O Cangaço e a Maçonaria

Por:Alfredo Bonessi

O Cangaço encontrou em Virgulino Ferreira a maior liderança de grupo, superando em muito outros chefes que o antecederam, nas mais variadas formas de agir do bando de cangaceiros. 

Pelo que se apurou em pesquisas, por estudantes do cangaço, os irmãos Ferreira se desentenderam com um vizinho por questões da invasão de animais em roçados  – e  a situação evoluiu aponto de um grupo emboscar o outro, causando ferimentos em alguns e prisão para outros.Enquanto esse vizinho entrava para a polícia, os Irmãos Ferreira entravam para um grupo de salteadores.
Nessa época, já era publico e notório o espírito de desordeiros que alimentava a índole dos Ferreiras – comportamento no modo de vida que nunca se alterou, e que acabou por  eliminar da vida sertaneja  os irmãos Ferreira, não sem antes arrastar para a vida de crimes e para a morte seu irmão mais novo Ezequiel Ferreira e seu cunhado Virgínio.   
Essa atitude ocasionou também  a morte da mãe, por exaustão e desgosto,  e do pai deles, assassinado covardemente por uma volante comandada pelo Aspirante Lucena, que mais tarde foi o responsável pelo fim do cangaço no sertão, graças a estratégia adotada de informação, contra-informação, e pelo elevado movimento e circulação de volantes pelas áreas de atuação dos bandos de cangaceiros.


Lampião e família em foto de 1926 e Juazeiro do Norte
Por um erro de alguns escritores, primitivos no tema cangaço, acreditou-se que Virgulino Ferreira entrou para a vida do cangaço para vingar a morte do pai – isso não é verdade. 
A rigor, nunca Virgulino vingou alguém, nem mesmo seus chefes de grupo quando esses foram mortos por civis ou pelas mãos da policia. 
O que se viu na sua vida de crime foram mortes movidas por desobediências no cumprimento de suas ordens, como foi o caso dos trabalhadores da rodovia,  e a marcação a ferro nos rosto e nas partes íntimas das mulheres de alguns militares, por estarem de vestidos curtos e cabelos cortados.
O fato é que o cangaço era meio de vida para Virgulino Ferreira, diferente do cangaço por justiça de Antonio Silvino e do cangaço por vingança de Sinhô Pereira. 
Para isso, Virgulino se impôs no sertão como um  indivíduo cruel, estando em mando acima dos poderosos coronéis da região, sendo até enganado por alguns, como foram os casos do coronel Zé Pereira de Princesa e do coronel Izaias Arruda, que ficou com mais de sessenta contos de réis do cangaceiro, e que o enviou para uma viagem sem volta até Mossoró, e que na volta o cercou com fogo no mato e mais de quatrocentos soldados da policia de tocaia.
Ao contrário do que muita gente pensa, Virgulino teve vida boa no cangaço, no interior das fazendas, ao redor das fogueiras, nas comidas gostosas feitas pelas mulheres dos fazendeiros,  ao som fanhoso do ronco dos foles, bebericando bebidas finas, tomando banho de perfumes, comercializando armas e munições entre os seus, pedindo dinheiro aos poderosos, sequestrando pessoas influentes, assaltando  cidades e vilas, atemorizando os comerciantes e forçando mulheres a praticarem sexo  com ele e com o grupo.



Lampião reinou absoluto  pelo sertão por longo tempo, e não se deu conta do número de estradas de rodagem que aumentavam dia-a-dia, das estações de rádio que se fechavam ao redor dele, do grande números de pessoas contrarias ao seu movimento, porque os cangaceiros atrapalhavam o comércio, e ainda,  pelo crescente  número de informantes aliciados pela  polícia e decididas a trabalharem para ela
, e como principal fator,  a inclusão de sertanejos como parte integrante das volantes, quer como graduados, quer como guia e rastejadores, que conheciam bem o terreno e sabiam das artimanhas de  viver e combater nas caatingas.
Assim sendo a vida de Lampião estava por um fio naqueles meses de 1938, até que por um emaranhado de situações, fatos, iniciativas e  decisões, o destino aplicou um golpe derradeiro em Virgulino e seu estado maior do cangaço, no amanhecer de 28 de julho de 1938, quando a volante do tenente João Bezerra o cercou na grota de Angicos e abriu fogo contra os cangaceiros que estavam acabando de acordar.
Muito tempo depois, alguns estudiosos do assunto tentaram justificar a morte de Lampião, criando diversas teses sobre o fato acontecido, como envenenamento, traição, e outros culparam o sobrenatural para o fato dos cangaceiros terem sido pego de surpresas e não esboçarem nenhuma reação e serem mortos com tanta facilidade.



