Quem Jeová, poderá morar em Vosso Tabernáculo, quem poderá assistir em Vosso Santo Monte?
Aquele que anda com inteireza, que faz o que justo, e o que fala a Verdade do coração.
O que não anda difamando com a língua, não faz mal ao próximo, nem afronta o vizinho.
Aquele, cujos aos olhos o réprobo é desprezível, mas, que honra aos que temem a Jeová, e não quebranta ainda com o próprio dano o juramento.
Que o dinheiro não empresta com usura, nem recebe peita contra o inocente.
Aquele que deste modo procede, não será, em tempo algum, abalado. Salmo 15.
Só a razão dá direito à liberdade.
A liberdade e a razão, estes dois grandes e essenciais privilégios do homem, estão tão estreitamente unidos que não podemos abjurar um, sem renunciar ao exercício da outra.
A liberdade quer triunfar da razão e a razão exige imperiosamente o reino da liberdade.
A razão e a liberdade são, para o homem, mais que a vida.
É belo morrer pela liberdade, é sublime ser mártir da razão, porque a razão e a liberdade são a própria essência da imortalidade da alma.
Éliphas Lévi Zahed. O Grande Arcano. Cap. X
Adão teve dois filhos, Caim que representa a força brutal, Abel que representa a doçura inteligente.
Eles não puderam entrar em acordo e morreram um pelo outro, por isso sua sucessão foi dada a um terceiro filho chamado Set.
Ora, Set, que era justo, pode chegar até a entrada do jardim terrestre sem que o querubim o afugentasse com sua espada flamejante.
Set viu então que a Árvore da Ciência e a Árvore da Vida se achavam reunidas, formando uma só.
E o anjo lhe deu três grãos que continham toda a força vital desta Árvore.
Quando Adão morreu, Set, seguindo as instruções do anjo, colocou os três grãos na boca de seu pai morto, como um penhor de vida eterna.
Os ramos que saíram destes três grãos formaram a moita ardente, no meio da qual Deus revelou a Moisés seu nome eterno: uyua dta uyua.2
Moisés colheu um triplo ramo da moita sagrada e foi para ele a vara dos milagres. Esta vara, se bem que separada de sua raiz, não deixou de viver e de florir e foi assim conservada na Arca.
O rei Davi plantou esse ramo vivo na montanha de Sião, e Salomão mais tarde tomou a madeira desta árvore no triplo tronco para fazer dela as duas colunas Jakin e Boaz, que estavam na entrada do templo; ele as revestiu de bronze e pôs o terceiro pedaço de madeira mística no frontal da porta principal.
Era um talismã que impedia tudo o que era impuro de penetrar o templo, mas os levitas corrompidos arrancaram durante a noite esta barreira de suas iniqüidades e a arremessaram no fundo da piscina probática, enchendo-a de pedras.
A partir desse momento o anjo de Deus agitou todos os anos as águas da piscina e lhes comunicou uma virtude milagrosa para evitar que homens procurassem lá a árvore de Salomão.
No tempo de Jesus Cristo, limparam a piscina e os judeus achando este poste, inútil no pensar deles, levaram-no da cidade e fizeram uma ponte sobre o regato de Cedron.
Foi sobre esta ponte que Jesus passou depois de sua prisão noturna no Jardim das Oliveiras e foi do alto desta prancha que seus algozes o precipitaram para arrastá-lo na torrente e em sua precipitação em preparar de antemão o instrumento de suplício, eles levaram consigo a ponte que era uma tábua de três peças composta de três madeiras diferentes e com elas fizeram uma cruz.
Deus. A Natureza. O Homem.
Antes de definirmos no que se fundamenta a doutrina do mestre, faz-se necessário conhecer o que vem a ser essa ciência oculta ou secreta.
Historicamente, sempre houve durante o desenvolvimento dos conhecimentos tradicionais dos povos, uma arte ou sabedoria que não era dada a qualquer um obter, mas para penetrá-la seria preciso iniciarse em práticas e condutas singulares.
Essa nova forma de direcionar e compreender a vida lembrava em muito o ascetismo dos místicos, mas, salvo em determinadas circunstâncias, não era esperado do aluno seguir o caminho do sacerdote.
De certo, era um intermédio entre o homem comum e o religioso.
