O relato bíblico
Segundo as crónicas bíblicas o número dos israelitas que saíram do Egipto no Êxodo foi de mais de seiscentas mil pessoas. Eles atravessaram o Mar de Juncos, uma estreita faixa de terra que contornava o Mar Vermelho e se dirigiram ao deserto do Sinai, para onde Jeová (Adonai), pela mão de Moisés, os guiou. Ali, segundo instruções do Senhor, Moisés inscreveria na mente e nos corações dos filhos de Israel os seus mandamentos.
E assim eles acamparam na base da montanha, enquanto Moisés subia para receber das mãos de Deus as tábuas da lei.
Mas como Moisés se demorasse demais na montanha, os israelitas impacientaram-se com a falta de comida e com as privações que estavam passando; aproveitando a ausência de Moisés, alguns indivíduos mais afoitos armaram uma rebelião e obrigaram Aarão a fundir um bezerro de ouro para servir-lhes de divindade. E depois dançaram e fizeram um grande festim em volta do ídolo. Quando Moisés desceu da montanha com as tábuas da lei nas mãos, viu a idolatria em que o seu povo tinha recaído. Irado ao extremo, quebrou as duas pedras onde Deus tinha gravado os Dez Mandamentos e chamou contra os pecadores um terrível castigo, fazendo a terra abrir e engolir milhares de idólatras.
Em síntese, essa é a história que os cronistas bíblicos contam. É uma história que teria sido escrita pelo menos uns oitocentos anos depois da sua ocorrência, se é que ela um dia ocorreu. Pois segundo acreditam hoje a maioria dos historiadores (judeus inclusive), a Torá, ou seja, os supostos cinco livros escritos por Moisés, foram compilados por volta do século VI a. C. no reinado do rei Josias, o que quer dizer que antes disso eles não existiam na forma escrita, embora já circulassem na forma de tradição oral. [1]
As raízes da religião de Israel
Antigas tradições constantes do Talmud dizem que o oásis de Madian, onde o povo de Israel acampou, ficava na base do Monte Sinai. Nesse oásis, segundo essas tradições, vivia um povo aparentado com os israelitas. Informa também que Moisés, após a sua fuga do Egipto, depois de matar o egípcio que espancava um israelita, ali viveu durante cerca de dez anos, inclusive casando-se com a filha de Jetro, que era o xeque (líder) daquela tribo. Moisés teria levado para aquele oásis a religião monoteísta dos israelitas, a qual passaria a ser professada também pelos madianitas.
É possível perceber, na narração desses factos, o sentido ritualístico e simbólico que lhe são dados nos cinco livros do Pentateuco. Constam também do Talmud e nas obras de antigos escritores como Maneto, Apion, Flávio Josefo, Filon e outros, várias referências que sugerem ser a saga dos hebreus, conforme descrita no livro do Êxodo, uma autêntica jornada iniciática. Essas tradições levam-nos a pensar que Moisés, ao sair do Egipto com o povo hebreu, na verdade o conduziu a um santuário dedicado ao deus Aton no alto do Monte Sinai, onde certamente estaria a salvo da perseguição que lhe moviam as autoridades egípcias.
