SABEDORIA, FORÇA E BELEZA NA VIDA MAÇÔNICA
A existência do universo como o conhecemos só é possível devido à harmonia, ordenação e padrões bem definidos.
Leis se entrelaçam umas às outras, criando uma rede, tanto no macrocosmo como no microcosmo, que opera de um modo inteligente, como se fosse resultante do entrelaçamento de uma Sabedoria Primordial, de uma Força Primordial e de uma Harmonia Primordial.
Entretanto, este estado de inter-relação harmoniosa que se observa na natureza não se reflete na sociedade atual.
Com o desenvolvimento da ciência ocidental nos séculos XIX e XX, o homem começou a usar seu conhecimento para dominar e controlar a natureza, explorando-a, de maneira fragmentária, no entendimento de David Bohm e F. David Peat (2007: 7- 19), em nome do lucro e do conforto acima de qualquer custo.
Como o seu ego assume que o mundo gira em torno de sí, ele, em seu egoísmo, segue suas predileções e desejos, sem prestar atenção ao que suas ações podem causar aos outros ou na estrutura social à qual ele pertence, causando o “embotamento” de sua consciência.
Rollo May (1953), psicanalista, considera que a perda do senso de relacionamento com a natureza e de foco de valores da sociedade, juntamente com a perda da linguagem de comunicação pessoal, geram sentimentos de isolamento, vazio e ansiedade.
Como consequência, ele se confronta com problemas, tanto no nível pessoal (dores emocionais, por exemplo) como social (conflitos interpessoais, crime, tirania, injustiça, corrupção, etc.) e no global (guerra e fome, entre outros), que terminam por afetar sua própria integridade psíquica, afastando-o de uma harmonia interna.
SABEDORIA
Alain Pozarnik (2003: 91) ressalta que a Iniciação Maçônica, uma viagem sucessiva através da matéria, do intelecto, do instinto e do afeto, fornece o caminho para que do interior do homem brote o Ser que pode transformar o planeta em um Templo de liberdade, harmonia e justiça.
O método iniciático, praticado no Templo Maçônico, envolve o despertar do aspecto sagrado da vida. Estudos sobre o sagrado foram feitos por Mircea Eliade (2001) e por Georges Charpak (2004).
Para Charpak, sagrado é o “sentimento gerador de uma consciência, que corresponde ao que existe de mais elevado no conhecimento, as leis sutis da natureza”.
Para outra pessoa, porém, uma pedra pode ser sagrada, desde que sua realidade de pedra se transmute numa outra realidade por ter sido, por exemplo, ofertada por alguém querido que se foi deste mundo.
Alguns dizem que o dever e a família são sagrados.
Outros sentem a presença do sagrado ao ouvir certas obras de Bach e Mozart. Portanto, O método iniciático leva o maçom a tornar significativo o seu despertar para uma nova visão de mundo, em busca de uma consciência universal unificada.
Ora, a Sabedoria Maçônica ensina que o maçom deve investigar constantemente o caminho da verdade, buscando seu aperfeiçoamento interior para crescer intelectual e espiritualmente.
Com este objetivo, a Maçonaria instrui o maçom a tomar atitudes corretas e decisões acertadas, a viver em paz e harmonia consigo mesmo, a ser equilibrado e sensato e a ser capaz de iluminar outras pessoas de modo eficaz.
O ponto de partida da aplicação da Sabedoria Maçônica para forjar o caráter do maçom é o “conhece-te a ti mesmo”, obtido através da observação de si mesmo, de modo regular. É preciso que cada maçom enfrente a si mesmo e reconheça seus defeitos, fraquezas e imperfeições, reforçando suas virtudes.
Para Fernando César Gregório (2000: 69), o exercício da virtude tem por objetivo levar o maçom à perfeição. Entretanto, isto só se dá se o maçom tiver uma real aspiração ou necessidade de conhecer sua verdadeira natureza.