O fato é que Lampião foi negligente em sua segurança quando ocupou esse local, um buraco que só tinha uma saída. 
Além do erro de ficar muito próximo de Piranhas, sede de volantes, e de Santana de Ipanema, local onde era o centro de movimentação da força. Apesar de chegar aos seus ouvidos, pelos informantes,  na tarde de quarta-feira,  que a policia tinha tomado  um determinado destino, bem ao contrário do seu esconderijo, fato esse que fez com que relaxasse na vigilância  e na segurança do acampamento.
Entendemos que o trabalho de Pedro de Candido e de seu irmão Durval  foi fundamental  para o êxito da operação policial, porque guiaram a volante, a noite e sobre as encostas do monte das Perdidas, ao lado do monte Angicos, tendo pela frente o monte das Imburanas, fator esse  primordial para o silencio  e eficácia de  toda a operação.
Se os cangaceiros operassem como uma força de combate imbuída de exterminar  a policia – mas esse não era o seu objetivo – nesse dia do combate de Angicos, poderiam ter se reunido fora do cerco e voltado ao campo da luta e dizimado o grupo de policiais que, descuidados, tratavam de disputar entre si a posse dos bens e do dinheiro dos cangaceiros mortos.
O resultado desse fato foi o fim do cangaço, muitos comerciantes que deviam dinheiro de agiotagem aos cangaceiros tiveram suas dívidas quitadas, muitos soldados da volante ficaram ricos e importantes, alguns deles se tornaram fazendeiros, um deles viajou até para a França, o assunto Angicos correu o Brasil de ponta a ponta e foi notícia até no exterior.

Volante de Joao Bezerra que deu cabo de Lampião em Angico, foto:Piranhas em 1938
Hoje, estudantes procuram uma causa para a existência do cangaço, mas não a encontram. 
Se Virgulino tinha um sonho, uma meta, um objetivo, um ideal, ninguém ficou sabendo, nem mesmo a sua companheira, que nesse dia e noite, derradeiros, brigou muito com ele -  sua voz triste e cansada ainda ressoa pelas pedreiras de Angicos:
“dexa essa vida, homi”.

A sublime Ordem Maçônica... 

Para aquele que era conhecido como um homem valente e matador de Lampião, acostumado com a vida sertaneja cheia de imprevistos e  surpresas, o convite para ingresso na Ordem Sublime lhe causou uma certa inquietação. 
Seu padrinho o alertou sobre isso: era preciso ter muita coragem, determinação, paciência, porque o trabalho era exaustivo, longo, cheio de altos e baixos – era necessário ter uma vontade firme - uma vontade de vencer -  que superava todas as provas existentes na  vida mundana.
Além das provas porque tinha que passar, dos juramentos de fidelidade, no trabalho cansativo nas pedreiras, lapidando a pedra bruta, também era necessário empreender várias viagens, por lugares incertos, sob tempestades e relâmpagos, em mares tenebrosos, em busca da verdade e da fé, para que o mundo fosse melhor e mais justo. 
Depois que as pedras estivessem polidas, poderia ser construído o templo de Salomão – um templo de virtude e de sabedoria.
Na construção do templo empregaria as ferramentas do pedreiro, seria então um pedreiro livre: a régua, o esquadro, o compasso, o nível, o prumo, e o malho seriam os seus instrumentos de aperfeiçoamento social da pedra bruta. Quando a pedra bruta estivesse polida, seria um mestre no uso desses instrumentos.