Existem igualmente algumas especulações de autores modernos, como Sigmund Freud, por exemplo, (Moisés e o Monoteísmo, Londres, 1939), que sugerem que Moisés e Akhenaton são, na verdade, a mesma pessoa e que o episódio da liberação dos hebreus do Egipto nada mais é do que um conjunto de memórias da revolução monoteísta que aquele faraó promoveu no Egipto, no século XIV a. C.. Isso explicaria as constantes recaídas dos hebreus na idolatria e nos costumes e tradições pagãs, que tanta preocupação e angústia provocaram em Moisés e Aarão. Leva-nos também a pensar que a história contada no Pentateuco pode, realmente, ter inspiração bastante diferente daquela que comumente se julga ter. [2]
Os relatos bíblicos não são convincentes do facto de que Israel, como povo, já tivesse tal identidade religiosa e cultural quando saiu do Egipto. Essa identidade parece ter sido cunhada por Moisés a partir de uma visão dele próprio e não de um povo que já a cultivava anteriormente. Isso transparece na constatação de que antes de Moisés, Jeová, o Deus dos hebreus, era adorado por esse povo na condição de um Deus particular e não como uma divindade universal e única. Na Palestina, antes e depois de Moisés, ele dividia o panteão dos deuses com outras divindades locais, tais como Amon (dos amonitas), Quemosh, dos moabitas, Dagon dos filisteus, Baal dos sírios, etc. Assim, eram várias as divindades dos povos palestinos, sendo Jeová apenas uma delas, e o seu culto não tinha a pretensão de universalidade, embora os hebreus o colocassem acima de todas as outras.
Destarte, o carácter da unidade e da universalidade de Deus foi realmente uma realização de Moisés, ou Akhenaton, se (o que está longe de ser provado), realmente eles forem a mesma pessoa, ou partidários da mesma inspiração. [3]
As raízes egípcias da religião de Israel
A primeira especulação que pode ser feita nesse caso é se Moisés e Akhenaton são a mesma pessoa, ou se Moisés foi um sacerdote, ou líder, que, conjuntamente com o famoso faraó, liderou essa revolução. A ligação entre os dois nomes é difícil de evitar. Os cronistas bíblicos optaram pela segunda hipótese, fazendo de Moisés um príncipe de origem israelita que teria sido adoptado pela família real [4]. Uma segunda especulação refere-se á própria liturgia que Moisés implantou na religião de Israel, que guarda uma profunda identidade com aquela que era praticada pelos seguidores de Akhenaton.
Era crença antiga entre os egípcios de que a sua civilização teria sido organizada pelo deus Toth, que os gregos chamavam de Hermes (O Trismegistos). Ele instruíra os antigos sacerdotes da sua religião e estes tornaram-se os “iniciados” que deram ao Egipto a grande civilização que os povos do Nilo possuíam desde tempos imemoriais, conforme se lê nos famosos tratados conhecidos como “Corpus Herméticus”. [5]
Esses iniciados eram considerados “mestres” nas chamadas profissões sagradas. Como tais eram consideradas as ocupações dos médicos, engenheiros, sacerdotes, astrónomos e homens de ciência, capazes de realizar grandes obras de engenharia, complicadas intervenções cirúrgicas, interpretar a vontade dos deuses e interferir no curso da natureza, provocando chuvas, mudando a direcção dos ventos, transformando metais comuns em ouro, etc. [6]
Destarte, se Moisés foi realmente um sacerdote egípcio antes de tornar-se o líder dos hebreus, é possível inferir que ele também tivesse tido acesso a esses conhecimentos, o que justifica o carácter de mago com que ele aparece na Bíblia. Explica também a perícia do seu irmão Aarão na arte da metalurgia. [7]
Apesar da vasta literatura esotérica existente sobre o assunto atribuir à classe sacerdotal egípcia uma imensa gama de segredos arcanos, os registos históricos são bastante concisos ao se referir a esse assunto. Na verdade, esse carácter místico, esotérico, que a religião solar dos egípcios assumiu foi mais uma obra dos filósofos gregos da chamada escola hermética do que dos próprios egípcios.
Até a revolução de Akhenaton, a hierarquia sacerdotal estava organizada muito mais para fins de administração do Estado do que para propósitos religiosos ou iniciáticos. Não havia uma classe sacerdotal propriamente dita, mas sim ordenações sacerdotais que eram feitas pelos faraós, os quais escolhiam entre os seus súbditos os membros do clero. Foi somente a partir dessa intervenção do faraó na vida religiosa dos seus súbditos, que a classe sacerdotal começou a organizar-se de forma independente e a ganhar poder. Data dessa época também o carácter místico que à essa classe foi atribuído.