A motivação pode ser obtida através da leitura e reflexão sobre as virtudes, como induz o filósofo William J. Bennett (1995), da discussão prática das qualidades positivas e negativas dentro de uma classificação de temperamentos considerados como básicos e de testes que indicam quais virtudes devem ser desenvolvidas, como os indicados pela psicóloga Angela Maria de la Sala Batà (1995a).
Já o reconhecimento dos defeitos pode ser efetuado tanto pela análise de uma lista de qualidades negativas como pelo reconhecimento da não posse de determinadas virtudes e consequente questionamento do porque isso não acontece.
Por exemplo, o estudo da lealdade pode levar à reflexão sobre deslealdade, falsidade, falta de vontade própria e submissão. Aos poucos, o maçom aprenderá a olhar para dentro de si, a conhecer seus maus hábitos e vícios e a fazer das virtudes um objetivo, que, como diz Robson Rodrigues (2006: 19), “uma vez atingido, se torna uma prática constante, um hábito em sua vida”.
Nessa busca do conhecimento de si mesmo, é preciso levar em consideração que o caráter de cada um é grandemente influenciado pelos instintos, pelas emoções, pelo pensamento e pelas paixões.
Os instintos podem ser sublimados, se não forem alimentados, segundo a maioria dos psicanalistas, Já as emoções, de um modo geral, motivam, deformam, bloqueiam e corrompem as ações do indivíduo.
Por isso mergulham o ser humano na aflição ou no êxtase, provocando sucessos ou insucessos.
Por sua vez, o pensamento é a atividade que formula conceitos, que permite ter ideias claras e raciocinar sobre qualquer assunto.
Esta é uma habilidade que pode ser adquirida e desenvolvida. Enfim, a paixão é um sentimento intenso e exclusivo, levado ao extremo, estando, comumente, ligadas a qualidades individuais negativas.
Não é difícil reconhecer, nas paixões voltadas para esportes, política e religião, fortes traços de fanatismo, intolerância, grosseria, violência, desrespeito (BATÀ,1995b: 17-21).
Observe-se que emoções negativas ou positivas (como raiva, medo ou alegria), surgem de situações de vida significativas e de avaliações do seu significado para o nosso bem-estar, mas duram pouco.
As pessoas, entretanto, experimentam um fluxo constante de estados de humor. Esse humor, positivo ou negativo, também nascido no interior, tem uma ação prolongada.
A Maçonaria ensina o controle das emoções e das paixões violentas, mantendo-as dentro de limites convenientes, através do cultivo de virtudes como a temperança, a prudência, a disciplina e a perseverança, auxiliares importantes nesse embate.
Também, ter, todos os dias, alguns momentos de recolhimento, ou uma pequena pausa nas atividades.
Em busca da verdade: sabedoria, força e beleza externas, permite ao maçom iluminar seu interior e obter uma revelação sobre seus vícios e virtudes, suas paixões e instintos, seu corpo e seus pensamentos.
Mas, só a revelação não basta.
O indivíduo deve analisar a fundo os motivos pelos quais ele se tornou sensível ou vulnerável à ação maléfica de uma ou mais reações.
Também, ele não pode esquecer que mente e corpo vivem em eterno contacto, que existem conexões entre o sistema imunológico e o cérebro, como mostra a doutora em medicina Esther M. Sternberg (2001: 53-54), sendo preciso que ele recupere a consciência do próprio corpo a fim de ter a percepção do que está sentindo.
Por outro lado, o maçom busca o sagrado mas não pode deixar de se alimentar do mundo fora de Loja.
As informações alí obtidas são importantes fontes de inspiração e motivação no prosseguimento da caminhada.
Três experiências permitem a alguém alcançar a visão prática da sabedoria:
- conhecimento da natureza humana - dos seus modos e hábitos, do seu gênio, de suas fraquezas;
- conhecimento dos fatos do mundo;
- conhecimento das leis naturais e sociais.
