Surgem muitas questões a que procuraremos dar aqui as respostas, para resolver, sempre procedendo em profundidade, o problema do conhecimento das últimas coisas.
Se o universo diz em Deus o seu: "eu sou", como o diz toda criatura e, por
conseguinte, todo homem, será possível então encontrarmos, no termo máximo, o
principio de egoísmo que existe nos seres inferiores, e que é tão condenável no
homem?
E isto é possível?
Mas, por que então o egoísmo humano é uma culpa?
E por
que ele existe e que significa e quer?
E, no princípio centralizador unitário do
universo em Deus encontraremos então o egoísmo máximo?
É um fato que, sem egocentrismo, desde os sistemas planetários aos
organismos celulares e sociais, não se mantém compacta nenhuma unidade.
Ele é,
pois, necessário a todo ser.
Egocentrismo não é exatamente egoísmo.
Este possui mais
um sentido de centralização com vantagem individual, com pendor separatista e
exclusivista, um sentido de usurpação em detrimento de outros ou necessitados ou
com direito.
O egocentrismo possui ao invés, apenas um sentido de centralização
destituído de senso separatista e exclusivista, sem o objetivo de usurpar nada a outrem
pelo contrário, com vantagem de conservação de um organismo global que é
necessário e útil a todos os elementos componentes.
O Estado, como um chefe de
família, pode ser utilmente egocêntrico sem ser egoísta
Se todo ser, para existir, deve
dizer: "eu" - o egocentrismo é uma necessidade de existência e, por isso, não pode
haver culpa em se repetir os princípios do ser, expressos no sistema do universo.
É
também, segundo a Lei, que cada fragmento conserve interiormente a natureza do
esquema consoante o qual o Todo-uno é construído.
Então, por que egoísmo é culpa? Procuremos compreender. Egoísmo e
altruísmo são termos relativos ao grau de extensão que o eu cobre com o próprio
Deus e Universo Pietro Ubaldi
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amor e compreensão.
Enquanto o egoísmo é o amor exclusivo com relação ao próprio
"eu" e a nenhum outro, um altruísmo absoluto, que renuncia a tudo, inclusive a si
mesmo, sem vantagem nenhuma para um dado ser ou grupo de seres, é loucura, é
suicídio.
Ambos os extremos constituem culpa.
A virtude consiste no altruísmo
razoável, no sacrifício em favor de alguém, na dilatação do egoísmo, isto é, na
ampliação do princípio do egocentrismo, e não na sua supressão.
A virtude será tanto
maior quanto mais extenso for o campo dominado pelo amor, que é a substância da
Lei.
Efetivamente, o egocentrismo máximo do sistema em Deus, não é senão um
egoísmo que cobre todo o universo, dilatado assim infinitamente no amor capaz de
abraçar e defender todas as criaturas até considerá-las como partes integrantes de si
mesmo, sacrificando-se por elas.
Eis como se opera a progressão da abertura da concha do egoísmo no
altruísmo, fim da evolução que consiste exatamente na confraternização, a qual,
unificando os fragmentos do Uno, reconduz os seres à unidade no centro - Deus.
O
egoísmo poderia então denominar-se egocentrismo involuído, fechado e limitado em
si mesmo, enquanto o altruísmo seria egocentrismo evoluído, aberto e expandido no
Todo.
Efetivamente, o primeiro é separatista, desagregador centrífugo; o segundo é
unitário, centrípeto.
O primeiro se afasta de Deus e o segundo se avizinha de Deus.
O egoísmo historicamente se explica. Resultado da fragmentação do Uno em
tantos outros “eu” menores, separados e separatistas como veremos, é qualidade do
ser involuído, necessário a sua existência, pois que no nível em que se encontra,
necessita revestir esta forma de personalidade separada egoisticamente, em guerra
com todos na ignorância da superior fase orgânica, que poderá irmaná-lo aos
semelhantes em unidades maiores.
Esse egocentrismo, biologicamente justificável, só o
é, todavia, para o passado, mas se tentar prolongar-se no futuro, tornar-se-á cada vez
mais condenável como egoísmo separatista, porque a evolução leva a humanidade a
um mais vasto egocentrismo coletivo.