A hierarquia sacerdotal egípcia era bastante estratificada. Havia a classe superior, que ostentava o título de hem-netjer, palavra que literalmente significa servo do deus, que pode ser traduzido por sacerdote. Porém o Sumo Sacerdote era o próprio faraó. Só ele detinha o poder de intermediar a relação entre os homens e os deuses no Egipto. Havia uma classe intermediária conhecida por wab, literalmente, os homens puros. E mais abaixo na hierarquia, havia os chamados pais divinos, que não eram exactamente sacerdotes, mas participavam dos ofícios religiosos, exercendo certas funções litúrgicas.
Em princípio, as funções sacerdotais não eram privativas nem vitalícias. Os sacerdotes podiam ser destituídos pelo faraó e normalmente fazia-se uma rotação entre os escolhidos. Cada grupo exercia a função por um período de tempo, geralmente três meses a cada ano. Homens e mulheres do povo podiam ser escolhidos para a função: camponeses que exploravam a terra sagrada, artesãos, dançarinas, músicos e outros profissionais podiam ser nomeados. Os seus serviços eram pagos em mercadorias, as quais, em princípio, eram consideradas como propriedade do deus patrono do santuário,
Os convocados para trabalhar nos templos ficavam também isentos de alguns impostos e geralmente eram liberados dos trabalhos compulsórios que normalmente se exigiam do restante da população, tais como abrir canais de irrigação, construir edifícios públicos, etc. Uma das obrigações que eles assumiam era o juramento de jamais revelar os segredos ou mistérios dos quais participavam nos templos.
Evidentemente, nem sempre o faraó tinha condições de exercer as funções sacerdotais. Assim, com o tempo essa função foi sendo delegada a um Sumo Sacerdote da sua escolha. Para alcançar essa honrosa posição era preciso que o candidato tivesse uma esmerada educação nas artes e nas ciências. Dessa forma, logo se desenvolveu uma carreira eclesiástica organizada, com disciplinas curriculares, como leitura, escrita, engenharia, aritmética, geometria, astronomia, etc.
Foi assim que os sacerdotes de Heliópolis e de outros templos se tornaram guardiães dos conhecimentos sagrados e ganharam a reputação de sábios, que perdura até hoje.
Um documento jurídico contendo o testemunho de um sacerdote de Heliópolis, actualmente depositado no Museu de Turim, dá uma descrição das funções de um sacerdote egípcio. Esse sacerdote exerceu o ofício no santuário de Amon-Rá em Karnac, em algum tempo entre 1310 e 1220 a C., no reinado dos faraós conhecidos pelo nome de Ramsés. O seu nome era Bakenkhonsu. Nesse documento consta uma inscrição a ele atribuída, que diz, textualmente:
“Passei 4 dos meus primeiros anos 11 anos como aprendiz, sendo responsável pela estrebaria de adestramento de Seti I. Durante quatro anos fui sacerdote puro de Amon. Durante 12 anos fui pai divino de Amon. Durante 15 anos fui terceiro profeta de Amon. Durante 12 anos fui segundo profeta de Amon. Ele glorificou-me em reconhecimento ao meu carácter. Ele me investiu da função de grão-sacerdote de Amon durante 27 anos. Eu fui um bom pai para os meus subordinados, amparando os seus descendentes, dando a mão aos que estavam angustiados, reanimando os que estavam na miséria, fazendo obras úteis no seu templo enquanto fui mestre-arquitecto de Tebas” [8]
As raízes egípcias da Maçonaria
Rezam também as antigas tradições que nos santuários egípcios a ciência da arquitectura era arte considerada sagrada. Conhecimentos secretos, aplicados á essa técnica, eram transmitidos de forma iniciática a uns pouco escolhidos e conservados como segredo de Estado. É sabido que os egípcios eram notáveis construtores. Os seus monumentais edifícios, construídos para servir de tumbas e templos para as suas divindades resistiram ao tempo e à destruição que as guerras naturalmente provocam nas obras humanas.
