A Busca da Aurificação do Ser Da Maçonaria enquanto Alquimia do Espírito



Marden Maluf * 

Uma única Inteligência coordena e estrutura todas as existências. 

A verdade contida no mínimo é a mesma contida no máximo. 

Por isso, afirma a Sabedoria: “Quem conhecer a verdade [constatação definitiva] de qualquer coisa, conhecerá a verdade de todas as coisas”

 A palavra Loja vem do sânscrito Loka, com o exato sentido que em português se utiliza: “Loca” é o “local” de onde o ser, ali “localizado”, observa o mundo. 

Assim, em Maçonaria, Loja é, literalmente, a Loka de onde o “ser Maçom” observa o universo. 

 Embora a verdade seja parcialmente essencial (“relativa ao esse”, ao ser) _ ou seja: a manifestação da verdade depende “do ser que observa”* _ não obstante, para que a verdade seja verdade sempre [constatação definitiva], há que ser reconhecida como verdade independente de qualquer ângulo que tenha sido observada ou de qual época a observação foi realizada. 

A verdade, portanto, embora aqui nesse plano que habitamos manifesta-se sempre ao observador através do espaço-tempo, deveria então transcender o espaço-tempo [ser sempre a mesma] para, e somente assim, adquirir o status de definitiva.  

Quanto ao “ser que observa”, considera-se Ser a “materialização temporal” do particular “princípio atemporal” que o move”. 

Assim, por exemplo, em sua loca, o “ser peixe” [ou seja, o “princípio peixe” imaterial constatável através da “forma peixe” materializada] observará o mundo através do princípio específico que o move, ou seja, como um peixe observa. 

Agora, Se nessa mesma loca postar-se um 1 “ser humano”, ou qualquer outro ser diferente do “ser peixe”, necessariamente a verdade enquanto essência (núcleo do esse, “ser”), modificar-se-á, porque modificou-se a essência do sujeito que observa. 

Portanto, quanto a seres diferentes [diferenças constatáveis pelas incontáveis formas de vida que representam os diferentes princípios do ser], ainda que o local seja o mesmo a verdade modifica-se quanto ao ser. 

Porém, se o ser é sempre o mesmo, por exemplo o “ser humano”, a verdade tão somente se des-locará, “mudará de loka”, ou seja, será diferente conforme o ângulo do local de onde a matéria portadora da verdade seja agora observada. 

Por isso existem tantas verdades diferentes sobre uma mesma matéria, mas sempre, essas verdades particulares, com capacidades para se intercambiarem, umas iluminando melhor as outras, até que uma luz única _ resultado da somatória dos diversos locais _ possa então ser estabelecida. 

Humanamente, a Verdade é “um consenso”. 

Isso constitui uma base sólida para, sob a ótica teológica, concluirmos: o Olhar Divino, por ser o único capaz de “observar instantaneamente de todas as épocas, de todos os locais, de todos os ângulos, e a partir de todos os seres”, somente a Deus, portanto, é possível pertencer a apreensão da totalidade, ou seja, a verdade absoluta. 

O “Olho-que-tudo-vê” é o símbolo dessa Verdade Total. 

Assim, sendo Deus o único, de fato, portador da Verdade, surge a conclusão necessária: “A verdade particular de um ser será tão mais abrangente quanto mais próximo esse ser estiver de Deus”. 

Nesse sentido, parece ser consensual entre as religiões que a Caridade é a medida mais confiável de “proximidade a Deus”. 

Moralmente, a caridade é uma ação cujo primeiro passo é movido pela “com-paixão”, pelo “com-padecer-se”, ou seja, pelo “sofrer junto ao ser que observamos que sofre”. 

O passo seguinte é procurar mitigar no outro “essa dor que dói em nós”

Assim, sob a lógica da teologia moral, resulta que “alguém é tão mais próximo a Deus quanto mais já for capaz de sentir, em si, a dor do outro”. 

Portanto, quanto mais caridoso for o ser, mais ele tornar-se-á capaz de ser possuidor da verdade. 

