GEOMETRIA SAGRADA SIMBOLISMO E INTENÇÃO NAS ESTRUTURAS RELIGIOSAS - Geometria Sagrada Mesopotâmica e Hebraica (5)
Embora o relato bíblico da destruição da Torre de Babei talvez seja uma lembrança popular deturpada do colapso que ocorreu durante a construção da Pirâmide de Meidum, a tradição da edificação de montanhas sagradas artificiais encimadas por templos tem raízes sem dúvida na Babilônia.
Seja qual tenha sido a origem desse colapso lendário, havia com certeza na Babilônia um zigurate cujas dimensões e cuja geometria têm sido reconstruídas com o auxílio de evidências documentais e arqueológicas.
Desenhadas como reproduções miniaturizadas do arranjo do universo, essas montanhas sagradas estavam orientadas para as quatro direções cardeais.
O nome dado a elas, ziggurat, significava "pico dos deuses". Estima-se que os zigurates escavados nas cidades mesopotâmicas de Ur, Uruk e Babilônia mediam trezentos pés da base até o ápice.
O zigurate de Khorsabad media 150 pés quadrados na hase e 135 pés de altura, desde o pavimento até a plataforma que o encimava.
A estrutura compreendia sete estágios, representando cada um deles os atributos de um dos planetas e pintado com uma das cores planetárias.
O zigurate de Nabu, em Borsippa (Barsipki), era conhecido como a "Casa dos Sete Limites do Céu e da Terra" e representava a ligação cósmica que existe entre os planos terrestre e celestiaI.
James Fergusson, em A History of Architecture in All Countries (1893), escreveu:
"Esse templo, segundo a decifração dos cilindros que foram encontrados em seus ângulos, era dedicado aos sete planetas ou esferas celestes e seus estágios foram adornados, em conseqüência, com as cores de cada um deles. O mais baixo de todos, além de tudo ricamente apainelado, era preto, a cor de Satumo; o seguinte, laranja, a cor de Júpiter; o terceiro era vermelho, cor emblemática de Marte; o quarto, amarelo, pertencente ao Sol; o quinto e o sexto eram verde e azul, respectivamente, dedicados a Vênus e a Mercúrio; e o último talvez fosse branco, a cor pertencente à Lua, cujo lugar no sistema caldaico era o mais elevado.”
A ligação cosmológica foi pesquisada pelo Professor Stecchini, que acredita que o zigurate de sete estágios era uma representação do hemisfério setentrional da Terra, representando o nível do solo o equador e o ápice, o pólo.
Na geografia grega, a área situada entre o equador e o pólo era dividida em sete zonas, cada uma menor do que a anterior para compensar o grau de longitude cada vez menor à medida quc se aproxima do pólo.
A alegação de Stecchini de que o zigurate representava o hemisfério é apoiada pelos tabletes cuneiformes que afirmam que cada nível do zigurate tinha uma área específica determinada por unidades padronizadas de medida de terra.
O tablete cuneiforme conhecido como Tablete Smith afirma especificamente que cada terraço do zigurate da Babilônia possuía sua própria medida simbólica.
Essa diferenciação possibilitou que vários esquemas geométricos fossem incorporados ao edifício. O terceiro estágio era particularmente importante, porque foi construído na forma de um quadrado com lados de seis côvados - uma unidade fundamental da medida babilônica de terra.
O ângulo de elevação em vários pontos produz razões geométricas importantes, tais como V5 -1, ângulos fundamentais na agrimensura da terra, também encontrados na Grande Pirâmide.
Hermon Gaylord Wood, um metrólogo bostoniano, analisou a escrita cuneiforme como parte de sua grande pesquisa sobre a metrologia e o simbolismo antigos. Demonstrou que os caracteres dessa escrita derivaram da divisão duodecimal do círculo e que, de fato, essa divisão ainda é usada hoje no relógio e na bússola.
A influência da geometria egípcia e da magia caldaica foi grandemente sentida pelos israelitas.
Ao longo de toda a Bíblia, descrevem-se em detalhe objetos e edifícios sagrados com medições precisas que ali se diz terem sido dadas por Deus.
A mais antiga dessas construções dimensionadas canonicamente é a mitológica Arca de Noé, descrita da seguinte maneira:
"Faze para ti uma arca de madeira alisada; farás nela uns pequenos repartimentos, e betumá-Ia-ás por dentro e por fora. E eis aqui como a hás de fazer; ela terá trezentos côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. Farás na arca uma janela, e o teto que a há de cobrir será de um côvado; porás também nela uma porta a um lado; e disporás um andar em baixo, um no meio e outro terceiro andar.”
Gênese 6: 14-16.