O termo pedreiro, geralmente aplicado aos profissionais da construção civil, provavelmente foi cunhado nesses antigos tempos, quando as construções eram erguidas principalmente com pedras. Aplicava-se esse título tanto para aqueles trabalhadores que labutavam nas pedreiras, extraindo, cortando e trabalhando artesanalmente as pedras que seriam usadas na construção, quanto para aqueles que as assentavam, e também aos artesãos, que as transformavam em obras de arte. Maneto informa que nessa época esses profissionais da construção já tinham adoptado a prática de organizar-se em Confrarias para preservar os segredos da profissão e defender os seus mercados, daí alguns autores maçónicos falarem na existência de uma forte Maçonaria operativa entre os antigos construtores egípcios. [9]
Eis aí, portanto, na tradição dos Irmãos de Heliópolis, o vínculo que os liga á prática da moderna Arte Real. Um conjunto de temas, práticas e tradições que ainda hoje são observáveis na estrutura da Maçonaria, especialmente nos chamados ritos de inspiração egípcia como, por exemplo, o Rito de Misrain—Mênfis, também conhecido como a Maçonaria de Cagliosto.
Na nossa intuição, foi dessa fonte que Moisés bebeu a sua sabedoria e a transmitiu ao povo de Israel. Dela surgiu a organização política e religiosa aplicada à nação israelita, organizada desde o seu nascimento com uma estrutura de verdadeira Confraria de “pessoas eleitas”, as quais, por terem sido escolhidas por Deus para constituir uma nação sagrada, teria que seguir determinados preceitos rituais e assumir uma compostura ética e moral, que hoje só pode ser encontrada nos discursos maçónicos. E dessa fonte se identifica também a relação estabelecida com a arquitectura, sendo esta uma arte sagrada por excelência (a Arte Real), a qual, no cerne do seu simbolismo, se vincula toda a tradição da construção do edifício sagrado, representado pelo Templo de Jerusalém, construído pelo Rei Salomão, o patrono da Maçonaria.
O Êxodo, uma viagem iniciática?
Se o Êxodo aconteceu ou não, deixamos de referir. Não há provas, seja para afirmar ou negar, que ele de facto tenha ocorrido, ou se foi apenas um mito engendrado pelos cronistas bíblicos. Aos nossos olhos este episódio aparece como uma autêntica jornada iniciática, da qual nasceu, de facto, a prática dos maçons viverem em Loja, porque esta foi, em princípio, toda a nação de Israel. Por analogia, a nação de Israel, nos seus primórdios, pode ser vista como uma verdadeira Fraternidade, cuja iniciação se deu na peregrinação pelo deserto, na qual foi purificada pelo fogo (o sol do deserto), pela água (na passagem do Jordão), pelo ar (a vida ao ar livre durante quarenta anos) e nas provas de fé dela exigida. E na estrita observância dos preceitos ditados pelo Grande Arquiteto do Universo, ela constituiu-se como a “a nação eleita”, maquete da Humanidade Autêntica, que deveria servir de modelo para toda a criação humana. Tal qual se pretendeu a Maçonaria nos primórdios da sua existência, quando se estabeleceu como organização mundialmente reconhecida e institucionalizada. [10]
É nesta analogia que podemos sustentar que o Êxodo foi, na verdade, uma grande jornada iniciática em que o povo de Israel foi iniciado nos Sagrados Mistérios da Maçonaria Universal e constituiu, a partir da sua organização como povo livre, a primeira experiência verdadeiramente maçónica da História.
O Êxodo pode ser visto, simbolicamente, como uma jornada de purificação, assemelhada às grandes aventuras do espírito, que resultam em profundas modificações interiores. Note-se que esse simbolismo está presente em todas as experiências místicas vividas pelos grandes líderes religiosos de todos os tempos e foi incorporado a todas as tradições iniciáticas. Moisés encontra Deus no Sinai, Buda encontra a Verdade na meditação solitária, João Batista é a “Voz que clama no deserto”, Jesus prepara-se para a sua missão em quarenta dias de jejum no deserto, Maomé descobre a sua missão na Hégira (sua fuga de Medina para Meca, atravessando o deserto), etc. Por isso toda iniciação deve ser precedida de uma “purificação” praticada na solidão de um retiro e nas vicissitudes de uma “viagem iniciática”.
