Frederico II - Rei da Prússia
Foi nos Estados Unidos da América do Norte que surgio maior embuste da história do
escocesismo com a invenção de que os Altos Graus
(e, em suma, a própria Ordem Escocesa) foram
criadas pelo Rei da Prússia, Frederico II.
Na realidade, aos 25 graus criados pelo Conselho
dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, os
maçons norteamericanos, sob, provavelmente, a
inspiração de Morin, acrescentram mais oito graus,
criando um sistema de 33 graus.
Reunidos, então
na cidade de Charleston, no Estado da Carolina do
Sul, fundaram a 31 de maio de 1801, o primeiro
Supremo Conselho do Rito Escocês, concentrando
em suas mãos, todo o poder adminsitrativo sobre os
altos graus.
Esse primeiro Supremo Conselho só se tornou
conhecido, pelo restante da Maçonaria mundial, a
partir de 04 de dezembro de 1802, quando foi
expedido uma carta circular comunicando o fato,
enaltecendo o sistema de 33 graus e atribuindo a
sua organização a Frederico II, Rei da Prússia.
Se
isso houvesse, realmente, acontecido nesta
data que a da publicação, segundo os maçons
norteamericanos, da Constituição e dos
Regulamentos Gerais do Supremo Conselho, no
mínimo, estranho que só tivessem conhecimento do
fato em 1802.
A história oficial, divulgada, inclusive, pelo Supremo
Conselho francês, diz que Carlos Stuart, filho de
Jaimes III, sendo chefe de toda a Maçonaria
conferiu, a Frederico II, a dignidade de GrãoMestre, nomeando-o, também, seu sucessor,
qualidade na qual seria reconhecido como Chefe
dos Altos Graus.
A 25 de outubro de 1782, com
apenas, ainda, os 25 graus do Rito de Heredon,
eram cofirmadas as Constituições e Regulamentos
de Bordéus (Bordeaux); quatro anos depois,
segundo essa mesma versão oficial, Frederico II
transmitia os seus poderes e prerrogativas a um
Conselho dos Grandes Inspetores Gerais, ao mesmo
tempo em que aumentava a escala para 33 graus e
publicava, a 01 de maio de 1786, a sua
Constituição.
Apesar da documentação, essa assertiva não tem a
minima credibilidade.
Vejam-se, então, os autores do primeiro time
maçônico e tudo que tiveram a dizer sobre a
propalada e ridicula assertiva de ser Frederico II da
Prússia, o autor das Constituições de 1786.
Em primeiro, Georg von Kloss (1787-1854),
conhecido como o pai da critica histórica da
francomaçonaria mundial e maior historiador
maçônico alemão, que qualifica, na sua
obraGeschichte der Freimaurerei in
Frankreich (História da Francomaçonaria na França)
[ed. Darmstadt, 1852, pg. 409], as constituições
[de 1786] e as leis como uma grande mentira da
Ordem.
Joseph Gabriel Findel (1828-1905), discipulo de
Kloss, na sua História General de la Francmasonera
(in Diccionario Enciclopdico de la Masonera, tomo
IV, Editorial del Valle de México, México, 1977, pg.
338), citando documento expedido pela Grande
Loja-Mãe Nacional Os Três Globos Terrestres de
Berlim, diz que depois de um maduro exame das
peças etc, depositadas nos arquivos, crer-se, sem
mais, aderir ao manifestado e declarar apócrifas tais
constituições e leis porque:
a) O Rei Frederico II, o Grande, não dirigiu nem
comandou uma participação direta pessoal nos
trabalhos maçônicos, nos sete anos depois de sua
recepção de 1738 a 1744;
b) Em 1762, a última campanha da Silésia absorveu
por completo a atenção do rei, e a primeiro de maio
de 1786, nos últimos anos de sua vida, e sobretudo
nos últimos meses antes de sua morte (17 de
agosto de 1786); atormentado pela gota, caduco e
fatigado da vida, permaneceu no seu castelo de
Sans-Souci, em Potsdam sem ir a Berlim.
Segundo os dados oficiais mais seguros, o grande
rei foi a Berlim, em 09 de setembro de 1785,
quando visitou sua irmã, a princesa Amélia;
acomodou-se em seu palácio, passou a noite no
estabelecimento de águas minerais e assistiu, na
manhã seguinte, 10 de setembro, as manobras do
corpo de artilharia. DeWedding, onde se situava o
campo de manobras, o rei voltou a Potsdam.
Jamais
retornou a Berlim, porque depois de passado o
inverno, em meio a cruéis sofrimentos, os médicos
não tiveram dúvidas sobre o terrível término da
enfermidade, até o mês de janeiro de 1786.