É assim que o egocentrismo separatista, sendo
uma forma biologicamente de uma utilidade de superada, não poderá reaparecer
senão sob o aspecto cada vez mais retrógrado e anti-vital.
Tendo cada vez menos
razão de existir na sua forma exclusivista e agressiva, cada vez menos também será
justificado, pois que deixou de ter função biológica.
Em Deus, o egocentrismo representa um egoísmo tão amplo, que abraça todas
as criaturas, tudo o que existe, de modo a coincidir com o máximo altruísmo.
E
quanto mais o ser evolve, tanto mais o egocentrismo tende a se aproximar ao de Deus,
que é o egocentrismo que todo ser sente, com respeito aos elementos componentes do
próprio organismo, constituindo uma necessidade para mantê-los todos compactos em
unidades em torno ao ''eu" central, alma do sistema.
O egocentrismo de Deus é, pois,
um egocentrismo perfeito, isto é, não constituído de um egoísmo separatista e
exclusivista, como o dos seres inferiores, mas sim, feito de Amor, que reforça essa
fundamental lei do ser, porque Deus é centro, não para sujeitar, mas para atrair, não
para absorver, mas para irradiar, não para tomar, mas para dar.
Se, por sua vez, os
"eu" menores têm necessidade do seu menor egocentrismo, para manter o seu menor
sistema, naquele egocentrismo também eles encontram o limite do próprio ser.
Em tal
limite eles estão fechados, pois que ele forma o horizonte da sua existência e
compreensão e só pela evolução podem sair dele, ampliando-o em outro mais vasto.
Assim é a íntima estrutura do sistema do universo.
O grande modelo é Deus,
que todos os seres, inclusive o homem, devem seguir.
Esse Deus se encontra no centro
Deus e Universo do sistema tudo centralizando em Si, para tudo irradiar de Si, e as criaturas devem
existir à Sua imagem e semelhança, isto é, como tantos outros sois menores que
irradiam, quais centros de sistemas menores.
E. assim, hierarquicamente, cada um,
segundo o grau de evolução atingido, cobre a maior ou a menor vastidão do sistema
relativo ao seu raio de ação.
Tal o modelo central, tal a lei do sistema. Certamente, a
criatura é livre e pode, pois, agir de modo contrário. Mas esteja bem certa de que é lei
também que todo o sistema se volte contra ela para esmagá-la, como a um inimigo.
A
grande corrente da vida vai contra quem pretende inverter a rota do ser,
prejudicando-o.
Ela o coloca frente ao dilema: rearmonizar-se com a Lei,
enquadrando-se de novo nela, ou ser eliminado.
E os salutares golpes da dor, ainda
que atenuados pelos impulsos do Amor, não serão sustentados enquanto não se tiver
conseguido a correção ou destruição.
O ser é livre de violar, mas somente em seu dano
e não tem nenhum poder para dobrar ou anular as leis da vida.
Eis as razões remotas, que explicam e impõem o “ama o teu próximo”, do
Evangelho.
Hierarquicamente, a unidade do sistema por esquemas únicos, repetidos
em todos os níveis, impõe que o mais sábio o poderoso, porque em níveis mais
elevados, deve irradiar para os inferiores, de nível mais baixo, pois que os níveis elevados recebem dos que se encontram em níveis mais elevados ainda do que eles,
próximos a Deus.
Obtém-se, assim, através da desigualdade, a justiça. Receberá dos
irmãos maiores quem der aos seus irmãos menores.
Quem mais possui, mais deve
dar. Quem menos tem, mais deve receber.
Eis a perfeita justiça alcançada pelo Amor,
respeitando diferenças e desigualdades necessárias que exprimem a posição atingida,
cada qual com sua fadiga e vontade de subir.
Uma justiça perfeita, atingida sem
nivelamentos forçados, que podem constituir mutilações para os mais evoluídos e
apropriação indébitas para os inferiores.
Eis a função da Divina Providência, já
alhures estudada. Assim se compreende o Evangelho, quando diz que não ganha a
própria vida quem a conserva egoisticamente para si, mas somente quem a dá aos
outros.