Como assinalam Jorge Buarque Lyra (1961: 78-83) e Harold Bloom (2005: 13), parte desse conhecimento pode ser encontrado na literatura e na observação, na experiência e na assimilação da experiência dos outros.
Mas, como diz Rui Barbosa (2003: 44), é preciso ter ideias próprias e digerir e assimilar o conhecimento obtido passa pela reflexão, sem a qual a cultura adquirida não serve aos propósitos da sabedoria. Com isto concorda Alain Pozarnik (2003: 12), quando diz que "na via iniciática maçônica o que é importante são as interrogações e o que as descobertas dos outros suscitam e os caminhos que elas permitirão trilhar, são o que os pensamentos dos autores despertam no iniciado, são o como uma idéia pode mudar a qualidade do Ser no iniciado, independentemente de haver concordância ou não com ela".
É importante, portanto, gerar valores, discernir “entre o certo e o errado, o importante e o não importante, o útil e o inútil, o verdadeiro e o falso, o altruísmo e o egoísmo”, como ensina Krishnamurti (1989: 19). Isto permite escolher o que deve, ou não, ser assimilado e tornado automatizado, para vivenciá-lo com todo o seu Ser e estar preparado para qualquer eventualidade, inclusive em situações de grande confusão.
Além da riqueza encontrada na cultura humana, o maçom tem a possibilidade de mergulhar no amplo universo dos símbolos, das lendas e das alegorias existentes na ritualística maçônica.
Como lembra Hammond (1975), o simbolismo é um método cujo objetivo é ter alguma coisa concreta para representar e visualizar algum processo, verdade ou poder invisível.
Entretanto, é preciso que o maçom penetre no significado mais profundo dos símbolos e perceba que eles são utilizados pela Maçonaria para comunicar suas verdades e fazê-lo enxergar mais longe, como, por exemplo...
- enxergar a conexão entre as cerimônias da Ordem e sua conduta pessoal;
- entre o trabalho em Loja e seu dia-a-dia.
Essa conexão é bem estabelecida por Antônio Augusto Queiróz Baptista (2006), por Olivier Doignon (2006) e por Alain Pozarnik (1991).
Descobrir as interpretações simbólicas leva o iniciado a aprender, pouco a pouco, que quanto mais ele conhece, através do reconhecimento dessas interpretações, tanto mais ele se conhece a si mesmo.
Mesmo contemplar um símbolo só por contemplá-lo, termina gerando o pensar em alguma coisa; esta será a primeira interpretação obtida.
Como consequência, há um encadeamento de ideias lógicas e descontroladas, conduzindo a conceitos cada vez mais elevados no plano espiritual, como só a experiência faz aprender (MÉRIAS, 2003:110). Esse método iniciático é lento, mas extremamente enriquecedor e útil.
FORÇA
Construir uma obra viva, como busca a Maçonaria, requer um grande esforço, tanto individual como coletivo.
Através de uma ação orientadora de vida, a Loja é o canal perfeito da Força que alimenta todos os participantes e os guia no caminho do Conhecimento.
É o trabalho em regular em Loja que reúne as forças individuais, físicas e/ou morais, dos maçons, fazendo nascer uma força superior àquela resultante da simples adição das forças individuais.
Para desenvolver sua força individual é imprescindível que o maçom tenha o conhecimento de si mesmo, a nível mental (virtudes e defeitos, reações negativas e positivas) e físico (biológico), e o conhecimento do mundo que o cerca (sociedade e natureza).
Mas isso não basta.
É, sobretudo, necessário que ele aja, reforçando suas virtudes, livrando-se de seus defeitos e maus hábitos, velando seus desejos, subjugando sua vontade, controlando suas emoções, dominando suas paixões e pensando corretamente, para evitar que oscilações de seu estado emocional o desviem de seu Caminho.
Isto não é tarefa fácil, mas começa com uma tomada de decisão.
Ao tomar uma decisão, o ser humano influencia a próxima, aumentando, ou diminuindo, a probabilidade da nova escolha.