Era preciso também deixar a vida mundana e vestido de noivo casar com a nova vida – e assim teria que passar também por um prova difícil ao se fazer o balanço da vida, uma verdadeira reflexão, dentro do porão da consciência, onde teria que fazer um testamento, conhecer  de perto o alimento da terra,  e tomar conhecimento do livro máximo de todas as religiões. 
Depois enfrentaria de igual para igual, o senhor dos mundos, na pessoa de um bode preto, no fundo de sua consciência – vencido esse bode preto, venceria o mundo.
A impressão que teve o nosso corajoso candidato era que não estava mais vestido, que seria um simples condenado, que encapuzado e descalço seguiria para um  patíbulo. Antes de mais nada, teria que vencer o luxo e as vaidades e se desapegar dos bens mundanos.
O tempo passou e o novo candidato se houve com muita coragem e valentia. Venceu as tenebrosas viagens, quase naufragou nas durezas da vida, passou por inúmeras tempestades e relâmpagos, trabalhou duro nas pedreiras, conseguiu deixar polida a pedra bruta, subiu pela escada da virtude, do conhecimento,  do mérito,  e tornou-se um nobre cavaleiro da rosa e da cruz – hoje mora no oriente eterno, junto com os seus irmãos.


Ten. JOÃO BEZERRA 
O maçom que deu cabo de Lampião

Sobre o Tenente João Bezerra

Biografia do Ten. João Bezerra, de autoria do 3º BPM – Alagoas:

“O Batalhão Tenente João Bezerra da Silva – 3º BPM, relata a passagem de um dos homens que mais marcaram a briosa Polícia Militar do Estado de Alagoas, rendendo-lhe esta justa homenagem, provocada por seu grandioso feito histórico.

Trajetória

Nasceu no dia 24 de junho de 1898, na Serra da Colônia, Município de Afogados da Ingazeira – Estado de Pernambuco. Seus pais: Henrique Bezerra da Silva e Marcolina Bezerra da Silva, eram pequenos fazendeiros e tiveram sete filhos: João, Cícero, Amaro, Manuel, José, Vitalina e Maria.

Com vontade de aprender a ler, trazia consigo sempre, uma “carta de ABC” (cartilha) e um “ponteiro” (lápis). Aos oito anos, já ajudava seu pai na agricultura e na criação de animais.
Ironicamente, teria aprendido a atirar com Manoel Batista de Morais, popularmente conhecido como Antônio Silvino, “O Rifle de Ouro”, também de Afogados da Ingazeira/PE, que era primo de João Bezerra em segundo grau, tornando-se em um exímio atirador.

Antonio Silvino foi conhecido no sertão como um dos homens mais valentes do Nordeste antes de Lampião, tendo sido ainda testemunha do assassinato do jornalista João Dantas na penitenciária de Recife, que era o assassino do ilustre paraibano João Pessoa, contrariando a versão oficial da época de que dizia ter sido suicídio.

Aos quatorze anos, Bezerra fugiu de casa após ter sido surrado pelo pai, por ter desobedecido à proibição de namorar uma moça, fugindo para o Recife/PE. Já demonstrava uma personalidade marcante, corajosa e propensa à aventura. Um menino sertanejo, desbravando a Capital. A partir daí, foi carregador de carvão de pedra no cais do porto; ajudante de soldado; assentador de dormentes em linha férrea; trabalhador de pedreira e de lavoura. Após um ano, voltou para casa e montou um comércio (uma pequena bodega), onde vendia de tudo.

No tempo em que passou com a família na sua cidade natal, realizou o incrível feito de matar uma onça, que de tão grande assustava a todos do lugar e dizimava as criações das fazendas, o que o tornou já famoso nas imediações onde morava, fazendo-o receber muitos presentes dos proprietários de terra da região.

Tempos depois, foi forçado a sair do seio familiar; indo trabalhar com um dos maiores inimigos de Lampião, o famoso Coronel José Pereira, em Princesa/PB, de onde partiu para Maceió, no Estado das Alagoas para “sentar praça”. Iniciou sua carreira em 1919, na Policia Militar de Alagoas, como policial contratado para integrar as “volantes”, sendo incorporando definitivamente, em 29 de março de 1922, onde permaneceu por 35 anos e 07 meses.