Na tradição cabalística, a Arca de Noé é dividida em três andares, com 11 seções cada um, o que perfaz o número sagrado 33.
A Arca possui duas aberturas: a porta principal no andar mais baixo, por onde as vidas animais passam para o plano da existência física, e uma janela pequena de um côvado no alto da cabeça, por onde é solto o espírito, simbolizado pela pomba.
Muitos praticantes do conhecimento oculto comentaram esse vaso sagrado.
Filo, o Judeu, afirma que a Arca de Noé foi construída segundo o padrão do corpo humano. Heinrich Cornelius Agrippa concorda. E escreve:
"Dado que o homem é a mais bela e a mais perfeita obra de Deus, e a Sua imagem, e também o menor dos mundos, ele, portanto, por uma composição mais perfeita, e uma harmonia doce, e uma dignidade mais sublime contém e conserva em si todos os números, todas as medidas, todos os pesos, todos os movimentos, todos os elementos, e todas as outras coisas que o constituem; e nele, de fato, está a habilidade suprema (...) além disso, o próprio Deus ensinou Noé a construir a Arca segundo a medida do corpo do homem e Ele fez toda a estrutura do Mundo ser proporcional ao corpo do homem. Portanto, alguns que escreveram sobre o microcosmo, ou sobre o homem, afirmam que o corpo mede 6 pés, um pé 10 graus, cada grau 5 minutos; têm-se 60 graus, que fazem 300 minutos, aos quais são comparados muitos côvados geométricos com que Moisés descreve a Arca; pois, como o corpo de um homem tem 300 minutos de comprimento, 50 de largura e 30 de altura, assim também a Arca era longa de 300 côvados, larga de 50 e alta de 30.”
Em The Canon, William Stirling relaciona as medidas da Arca com o tamanho do planeta Terra e com os cânones da cronologia segundo a história sagrada hebraica: "Se essa explicação for correta", escreve Stirling, "devemos imaginar, pelas proporções da arca, a vasta figura de um homem, à imagem e à semelhança de Deus, cujo corpo contém a medida do caminho do sol na eclíptica, o circuito da Terra e as órbitas dos sete planetas".
Esses esquemas cosmológicos podem ser encontrados ao longo de toda a arquitetura antiga, especialmente no Egito e na Babilônia.
A Arca, embora seja principalmente um barco em que um homem justo, sua família e seu gado escaparam a um dilúvio que desabou sobre toda a terra, é na verdade uma imagem cósmica do homem, o microcosmo que mais uma vez foi conformado ao padrão dado por Deus.
Aqueles que se ajustam ao esquema cósmico sobrevivem, os que não se ajustam perecem.
Uma outra estrutura sagrada hebraica cujas dimensões, e por conseguinte a geometria, foram precisamente delineadas foi o Tabernáculo.
O Tabernáculo era um santuário portátil utilizado pelo povo judeu durante as suas peregrinações pelo Sinai.
Sendo basicamente um templo móvel modelado segundo protótipos egípcios, o Tabernáculo era colocado num pátio cuja geometria era a do quadrado duplo, com 100 côvados de comprimento por 50 de largura.
Esse pálio era demarcado por uma cerca composta de estacas de 5 côvados de altura plantadas no chão a intervalos de 5 côvados. As estacas eram ligadas por cordões de linho duplo. Construía-se então toda a planta baixa do Tabernáculo de acordo com uma grade quadrada modular de 5 côvados - método de esboço usado no Egito, de onde os israelitas fugiram.
Dentro desse quaprado duplo, o Tabernáculo propriamente dito era um quadrado triplo de 30 côvados de comprimento e 10 de largura.
Suas paredes eram construídas de pranchas de madeira de 1 1/2 côvado de largura e de 10 côvados de altura, agrupadas por fortes barras horizontais de madeira. Toda a estrutura era coberta de peles costuradas em faixas de 30 côvados de comprimento e 4 de largura.
O Tabernáculo era colocado no pátio, orientado para o oeste, mas sua entrada era orientada para o leste, de maneira que, segundo Josefo, "quando o sol se erguesse, poderia pousar os seus primeiros raios sobre ele".
Essa orientação, comum na arquitetura sagrada de todo o mundo, assegura que a estrutura do santuário esteja integrada diretamente com os fenômenos cósmicos.
Isto é de importância fundamental para as épocas astronomicameme definidas para a realização de rituais vitais. Como um microcosmo, era necessário que o templo ou Tabernáculo refletisse diretamente em suas dimensões, sua geometria e sua orientação as condições e a estrutura do macrocosmo de que ele era a imagem e um meio de dirigir o acesso a ela.
De fato, Josefo afirma que “essa proporção das medidas do Tabernáculo era uma imitação do sistema do mundo".