Assim, como lembra a física e filósofa Danah Zohar (1995) quaisquer das decisões tomadas por alguém, mesmo se for considerada de pouca importância, tem algum significado para o resto de sua vida.
Certamente, o indivíduo precisa ter coragem, para tomar algumas decisões e vencer seus hábitos, cuja quebra pode exigir um esforço mental hercúleo, e bastante determinação e energia, principalmente quando seus atos são ditados por leis, códigos ou costumes sociais.
Não se trata, aqui, daquela coragem que marca a virilidade, mas, da capacidade de superar o medo, quando ele existe, ou da aptidão para enfrentar a ansiedade através de uma vontade mais forte, segundo o psicanalista Rollo May (2007) e o filósofo André ComteSponvillle (2004).
Sem dúvida, essa coragem deve ser dosada com prudência, pois a experiência tem mostrado que a sensatez leva ao discernimento do que é bom ou mau em um momento de decisão, evitando que alguém cometa erros dos quais venha a se arrepender.
Em resumo, não basta apenas desejar ou querer; é necessário lutar com determinação não somente para fortalecer a vontade mas, também, para submetê-la. Para isso, precisa-se ter uma fonte de motivação.
A emoção é uma dessas fontes.
Na realidade, como disse Ledoux “o ser humano nada aprende, a menos que o que há para ser aprendido o emocione e tenha um significado importante que o motive” (LEDOUX, 2002: 202).
Outra fonte é a cognição, que se refere aos eventos mentais, tais como crenças, expectativas e conceitos, e relacionam-se com o modo de pensar do indivíduo. Contudo, é necessário se ter disciplina na busca do fortalecimento da determinação.
Essa disciplina exige um plano de ação, no qual se deve definir metas, as mais específicas possíveis, gerar estratégias que permitam alcançar essas metas, e acompanhar o desempenho para, se necessário, reformular o plano ou metas (REEVE, 2006).
Além da disciplina, é preciso ter perseverança, que deve ser mantida constante, com esforço e firmeza, num sentimento, numa resolução, num trabalho, por vontade própria. William James, citado por Fadiman e Frager (1986:149-186), via a vontade como uma combinação da atenção (consciência focalizadora) com o esforço (superação de inibições, preguiça ou distração).
Como mostrou Schwartz, o esforço de tornar forte o enfoque da atenção provoca uma ação no cérebro através de uma força interna, integradora do íntimo humano, que atua nos circuitos cerebrais (mudando-os, criando-os ou fortalecendo-os) que determinam o controle da vida de uma pessoa.
Note-se que é possível gerar uma firmeza, que pode ser útil no momento em que houver uma necessidade de grande impacto. Isso através da prática sistemática, durante uns poucos minutos, de alguns exercícios físicos e mentais aconselhados por Joel Davitz e Harold Cook (1965) e William James.
Embora a força interna, integradora, exista em todos os seres humanos, ela pode passar percebida.
Acontece que paixões negativas e reações consomem muita energia e essa força só emerge se não for dissipada com elas.
Essa é mais uma razão para o maçom se libertar de suas emoções e vencer o ardor de suas paixões, aquelas emoções que, levadas a um grau de intensidade, sobrepujam a razão e a lucidez.
Um caminho para controlar, ou combater, as emoções é:
- reconhecê-las e as formas que elas podem tomar;
- conhecer suas utilidades, em particular na relação com os outros;
- analisar de que maneira elas podem reforçar ou obscurecer os julgamentos pessoais;
- saber utilizá-las de modo útil sem se deixar paralisar ou dominar por elas, ou seja, gerí-las (LELORD e ANDRÉ, 2003).
Parafraseando Mira y López, uma maneira adicional de combater as forças maléficas do medo, da ira, da aversão, da tristeza e dos desvios danosos do amor, é a insistência no desenvolvimento de um eficiente do Amor ao Bem, esse amor desinteressado e caracterizado por ações virtuosas e pela convivência com emoções e afetos positivos.