Qualquer observação humana, de qualquer assunto e de todos os ângulos, necessariamente culminará numa conclusão humana, por ser sempre um ser humano quem observa. 

Daí a necessidade dos humanos, para crescerem individualmente, intercambiarem entre si os seus conhecimentos. 

Considerando-se a identidade intrínseca do mínimo com relação ao máximo (o quântico e o cósmico sabidamente se confundem) é possível então, partindo de qualquer assunto, chegar à uma conclusão definitiva sobre todos os assuntos. 

Daí a importância de possuir-se uma erudição: “vastos conhecimentos em diferentes áreas”. 

Porém, desde que a erudição seja sempre guiada pela Sabedoria, pois é esta última quem busca e proporciona a unicidade, a inter-relação, a convergência a um mesmo ponto de todas as diferentes conclusões. 

Sendo assim, pretende-se, a seguir, observar os procedimentos e as propostas da Maçonaria sob o ângulo da Alquimia. 

Corpo do assunto 

Os trabalhos em uma Loja Maçônica, para terem caráter Iniciático, para adquirirem (ou readquirirem) Força e Vigor, necessariamente precisam, em qualquer Grau, trabalhar “a coberto”, ou seja: vedado o acesso ao mundo exterior. 

Por quê? 

Que motivo real _ imperioso e imprescritível _ é esse que leva a Loja a trancar a única porta de acesso ao Templo, estabelecer armado de espada um Cobridor Interno (e em diversos Ritos ainda um Cobridor Externo), e como último ato do dia “jurar silêncio sobre tudo o que ali se passou”? 

O que de fato é dito ou feito nesse Templo, agora vedado ao mundo profano, que não possa ser falado ou feito perante as pessoas comuns? 

Pois: _ Se já há séculos iniciados perjuros revelaram e Maçons ativos vem revelando e publicando, sob aplausos, tranquila e detalhadamente, todos os procedimentos e conteúdos totais de cada Grau.

Se os recursos midiáticos expõe, em vídeos e textos, mundial e instantaneamente, a qualquer profano que queira acessar, momentos reais de Iniciação e literatura referente à totalidade de cada Rito. 

Se a Maçonaria evoluiu (ou regrediu?) de secreta a discreta, e agora, perante tais exposições vulgarizadas de seus “segredos”, pode-se dizer que tornou-se amplamente de domínio público.

Por quê, então, por mais que os Rituais se “modernizem” e se modifiquem incessantemente, jamais é prescrita, e prossegue desde sempre instintivamente inquestionável, a norma de, uma vez “em Loja”, Cobrir o Templo, ou seja, rigorosamente isolar os ali presentes do mundo profano? Para que essa pergunta possa ser ampla e iniciaticamente respondida, é mister um rápido e sumário conhecimento do que seja Alquimia. 

 A “Al.Quimia” (Química de Deus), também conhecida como a “Ciência dos Sábios” e “Arte Real” _ pois trabalha com a realidade das coisas e não com aquilo que elas aparentam ser _ acha-se documentada, através das anotações dos alquimistas chineses antecessores dos taoístas, desde 4 mil anos a.C., mas de prática possivelmente muito mais antiga. 

Embora desconhecedores do termo “Pedra Filosofal” [Lapis Philosophorum] _ que é um termo ocidental recente _ estes antigos alquimistas, já buscavam o Elixir da longa vida (imortalidade) a partir daquele que é o impulso essencial da Alquimia desde sempre: “O estudo e a compreensão dos procedimentos misteriosos da Natureza e da matéria”, particularmente dos metais. 

Para o alquimista, toda matéria, além de possuir alma própria, expressa o princípio do masculino ou do feminino. 

O alquimista estuda como “acelerar” os processos da natureza. 

Quanto aos metais, é axioma alquímico que “todo metal evoluirá até tornar-se ouro” _ o último estágio evolutivo _ de onde o ouro ser o símbolo e o cume da perfeição. 

Como, então, respeitosamente, auxiliar a natureza na aceleração desse processo? 