O interior do Tabernáculo estava dividido em dois compartimentos, um esquema que foi copiado mais tarde no Templo construído em Jerusalém sob as ordens do rei Salomão.
O compartimento externo, chamado de Lugar Santo, era um quadrado duplo de 20 côvados por 10, ao passo que o compartimento interno, o Santo dos Santos, compreendia um quadrado simples. Como a altura do teto do Tabernáculo também fosse de 10 côvados, o Santo dos Santos era assim um cubo perfeito.
No interior do Santo dos Santos estava o objeto mais sagrado dos judeus, a Arca da Aliança.
Como outros objetos judaicos sagrados, suas medidas exatas foram registradas. A Arca media 2 1/2 côvados de comprimento, metade do módulo usado no esboço do Tabernáculo, e 1 1/2 côvado de largura e de altura.
Stirling acreditava que essas medidas tivessem significação cosmológica:
"Ela media 2 1/2 côvados de comprimento, ou 3 3/4 pés, ou 45 polegadas; sua largura e sua altura mediam 1 1/2 côvado, ou 2 1/4 pés, ou 27 polegadas. Seu perímetro, era, então, o número místico de 144 polegadas. Se a Arca fosse uma polegada mais grossa, o que seria perfeitamente possível para uma caixa desse tamanho, seu conteúdo subiria para 24.860 polegadas cúbicas, ou o número de milhas da circunferência da Terra.”
Essa interpretação fascinante, naturalmente, depende da antigüidade da polegada e da milha, um problema espinhoso tornado de difícil solução pelas reivindicações extravagantes que têm sido feitas na tentativa de uma interpretação dos mistérios da Grande Pirâmide.
Outro objeto geometricamente determinado que era guardado no Tabernáculo era a Mesa do Pão da Proposição, modelada segundo um protótipo egípcio. Essa mesa sagrada ficava do lado de fora do véu que dividia o Tabernáculo, e, por conseguinte, não se situava no Santo dos Santos. Suas dimensões eram 2 1/2 côvados por 1 1/2 côvado e 1 côvado, uma razão de 5:3:2.
O Altar dos Sacrifícios era o equivalente externo da Arca da Aliança.
Ficava no centro do mais externo dos dois quadrados que formavam o Tabernáculo.
A base desse altar era um quadrado de 5x5 côvados, o módulo modelo.
Esse altar representava um dos dois pólos do centro dos dois quadrados - cada um no seu próprio centro de polaridade -, sendo que a combinação dos dois no pátio do Tabernáculo era a unidade de opostos inerente ao Deus supremo.
Esse dimensionamento e esse esboço exatos de uma área sagrada propiciam-nos um raro lampejo do que existe de mais canônico na geometria sagrada. Todo e qualquer objeto é definido precisa e exatamente em termos de tamanho e situação, pois alterar qualquer coisa redundaria num desastre.
A vida nacional dos judeus alcançou seu ponto culminante durante o reinado de Salomão. Em 1004 a.C., o ato de coroação desse rei foi a ereção de um templo de adoração de Jeová. Como outros artefatos hebraicos sagrados, o desenho do Templo foi revelado divinamente ao pai de Salomão, o rei Davi:
"E Davi deu a Salomão seu filho o desenho do pórtico, e o do Templo, e das suas oficinas, e das suas salas, e dos seus aposentos interiores, e da casa da propiciação. E o desenho de tudo que ele imaginara e das repartições da casa do Senhor.”
1 Crônicas 28.
As dimensões do Templo, bem como do Tabernáculo, antes dele, foram detalhadas exatamente:
"E este foi o plano que lançou Salomão para construir a casa de Deus, sessenta côvados de comprido pela primeira medida e de largura vinte côvados.”
2 Crônicas 3.
O Templo homologava com um quadrado triplo o tamanho do Tabernáculo e suas paredes eram revestidas de madeira recoberta de ouro.
O interior compreendia um lugar sagrado retangular, na forma de um quadrado duplo, e um Santo dos Santos conformado em um quadrado simples.
O interior possuía 20 côvados de altura, e o Santo dos Santos formava novamente um cubo.
No centro mesmo do Santo dos Santos ficava a Arca da Aliança, que ocupara anteriormente o ponto central do Santo dos Santos do Tabernáculo.
Em cada extremidade da Arca havia um querubim dourado de asas abertas, de dez côvados de altura.
Esses dez côvados parecem ter sido o módulo de que derivaram as dimensões do Templo e eram o dobro do tamanho do Tabernáculo portátil.
A entrada do Santo dos Santos era fechada por uma porta de duas folhas, medindo cada uma delas dois côvados de largura.
A entrada para o Templo possuía 5 côvados de largura e se abria de um pórtico que compreendia dois quadrados de 10x10 côvados.
