Teorias e lendas a respeito de sua origem
Os primeiros historiadores da Ordem, os Anderson, Desaguliers, Ramsay, Lalande, etc, ao buscar as origens da Maçonaria, inventaram lendas sobre sua criação, esperando dessa maneira lhe dar uma certa “nobreza”.
Era essa a mentalidade do século, a época da grandeza.
Eles queriam que sua associação tivesse uma origem nobre. Cegos pela vaidade e pela ambição de remontar a gênese da instituição a uma alta antiguidade, houve escritores que se deixaram induzir em erro pela analogia existente entre os símbolos e os costumes das Lojas e os dos antigos mistérios.
Em vez de procurar a maneira como essas práticas foram introduzidas na Franco-Maçonaria, eles se apoiaram em hipóteses para convertê-las na própria origem da instituição, considerando-as como indicação certa de filiação direta.
Naturalmente, tantas alegorias, tantos ritos diversos deviam dar margem para todo tipo de interpretações.
Para uns (os maçons bíblicos), a Maçonaria teve sua origem no Templo de Salomão* e na Fraternidade dos Obreiros Construtores. Para outros (os maçons templários), ela surgiria das cruzadas ou da Ordem do Templo.
Outros ainda creem que a Maçonaria é uma imitação dos Mistérios do Egito e da Pérsia.
Finalmente, não poderiam faltar aqueles que derivam os Liberi Muratori – como eles eram chamados no século XVIII – dos terapeutas, dos essênios, dos maniqueístas, dos druidas, dos gnósticos, dos albigenses e até mesmo dos luciferianos, dos ismaelitas, dos socinianos, dos franco-juízes e dos ofitas.
Assim, não é de se admirar que tenham sido citadas como fundadores da Maçonaria pessoas tão diferentes como Júlio César, Moisés, Bacon, Socin, Hiram**, Noé, Godofredo de Bulhões, Ashmole, o rei Arthur, Alexandre, o Grande… e até mesmo Adão.
Já no século XVIII, Enoch, que muito simplesmente se dava o título de “Verdadeiro Maçom”, esforçava-se para provar que os filhos de Seth se reuniram na primeira Loja, sob a presidência do Arcanjo São Miguel.
Bernardin, em sua obra Anotações para Servir à História da Franco-Maçonaria em Nancy, descobriu, após ter examinado 206 obras que tratavam das origens da Maçonaria, 39 opiniões diversas, algumas delas tão originais quanto aquelas que descendem a Maçonaria dos primeiros cristãos ou do próprio Jesus Cristo, de Zoroastro, dos magos ou dos jesuítas.
Para não citar as teorias mais conhecidas – aquelas que chamamos de “clássicas” – que remontam a Franco-Maçonaria aos templários, aos rosa-cruzes ou aos judeus.
Toda a dificuldade que existe a respeito da origem da Maçonaria, e a razão das trevas que a rodeiam, deve-se simplesmente ao fato de que uns e outros, fascinados por uma fraseologia caduca e por afirmações categóricas, querem procurar a origem onde ela não está.
Ou, como afirma Sbigoli, seria preciso encontrar a causa no segredo em que ela se esconde, nos símbolos de que ela se nutre, no ódio, no amor ou no fanatismo, no desejo de engrandecer a organização exagerando sua antiguidade, seu poder, e a estima que lhe devotam não somente os neófitos mas também o vulgo profano. Tudo isso levou os historiadores da Maçonaria a pesquisar sua origem nos séculos mais distantes.
É a vaidade que estabelece como máxima que quanto mais distante no passado estiver a origem de qualquer coisa ou de alguém, mais evidente fica a prova de sua grandeza e de seu mérito.
E a opinião pública, que se entrega de bom grado a todas as ilusões do espírito humano, consagrou essa ideia, como se o riacho, que se perde no oceano, pudesse enobrecer-se a cem léguas de sua embocadura.
Certos historiadores, tanto maçons como profanos, caíram nesse erro, embora evidentemente eles estejam muito pouco de acordo sobre sua origem verdadeira, ainda que seja certo que essa mesma dificuldade para localizar sua origem em uma época concreta seja com certeza a garantia, segundo Vernhes, da antiguidade de sua instituição.
É fato comprovado que o homem, instintivamente, deseja se sentir cercado e apoiado por seus semelhantes.
Para isso, ele recorre a associações que defendem seus direitos de classe, e de profissão, ou simplesmente suas opiniões político-sociais.
Mas, além disso, o homem deseja saber de onde veio, qual a finalidade de sua vida na Terra e para onde vai após a morte.
