Quando se procuram detalhes sobre monumentos maçônicos nas diferentes cidades, a primeira referência sempre recai nos primórdios da fundação da cidade de Washington.
Em pesquisas diversas sobre a capital dos Estados Unidos, encontram-se referências de que Washington foi planejada segundo princípios maçônicos. De acordo com essas informações, na disposição das ruas e dos prédios da cidade seria possível identificar o desenho de símbolos maçônicos, como o esquadro, o compasso e o pentagrama.
Essas versões se baseiam no fato de que o primeiro presidente americano, George Washington, era maçom e contratou para projetar a cidade o arquiteto e engenheiro francês Pierre L’Enfant, que também seria membro da Maçonaria. Esses símbolos delineados no traçado da cidade apontam para a influência exercida pela Maçonaria sobre o governo dos EUA desde a fundação do país, no século XVII.
A sede do Rito da Maçonaria é uma construção representativa da fraternidade, que faz parte do roteiro da Washington maçônica.
O templo se situa sobre a Casa Branca no mapa da cidade, em uma linha reta, ressaltando a ascendência da Maçonaria sobre o governo americano.
A residência do presidente dos EUA é o ponto onde dois símbolos maçônicos se encontram em Washington.
A Casa Branca seria, ao mesmo tempo, a ponta de uma das pernas do compasso, que parte do Capitólio, e a ponta de um pentagrama invertido, formado pelo traço das ruas ao norte do prédio.
O grande obelisco que domina a paisagem de Washington não faria parte do traçado maçônico da cidade, mas seria, ele mesmo, um símbolo instalado pela Maçonaria no coração dos Estados Unidos.
A Ordem atribui alta carga simbólica ao obelisco – a pedra fundamental do monumento foi colocada por um grupo de maçons na primavera de 1848.
O monumento em homenagem ao terceiro presidente americano Thomas Jefferson foi construído entre 1939 e 1942. Segundo a teoria da Washington maçônica, ele seria a ponta da outra perna do compasso, que começaria no Capitólio. De acordo com essa ideia, tal perna seria interceptada por um dos segmentos do esquadro, formado pelo prolongamento imaginário das avenidas Washington e Louisiana.
Pentagrama, Templo da Maçonaria, Capitólio, Obelisco, Monumento em homenagem a Thomas Jefferson e Casa Branca, localizados em Whasington DC. |
No Brasil é comum vermos, principalmente nas praças principais, os chamados marcos maçônicos, que simbolizam a presença da Ordem, atuante na sociedade organizada. Eles possuem sempre uma arquitetura que remete às origens de suas atividades e toda sua simbologia.
Muitas sedes de atuação dessa Ordem também possuem arquitetura simbólica em seus centros de atividade. São os referidos Templos Maçônicos.
A Maçonaria, além de seus próprios templos, marcos e monumentos, também pode estar presente em diversas outras obras arquitetônicas das cidades, com pequenos símbolos subliminares que remetem à sua influência no mundo e na sociedade desde sua criação.
Talvez seja o caso do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, localizado na Cidade de São Paulo. Uma obra do escultor ítalo-brasileiro Ottone Zorlini.
Este Monumento foi inaugurado em 1929, por iniciativa da Sociedade Dante Alighieri, e tem como objetivo homenagear não só os aviadores italianos Francesco De Pineto e Carlo Del Prete – ambos, anos antes, tinham feito, a bordo do Savoia Marchetti S55, uma das travessias aéreas pioneiras do Atlântico Sul –, mas também o brasileiro João Ribeiro de Barros, que pouco tempo depois, ainda em 1927, realizou o mesmo feito com o avião Jahu.
O Monumento foi erguido às margens da represa de Guarapiranga, no município de Santo Amaro, onde os pilotos italianos pousaram após percorrer a costa brasileira.
Em 1987, o prefeito Jânio Quadros determinou que ele fosse transferido para os Jardins, onde ficou até 2009. Em 2010, o Monumento voltou para o local de origem, graças ao empenho de um grupo de maçons da região, que acrescentou ao Monumento degraus representando a Escada de Jacó, um símbolo maçônico. Nesse local, o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico ) permanece até hoje.
No topo do pedestal está a escultura de bronze “Vitória Alada”, que remonta ao sonho de Ícaro e aponta para o Oceano. Na face frontal do pedestal, estão estrelas de bronze, que compõem a constelação Cruzeiro do Sul. Dois ícones encontram-se nas laterais. Um deles tem a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso”, da nossa bandeira. O outro símbolo é de Roma: a loba amamentando os irmãos Rômulo e Remo.
Mas nem só de compassos e esquadros são as influências maçônicas dos monumentos.
É provável que a ligação maçônica desta obra tenha convergência subliminar com a Maçonaria pelo fato do então prefeito Jânio Quadros ter se tornado maçom em 1946 pela Loja Libertas, da cidade de São Paulo, e ter notado na Coluna Jônica um sinal maçônico, fato que o motivou, na época, a colocar o Monumento em local de maior destaque.
Hoje, como muitos monumentos de nossa cidade, uma parte representativa e histórica do Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico precisa de restauração para continuar com seu glamour e perpetuar seu significado.
Monumento à Independência do Brasil, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. |
Já no Monumento da Independência do Brasil, que abriga alguns sinais que talvez remetam à Maçonaria, como as cabeças de bode das Piras de Fogo, estão a escultura do ilustre maçom José Bonifácio de Andrade e Silva, declarado oficialmente o Patrono da Independência do Brasil, e os restos mortais de D. Pedro I, na Capela Imperial, que fora iniciado na Maçonaria antes da Proclamação da Independência.