Filosoficamente, a Maçonaria age exatamente igual, visando, através do drama iniciático, acelerar o processo que, sem ele, somente a longuíssimos prazos e sofrimentos, a pessoa comum, “metal vulgar” alquímico, apenas viria, em momento longínquo do futuro distante, tornar-se o “ser de ouro “que está destinada a ser. 

Talvez isso explique (mais claramente a partir do Solve/Coagula explicado à frente) a forte identificação da Maçonaria, também aqui através da Alquimia, com as doutrinas reencarnacionistas. 

Desde já adiante-se serem singelas e ingênuas as declarações de que a Maçonaria “não é religião”. 

Religião vem de Re-ligare, ou seja, ligar novamente a uma fonte primordial de energia da qual se foi desligado em algum momento, e à qual o espírito anseia por reconectar-se. 

A Maçonaria, como a Alquimia, pertence claramente à mesma Religião da Natureza. 

E devido à Natureza ser a mãe universal, nessa Religião universal é possível conviverem todas as religiões particulares. 

Isso explica a admirável fraternidade maçônica, independente de qual religião os Irmãos possuam. Nesse Templo da Religião da Natureza onde funciona a Loja Maçônica, vê-se no Oriente os imprescindíveis Sol e Lua, símbolos alquímicos do masculino e do feminino, necessários à conjugação geradora da vida. 

Observa-se os tetos estrelados, símbolos da imensidão cósmica infinita, da matéria viva e em constante movimentação. 

Nota-se as 12 colunas do zodíaco (e 12 é a perfeição cósmica geométrica assim como 10 é a perfeição constitutiva aritmética e 7 é a pretendida perfeição humana). 

Caminha-se no Templo maçônico sobre o pavimento em preto e branco, representante da “dualidade universal” (Luz/trevas – morte/vida – masculino/feminino – profano/iniciado – dor/alegria ...) imanente à Estrada existencial por onde a nossa vida caminha. 

Voltando aos antigos alquimistas chineses, dessa “ânsia do humano pelo conhecimento” configurou-se o tratado denominado “I-Ching” (Livro das Mutações), que é o texto mais antigo conhecido da civilização humana, escrito em cascos de tartaruga há pelo menos 7 mil anos antes do momento atual. 

Esse texto, que visa “a universal compreensão do homem em suas relações com o céu e a terra”, é essencialmente um livro de altíssima Sabedoria, estruturado como monumental tratado alquímico, texto misteriosamente surgido já na aurora da civilização, tão formidável que atingiu o ápice de compreender e sistematizar “a lógica do acaso”, algo que somente veio a ser aventado na época atual por pensadores como Einstein em sua Teoria da Relatividade Geral e Jung com a idéia de Sincronicidade. 

Desde então, a Alquimia floresceu nas grandes escolas da antiguidade, da Mesopotâmia (principalmente Caldéia), até o Egito e a Índia. 

E progrediu não apenas via eruditos, mas inclusive entre os povos ágrafos, como os singelos e profundamente sábios ferreiros das tribos africanas. 

Daí adentrou a jovem civilização ocidental (Europa cristã), sistematicamente a partir do século I d.C., através da Escola Gnóstica de Alexandria, onde, fato curioso, o primeiro alquimista dessa época do qual se tem história documentada é uma mulher _ Maria, a profetisa _ a qual, além de legar à Alquimia muitos textos importantes, transbordou inclusive entre os profanos, pois o seu processo alquímico conhecido como “fogo lento” é nada menos do que o vulgarmente denominado “banho Maria”. 

O processo alquímico, já completo e detalhado minuciosamente em textos desde o ano mil, veio a tornar-se a base espiritual sobre a qual delinearam-se os projetos das superestruturas erguidas pela Maçonaria Operativa, particularmente nas Catedrais Góticas da Idade Média. 

Trata-se de uma época gloriosa, que teve o seu auge entre os anos de 1.050 a 1.350, período também das Cruzadas e da Cavalaria, momento histórico esse de tamanha laboriosidade operativa que em três séculos movimentou-se mais pedra em França que no Egito em 3 mil anos. 