O budismo prevê “um caminho do meio” como forma basilar para alcançar os primeiros rudimentos do saber.
Este caminho equilibrado é o que mantém o iniciado entre a transcendência do espiritual e a sedimentação da matéria. Dessa forma, o conhecimento do ocultista se baseia nas possibilidades do homem comum evoluir espiritualmente sem se desprender do mundo físico, material, no qual está intimamente interligado.
A ciência oculta não se permite repousar em teorias puras como a física ou a astronomia, mas precisa conhecer quase que empiricamente todos os seus processos de obtenção de saber. Não é permitido penetrar o âmago da questão sem que se experimente sua essência.
Não há como conhecer o ioga sem praticá-lo, por exemplo.
Outro aspecto do ocultismo é o sincretismo, ou melhor, a síntese de todas as coisas.
Esse conceito é profundamente aplicado aos estudos das diversas filosofias, principalmente no que diz respeito às religiões, a fim de se conhecer seu ponto de interseção.
O ocultismo de Éliphas Levi estabelece como alicerces fundamentais de sua doutrina o conhecimento dos três planos definidores da estrutura de nosso mundo. Quando nos referimos ao mundo, é necessário esclarecer o que esta expressão acolhe em si. Para o mestre, tudo é real, isto é, tudo faz parte da realidade objetiva, já que para ele não existe esta realidade subjetiva.
Com isso podemos compreender que aquilo que rotulamos de imaginário é a realidade em outros níveis de percepção. Estes níveis são infinitos e se confundem em suas reflexões mais elevadas com a própria natureza daquilo que chamamos divindade.
Os sonhos, as idéias, enfim, a imaginação em si é a realidade se manifestando de outra forma. Objetivamente, todas as coisas poderiam infundir umas sobre as outras, já que agora, a partir desta teoria, todas pertencem ao mesmo mundo.
Esta noção geral de mundo, apesar de parecer simplória, deve bastar apenas por enquanto, a fim de introduzir uma breve compreensão do tema, visto que seria preciso muito mais que um único trabalho para defini-la. Este mundo, composto de outros tantos níveis, é semelhante ao Cosmo grego ou ao que os cientistas modernos chamam de multiverso.
Talvez neste nosso século, não seja difícil reconhecer que o invisível tem alguma parte na grande ação estrutural das coisas, visto que teorias como as da física nuclear incidem sobre a questão que já é debatida nos livros escolares.
Assim, é facilmente aceitável que o magnetismo exista e exerça sua ação sobre os elementos físicos visíveis, mas ainda não é comum reconhecer que a mente aja sobre a matéria.
A despeito do que a medicina ou a psicologia acreditam ser a ação do pensamento sobre a fisiologia individual, “o poder da mente” não ultrapassa a esfera individual em sua eficácia.
O ocultismo se difere da filosofia e da ciência modernas neste ponto.
Vale lembrar que o mestre não fez referência em nenhuma das três obras que citamos, a respeito da vida em outras esferas, ou mesmo existência em outras galáxias. O mundo é um plano de relações que se correspondem continuamente, como já dissemos de outra forma, e que se prevalece de um equilíbrio que vai além da mera química ou física dos elementos moleculares.
Ele se eleva até as manifestações da alma, dos ciclos de gerações, do destino das raças e da perfeição dos elementos divinos. Mesmo que o próprio Deus seja a reunião de todos os outros três elementos em si – Homem, Natureza, Deus - o ocultismo tem diversos significados para representá-lo e alguns deles simbolizam desdobramentos quase que infinitos destes três pontos básicos.
O ocultismo é paradoxal, pois tudo aquilo que diz é simbólico.
Nada é apenas o que aparenta. Muitas das explicações pareceram distorcidas ou contraditórias, mas fazem parte de um mecanismo de revelação interior que a cada um que a busca deve construir.
Comecemos a nos referir o que é o Homem.
Este homem é o ser prototípico, ideal, reflexo do Deus verdadeiro na Natureza.
Por sua vez, assim como o universo, ele é composto por três planos diferentes que correspondem exatamente ao físico, ao astral e ao espiritual.
Entre o físico e o astral ainda podemos encontrar outras gradações que não nos cabem acentuá-las neste momento, pois não comprometerão o entendimento fundamental.
