ARQUÉTIPOS E MITOS

 


Uma técnica tão antiga quanto o ritual, que envolve o uso de símbolos, é a ativação e manipulação de arquétipos. De acordo com o psicólogo alemão Jung, arquétipo é uma experiência, ou um padrão de experiência, básica, comum a toda a humanidade.

A linguagem é um produto do intelecto e da racionalidade, mas os arquétipos e os padrões de arquétipos transcendem o intelecto e a racionalidade. 

Consequentemente, em geral é por meio de símbolos que eles encontram sua expressão mais direta, porque um símbolo não faz apelo apenas ao intelecto, mas despertam os níveis mais profundos da psique, o que os psicólogos chamam de “inconsciente”.

Os símbolos podem operar isoladamente ou em conjunto, produzindo um conjunto de efeitos. 

Quando organizados numa narrativa coerente, ou num enredo, os símbolos se tornam o que chamamos “mito”. A palavra “mito” não deveria ser usada no sentido de ficção ou fantasia, pois ela implica ao contrário, algo extremamente mais complexo e mais profundo.

Os mitos não foram criados simplesmente para entreter, mas para explicar as coisas, para justificar a realidade. Para os povos antigos – babilônicos, celtas, gregos, egípcios, etc. – mito era sinônimo de religião, o que abrangia o conhecimento humano, o que classificamos de ciência, filosofia, psicologia, história, etc.

Como os símbolos que o compõem, um mito pode ser pessoal ou coletivo. 

O mito pessoal dispensa comentários, pois todo o homem tem sua própria explicação da realidade, com base em experiências, aventuras ou episódios de infância, que na memória assumem proporções míticas. Todos conhecem o relevo que amigos ou pessoas amadas ausentes chegam a assumir na nossa mente, alguns traços marcantes que despertam forte reação emocional.

Num nível coletivo, pode haver figuras que gozam de uma condição mítica, mesmo quando estão vivas, intensificando-a em virtude de sua morte. A maioria dos mitos coletivos tem tanto um aspecto arquetípico quanto um aspecto puramente tribal.

Um mito arquetípico reflete certas constantes universais da experiência humana. Uma virtude singular do mito é que ele pode ser usado para unir pessoas, ao ressaltar o que elas têm em comum.

Os mitos tribais, em contrapartida, enfatizam não o que os homens têm em comum, mas o que os separa. Em vez de levar ao auto-conhecimento, os mitos tribais apontam para fora, buscando um bode expiatório, um adversário externo para lançar sobre suas costas tudo o que se quer repudiar. Tudo o que o inimigo é, nós não somos. Tudo o que o inimigo não é, somos.

Ao longo da história, as religiões se valeram de mitos e, na maioria das vezes, usaram essencialmente o mesmo mito, enfatizando seus aspectos tribais ou arquetípicos, para gerar confiança e, em troca, conferir um sentido para sua existência. 

Um dos motivos simbólicos e míticos de mais forte ressonância é o do apocalipse. 

Por vezes é empregado como arquétipo para induzir, como uma preliminar para o “juízo final”. 

Por vezes é apresentado como explicação para os mais variados males reais, imaginários ou previstos. 

Por vezes é usado para intimidar as pessoas, para tirar proveito de sua culpa, quebrar sua resistência e arrancar confiança. 

Por vezes é utilizado de maneira tribal, criando uma pretensa elite dos que asseguram sua “salvação”, em contraste com a massa dos “condenados”. 

E por vezes chega a servir de pretexto para a perseguição dos supostos “condenados”, como aconteceu no período da Inquisição.

Segundo Jung, um mito está para a humanidade geral assim como o sonho está para o indivíduo. 

O sonho mostra uma verdade psicológica para a pessoa, em contrapartida, o mito mostra uma verdade que se aplica a toda humanidade. 

O homem só se renova pela essência; as imagens míticas constituem o veículo para que os padrões arquetípicos do inconsciente coletivo se manifestem no consciente do ser humano e o ajudem no seu processo de transformação.


Bibliografia: “A Herança Messiânica”, Editora Nova Fronteira.

Comentários