Com o declínio das corporações operativas pelos mais diversos fatores, configura-se o advento maçônico “filosófico iluminista” das Catedrais Internas, de onde, vindo aos poucos e firmando-se definitivamente no século 18, surge a Maçonaria tal como hoje a  realizamos, dita “especulativa” porque proveniente de speculum = “espelho”, ou seja: trabalhar na construção daquilo que se vê no espelho, a saber, “sobre si mesmo”. 

Os instrumentos maçônicos de trabalho, embora simbolizados em objetos de construção operativos como o maço, o cinzel, etc., objetiva a realização não mais dos secretos procedimentos que regem a construção externa, mas sim _ e talvez muito mais difícil _ erguer “a grande Catedral do próprio espírito”. 

Esclareça-se que os maçons operativos, embora de imensa sabedoria prática, eram quase todos analfabetos, como a maioria absoluta em seu tempo, inclusive nobres e reis, e, portanto, jamais redigiram qualquer tratado da arte de construir. 

Os Rituais maçônicos como os conhecemos são de lavra da culta aristocracia européia que, comprovadamente a partir do ano 1600, adentrou, como maçons aceitos, as decadentes Lojas dos maçons operativos. 

Tais Rituais maçônicos inspiraram-se, em que pese com uma escrita muito mais simples, nos complexos e hieroglíficos tratados alquímicos, que sempre pretenderam, pelos mais diversos motivos, uma criptografia do conhecimento, resultando daí, uma forma simbólica misteriosa em sua redação. 

Assim, a maçônica escrita de palavras resumidas, dobramento de consoantes etc., visa, à maneira dos alquimistas, informar plenamente o assunto apenas aos adeptos sinceros, e confundir profanos e curiosos. 

Pois, desde os antigos iniciados concluiu-se que “A gota d’água que é perola de luz na flor do Lótus, é lama quando cai ao chão”

 Aos nossos propósitos _ a relação Maçonaria /Alquimia _ interessanos distinguir duas expressões da prática alquímica: o alquimista metálico (que atua materialmente a partir de um laboratório externo), e o alquimista filosófico (representado pelo Maçom, que atua filosoficamente a partir de uma laboratório interno). 

 Sempre muito sumariamente, pois são assuntos vastíssimos, têmse que o “conjunto essencial das operações alquímicas” (processo chamado de Arte Real muito antes do advento operativo da Maçonaria) baseia-se em 4 operações _ “Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo” _ que são exatamente os 4 momentos maçônicos percorridos  na Loja Simbólica. 

A saber:  

1ª Fase alquímica: Nigredo, a cor negra. É a operação onde os muitos elementos vivenciais necessários já foram intensamente “sofridos”, que é o alquímico “sofrer a matéria primordial” para torná-la passível de evolução. 

Filosoficamente, isso traduz-se nas experiências particulares já adquiridas antes pelo candidato a Maçom nos anos de sua existência até então, experiências “dolorosamente vivenciadas” para que a matéria espiritual “sofrida”, possa então ser iniciaticamente plasmável. 

Daí não iniciar-se crianças, pois ainda não adquiriram, alquimicamente, essa imprescindível “matéria iniciática primária sofrida”, algo somente possível de obter-se nos incontornáveis combates da vida. 

Esse estágio alquímico do Nigredo é o que possibilita o candidato a Maçom adentrar agora o “estado de morte” (o Calcinatio alquímico). 

Nessa fase primordial, tudo há que ser dissolvido numa matéria inerte, perdida na escuridão e ainda sem forma. O Nigredo alquímico acontece desde o instante em que o candidato a Maçom é vendado até o exato instante em que a venda lhe cai dos olhos. 

Esse terrível caminhar errante pelo mundo das trevas, com seus escuros, solidões, tristezas e incertezas _ a onipresente e desesperadora sensação da morte em tudo _ é algo desde sempre imprescindível aos processos iniciáticos. 

Em qualquer Grau futuro, simbólico ou filosófico, cuja Iniciação utilize olhos vendados, trata-se, embora menos dramático, do reiterar desta fundamental e 1ª Iniciação à Ordem, ou seja: novamente “adentrar e transpor o estado da morte”. Esse “morrer para ressurgir” é a exata expressão maçônica/filosófica de uma expressão alquímica que alicerça toda a Alquimia: “Solve/Coagula”; ou seja, novamente, e por muito mais vezes, dissolver a matéria conquistada para coagulá-la num estado superior. 