O plano físico é o plano natural ou material. É a realidade visível que se manifesta. O Homem não é o corpo ou a matéria carnal, mas a relação que há entre os seus três planos de geração, tal qual o mundo que descrevemos anteriormente.
A alma ou os sentimentos são o Homem mais sutil, e o espírito o Homem absoluto.
Se é o Homem uma manifestação de todo o universo, tudo o que o compõe também é como o universo que o cerca.
Os sentidos humanos têm sua correspondência no cosmo. A biologia humana é semelhante à natureza, com suas estações, seus ciclos, suas erupções, sua vida e sua morte.
Mas tem a natureza uma morte verdadeira? Mesmo no deserto mais árido existe ausência de vida ou substância? E o ser humano, após a morte do corpo encontra a destruição total ou a matéria de sua decomposição ainda permanece como outras substâncias?
Bem, aqui achamos a chave da imortalidade da matéria, quem o duvidar reflita sobre aquilo que acontece com as cinzas de uma árvore queimada e o pó que se forma da erosão das rochas e chegará ao homem na sepultura. Conforme a ciência tradicional, fomos formados da matéria das estrelas que deixaram de existir há muito tempo. Os antigos costumavam compreender o Homem como uma forma de acúmulo de diversos elementos, seja a água, o fogo, a madeira, o ar ou a água.
Os orientais ainda introduziram mais outro elemento secreto, contudo real, chamado de vazio, pois era alguma coisa semelhante à essência, porém sem ter uma definição precisa ou absoluta. É como se fosse o cimento que dá liga aos tijolos que formam uma casa, ou o código genético que define o Homem como um ser humano.
Tais teorias levaram aqueles indivíduos a aceitarem que tudo o que pudesse influenciar a natureza, também o faria no Homem e vice versa. Por isso, podemos entender como foi possível conceber algo como a Astrologia ou a Alquimia.
Hoje, é comum que os estudantes de ciências ocultas chamem estes estudos de artes, visto que sua real compreensão depende de uma interpretação pessoal e inspiração individual. Naqueles tempos, porém, eram ciências lógicas.
O Homem possui sua constituição baseada em um equilíbrio semelhante ao da Terra e para ser saudável depende de um clima ameno, luz solar, água, etc. Uma breve reflexão nos faz compreender que tudo isso não é novidade alguma.
A ecologia, uma disciplina moderna, já prevê que o homem depende de uma relação salutar com a natureza, e que adaptar-se ao meio é fundamental para a preservação. O “conhece a ti mesmo” prevê este conhecimento, mas o transcende.
Um dos primeiros arcanos da iniciação é a capacidade de dominar as próprias faculdades com a finalidade de ser senhor do que o cerca.
A propósito, iniciação é um termo utilizado para referir-se ao processo de auto-conhecimento que permite ao indivíduo adentrar os níveis mais sigilosos do conhecimento.
Esta iniciação é tanto externa como interna.
Na primeira, através de ritos e processos de admissão em uma determinada comunidade ou sociedade secreta.
Já para a segunda é uma evolução interior que permite ao discípulo, através da reflexão, do estudo e da prática, descobrir sozinho os enigmas da sabedoria.
A primeira batalha do homem comum é contra si mesmo. No livro hindu chamado Bagavata Gita, é contada a saga de Arjuna, príncipe que foi levado a combater a maior contenda de sua vida.
Neste dia, em meio às tropas e cavalheiros de seu exército, ele suplica ao condutor de sua biga que o leve à diante de todos a fim de reconhecer quem seriam seus inimigos. Qual não fora sua surpresa e decepção quando descobriu que eram seus entes mais queridos, conhecidos parentes, amados primos e tios. Abalado pela revelação terrível, desistiu de lutar e se retirou do campo de batalha. O seu cocheiro o seguiu e, na tentativa de dissuadi-lo de abandonar a guerra, tratou de revigorá-lo.
Esse reles condutor de biga revela-se muito mais do que a simplicidade mostra. Ele é Krishna, o deus maior, e o revelador da sabedoria secreta ou iogas.
Este poema é repleto de simbologias que fazem menção ao caminho do discipulado rumo à iniciação. Para tal, ele não deve de abster-se a combater seus vícios que durante muito tempo são como nossos melhores e inseparáveis amigos.