Por fim, podemos verificar que as raízes desta especulação também podem ser encontradas na mais antiga tradição do povo de Israel, ou seja, a Cabala. Segundo esta tradição, os Elohins, anjos Construtores do Universo, eram seres formados pelos quatro elementos. Sendo detentores de poderes ilimitados, possuíam o conhecimento da Palavra Sagrada. E foram eles que fizeram o homem à sua imagem e semelhança. [11]
E foi por isso, também, que o Grande Arquitecto do Universo fez os israelitas habitar no deserto por quarenta anos antes de entregar-lhes a Terra Prometida; pela mesma razão os submeteu a duras provas, pois é da tradição iniciática a noção de que somente aqueles que conseguem sobreviver a elas e mantém a fé podem ser considerados dignos de participar dos Mistérios em que estão sendo iniciados. [12]
Somente pelo caráter iniciático que essa peregrinação pelo deserto assume é possível entender os episódios que são narrados no Êxodo. Num contexto histórico, fático, teríamos de admitir que se os israelitas fossem forçados a viver no deserto, como nómades, como fazem os beduínos até hoje, até se conseguirem tornar fortes o suficiente para conquistar uma parcela das terras palestinas para ali se estabelecerem, essa seria uma questão bastante controvertida. Seria inconcebível que um contingente tão grande de pessoas pudesse ter sobrevivido dessa forma e que essa formidável aventura não tivesse deixado algum rastro que pudesse ser recenseado. Mais de seiscentas mil pessoas, vivendo por quarenta anos no deserto uma vida dura e perigosa certamente deixariam muitas reminiscências para serem exploradas pelos arqueólogos. Mas nada se encontrou até agora, pela arqueologia, que provasse que a grande aventura narrada no Êxodo tivesse realmente acontecido.
Daí porque pensarmos que as descrições dos factos e dos rituais narrados no livro do Êxodo têm toda a feição de se estar a referir a um simbolismo iniciático. Eles parecem-se muito mais com uma experiência espiritual do que com um conjunto de sacramentos instituídos a partir da prática de uma religião já estabelecida.
Hoje diz-se aos candidatos à iniciação na Maçonaria que antigamente os pretendentes eram submetidos a provas duras e perigosas. Mais do que a simples remissão aos românticos tempos da cavalaria medieval, quando os novos cavaleiros eram “provados” na sua coragem e fidelidade, ou à tradição dos Antigos Mistérios, quando dos neófitos eram exigidas mostras de grande resistência física e fortaleza de espírito, cremos que são no simbolismo da purificação e iniciação do povo de Israel que a Arte Real realmente se inspira quando se refere a essas provas.
Por essa razão é que sustentamos serem os filhos de Israel os primeiros Irmãos verdadeiramente iniciados na Arte Real, não só porque tinham sido pedreiros no Egipto, mas também porque tinham adquirido a sabedoria moral e a energia do espírito, que só a verdadeira iniciação proporciona. E depois de iniciados nos Augustos Mistérios que o próprio Grande Arquitecto do Universo lhes revelava, eles ir-se-iam reunir em Loja permanente, a qual seria a nação de Israel.
Por isso o templo onde os maçons se reúnem lembra o Templo de Jerusalém.
E a Loja, que é a reunião dos maçons propriamente dita, tem a conformação da Árvore da Vida, símbolo maior, na visão cabalística, do processo segundo o qual o Grande Arquitecto do Universo constrói o mundo. [13]
João Anatolino Rodrigues
Notas
[1] Israel Finkelstein e Neil.Asher., na sua obra “A Bíblia não Tinha Razão”, sustentam que o povo de Israel é originário da própria Palestina e a saga bíblica foi uma epopeia criada pelos cronistas do rei Josias no século VII a. C. para dar á história de Israel um carácter de grandiosidade que justificasse a ocupação da Palestina.