Prestou serviço no 2º Batalhão de Infantaria, deslocado para Santana do Ipanema/AL, para combater o banditismo que assolava a região sertaneja, de onde saiu para o combate de angicos, hoje 3º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Arapiraca/AL.

Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922, e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com os bandidos, tendo de uma feita, morto três dos comparsas de Lampião. Sendo considerado oficial valoroso da Polícia Alagoana e de imediata confiança do governo.

Casou-se com Cyra Gomes de Britto, em Piranhas/AL, no ano de 1935, que em entrevista ao Jornal do Bandepe em 1985, confirma a natureza valente e perspicaz de seu marido, que chegava a passar meses no encalço dos cangaceiros, vindo inclusive a ignorar o nascimento de sua primeira filha, por estar em missão na caatinga, tendo em vista ter empenhado sua palavra de capturar Lampião.

Foi Maçom, alcançando o 18° grau na instituição em que participava.

Assentamentos Militares

Foram 19 Nomeações de comando, incluindo o de Comandante da Corporação (Apesar de não estar incluído no histórico de comandantes da Polícia Militar de Alagoas, devendo ter assumido o Comando Geral em algum espaço entre nomeações deixados por algum comandante entre 1950 e 1954);
12 Nomeações para delegado em diversas cidades de Alagoas, designações concedidas após o combate em angicos.

Participação como “Chefe de Volante” por um período de 12 anos, travando 11 combates com os grupos de cangaceiros, entre eles, os chefiados por Luiz Pedro do Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e por último com o famoso Lampião, o mais importante desses combates, que foi travado na Grota de Angicos, atual Município de Poço Redondo, estado de Sergipe, no qual ocorreu a morte de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua companheira Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita), e dos cangaceiros: Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.

Participação em diversas missões fora do Estado, com os contingentes alagoanos, entre elas: Combate à Coluna Prestes, em 1925; Deposição do governo Washington Luís, em 1930 e Revolução Constitucionalista em 1932.

Nomeação como Prefeito Interventor da cidade de Piranhas/AL, no ano de 1933.

Durante a sua vida militar, recebeu diversos elogios por seu desempenho nas missões em que participou, conforme foram publicados nos boletins da Policia Militar de Alagoas. 

Entre eles:

Elogio do Comandante do 2º Batalhão;
– Louvor do Coronel Lucena comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl., de 17 de dezembro de 1938.
“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontaneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra a horda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinham sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo. Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal“.

Elogio do Comandante da Corporação;
“Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou. O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

Coronel EB Carlos Eugênio Pires de Azevedo – Comandante da Polícia Militar de Alagoas em 6/12/1970, quando da ocasião de seu sepultamento em Maceió.

Elogio do Interventor Federal;
Elogio do Governador do Estado;
Elogio do General de Exército;
Elogio do Presidente da República.
Tendo sido inclusive recebido no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no ano de 1938, pelo então Presidente Getúlio Dorneles Vargas
, que nutria grande interesse pela campanha contra o cangaço, em virtude do sucesso da missão em Angicos.

Elogio da população de Piranhas/AL
Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, a espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Oferece o povo de Piranhas. ”

Foi para a reserva da Polícia Militar de Alagoas em 04 de novembro de 1955, quando passou a dedicar-se à agricultura e à pecuária.

Faleceu na cidade de Garanhuns/PE, no dia 04 de dezembro de 1970, vitimado por um acidente vascular cerebral, recebendo alusões honrosas pela Câmara Municipal daquela cidade.

Seu corpo foi velado no quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas, e em seguida sepultado com honras militares no mausoléu da maçonaria em Maceió, como última homenagem da Corporação em satisfazer o pedido do próprio João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano. 

Anos mais tarde seu corpo foi transladado para o Estado de Pernambuco, a pedido de sua família.