Apenas através deste estudo, os iogas, é que Arjuna encontra os fundamentos de sua guerra e assim resolve, sem arrependimento, lutar.
O homem comum que busca encontrar o segredo da iniciação deve reformar-se e ser como Arjuna. Krishna aqui é a voz da divindade que existe em todos nós. Muitos são os mitos que tratam desta busca interior. Os ocultistas acreditam que toda a mitologia é baseada em alguma forma de ensinamento alegórico que conduz a esta percepção.
O protótipo do Homem verdadeiro é o herói mitológico grego. Heracles, Teseu, Perseu são alguns exemplos.
Os trabalhos ou obras de suas vidas são os caminhos do homem comum que busca a iluminação. Não é incomum que se peça aos aprendizes que interpretem muitos destes mitos e façam correspondências com sua vida pessoal. Aos vícios ou valores humanos foram associados os muitos deuses e deusas das lendas de todo o mundo.
No ocidente, os planetas do sistema solar foram comparados a determinadas características da personalidade humana. Com isso, todo um grupo de manifestações psicológicas pode ser apreendido e interpretado segundo estas teorias que comparavam o humor humano à emanação planetária correspondente.
A astrologia moderna se baseia nesta teoria. É toda uma obra de avaliação interior, não exterior e não tem nada que ver com energias espaciais ou cósmicas, antimatéria, gravidade, etc.
Os sete planetas arquetípicos acabaram por se tornar as sete virtudes e os sete pecados capitais que a Igreja Católica manteve vivos em sua doutrina.
É neste ponto que as relações da constituição humana se ligam à Natureza simbólica da qual falamos. Júpiter, Saturno, Marte, Vênus, Mercúrio, Sol e a Lua, estes são os considerados planetas pela astrologia. Todos eles circulam na gravidade de um centro secreto que tem reflexo no homem comum.
Os ocultistas dizem que as posições que estes planetas configuram no céu no momento do nascimento de cada indivíduo revelam características de sua personalidade. Ora, não fosse algo mais complexo, seria uma tolice desmedida.
Não é um absurdo que as estações influenciem sobre os seres vivos, se não fosse realidade, o que se dizer das plantas que apenas crescem no verão ou dão seus frutos apenas no meio do ano, ou em determinado mês especifico?
Por que o ciclo menstrual das mulheres é parecido com o ciclo lunar?
Tais perguntas, se não de todo retóricas, são apenas para salientar que algo do calendário astrológico tem fundamento real. É como dizer que um poema evoca a poesia simplesmente por obra da junção de suas estrofes, versos e palavras.
Como toda arte, ele aguarda em si na esperança de ter amparada a profusão de energia que emana e que no regresso desta força, surja a compreensão ou a interpretação daquilo que diz.
Os elementos filosóficos – fogo, terra, ar, água – são elementos reais também, estão na Natureza e no Homem.
Em ocultismo, também servem para definir aspectos da personalidade dos seres ou da condição na qual se encontram. Aquilo que os antigos chamavam de humores permeava o ser humano e determinava a natureza de cada indivíduo.
Eram em quatro: fleuma, sangue, bílis e astrabile. Para Aristóteles, o equilíbrio da physis dependia da proporcionalidade destes elementos. Note-se que são em quatro assim como o são os elementos primordiais.
A prevalência destes humores determinava a índole dos seres (sanguíneo, biliosos, fleumáticos ou melancólicos). Estes componentes, como já dissemos, também existiam na Natureza e permeavam tudo com as quatro qualidades fundamentais do Universo: quente, frio, úmido e seco.
O fogo, por exemplo é quente e seco.
A água é fria e úmida.
Esta medicina antiga estava mais próxima de uma forma de arte que compreendesse a geração humana do que propriamente uma ciência, visto que compreendia o Homem como algo natural, filho da Natureza.
A Natureza é a vida que se manifesta perpetuamente, é o segundo elemento mais importante na hierarquia cósmica.
É representada pelo símbolo da mulher, pois seus atributos fazem referência à maternidade e à gestação.
Tanto é que os mitos antigos a descrevem como uma deusa violada por seu próprio filho, ou pelo cosmo vazio e inexorável. Esta comparação é de vital importância para que possamos compreender o que significa a Natureza no Homem e o Homem na Natureza.