Era esse pórtico que suportava os dois pilares que posteriormente assu miram grande significação no saber maçônico: Jachin e Boaz.
Cada pilar possuía 12 côvados de circunferência e era coroado por um capitel em forma de lírio com 5 côvados de altura.
Esse capitel repousava sobre um castão de 3 côvados de altura que atra vessava 7 cadeias de romãs, 14 ao todo. O número místico 14 corresponde aos 14 quadrados de 10 côvados que constituem a planta baixa do Templo; as 14 gerações tradicionais de São Mateus, de Abraão a Davi; e os 14 Passos Cristãos da Cruz.
Novamente, o Templo incorporava vários esquemas cosmológicos, condizendo com uma imagem do macrocosmo.
Esse primeiro Templo de Jerusalém, o Templo de Salomão, foi destruído em 585 a.C., quando os babilônios tomaram a cidade e expatriaram a maior parte da população como escravos.
Quando o longo cativeiro dos judeus na Babilônia chegou ao fim, os cativos que retomavam encontraram o Templo demolido sobre o chão.
O Livro de Esdras dá-nos o seguinte relato:
"No primeiro ano em que o rei Ciro reinou sobre o país da Babilônia, Ciro, o Rei, ordenou reerguer esta casa. E os vasos sagrados de ouro e prata, que Nabucodonosor tinha levado da casa de Jerusalém (...) Ciro, o Rei, os trouxe do templo da Babilônia e eles foram entregues a Zorobabel e a Sanabassarus, o governador (...) então o mesmo Sanabassarus deitou as fundações da Casa do Senhor em Jerusalém (...) no primeiro ano de Ciro, o rei Ciro ordenou que a casa do Senhor em Jerusalém fosse reconstruída, onde eles deviam sacrificar em fogo contínuo. Cuja altura deveria ter sessenta côvados, e a largura sessenta côvados, com três fileiras de pedras esculpidas, e uma fileira de madeira nova daquele país (... ).”
Assim, o segundo templo, construído sob ordens expressas do conquistador persa, era uma estrutura quadrada com lados de 60 côvados.
Altura é um termo antigo às vezes usado para significar comprimento, mas é possível que o templo tivesse a forma de um zigurate.
Fosse assim, ele devia apresentar quatro estágios ("fileiras" de pedra e madeira talhada).
Seja qual for a forma assumida pelo templo, suas dimensões estavam baseadas no velho templo, pois seu comprimento era de 60 côvados, excluindo-se o pórtico de Boaz e Jachin.
Pouca coisa mais foi registrada a respeito desse templo, exceto que todos os objetos sagrados que foram levados à Babilônia e instalados no templo principal retomaram e foram novamente utilizados nos serviços judaicos.
A forma do segundo templo, um quadrado, não era característica dos judeus e deve ter origem persa.
De acordo com o Talmude, o primeiro templo foi construído por meios sobrenaturais e, segundo a Bíblia, por trabalhadores fenícios, sob a direção de Hiram Abiff.
Se o segundo templo foi de execução persa, sua variação em desenho pode ser responsável pela rapidez de sua ereção - durante o primeiro ano da libertação.
Todavia, como o primeiro templo, estava fadado a ser demolido por invasores.
No Primeiro Livro dos Macabeus está escrito que "quando eles viram o santuário deserto e o altar profanado e as portas queimadas e os arbustos crescidos nos átrios como numa floresta (...) rasgaram suas vestes e fizeram grande pranto e puseram cinzas sobre suas cabeças".
Todavia, as técnicas e o conhecimento envolvidos na reconstrução do Templo haviam sido perdidos e, em vez de o reedificarem, Judas Macabeu e seus homens demoliram as ruínas. "Eles acharam melhor demoli-Io, temendo não viesse ele ser-Ihes um motivo de opróbrio, por causa de o terem contaminado os gentios, assim eles o demoliram. E puseram as suas pedras no monte do Templo num lugar propício, esperando. que surgisse um profeta que lhes mostrasse o que fazer com elas.”
Isto mostra que a canhecimento da geometria sagrada exigida para erigir um novo edifício sagrado faltava ao piedoso mas profano bando militar de Judas.
Era necessário um profeta que fosse dotado do conhecimento esotérico apropriado, mas ele não existia.
Um templo substitutivo não foi construído até a época de Herodes, que fez erigir uma réplica exata do santuário de Salomão.
Apenas uma parede do Templo de Herodes está de pé, até hoje, na forma do famoso "Muro das Lamentações"'.
O templo em si mesmo foi demolido novamente, desta vez pelos romanos na sua guerra colonial contra os judeus no ano 70 d.C.
Comentários
Postar um comentário