João Bezerra foi um perseguidor empenhado em não dar trégua aos cangaceiros, reconhecido pelos seus pares e superiores, ao ponto de ganhar de Lampião o apelido de “Cão Coxo”, coxo em decorrência da redução de 04 centímetros em uma das pernas, causada por um ferimento em combate, e cão, pela valentia e destemor que apresentava nos combates. Em entrevista dada pelo então Capitão Manuel Neto, outro grande oficial das volantes, após a morte de Lampião, referia-se a Bezerra dizendo: – “O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia Alagoana e dos Estados vizinhos”.

Era homem obstinado, desbravador e estrategista. Cidadão honrado, decidido, extremamente observador, perspicaz e de muita fé. Seus passos foram cuidadosamente planejados, prevalecendo sempre a sensatez e a dignidade. Incansável na luta contra o banditismo. Seus contemporâneos sabiam do seu empenho, da sua responsabilidade e do seu valor: Nada em sua vida parecia ter sido por acaso.

Frases de João Bezerra

“Soldado não briga deitado. O que eu encontrar deitado, ou outro qualquer encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem deitado atirem em mim também.” (Frase proferida antes do confronto em Angicos).

“Para vencer os ímprobos que nos impunha um vaivém penoso, só Deus sabe o quanto tivemos que lutar! Descrever esses sofrimentos seria dedicar centenas de páginas ao nosso grande martírio que jaz no anonimato, morto nos segredos das caatingas!” (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).

“Soldados do Brasil! Eu vos admiro! Permiti que eu seja sangue do vosso sangue guerreiro, para felicidade da minha vida toda voltada à Pátria na honrosa carreira das armas”. (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).

O portal MN parabeniza a todos os militares integrantes do 3º BPM pelos serviços prestados a cidade de Arapiraca e região. Que os bravos e honrosos militares sejam vistos pela sociedade não apenas pelas fardas e patentes, mas como seres humanos que ariscam suas vidas para proteger a cada cidadão, e junto a população, construir uma sociedade mais harmônica.”.

Por Genival Silva. Fonte: Ascom/3º BPM e http://3batalhao.blogspot.com.br/

Cap. João Bezerra era maçom – Grau 18° do R.E.A.A.

Segundo preliminares informações na internet, provas documentais e depoimento do Irmão Paulo Britto, filho de João Bezerra, o Capitão João Bezerra da Silva foi maçom, sendo Grau 18 do R.E.A.A., iniciado em 25 de junho 1949, com 51 anos de idade, na Loja Maçônica Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL e, inclusive, enterrado no Mausoléu Maçônico Segredo 33, como seu último pedido, posteriormente, a pedido da família, seu corpo foi trasladado para Pernambuco. Este detalhe acena para o crivo legalista do homem militar, que deu cabo a Lampião e seu bando, em 28 de julho de 1938, e do homem maçom, 11 anos após o Combate de Angicos, na luta porfiada nessa história de combates quase “intermináveis”, bárbaros e cruéis, entre volantes e cangaceiros na caatinga nordestina pela ordem e legalidade.

Loja Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL

REGISTROS FORNECIDOS, FRATERNALMENTE, PELO GRANDE ORIENTE DO BRASIL DE ALAGOAS – GOB-AL

Carteirinha Maçônica


O Marco do Fim do Cangaço –  

A Morte de Lampião

O cangaço, segundo Moacir Assunção, é um fenômeno social característico da sociedade rural brasileira. No nordeste, existiu desde o século XVIII, quando José Gomes, o Cabeleira aterrorizava populações rurais de Pernambuco. O movimento atravessou o século XIX, só terminando em 25 de maio 1940, com a morte de Corisco (1907 – 1940), sucessor de Lampião e seu principal lugar-tenente, pela volante de Zé Rufino (Diário de Pernambuco, 1º de junho de 1940, na sexta coluna).

‘Os homens do cangaço espalhavam fama, violência e aplicavam um conceito muito particular de justiça em sete estados do Nordeste. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia sofriam não apenas nas mãos desses grupos nômades, mas também com a seca, com a fome e com uma sociedade desigual e injusta, que perpetuava um modelo pérfido de exploração do trabalho.’ (Ângelo Osmiro Barreto in Iconografia do Cangaço, 2012)

Em 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em Sergipe, perto da divisa com o estado de Alagoas, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Estes foram todos decapitados. No combate, foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza. João Bezerra e outro militar ficaram feridos (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira coluna, Diário de Pernambuco, 30 de julho de 1938). 