No Estado de Minas Gerais, é possível que também Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, tenha deixado, em sua atividade como escultor, sinais dessa cultura da arte real em suas obras, por ter tido relações com a Maçonaria. Elas estariam de maneira subliminar nas abóbodas celestes, em colunas, garras, prumos, esquadro e, principalmente, no átrio do Santuário de Congonhas, onde os profetas foram esculpidos com os pés em posição de esquadro, como fazem os maçons em suas atividades nas Lojas. Também na disposição geográfica das estátuas se nota veemente semelhança com as posições ocupadas em uma Loja Maçônica por seus oficiais.
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos é um conjunto arquitetônico e paisagístico formado por uma igreja, um adro e seis capelas anexas, localizado no município de Congonhas, estado de Minas Gerais. |
No Rio de Janeiro, é a cidade de Paraty que possui uma destacada influência maçônica em sua arquitetura.
No século XVIII, as portas e as janelas da maioria das casas de Paraty eram pintadas de branco e azul, o azul-hortênsia da Maçonaria Simbólica.
A exemplo de Óbidos, em Portugal, que é uma cidade maçônica, também pintada de branco e azul-hortênsia, Paraty foi urbanizada por maçons.
A Maçonaria se instalou em Paraty no início do século XVIII. Nessa época a cidade já possuía um arruador, a pessoa encarregada de organizar as construções das ruas, das casas, das praças. O arruador Antônio Fernandes da Silva foi o responsável pelo traçado "torto" das ruas e pelo desencontrado das esquinas, sobre os quais há muitas explicações.
Outro sinal da presença maçônica são os três pilares (cunhais) de pedra lavrada encontrados em algumas esquinas, os quais, segundo os habitantes, foram colocados para formar o triângulo maçônico.
As colunas dos pórticos das ruas de Paraty, uma à direita e outra à esquerda da entrada das casas, têm a mesma função de informar ao visitante que ali mora um maçom.
Através dessa simbologia, o iniciado poderia até saber o grau do maçom de cada residência.
Outro exemplo típico é a proporção dos vãos entre as janelas: o segundo espaço é o dobro do primeiro, e o terceiro é a soma dos dois anteriores; isto é, A+B=C, ou seja, a soma das partes é igual ao todo, que se resume no retângulo áureo de concepção maçônica.
As plantas das casas, feitas na escala 1:33.33, têm a marca da simbologia dos maçons, desta vez da Ordem Filosófica, cujo grau máximo é o de nº 33.
Paraty possui 33 quarteirões. Na administração municipal da época, 33 fiscais exerciam o cargo de Fiscal de Quarteirão.
Cidade de Paraty-RJ. |
Também a história da República Oriental do Uruguai, nosso país vizinho, está intimamente ligada à ordem maçônica, principalmente pelo comando do Gen. Lavalleja, maçom, no movimento Trinta e Três Orientais, para libertar a Província de Cisplatina do domínio do Império do Brasil.
Proclamada a 25 de agosto de 1825, a independência uruguaia contou com a participação ativa da Maçonaria, que havia sido introduzida no país com a chegada dos primeiros colonos a Montevidéu.
Com base na experiência democrática e fraternal vivida nas lojas maçônicas e no desejo de liberdade dos líderes e construtores sociais que eram os maçons uruguaios, ampliou-se no coração do povo a vontade de proclamar a independência do país.
O Uruguai se tornou uma nação independente com o Tratado de Montevidéu, de 1828. As negociações para a independência tiveram o auxílio de George Canning, maçom vinculado à Grande Loja Unida da Inglaterra.
A letra do hino uruguaio é uma ode à liberdade, e a bandeira do Uruguai traz o sol e o azul-celeste, cor bastante adotada em lojas maçônicas do Rito Escocês Antigo e Aceito.
A influência da Maçonaria nas instituições uruguaias pode ser percebida quando se vê “el salón de los pasos perdidos", que preenche os 51 metros de comprimento e os 23 metros de altura do centro do Palácio Legislativo de Montevidéu, edifício que abriga a Cámara de Representantes (o equivalente à nossa Câmara dos Deputados) e a Câmara de Senadores.
Nessa sala, uma claraboia lhe dá luminosidade – o teto, no projeto original do arquiteto italiano Vittorio Meano, era plano, mas, com sua morte, foi alterado por outro arquiteto italiano, Gaetano Moretti. Foi Moretti quem o deixou abaulado e composto por duas abóbadas iluminadas por três janelas.
Para decorar o salão, foram utilizados mármores nacionais de várias cores, esculturas, mosaicos e baixos-relevos dos artistas Edmundo Partti, José Belloni y Juan Buffa.
No centro do salão, mantida em destaque sobre um pequeno altar voltado para sua entrada, está a Constituição do Uruguai, protegida por dois guardiães das Forças Armadas uruguaias.
Palácio Legislativo de Montevidéu, no Uruguai. |
Infelizmente, no Brasil ainda não temos um povo integrado com a cultura das obras de arte. O respeito por monumentos históricos no nosso país precisa evoluir muito. É comum vermos pessoas subindo, danificando, pichando e até mesmo subtraindo partes de nossos monumentos.
Talvez um Projeto de Monitoramento Urbano desses monumentos, enquanto a educação e o respeito à cultura não chegam, seja uma forma de impedir o vandalismo e ao mesmo tempo ensinar história.
Só assim nossos monumentos poderão encantar muitas gerações, para que nossa cultura e nosso turismo sejam valorizados.
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