A Natureza é onde o poder repousa para germinar e dar vida.
Utilizemos, como nos ensina o mestre Éliphas Lévi, os números para exemplificar a relação entre os três elementos do mundo. O zero é o vazio absoluto. Está além do positivo ou negativo. É a estabilidade infecunda.
Quando algo age, proveniente deste zero, ele é uma reta contínua que segue descendendo até alcançar alguma coisa que a receba e contenha.
No universo, não há nada além de Deus e sua existência.
Tudo se resume a Ele. Ele sozinho é o zero, sua vontade pode ser o um.
Este Deus que podemos conceber com nossas mentes limitadas é referente a este um ativo e único. Mas, o um e a idéia do um já concebem duas coisas.
A idéia é a geração do um essencial.
Então, o dois é 1+1, ou seja, o um que se realiza duas vezes, mas em planos diferentes. Na primeira realização ele é feito a partir de algo que não conhecemos, ele apenas “é” para nós. Na segunda concepção ele está condensado em algo, ou seja, existe o um idéia e o um essência.
Mas conceber uma idéia já predetermina que deve haver um terceiro para realizar esta correspondência. Se o um é um traço em descendência, o dois é um semicírculo com uma cava, ou apenas uma cava que recebe algo no meio de si. O três é simplesmente a junção destes outros.
Estas concepções visuais são fundamentadas nas formas geométricas simples, como a reta, o triângulo, o círculo, o ponto e o quadrado.
Lembremos que para a geometria antiga todas as formas planas surgem com o ponto. A geometria filosófica imagina que tais figuras primitivas estão repletas de significado. Oswald Wirth em seu livro O Simbolismo Hermético e sua Relação do a Alquimia e a Franco Maçonaria declara que “A geometria deste genial filósofo (Platão) não era com efeito, a de Euclides, ciência da medida e do espaço, com seus teoremas e suas demonstrações. Tratava-se de outra geometria, da mais sutil espiritualidade, de uma arte mais que de uma ciência, arte que consistia em vincular as idéias às formas e em ler os símbolos compostos por linhas como as figuras dos geômetras.”
No Gênese, temos o seguinte no capítulo 1 versículo 27: Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus: homem e mulher os criou.
No versículo 29, há a informação que fora esta a criação do homem no sexto dia. É exatamente a soma dos valores numéricos anteriores. Não estamos nos valendo do texto bíblico para evocar de forma alguma autoridade sobre nossas idéias, mas apenas nos utilizamos dele para relembrar o quanto o simbolismo tem seu valor.
Éliphas Lévi acreditava que inicialmente as reflexões dos sábios se baseavam em concepções lógicas e matemáticas.
Ora, este é um importante fator de pensamento da Cabala. Esta não separa as palavras dos números e das idéias que representam. Daí a importância fundamental da linguagem no ocultismo. Não seria possível compreender seus segredos sem mergulharmos na linguagem universal que chamamos anteriormente Logos.
Com o passar do tempo, a superstição e a decadência fizeram com que os vulgos tomassem o símbolo pela essência e surgiu a idolatria. As idéias matemáticas deram lugar à manifestação das imagens, a constituição de ídolos e a antropoformização. Temos por exemplo a teogonia dos egípcios.
Mas o Homem tem o germe da divindade, pois é fruto da descendência da sua manifestação. Seu berço de gestação e evolução é a Natureza. Sendo ela sua mãe, traz em si elementos que a compõe.
O Homem possui seu anoitecer e seu amanhecer.
Sua cabeça está repleta de constelações.
Os astros do sistema solar circundam seu peito.
Os signos zodiacais compõem seus membros e circulam em seu sangue.
Uma máxima muito antiga mostra como somos conectados em todos os níveis, inclusive naturais: O que está em cima é como o que está em baixo, o que está em baixo é como o que está em cima. Esta frase está na Tábua de Esmeralda, livro escrito por Hermes Trismegisto, entregue a seu filho como revelação de toda a sabedoria verdadeira.
A obra de Hermes está contida no chamado Corpus Hermeticum, como o nome já determina, é a grande organização de todo o conhecimento do mestre lendário e que, alegoricamente, pode estar contido na superfície de uma esmeralda, devido a sua simplicidade.