Eram 49 homens da volante e 36 cangaceiros. 

Os outros 25 cangaceiros presentes naquele dia, no local Grota de Angicos, saíram vivos e conseguiram fugir, mais tarde alguns sendo mortos e outros entregando-se à polícia. Foi o fim do cangaço no sertão, muito embora alguns pesquisadores ainda considerem o fim do cangaço com a captura do cangaceiros Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto, (Água Branca, 10 de agosto de 1907 – Barra do Mendes, 25 de maio de 1940).

 

“Os onze do Angico”
Foto do Soldado Adrião Pedro de Souza, componente da volante do Aspirante Francisco Ferreira de Melo e croqui do mapa do combate de Angicos, feito pelo Ten. João Bezerra, e que se encontra ás fls. 102, do seu livro “Como dei cabo de Lampeão”. Vê-se, no mapa, que os grupos de Lampião, Zé Sereno e Luís Pedro, foram cercados pelas volantes comandadas por: Ten. João Bezerra, Aspirante Ferreira de Melo, Sgt. Aniceto e por homens comandados por Juvêncio e o Cabo Bertoldo. 
O cerco, bem planejado, foi quase perfeito e quase não foi dado chance aos cangaceiros. Foram utilizadas 04 metralhadoras, além de um bem planejado cerco e o elemento surpresa que foi decisivo, a topografia do local (serras íngremes), também, foi altamente desfavorável aos cangaceiros, tanto na defesa, como nas correrias da fuga.
Lampião e Maria Bonita, mulher de Lampião, com seu bando.
Zona de atividade dos cangaceiros – anos 1920 a 1930

Considerações finais

Correspondências enviadas ao Ir. Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, extraídas de Citações sobre João Bezerra Parte II, por Paulo Britto.

Antonio Amaury Correa de Araújo

Correspondência enviada ao Irmão Paulo Britto, em 06.07.2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury C. de Araújo:

“… Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, … Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.

… Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, … … seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita…. Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. 

Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história…

PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico. ”.

Gazeta de Alagoas – 06.12.1970 1º Caderno, página 3:

“Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares…O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar, conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.

Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o Nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas.”

… “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

Ir∴ Paulo Britto, 


Ir∴ Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, em http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/11/citacoes-sobre-joao-bezerra-por-paulo.html:

“Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçom grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados…”.

Coronel Lucena

Louvor do Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938. (Grafia original):

“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontâneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo.

Coronel Lucena

Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.”


Fontes:

http://etalasquera.ueuo.com/cangaco/cangtb.htm

http://sociedadeolhodehorus.blogspot.com/2013/03/lampiao-o-fora-da-lei.html

http://3batalhao.blogspot.com/p/historico.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Bezerra_da_Silva

Como dei cabo de Lampião, do Ten. João Bezerra da Silva. 1940

https://canoadetolda.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Brasil-Canga%C3%A7o-2011

http://cariricangaco.blogspot.com/2011/10/citacoes-sobre-joao-bezerra-parte-ii.html

http://3batalhao.blogspot.com/p/ten-joao-bezerra.html

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2018/07/joao-bezerra-falou-ao-o-globo-em-26-de.html

http://www.minutonordeste.com.br/noticia/34-aniversario-do-3-bpm-de-arapiraca-encerra-com-homenagens/2930/imprimir

http://brasilianafotografica.bn.br/?p=9527

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2009/06/angicos-aspectos-geograficos-e.html?m=1

http://cariricangaco.blogspot.com/2012/07/um-olhar-mais-apurado-porpaulo-britto.html

Sobre o autor

Alexandre Lopes Fortes é M∴ I∴, membro da ARLS Irmão Cícero Veloso n°4543 (GOB-PI). Grau 33 do REAA, grau 33 do Rito Adonhiramita, grau 9 do Rito Moderno e companheiro do Sagrado Arco Real.




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