O uso das emoções positivas e afetos positivos é de capital importância na geração do bem-estar, pois a satisfação das necessidades psicológicas do indivíduo dá qualidade a seus dias.
A alegria, o bom humor, o contentamento e a serenidade são quatro faces da felicidade.
A alegria e o contentamento, do mesmo modo que a ira e o medo, existem apenas por alguns minutos durante o dia.
Já o bom-humor, que reflete um envolvimento agradável, pode ser mantido pela atitude no enfrentamento das situações.
Ao ser generoso para consigo, e para com os outros, concedendo o perdão tanto quanto possível e mantendo uma atitude de gratidão diante da vida, a pessoa pode experimentar o fluxo constante do bom-humor, que lhe transmite a sensação de estar em paz com o mundo (LELORD e ANDRÉ, 2003; 121-125).
Segundo estudos apresentados por Reeve (2006: 205), quem gosta de se sentir bem toma decisões e age de maneira a manter o bom-humor além de 20 minutos.
Sorrir é uma boa estratégia para manter o bom humor.
O escritor Andy Andrews (2007: 86-88) sugere não só que se sorria sete segundos, todos os dias, ao se acordar mas, também, que se sorria para as pessoas encontradas.
Essa positividade pode fazer surgir um otimismo que leva seus possuidores a viverem uma vida de mais valia, a gozarem de melhor saúde psicológica e física, mostrando maior persistência e mais eficácia na solução de problemas e sendo mais populares socialmente do que as pessoas não-otimistas.
Isto porque adquirem um senso de esperança e motivação de que seu futuro pode ser melhorado (REEVE, 2006: 274).
Ainda mais, ao se tornar mais generoso e mais sereno, através do bem estar gerado pelo afeto positivo, o indivíduo transforma seu egoísmo em altruísmo.
Finalmente, como qualquer alteração (funcional ou lesional) no organismo de uma pessoa é capaz de modificar suas emoções e afetos positivos, é necessário se ter a preocupação contínua de efetuar uma limpeza orgânica, fortificando órgãos afetados ou prevenindo seu mau funcionamento, mediante normas de higiene, dietas, exercícios físicos ou medicação adequada.
Uma vez iniciado o processo do controle das emoções e paixões, há de se sentir uma realimentação positiva resultante do uso da força interna, visto que ela só emerge se houver a beleza proporcionada pelo equilíbrio interno e fraternidade.
Contudo, essa é uma via de duas mãos: para se ter equilíbrio interno, é preciso usar essa força.
BELEZA
O equilíbrio da vida interior, obtido através do processo iniciático permite, a alguém evitar de fazer aos outros o que ele não gostaria que fosse feito a si mesmo.
Ao manter o equilíbrio em seu relacionamento com os outros, o maçom permite o desenvolvimento da fraternidade, um caminho para combater o egoísmo.
Em contraste com o mundo profano em que a desarmonia está, muitas vezes, presente, a Loja deve ser um mundo sagrado onde tudo está em ordem e em harmonia, um mundo de Beleza, portanto.
Pelo fato de o ser humano ser imperfeito é que se faz sua purificação ritual antes que ele entre nesse lugar de paz (LEJEUNE, 2003:81).
Mas, esta purificação é apenas simbólica e a verdadeira purificação só é obtida pelo esforço individual na busca do domínio das emoções, das reações, da linguagem - disciplinas praticadas em Loja.
A Maçonaria luta por uma ordem social que propicie, a todos, oportunidades iguais para revelar suas potencialidades e talentos e atingir níveis compatíveis com sua dignidade (RODRIGUES, 2006: 136).
É através de seu lema, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que sua Beleza se manifesta.
Para se ter uma sociedade com Liberdade, é necessário que seus componentes entendam que liberdade não é apenas uma questão de dizer sim ou não, nem de revolta, libertinagem, demagogia, luxúria ou vida desregrada.
Também, não se faz uma sociedade livre a não ser com homens livres, eles mesmos.
Ser livre...