Diz-se em ocultismo que o grande segredo é de tão simplória compreensão que até uma criança o sabe, mas sua obtenção é tão obscura que somente é dada aos espíritos iluminados adquiri-la.
A aparente contradição diz respeito ao caráter restaurador que a doutrina denota. Esta renovação deve ocorrer, como ocorre visivelmente na Natureza, para que o individuo esteja pronto para receber novos valores.
Estes valores são lapidados através da própria vontade do discípulo que aqui já conhece a verdadeira substância que os forma.
O iniciado reconstitui seu próprio corpo astral, pois é o senhor da Natureza e domina os espíritos que nela são a vida. Assim como o Homem está na Natureza, ambos estão em Deus.
Quando a filosofia oculta trata da divindade, sempre faz referência a vários níveis de percepção, compreensão e sensibilidade que revelam a apreensão que o ser humano pode obter deste plano absoluto.
Em níveis mais complexos de reflexão, Deus é a forma das formas, o Eterno, o Elemento Cósmico; Ele é tudo e todas as coisas.
Por isso, uma definição única é quase impossível, visto que sua natureza absoluta prevê uma gama infindável de possibilidades. Este forma de divindade é apenas referida ao Espírito Absoluto do qual todos fazemos parte.
Em outro pólo, o Homem está como portador da fagulha do infinito, o fragmento de Deus habitando no universo criado.
A geometria sagrada simboliza esta chama divina na forma do triângulo com um vértice para cima – é o símbolo do fogo hermético – essência da vida eterna e imortal.
Nele entendemos que o sentido da força ascendente é o destino da evolução. Por sua vez, o triângulo para baixo é a força fecunda que decai e adentra a matéria para criar a vida e a geração no universo. Este Deus que fecunda a terra e dá luz ao Homem é o Deus cognoscível e pode ser comparado a uma força motriz manifestável.
Esta presença superior é encontrada em vários textos alquímicos como a chama perfeita que renova e dá vida a todas as coisas.
É através dela que o discípulo faz a transmutação mais importante de sua existência.
Em um plano mais próximo ao Homem está a manifestação menos abstrata e sutil da divindade. Ela se apresenta como formas divinas, manifestações sagradas que podem ser associadas à idéia que os antigos tinham de deuses, anjos, etc.
Estas gradações da manifestação sagrada são apenas formas mais objetivas da energia divina e que estão presentes no plano denso da matéria como forças naturais. Apesar de, contudo, ser comum descaracterizarmos o pensamento como uma destas forças, estas formas divinas também se manifestam nele.
Na natureza, elas podem ser chamadas de elementais, por exemplo, e no plano mental de mente cósmica.
A mitologia criou seus romances baseados em conceitos próximos a estes, fazendo surgirem reis, impérios, reinos e exércitos de seres naturais.
Os chamados anjos ou guias espirituais estão em um plano mais inferior, aproximado do Homem e fazem o intermédio entre ele e as potências divinas.
Assim, deste Deus Absoluto até seus enviados, existe uma decadência da densidade da percepção, isto é, a reflexão torna-se mais profunda quando se atinge esferas superiores, e menos labiríntica em níveis mais densos.
Aquele Deus mais complexo e abstrato é objeto das conjecturas mais profundas da filosofia, enquanto os deuses menores, gênios, santos, entidades diversas são sempre compreendidos pelo mero instrumento da fé. Isto se dá porque os planos mais materiais estão próximos ao nível do astral, quer dizer, da dimensão dos sentidos.
Por outro lado, a divindade plena está mais elevada ao plano mental, inteligível. O todo é mente, o universo é mental. Estas são as palavras do Caibalion, um livro de autoria desconhecida que relata os fundamentos do cosmo tendo por princípio que todas as coisas são feitas a partir da mente.
Para nós, da mente cósmica.
Mas o sentir este Deus em quaisquer de suas manifestações não pode ser feito através do mero intelecto.
O contato sempre se dará no caminho do coração, isto é, apenas com a passividade dos sentidos, da sensibilidade.
A oração é um processo sagrado de contato com estes planos divinos.
Este estado de recepção somente se dá plenamente quando alcançamos uma postura de isolamento e vazio, para que este algo possa nos povoar a mente e os sentidos.
