A Filosofia não é somente um patrimônio da humanidade. A Filosofia é produção da humanidade!
Dai, entendemos que:
Todos os seres humanos adquiriram e continuam a adquirir sabedoria ao longo de diferentes rotas nutridas pela experiência e nela fundada.
Nesse sentido a filosofia existe em todo lugar.
Ela seria, nesse sentido onipresente e pluriversal, apresentado diferentes faces e decorrente de experiências particulares (OBENGA apud RAMOSE, 2011, p. 8).
É sob este paradigma que se sustenta todas as considerações do presente neste trabalho.
Vale advertir que não faz parte do escopo deste defender a legitimidade da Filosofia extraocidental.
Entendemos que a filosofia, deste os tempos mais remotos, é vida, é modo de vida, assim sendo, quando se pensa em filosofia antiga devemos ter em mente que tal conhecimento nos dá uma ferramenta que dispõe de meios para exercitar o espírito de modo a “persuadir, transformar, produzir efeitos de formação” (HADOT, 2009, p.12).
Então, procuraremos dissertar sobre as bases na ética formulada por um pensador egípcio, o Ptahhotep.
O trabalho quer apresentar a perspectiva filosófica africana ancorada no projeto ptahhotepiano. Ou seja, estabelecer, a partir de prescrições, a maneira que um egípcio deveria agir.
Ptahhotep escreveu 37 máximas sobre ética.
Podemos encontrar na integra, os mesmos 37 ensinamentos no livro Escrito para a eternidade: literatura no antigo Egito faraônico do egiptólogo Emanuel Araújo.
Ao que se sabe Ptah-Hotep serviu como visir (cargo semelhante ao de ministro) ao faraó Djedkare-Isesi da V dinastia, aproximadamente no ano de 2500 a.C.
Aos seus 110 anos, aproximadamente, percebendo que não lhe restara muito tempo, decidiu redigir um texto que abarcasse sua experiência e parte dos seus conhecimentos.
E o presente trabalho mira apresentar e problematizar as noções importantes concernentes ao repertório filosófico do autor. Gostaríamos de problematizar algumas possibilidades de abertura do pensamento do autor, explicitar a importância que o mesmo nutria pelo conhecimento. O que aparece nos textos é que o filósofo busca construir seu aforismas amparado em reflexões que provocasse a prática, por isso que pode-se ver nas reflexões de Ptahhotep uma inclinação voltada à fala em público, o quando se deve dizer, quando vale ou não apena um debate, pois, em determinadas circunstâncias o pensador sugere o silêncio. Em uma e suas considerações, diz ele:
Se fores um homem de distinção, que tem assento no conselho do teu senhor, concentra-te, (...) teu silêncio é melhor que a tagarelice. só o versado deve falar quando tiveres certeza de que compreendes. Só o versado deve falar no conselho, pois falar é mais difícil que qualquer ofício, e quem compreende isso abre caminho para si” (PTAHHOTEP apud ARAUJO, 2000, p. 253).
A escuta é outra recomendação que aparece nos textos, trata-se de uma escuta dirigida ao saber, uma escuta atenta e desinteressada.
Portanto, gostaríamos de pensar nas possibilidades presentes nessa perspectiva que indica uma supressão da verborragia improdutiva e valoriza o aprendizado a partir da escuta e do saber ouvir o outro, tentar entender o que o outro diz a partir do outro mesmo.
Nas máximas 2, 3 e 4, aparece uma prescrição operativas de como se deve proceder em contendas: o silêncio é preferível ao invés do ataque. Segundo o próprio pensador, deve-se ignorar palavras duras, o valor de um contendor pode ser mostrado pelo silêncio, enquanto é hostilizado.
Ptahhotep diz que e na presença de um ser menos preparado a não reação deixará que o hostilizador se refute a si mesmo (cf. PTAHHOTEP apud ARAUJO, 2000, p. 253).
Enfim, gostaríamos de apresentar o manual de ética de Ptahhotep objetivando estimular a pesquisa do pensamento egípcio. Mostrar a riqueza de um pensamento que marcou a história da humanidade e, por isso foi responsável pela produção da filosofia ocidental ao formar inúmeros pensadores e escolas de pensamentos que hoje conhecemos e sabemos que tiveram sua formação com a escola egípcia.
Bibliografia
ARAUJO, Emanuel. Escrito para a eternidade a literatura no Egito faraônico. – Brasília: Ed. Universidade de Brasilia, 2000.
HADOT, Pierre. Filosofia como forma de vida. [traducción Maria Cucurella Miquel]. Madrid: Editora Alpha Decay, 2009.
RAMOSE, Mogobe B. Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana. [tradução de Dirce Eleonora N. Solis et al.]. In Ensaios Filosóficos, volume IV – 2011. Disponível em: http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo4/RAMOSE_MB.pdf (acesso em 21/11/2017).
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