O
augusto enfermo voltou em 17 de abril, ao castelo
de Sans-Souci, onde padeceu ainda, mais quatro
meses, morrendo como um mártir.
c) por conseguinte, falso que o rei Frederico, o
Grande tivesse reunido em 01 de maio de 1786 um
Grande Conselho em seu palácio de Berlim para
regular os Atos Graus. A maneira de operar e de
pensar deste nobre príncipe - impede de que se
creia que, no final de sua carreira, pudesse ocuparse de coisas que considerava vãs e fúteis ninharias.
d) Os relatos concernentes da época em
questão econservados nos arquivos da Grande Loja Mãe Nacional não apresentam tratado algum dos
documentos maçônicos citados acima, nem da
existência de um Grande Conselho em Berlim.
Fiquem de lado os alemães e busque-se suporte no
maior historiador maçônico inglês Robert Freke
Gould (1836-1915), ex-venerável da Loja de
Pesquisa Quatuor Coronati de Londres.
Na sua
monumental obra (The History of Freemasonry, vol.
III, Thomas C. Jack, London, 1887, pg. 128) afirma
que ...temos as Grandes Constituições em 18
artigos.
De acordo com a lenda, o jovem
pretendente transferiu sua suprema autoridade em
Maçonaria para Frederico, o Grande, que, no seu
leito de morte em 1786, revisou as regulamentaes,
transformando os 25 graus em 33 e revestiu, com
sua autoridade pessoal, o Supremo Conselho dos
33.
Autores antecedentes pouparam o
tormento de provar que tudo isto foi pura ficção; ...e
que os 33 graus nunca apareceram na França
até que De Grasse-Tilly os introduzisse.
As
Constituições de 1786 foram, sem dúvida alguma
fabricadas na América e assim, provavelmente,
também, as de 1762.
Como a infantaria inglesa não é muito forte no
REAA, dê-se atenção a cavalaria escocesa antes da
apresentação da artilharia pesada francesa.
Conforme o rito - a palavra escocesa - apesar de ter
sido fundado na França, durante muito tempo
instigou-se os escoceses a escreverem algo sobre o
tema. Na decada de 50, Robert Strathern Lindsay,
Grande Secretário Geral do Supremo Conselho para
a Escócia do REAA escreveu uma obra prima O Rito
Escocês para a Escócia (The Scottish Rite for
Scotland, W. R. Chambers, Limited, Edinburg, 1958,
pg. 55) com o imprimatur do Supremo Conselho.
Como não poderia deixar de acontecer, o trabalho
toca no affaire Frederico e as
Constituições.Fisicamente, Frederico poderia ter
assinado as Grandes Constituições em 01 de maio
de 1786. Mas por que ele faria isto? Na ocasião,
pressentia que sua prolongada, fatal e dolorosa
doença estava perto do fim e sua mente estava
inteiramente tomada pela preocupação de como
prevenir a divisão da Prússia após a sua morte. ...
Não teria sido mais natural que o sobrinho favorito
de Frederico, treinado por ele e que era, ao
contrário de seu tio, pessoalmente interessado e
ligado aos Altos Graus, ter introduzido o REAA na
Prssia? Nem ele se agregou ao rito e muito menos
seu tio, pois o rito só foi introduzido na Alemanha
aproximadamente 20 anos após a morte de
Frederico.
...Pesquisas têm sido realizadas em
Berlim para se encontrarem evidências das Grandes
Constituições ou alguma meno sobre o colóquio do
Supremo Conselho do Grau 33 supostamente
realizado em 01 de maio de 1786 quando, de
acordo com as Grandes Constituições, o próprio
Frederico estaria presente, e o resultado é zero.
Agora, a artilharia francesa para discutir a lenda.
Destaca-se Paul Naudon, o maior historiador maçom
(GLNF) francês do REAA com o seu clássico História,
Rituais e Cobridor dos Altos Graus Maçônicos
(Histoire, Rituels et Tuileur des Hauts Grades
Maonniques, Dervy Livres, Paris, 1984). Na página
153, afirma que pesquisas têm sido realizadas em
Berlim para encontrar os traços de uma reunião do
Supremo Conselho do Grau 33 que teria sido
realizada em 01 de maio de 1786 e na qual
Frederico II estaria presente.
O resultado foi nulo.
Após analisar várias impropriedades de datas,
pessoas, referências e titulações
nobiliarquicas, Naudon notou que chamou Frederico
de Frederico II Guilherme II e logo em seguida de
Nosso Ilustre Irmão Frederico de Brunswick.
O erro,
desta vez bem flagrante.
