e o par de luvas brancas.
O malho simboliza a vontade; o cinzel, o julgamento; o avental, o trabalho; o par de luvas brancas a pureza; uma luva é para o Aprendiz, e a outra, para a mulher eleita do seu coração.
Mas nem porque o assunto é particular e nosso, é pequeno.
Pretendo discorrer somente sobre o malho e sobre o cinzel.
O malho, como já vos disse, representa a vontade.
E que é a vontade?
O malho da vontade se aplica sobre a cabeça do cinzel que tem sua ponta assentada contra a matéria bruta que se tem a desbastar.
O cinzel é o julgamento, e por isso é ele que determina o momento da pancada, e ainda se deve ela ser forte ou fraca.
Não há vontade potencial ou inativa, porque ela pela sua própria natureza é cinética, ativa, executiva.
Há uma virtude e um vício maiores dos quais nascem todos os outros.
A virtude mor é o amor, e, o vício, tronco de que nascem todos os galhos, é o egoísmo.
Pois bem: o amor concentrado a uma coisa move o amante à ação. E proporcionalmente ao seu amor será sua vontade em atender ao objeto do seu amor. Eu, que vos falo, passei a maior parte da vida estudando. E quando eu era estudante muitos me consideravam como um sujeito possuidor de força de vontade.
Minha força de vontade era galho do amor que sempre tive pelo saber.
Meu juízo, meu julgamento, escolhia qual matéria a me aplicar, e depois o malho da vontade não cessava de golpear até à saciedade.
Como a vontade é energia moral, por isso ela não se gasta nem se cansa, e antes, pelo contrário, quanto mais se aplica mais se reforça.
O cansaço vinha e vem sempre pelo lado do físico, e é com desgosto que deixamos o trabalho vencidos pela exaustão.
Quem quiser ter vontade forte que arranje alguma grande coisa a fazer, e depois poderá verificar que Santo Agostinho tinha razão quando dizia: "meu amor é meu peso; por ele vou a toda parte que vou".
Reparai que os fracos da vontade são sempre aqueles que mudam mais de idéias do que de roupas. Pedro Chagas já dizia que "só vencerão na vida, os que forem fanáticos por um ideal".
A decisão inabalável em fazer alguma coisa determina a vontade de gigante, e a decisão nasce do juízo que julga, que decide, e assim o cinzel dirige o malho.
Assim, a vontade-malho tem de estar guiada pelo julgamento-cinzel, e nada há pior do que uma vontade bruta desorientada.
Acaso imaginais que um Lampião, um Al Capone não tinham vontade poderosa? Pois que cada um considere o que eles fizeram no mal, e verão que suas vontades tinham a mesma força das vontades dos mártires, seja os da Pátria, seja os de alguma idéia.
Salomão, o grande Salomão que edificou o templo do qual este nosso templo é cópia grosseira, disse "que o amor é mais forte que a morte".
E como demonstrado, a vontade nasce do amor, donde vem que a vontade é mais forte que a morte. Cristo, embora sabendo que ia morrer numa Cruz, quis, e foi a Jerusalém, porque sua vontade, com ser mais forte que a morte, o impeliu a ela, e nela teve o seu fim terreno.
Sócrates é outro que teve morte linda, ei-la: "... Já se avizinhava então a hora do pôr do sol... Em pouco entrou o servidor dos Onze... e se postou junto dele, dizendo: – A vós, Sócrates, que reconheço ser o mais delicado e o melhor de todos os que têm estado neste lugar, não atribuirei os sentimentos de outros homens, que se encolerizam e praguejam contra mim, quando, em obediência às autoridades, mando-os beber o veneno; tenho a certeza de que não vos enraivecereis, já que cabe a outros, não a mim, a culpa deste ato...
Este homem é cativante – disse Sócrates – , desde que estou preso vem sempre ver-me e agora mostra-se generosamente condoído de minha sorte... Que tragam logo a taça de veneno.
... Criton respondeu: – Mas os raios do sol ainda iluminam os cimos dos montes e muitos houve que tomaram a bebida mais tarde; e, depois de a mandarem tomar, ainda os deixaram comer e beber e entregar-se aos prazeres do amor; não vos apresseis, portanto; ainda não chegou a hora.
Replicou-lhe Sócrates: – Sim, Criton; esses a quem vos referis andaram bem procedendo assim, já que achavam proveitosa a demora; quanto a mim, tenho razão de não me portar desse modo, pois não julgo que lucre alguma coisa bebendo um pouco mais tarde o veneno; estaria a preservar uma vida que já perdi; com isso, apenas me enganaria a mim próprio.
Peço-vos, pois, que façais o que digo. Ouvindo estas palavras, Criton fez sinal a um carrasco que se achava perto; o escravo afastou-se; em seguida voltou com o carcereiro a trazer a taça de veneno. –
Disse-lhe Sócrates – meu bom amigo, como tendes experiência destas coisas, dizei-me como devo proceder, – o carcereiro respondeu – ponde-vos a andar até sentirdes as pernas fracas; deitai-vos após e o veneno produzirá seu efeito.
Ao mesmo tempo oferecia a taça a Sócrates, que, do modo mais natural e gentil, sem o menor medo, nem mudança de cor ou de expressão, olhando fixamente o carcereiro conforme era seu costume olhar os homens, tomou a taça e disse: Que achais da idéia duma libação a algum deus, derramando um pouco desta bebida? Poço ou não fazê-la. O carcereiro respondeu: Nós, Sócrates, preparamos apenas a quantidade que julgamos necessária.
Compreendo, volveu o filósofo: mesmo assim devo pedir aos deuses que favoreçam minha viagem deste mundo para o outro – e possa este meu desejo, que será minha prece, ser atendido por eles.
Então, levando a taça aos lábios, bebeu rápida e corajosamente a cicuta"
Todos vós, ó respeitáveis aprendizes, tendes vontades poderosas. Mas sobre que matéria deveis aplicar vossos cinzéis?
Pois deveis aplicar sobre as pedras brutas de vós mesmos, desbastando-as aqui e ali nos defeitos e vícios, até que ela possa ser utilizada no edifício social
E nós outros que aqui estamos, conquanto mestres, também possuímos arestas a desbastar, pelo que nossa mestria é só simbólica. Em verdade, seremos eternos aprendizes, visto que sempre temos o que fazer sobre nós mesmos com o malho e com o cinzel.
E para que serve o nosso trabalho em desbastar a pedra bruta que somos? Para que isto?
Para que, proximamente possamos ajudar, com nossas pessoas, a construir o edifício social simbolizado neste templo que Deus mandou Salomão construir. Se as pedras não forem trabalhadas uma a uma, o edifício arquitetônico não se levantará da terra.
Deus mandou Salomão edificar o templo, vede bem! Por isto a Maçonaria, conquanto obra humana, tem suas origens nos Céus.
Daqui decorre o porque remoto, o porque devemos nos desbastar das pétreas asperezas! Isto nos cumpre a nós fazer, para que possamos, após a morte física, sermos recebidos no Oriente Eterno, na Maçonaria extra-terrena.
Lembrai-vos de que numa das sessões, um boletim nos informava que certo poderoso Irmão se tinha passado para o Oriente Eterno.
É esta mística que deve ser o primeiro objetivo do Maçonaria, e deste decorre o outro, o secundário e próximo, que é nos cinzelarmos a nós mesmos para que possamos entrar como parte no edifício social da humanidade.
Que o Grande Arquiteto do Universo nos abençoe o propósito de sermos dignos aprendizes.
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