- é ter o domínio o domínio da consciência sobre seu próprio comportamento e atos,
- é conciliar a liberdade de cada um com a liberdade do outro,
- é não estar amarrado a preconceitos,
- é crer em alguma coisa (não necessita ser religioso no sentido de praticante),
- é ser capaz de ter tempo livre,
- é ter consideração pelo conhecimento dos outros,
- é tomar decisões racionalmente,
- é fazer o que quer, profissionalmente,
- é conhecer a si mesmo para se liberar de seus traumas e recalques,
- é vencer seu próprio ódio e ressentimento.
Além da responsabilidade e da temperança, a tolerância deve ser cultivada individualmente para fortalecer essa liberdade.
Por se opor ao fanatismo, ao sectarismo, ao autoritarismo ou qualquer intolerância que ameace a liberdade, o maçom deve coibir e combater grupos intolerantes se eles ameaçarem, efetivamente, a liberdade.
Já o conceito de Igualdade significa a igual possibilidade, sem privilégios, de cada um contribuir conforme sua capacidade, pois as pessoas possuem inteligência e habilidades diferentes (BUARQUE LYRA, 1961:177).
Ela significa, também...
- igualdade nos direitos e deveres,
- igualdade nos ideais comuns que unem os indivíduos,
- igualdade dos homens entre si.
Significa, ainda, dentro das normas comuns de utilidade, a possibilidade do poder e dos direitos, a que todos devem fazer jús (LAFUENTE, 1981:82).
Como a lei é uma das conotações da justiça, é preciso que Lei e Justiça caminhem lado a lado.
A lei deve respeitar a liberdade de todos, a dignidade de cada um e os direitos, primeiramente, de outrem e o maçom também tem a obrigação de combater qualquer forma de injustiça e seus respectivos responsáveis, em qualquer lugar ou circunstância em que algum direito tenha sido violado.
Assim ele será justo, isto é, alguém que “pensa, fala e age de acordo com os ditames da razão, em conformidade com os deveres a seguir, sem desvios ou contornos, o caminho apontado pelo senso de justiça e equidade”, como diz Rodrigues (2006:63).
O justo não viola nem a lei nem os interesses legítimos de outrem, sendo reto em pensamento e conduta, pois a retidão é companheira inseparável da justiça e da equidade e implica em imparcialidade de julgamento.
Também não dispensa a misericórdia (a capacidade de perdoar), pois, para ser equitativo, o juízo tem que estar livre de todo ódio e ressentimento (COMTESPONVILLE, 2004: 69-95; RODRIGUES, 2006: 130- 136).
Como diz Lafuente, se a Liberdade e a Igualdade formam o corpo da Beleza Maçônica, a Fraternidade é sua alma.
A beleza da Grande Obra Maçônica aparecerá no instante em que todas as pedras, enfim polidas, estiverem unidas no pleno sentido do termo, conforme o plano do Grande Arquiteto do Universo.
Adornada com o Amor, essa beleza se manifesta na forma de prática de solidariedade, beneficência, benevolência e altruísmo.
E o cimento capaz de unir essas pedras é a Fraternidade.
O suporte social, apontado como um de sete fatores que têm um benefício positivo para a saúde e longevidade, tem apoio nessas ações, como mostra Dr. Kenneth Pelletier (2000).
A prática do apoio recíproco entre elementos componentes de um grupo , a solidariedade, e do abrir mão dos próprios interesses, para se preocupar e interessar pelos outros, o altruísmo, conforme definição de Nicola Aslan (1996), resultam, comprovadamente, na prevenção ou alívio em muitas doenças, inclusive melhoria do sistema imunológico e diminuição do estresse, das complicações de parto, da incidência de doenças coronárias de recorrência de enfarte do miocárdio e do risco de estabelecimento e progressão de câncer.
O simples uso de gestos recebidos através dos sentidos, tais como um tom de voz, um toque, um olhar de simpatia, um aperto de mão, podem reduzir as respostas fisiológicas e hormonais a um estímulo estressante.