[2] É o caso do episódio do bezerro de ouro. Por que os israelitas teriam construído esse tipo de ídolo para ser seu Deus? Provavelmente por que tiveram uma recaída na antiga religião dos egípcios, que tinham no boi Ápis uma das suas principais divindades. A irada reacção de Moisés contra os adoradores do bezerro de ouro mostra bem o carácter político-ideológico que se imprimiu à essa revolução religiosa e cultural, que ocorreu no Egipto do século XIV a. C. e que ainda hoje espalha os seus ecos pelo mundo todo.
[3] Akhenaton, o faraó herético, tentou implantar uma religião monoteísta no Egipto no século XIV a.C.. A sua ideia era substituir todos os deuses egípcios por uma única divindade, que ele chamava de Aton, representada pelo disco solar. Nessa mesma época, os israelitas adoravam uma divindade à qual eles chamavam Adonai (O Senhor). Nessa coincidência de nomes e tradições, os historiadores vêem uma provável relação entre a revolução monoteísta de Akhenaton e o nascimento da religião de Israel. Ver, nesse sentido, Osman, Ahmed, “Moisés e Akhenaton”, São Paulo, Madras, 2007.
[4] Até nessa informação bíblica pode ser estabelecida uma interessante relação entre o monoteísmo de Akhenaton e o de Moisés. Akhenaton era considerado um representante do deus Aton (o Sol) na terra e tido como filho do Rio Nilo. Moisés era considerado o emissário de Adonai, enviado ao Egipto para libertar os cativos israelitas. E a Bíblia o refere como o “homem tirado das águas” do Rio Nilo.
[5] O Corpus Herméticus é um conjunto de livros escritos por filósofos gregos nos primeiros séculos da era cristã, dando origem á chamada doutrina hermética
[6] É dessa tradição que se origina a alquimia. Essa arte era praticada pelos sacerdotes egípcios desde os tempos pré-históricos. Foi derivada da metalurgia, a partir da técnica de aplicação de banhos de ouro em peças de cobre, artesanato no qual eles eram peritos. Com o tempo cristalizou-se a tradição de que os templos egípcios detinham também o segredo de fabricar ouro. Esses poderes eram atribuídos especialmente aos sacerdotes do santuário de Heliópolis, tanto que o alquimista Fulcaneli consagra uma das suas obras (O Mistério das Catedrais), aos Irmãos de Heliópolis. Jâmblico, Pelásgio e os filósofos que escreveram a obra conhecida como “Corpus Herméticus”, também se referem aos poderes que seriam próprios dos sacerdotes desse santuário.
[7] São esses conhecimentos que os Irmãos da Rosa-Cruz irão alardear nos seus famosos Manifestos. Quanto a Aarão, irmão de Moisés, a sua perícia na arte da metalurgia é mostrada no episódio em que ele fabrica o bezerro de ouro. Aliás, só ele poderia “fabricar” um deus, pois essa era uma arte secreta, de exclusivo conhecimento de sacerdotes iniciados.
[8] Aidan Dodson – The Hieroglyphs of Ancient Egypt. Barnes & Noble, New York, 2001
[9] É própria Bíblia que nos informa que os israelitas (pedreiros) construíram as cidades de Pi-Ransés e Phitonm(Êxodo 1:11)
[10] Vide a Constituição de Anderson, que deu à Maçonaria uma “certidão de nascimento” como instituição.
[11] Génesis 1:26
[12] Vide o ritual de iniciação do aprendiz maçon.
[13] Vide a nossa obra “Cabala e Maçonaria” – A influência da Cabala nos Ritos Maçónicos – Madras, 2018
Fonte: freemason.pt
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