O símbolo maçônico mais comum disso é a ave Fênix dos mitos antigos, imortal porque renasce sempre, melhor, das próprias cinzas. 

E é este o objetivo da Arte Real: de depuração em depuração, de um incessante “morrer para renascer melhor”, prosseguir sempre rumo à meta de tornar a si mesmo um ouro absoluto, concretizar a Opus Magnum, a Grande Obra. 

Em suma, o filósofo vir a ser, ele mesmo, a Pedra Filosofal, a qual é, esta sim, o futuro e último estágio da pedra bruta. A “Pedra Cúbica”, embora evoluída, ainda é um estágio intermediário. 

2ª Fase alquímica: 

Albedo, a cor branca. 

É a operação onde a matéria, de dentro da perplexidade da “morte vivida”, depois de ter ido lenta e sofrivelmente, de Viagem em Viagem através dos 4 elementos alquímicos primordiais (Terra, Ar, Água e Fogo) libertando-se de todas as escórias até conseguir o “misterioso retorno” da vida primordial desaparecida, atinge agora o patamar de um novo estágio. 

Filosoficamente, é o momento que inicia-se no instante do retirar da venda do neófito: o surgir da aurora resplendente da Luz do novo mundo que o iniciado enfim recebe como prêmio por haver sobrevivido à travessia das trevas em si mesmo. 

O avental branco, com o qual o agora Aprendiz Maçom será revestido, simboliza o Albedo alquímico. 

Significa a pureza pretendida que, partindo daí, dessa “inocência primordial” adquirida muito mais rapidamente porque acelerada pelo drama da experiência iniciática, vai-se então, de estudo em estudo, de reflexão em reflexão, impondo esse propósito de pureza sobre a matéria espiritual ainda repleta de vícios e distorções, livrando-a paulatinamente das escórias e tornando-a limpa e pura às próximas operações. 

3ª Fase alquímica: 

Citrinitas, a cor ouro. 

É quando a matéria, suficientemente depurada, adentra agora o processo do envelhecimento filosófico, a maturidade espiritual, que a vai tornando um “Ser de ouro”, visando atingir um estado existencial “durad.ouro”, ou seja, que “dura como o ouro”, não mais passível de corrupções de qualquer espécie, pois o ouro prossegue incorruptível em qualquer ambiente. (A física das substâncias sabe hoje que a origem do ouro, diferentemente do diamante, não é geológica, mas cósmica, provinda da explosão de supernovas no espaço profundo, e que antecede em 9 bilhões de anos a formação do planeta.) 

Esta é a fase luminosa do Companheiro Maçom, da Estrela Dourada Resplandecente, da Letra “G”, letra esse que, na ciência maçônica denominada “Música”, significa Sol Maior. 

É aqui o mundo cujo símbolo máximo é a “Estrela resplendente com o G em seu centro”. 

Na linguagem das Catedrais (e toda Catedral Gótica [além de ser um monumental Tratado Alquímico impresso na pedra] é uma “Notre-Dame”, ou seja, “Nossa Senhora”) trata-se de Maria, Myriam no original hebraico, nome que significa Estrela do Mar, “orientando o caminhante nas oceânicas travessias, enquanto grávida do Sol Maior redentor da Humanidade”. 

Desde a Ísis dos egípcios, nenhum símbolo alcançou imagem iniciática tão perfeita do feminino universal. _ 4ª. Fase alquímica: Rubedo, a cor vermelha. 

Nesse ponto, a matéria precisa “morrer novamente”, para renascer em seu estado final... 

O Grau de Mestre Maçom. 

É quando então se percebe “a inutilidade de ser ouro se não resplandecer aos outros a própria luz”. 