Certamente, ocorre o mesmo com relação às práticas de querer o bem do outro (benevolência) e de desinteressadamente socorrer os necessitados (beneficência).
Essas ações devem ser adornadas com o amor, aquela tendência, profundamente inata em toda a forma, em todos os seres, em toda a criatura, à união, à compreensão, à integração com tudo e com todos.
Como no caso da liberdade, ninguém pode chegar ao verdadeiro amor antes de ter enfrentado francamente e vencido o próprio ódio e ressentimento.
Cabe, pois, a cada maçom evitar que a discórdia, a inimizade, ódios e ressentimentos, além de seus defeitos, quebrem a harmonia e o espírito de fraternidade que deve reinar em uma Loja.
Bons costumes são indispensáveis à harmonia em uma Loja.
Por isso, o maçom deve trabalhar continuamente no conhecimento de si mesmo, e dos outros, e cultivar as qualidades adequadas.
Uma delas é a paciência, a capacidade de suportar os dissabores, as adversidades e infelicidades do cotidiano, o que se consegue com equilíbrio e serenidade nas situações em que as soluções independem de nossa capacidade, habilidade ou esforço.
Já os relacionamentos humanos, em uma Loja, devem ser marcados pela lealdade e pela discrição, como lembra Rodrigues (2006: 84ss).
Uma pessoa leal é sincera, honesta, reta, cumpre o que prometeu, honra o compromisso que assumiu e é leal nos bons e maus momentos.
A pessoa discreta é fiel e leal, sendo reservada em suas palavras e atos, evitando falar dos defeitos alheios e fazer comentários desairosos ou julgamentos precipitados sobre o que toma conhecimento, e silenciando sobre um segredo do qual tem conhecimento.
E, finalmente, por que não falar de doçura, , no dizer de Comte-Sponville (2004: 209), é o amor em estado de Paz?
Ela é uma arma tão forte que é capaz de “acalmar o furor”, fazendo o bem com o menor mal possível aos outros.
Estas são algumas ferramentas capazes de promover Paz e a Concórdia, essa harmonia de vontade e/ou opinião, em uma Loja.
Entretanto, quando o verdadeiro mor existe, as outras virtudes surgem espontaneamente, como se fossem naturais, a ponto de se anularem como virtudes específicas.
Elas, quase todas, só são moralmente necessárias por falta de Amor.
CONCLUSÃO
Mostrou-se, neste trabalho, que a Harmonia, a Força e a Sabedoria são os pilares sobre os quais se apoia a natureza e, também, que elas são manifestações de algo mais profundo.
Entre elas, a Beleza é uma manifestação da harmonia existente na organização de todas as coisas, tanto no macrocosmos como no microcosmos.
Essa manifestação, percebida através de instrumentos como equações matemáticas, leis físicas, inspiração, sentidos, tanto dá uma sensação de prazer, como fornece informações que possibilitam ao ser humano preparar-se para eventos futuros.
Entretanto, não haveria harmonia na natureza sem a atuação de quatro forças fundamentais, provavelmente diferentes facetas de uma mesma Força Primordial.
Além disso, todas as forças atuam segundo leis pré-estabelecidas e inteligentes, que se entrelaçam umas às outras e que constituem a Sabedoria da natureza.
Isso permite que a matéria, a energia e a informação se organizem numa grande variedade de sistemas, inclusive aqueles conscientes que podem, por sua vez, refletir sobre o universo em que vivem.
Considerando-se que as quatro forças e todas as partículas existentes têm uma origem comum, uma conclusão é que a informação existente no Universo estava toda contida no momento de sua criação em um único ponto, o Unum.
Ora, a cada instante, o ser humano transmite e armazena informação de diferentes modos, usando sua mente ou atividades básicas de seu corpo. Também, consegue acessar informações invisíveis através da percepção de leis que descobre via símbolos matemáticos ou mentais.
Essas informações se manifestariam a partir de níveis profundos que parecem ser os mesmos níveis profundos da mente.