Por isso que é aconselhado aos discípulos das religiões que sempre mantenham seu coração e sua mente limpos de pensamentos ou desejos, apenas exigindo que vibrem com o objetivo de construir uma atmosfera propícia para o santificado.
No cristianismo, este fogo sagrado que ascende do interior do Homem é a voz do Cristo, que se revela e nos purifica de dentro para fora.
Ele é o Homem-Deus, por isso é chamado nas Escrituras de Redentor.
Esta redenção nos levará para a glória de termos Deus novamente vivo conosco, tal qual era no início. No estudo do ocultismo, tais preceitos não podem ser conhecidos separadamente. Esta relação sempre resultará da compreensão total da Grande Obra, como dizem os alquimistas.
Desta compreensão singular surgirá a relação totalizante do saber com o ser que desembocará no grande oceano da iluminação. O budismo chama de Tatágata este estado de paz e estabilidade que vem antes da iluminação ou budhi. Neste mar não há revolta ou calmaria; não há revolução ou imobilidade; neste mar reina a plenitude equilibrante do Homem que encontra Deus na Natureza.
Na doutrina de Éliphas Levi, como na Cabala judaica, este Deus revelado ao homem tem atributos inalcançáveis. Não existe um nome para defini-lo, mas apenas a junção de quatro letras que, soletradas, evocam sua presença. IOD, HE, VAU, HE – juntas podemos chegar ao significado aproximado de JEOVÁ, como conhecido na idade média, porém, com certeza é algo muito mais complexo.
Este tetragrama reúne três letras em particular, sendo que uma delas, he, se repete para encerrar a forma perfeita. Em Cabala, segundo o mestre, iod é Adão, o primeiro, o elemento inicial.
A letra iod representa o falus e a parte construtora das outras letras. As outras letras fazem surgir heve – Eva, a mulher, o feminino, o segundo ser humano.
Metaforicamente, Deus, ou Jeová, é composto da união do homem e da mulher, sendo ele mesmo masculino e feminino, como já havíamos visto.
Vale lembrar que o nome Adão provém do hebraico e significa “terroso”, isto é, feito de terra.
Mais uma vez, podemos vislumbrar a metáfora que o mito evoca por meio da linguagem.
Outras interpretações omitem o Homem nesta trindade e acrescentam a Arte. Isso porque o homem se vale da Arte para construir, sendo ele mesmo obra da Natureza e de Deus.
Diz um princípio maçônico: Deus cria; a Natureza gera; a Arte transforma. Não é incomum o mestre se referir a elementos contidos na mística cristã ou hebraica, visto que sua inclinação e devoção a estes estudos foi, primorosamente, a vanguarda de diversas reflexões posteriores, assim como fundamento inexorável de sua espiritualidade.
A poética de Éliphas Lévi contempla um intrincado mecanismo de interpretação dos mitos e das alegorias da mitologia dos povos antigos.
Este estudo, isto é, esta capacidade de desvendar o segredo por trás da poesia é uma exigência deste nosso trabalho e que merece ser muito bem detalhada.
O Ocultismo na Obra de Éliphas Lévi Zahed. Gilson Ribeiro da Silva
Resumo de Dissertação de Mestrado submetida ao programa de Pós-Graduação em
ResponderExcluirCiência da Literatura, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Poética.
Não temos como objetivo discorrer sobre os conceitos mais profundos da
ResponderExcluirfilosofia oculta, mas evocar a reflexão que determinados princípios podem florescer.
Vivemos uma pós-modernidade sem fim onde o abjeto navega junto ao sublime,
confundindo os olhares e vulgarizando o que há de mais sagrado no homem. Não falamos
de religião alguma, mas do religare tão discutido como intermediário da grande senda da
humanidade, que segue rumo à perfeição e à felicidade. Negamo-nos a defrontar a ética.
A ela nos referimos como a compreensão dos valores universais e perenes.
Faz-se necessário esclarecer algo sobre os termos e expressões aqui utilizados.
Vamos despi-los de toda carga de conceitos que estes contêm, a fim de não gerarmos
interpretações equivocadas. Faremos sempre os apontamentos quando seu uso se remeter
a determinados significados no âmbito da Poética ou conforme o costumeiramente
encontrado na literatura de outros pensadores.