Acrescentado ao
precedente, sublinha nitidamente que Frederico II
não poderia ter aprovado tal texto e que este não
seria obra de maçons alemães, que jamais
cometeriam tais equívocos (pg. 156).
Outro fato convenientemente notado é o da
possibilidade de nomear quatro inspetores gerais
não-cristãos significando a porta aberta aos judeus
(p. 160) ... pois esta admissão de judeus na Ordem
maçônica teria sido inconcebível na Alemanha
naépoca de Frederico (e ela só aconteceu nos
meados do século XIX), como também na França
antes da Revolução e mesmo antes da organização
oficial do culto e da Concordata de 1801(p.161).
Conclui, finalmente, que os oito novos graus e a
hierarquia dos 33 graus nasceram na América.
A
Europa os ignorou até a fundação do Supremo
Conselho de França em 1804 (p.163).
Ren Le Forestier (1868-1951), maçonólogo,
germanista e o maior historiador francês dos
Iluminados Bavaros e da maçonaria ocultista e
templária afirma, peremptoriamente, no seu erudito
livro A Francomaçonaria Templária e Ocultista nos
Séculos XVIII e XIX (La Franc-Maonnerie Templire
et- Occultiste aux XVIII et XIX Sicle,- vol. I,- La
Table- D'Emeraude, Paris, 1987, pg. 287), que
muitos graus franceses foram colocados
arbitrariamente sob a patronagem de Frederico II,
que tinha feito parte da Maçonaria na sua juventude
e a tolerava nos seus domínios, mas que não tinha
mais assistido a nenhuma sessão desde a sua
ascensão ao trono.
O historiador e bibliotecário da Grande Loja de
França Albert Lantoine (1869-1949) no primeiro
tomo de sua trilogia História da Francomaonaria
Francesa (Histoire de la Franc-Maonnerie Franaise -
La Franc-Maonnerie chez elle, vol. I, Slatkine
Reprints, Genve-Paris, 1981, pg. 247) no capítulo O
Grande Frederico ou o Deus da Fábula apresenta os
seguintes argumentos contra a lenda...sua atividade
maçônica (e esta palavra atividade não deve ser
aqui entendida como assiduidade) não durou mais
que 07 anos (1738-1744).
Aliás, a participação de
Frederico II nos trabalhos e desenvolvimento da
Ordem foi criteriosamente estudada pelos
alemães existe uma bibliografia copiosa sobre a
questão, mas todos, apesar de diferindo em alguns
pontos, são unânimes em desligar sua memória da
criação dos Altos Graus.. uma idéia bizarra, além do que, este prussiano fanático de sua nação ter passado seus famosos poderes aos
americanos, em lugar de os transmitir simplesmente
a Frederico-Guilherme, seu filho primogênito e
herdeiro? (p. 250) e termina perguntando como
uma tal lenda se infiltrou entre os maçons?(p.254).
Frederico II, Voltaire e membros da Academia de Ciências de Berlim
Pierre Chevallier, maçonólogo falecido em 1998, no
seu História da Francomaonaria Francesa (Histoire
de la Franc-Maonnerie Franaise, vol. II, Librarie
Arthme Fayard, Paris, 1974, pg. 65) pergunta que apesar das Grandes Constituições de 1786
falsamente atribuídas a Frederico II e pelas quais se
passou dos 25 graus do Rito de Perfeição aos 33 do
REAA?.... mas parece também que o REAA seja uma
criação feita na América.
Seriam os Irmãos John
Mitchell, Frederico Dalcho (um médico de origem
prussiana e aqui se explica a referência a Frederico
II) e alguns outros, dos quais vários israelitas, os
fundadores do primeiro Conselho, em Charleston
em 1801?
Finaliza-se a artilharia francesa com Alex
Mellor(1907-1988), da GLNF, no seu Dicionário da
Francomaonaria e dos Franco-Maçons (ed. Martins
Fontes, S.Paulo, 1989, pg. 98) cujo verbete
Constituições (Grandes) reza o seguinte: o
documento celebre intitulado Grandes Constituições
de 1786 e atribuído a Frederico II, Rei da Prússia,
que teria, assim, dado a sua carta histórica ao
REAA, foi longa e minuciosamente estudado pelos
eruditos.
Admite-se hoje, que é documento apócrifo.
BIBLIOGRAFIA
Sergio Cavalcante – Rito Escocês Antigo e Aceito – Rituais de 1804 www.clubedeautores.com.br http://www.clubedeautores.com.br/book/114529--Rito_Escoces_Antigo_e_Aceito http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html http://www.polibusca.com.br/texto.aspx?idTxt=140
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