À medida que a ciência progride, se torna mais marcante a Unidade da Natureza.
Como a informação é uma medida da ordem, que quantifica as instruções necessárias para se produzir uma certa organização, e como a ordem existir em qualquer lugar da natureza, tudo indica a existência de uma Fonte Primordial de Informação, uma Sabedoria Primordial chamada na Maçonaria de o Grande Arquiteto do Universo, que gera um Conhecimento Universal.
Assim como o uso harmonioso e bem organizado do Conhecimento, gerado pela Informação, resulta em uma Sabedoria que, através das Forças Fundamentais, rege a Beleza do cosmos, o Conhecimento adquirido através da Iniciação Maçônica governa a Arte Real.
É sobre os pilares da Sabedoria, Força e Beleza que se apoia a construção do Templo Maçônico, a Grande Obra.
Utilizando símbolos, que mantêm a Verdade intacta, a Sabedoria Maçônica ensina que o maçom deve investigar constantemente o caminho dessa Verdade, buscando seu aperfeiçoamento interior para crescer intelectual e espiritualmente.
Para isso, ela guia o maçom no aprendizado necessário e progressivo das condições de domínio de si mesmo.
Por ser submetido a forças relacionadas com instintos, emoções, tradição, sociais, etc., a maioria provocando reações negativas que podem levá-lo ao sofrimento, o maçom deve cultivar força de vontade, forjando seu caráter e seu conhecimento.
Assim ele se capacita a tomar atitudes corretas e decisões acertadas, a viver em paz e harmonia consigo mesmo.
Somente ao atingir o equilíbrio, livrando-se do consumo de energia provocado pelas reações negativas, é que o maçom sente emergir uma força interna positiva que, por sua vez, reforça sua vontade e seu caráter.
Essa força interna, existente em cada maçom, quando refletida e integrada ao todo Maçônico, gera a Força que permite a manifestação da Beleza ocorre na construção de uma sociedade onde seja plena e natural a ação da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
Um mundo de Paz, Justiça e Amor.
Esses três atributos são indispensáveis na construção de uma vida interior, sagrada, dentro de um Templo, onde cada um dos pilares é iluminado com a chama do Conhecimento.
Ao seguir a senda indicada pelos três pilares, o maçom precisa, primeiro, perceber a Sabedoria da Harmonia, a Força da Harmonia e a Harmonia da Harmonia.
Após descobrir a Força da Força, ele deve utilizar a Força da Sabedoria e a Força da Harmonia, para trabalhar com a Sabedoria da Sabedoria, com a Sabedoria da Força e com a Sabedoria da Harmonia, com bem coloca Lejeune (2003: 118).
Pode-se completar o pensamento de Lejeune dizendo que ao longo deste caminho, ele descobrirá que sabedoria sem Sabedoria é apenas conhecimento, saberá que sabedoria sem ação (Força) é egoísmo e que é vã a sabedoria sem Harmonia.
Também verá que força sem Sabedoria é trabalho perdido, que força sem Força é força adormecida, sem utilidade, e que força sem Harmonia é desperdício de energia.
Por último, aprenderá que harmonia sem Sabedoria produz pouco, que harmonia sem Força resulta em acomodação e que não existe harmonia real sem Harmonia.
Tendo iniciado este estudo por curiosidade, tive a deliciosa sensação de ter penetrado no reino da verdade, sentindo-me fascinado por sua profundidade.
Isto fez crescer meu sentimento de reverência por esta obra maravilhosa chamada de Natureza.
Para mim também se tornou claro que a busca da Verdade não se resume apenas à busca da verdade moral; ela e suas manifestações também podem ser encontradas através das ciências, como neste caso, ou das artes.
Assim, verdades eternas são descobertas tanto através dos símbolos utilizados nas atividades cognitivas, ou equações matemáticas, quanto através das leis universais utilizadas.
Esse conhecimento pode e deve ser aplicado ao viver Maçônico.
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