É a parábola evangélica do candeeiro inutilmente aceso debaixo da cama, pois apenas tem serventia se posto no alto, visivelmente, e daí “iluminar a todos da casa”

É o que, abertamente ao mundo, nos proclama o Espírito da Verdade logo no princípio do Sermão da Montanha: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que os homens, vendo as vossas boas obras, louvem o Pai que está nos céus”. 

Alquimicamente, é quando torna-se necessário dar vida ao ouro. 

Daí a fase chamar-se Rubedo, a cor vermelha, pois dando-se sangue, vida, ao ouro, ele se torna então “ouro vivo”, o último estágio da pedra: a Pedra Filosofal (Chico Xavier, Madre Tereza, Gandhi ...) que transforma em ouro os metais vulgares, as pessoas comuns, que dela se aproximam. 

Esta é a “plenitude” que o Grau de Mestre simboliza: apenas alcançável se “passar por cima de si mesmo” para que o ouro receba a vida, consubstanciando a máxima heróica que tudo traduz: “A Estrada da tua vitória inicia-se a partir do instante em que declaras, definitivamente, guerra a ti mesmo”. 

Pode-se, agora, responder à pergunta inicial: O Templo é coberto, _ para que seja possível, filosoficamente, processar-se a Alquimia do Espírito a partir do maçônico “adentrar o processo iniciático”; _ para que as matérias profanas externas, elementos que não pertencem à misteriosa fórmula alquímica da Aurificação do Ser, não perturbem e venham botar a perder a transmutação que ali se opera; _ para que os inconstantes ventos externos não apaguem ou alterem a constância da fraternal chama mística (Egrégora) que, “em Loja”, atua alquimicamente no cozimento sutil das substâncias individuais; _ para que os elementos morais e espirituais possam ir progredindo no íntimo de cada um, lentamente e através dos anos, tornando ouro metafísico os metais primários existenciais que um dia adentraram o Templo pela primeira vez. _ 

Enfim, a Loja trabalha coberta para que nesse forno filosófico (o Athanor alquímico) o trabalho de fusão do ser primário com os úteis elementos emanados de fraternais convivências e dos ensinamentos expostos em Loja e maturados através da vida, esse forno transformador seja resguardado de quaisquer presenças profanas que interfeririam tanto na mistura quanto na imprescindível regularidade mística da chama. 

Cobre-se o Templo, coletivo e individual, porque é no “silencioso interior do ser” que a fusão alquímica se processa. 

Conclusão 

 A Maçonaria especulativa (speculum [espelho] + ativa = “que age sobre si mesma”) alicerçada nas mesmas bases alquímicas que estruturaram a antiga Maçonaria Operativa, propõe, aqui como lá, o contínuo aprofundar-se em si mesmo, o alquímico Vitriol que tudo resume: Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem = “Visita o Interior da Terra, Retificando encontrarás a Pedra Oculta” = o último e mais evoluído estágio da pedra a ser conquistado: a Pedra Filosofal : “Tornando-te ela, tornar-te-ás, enfim, capaz do último estágio 11 iniciático: Transmutar em ouro o ser que de você se aproxime”

É o momento iniciático onde, “após as Estradas de todos os esforços”, adentra-se, em humildade e deslumbre, a magnífica “rosacruz Catedral da alma” para ali encontrar a tão ansiada resposta, proporcionada enfim pela conjunção “cristã/alquímica”: ao profano INRI (Iesus Nazarenus Rex Iudeorum – Jesus Nazareno Rei dos Judeus), somase agora o alquímico INRI (Igne Natura Renovatur IntegraO Fogo Renova Toda a Natureza), a partir do que, muito diferente do profano “jogar as culpas em um Cristo externo para que Ele as pague por nós e não nos incomode com as Suas cobranças”, o Iniciado segue total e lealmente o chamado do Cristo íntimo , que lhe diz: “Pegue a sua cruz e me siga!”, rumo ao Sol da Eterna Aurora que aguarda aquele que avança, através da dificílima Estrada de si mesmo, na longa peregrinação que afinal culmina na Jerusalém Celestial do “Reino de Deus que está dentro de Vós”, onde “o próprio Deus enxugará todas as lágrimas” [Ap 21, 1-4]. 


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