É por isso que muitas vezes, à margem da religião, quando alguma organização o deixa antever a possibilidade de ingressar nos mistérios da vida e da morte, ele adere à mesma facilmente. E quanto mais fechada for essa organização, mais o homem deseja fazer parte dela.
Ao acompanhar o curso da História, nós encontramos o homem membro de numerosas sociedades secretas, religiosas ou políticas.
Cada um quer saber um pouco mais a respeito do que os outros. Querendo ou não, somos todos, em um certo sentido, conspiradores. E quando a sociedade é mais secreta, e as dificuldades para chegar a ela são maiores, mais vontade as pessoas têm de fazer parte da mesma.
As sociedades secretas, sejam elas de qualquer ordem, religiosas, políticas, profissionais, econômicas ou comerciais, observavam outrora um ritual durante suas reuniões. Elas tinham símbolos, programas, instruções ou senhas.
Durante a Antiguidade e a Idade Média, normalmente aquilo que se aprendia era mantido em sigilo.
Assim compreendemos porque era tão difícil, senão impossível, passar de uma classe a outra, ou mesmo trocar de ofício. Essas associações ou sociedades correspondiam a grupos ou categorias sociais, e algumas, por interesse ou crença, tinham o costume de guardar com ciúme seus segredos.
Associações semelhantes se formaram em todas as corporações de ofícios.
Os Collegia da época romana, chamados posteriormente de Scholae, não eram outra coisa.
Os mais importantes foram os dos construtores.
Essas associações de construtores erguiam altares e templos, e também as casas e as fortificações de antigamente. Elas atravessaram toda a Idade Média e chegaram até o começo do século XVIII, tendo conservado suas tradições, seu ritual, seus simbolismos, suas palavras de ordem e seus sinais de reconhecimento por meio do tato, que permitiam a seus membros se reconhecerem e se ajudarem.
Estamos na presença daquilo que foi chamado de Maçonaria Operativa.
E é neste sentido que existem autores como Moreau e Rebold que sustentam que é preciso procurar a origem da Maçonaria nas organizações corporativas de Roma.
Outros, como Schaurer – autor de um volumoso estudo sobre a história da Arquitetura e do Direito – e Mitchell, tentam mostrar a conexão entre a Maçonaria e os colégios ou as corporações [corpos] de ofícios dos Obreiros romanos, e as destes últimos com as escolas de Artes e Ofícios, e com os mistérios da Grécia e do Egito.
Foi precisamente dentro dessa relação da Maçonaria com a arte da construção que surgiram não somente teorias, mas também muitas e fantásticas lendas, mais ou menos inspiradas em certos rituais que remontam as origens maçônicas aos tempos mais antigos, chegando mesmo até Adão.
Após o dilúvio, é Noé quem vai salvar a Maçonaria.
Mais tarde, segundo a teoria de Des Étangs, compilada e “interpretada” por Creus y Corominas,“a arte dos maçons [pedreiros] ou construtores se manifestará nos gimnosofistas da Índia; nas diversas reuniões de magos; nos mistérios egípcios; nos preceitos de Moisés; na religião dos gregos; na escola eólica, fundada por Tales de Mileto; na doutrina de Pitágoras; no sistema alegórico do Templo de Salomão; na doutrina mista dos essênios; no retiro dos terapeutas do Egito; no culto dos druidas; nos ritos mitráicos dos magos, que passaram dos persas aos romanos; no culto da boa deusa que os romanos adotaram igualmente; nas reuniões dos primeiros cristãos; na abnegação dos cruzados; na ordem dos templários; nos mistérios primitivos da instituição do tribunal secreto da Alemanha; e, para finalizar, na Maçonaria da Escócia, da Inglaterra, da França e do resto das principais potências do Midi [o sul da França] e do Norte [da França]”.
Nessa tendência, tão absurda como pouco científica, mas muito apreciada por determinados pseudo-historiadores, convém assinalar a opinião de Tirado y Rojas, que admite que a Maçonaria remonta aos tempos de Zoroastro e Confúcio, ou mesmo até Lamech.
Ou a opinião de Comin Colomer, que chega a afirmar textualmente isto: “A nosso ver – podemos dizer isso agora porque nos ocupamos em pesquisar com o maior cuidado possível as origens da Maçonaria e de outras associações secretas muito importantes e quase desconhecidas –, a Franco-Maçonaria reuniu as doutrinas e os princípios de muitas seitas, desde os ebionitas, os essênios e os pitagóricos, até as mais modernas, sem contar os aportes da Rosa-Cruz e de outros grupos esotéricos”.
Comentários
Postar um comentário