Recordemo-nos de que somos células de um grande organismo e de que
nenhuma célula pode crescer e viver isolada, pensando exclusivamente em si mesma e
em seu próprio benefício, mas somente pode fazê-lo em relação às outras, em favor do
organismo inteiro.
Uma cé1ula absolutamente egoísta representa em qualquer
organismo um germe revolucionário, uma revolta à lei do Todo, uma atividade perigosa que é logo sufocada no interesse geral, um cidadão rebelde que urge ser expulso
da sociedade.
Tal é a grande parte da moderna humanidade materialista, para quem o
egocentrismo é egoísmo separatista e exclusivista de cada um contra o próprio
semelhante. E efetivamente as leis da vida procuram isolar esse tipo biológico, como
um cancro ou tumor, para destruí-lo.
Com o próprio egoísmo, ele desejaria sustar o
livre fluxo da vida, como quer a divina lei de Amor, e a vida o põe na encruzilhada:
seguir a rota da Lei ou ser esmagado por ela.
O homem moderno não conhece esses
princípios, age como uma célula que quisesse viver exclusivamente para si, isolando-se
da corrente de todo o funcionamento orgânico de que é parte.
Para quem compreendeu a vida, isto é simplesmente a louca pretensão de um ignorante de tudo.
Mas
o sistema tem como centro Deus e não o homem e ninguém pode alterar a realidade
dessa estrutura do universo.
E, assim, quando um centro menor, fazendo mau uso da
liberdade, tende a agir contra o Todo, então os impulsos do conjunto orgânico se
encontram contra ele para expulsá-lo do sistema.
Veremos como
Deus e Universo pode surgir essa atitude rebelde das criaturas e quais as suas conseqüências.
Compreende-se, dessa forma, como o mundo de hoje, baseando-se no
egoísmo, esteja completamente fora da rota.
Os métodos mais seguidos para a
conquista da riqueza representam, mesmo do ponto de vista utilitário, um grosseiro
erro psicológico.
Acumular com exclusivismo egoísta significa caminhar contra a
maior corrente da vida, agir com prejuízo, significa pôr-se em posição invertida, não
obter senão resultados negativos.
E quanto mais porfiadamente o homem lutar nessa
direção, buscando vencer por ela, tanto mais se afastará das fontes do ser, para
perder-se no deserto em que o isolarão as forças da vida, que dele se arredarão como
de um pestilento.
Deus é Amor e sempre dá.
A divina corrente do Todo está baseada
no princípio do dar.
Agindo em contrário, o homem pretenderia opor-lhe, como u'a
muralha, o oposto sistema, do tomar!
Então, a muralha não susta a corrente, mas a
corrente destrói a muralha. A nossa economia, porventura, não está baseada no
princípio "do ut des"
4
?
Se a balança da justiça assim se apresenta, isto significa
egoísmo pelo qual eu não darei se tu não deres.
Se não tiveres para dar, morrerás, o
que a mim não importa. E se não deres, eu não darei.
Este princípio de compensação,
que são as bases reconhecidas da economia vigente, constitui a mais lídima
manifestação do egoísmo.
Se tal é a atitude da alma, que salvação podem realizar os
sistemas econômicos que se erguem sobre essas bases? Uma economia desse tipo, em
face das mais profundas leis da vida, éticas e espirituais, das quais é ilusório querer
furtar-se em qualquer procedimento nosso resulta também utilitariamente negativo,
isto é, contraproducente.
Efetivamente o mundo econômico-financeiro não passa de
uma série de crises em cadeia que formam uma única, perene crise insanável porque
ela não se origina de um particular momento ou posição, mas de todo o sistema.
Por que então, o homem se comporta assim e não sai dessa posição falsa?
Simplesmente porque a grande massa humana e involuída e não compreende esses
erros psicológicos e também porque, quando já se tomou uma direção, é muito difícil
inverter a rota.
E aqui se trata precisamente da evangélica inversão dos valores, isto é,
de pôr no cimo da escala destes os espirituais e no fundo os materiais, mas hoje se
verifica o inverso, sendo colocados em cima estes últimos em virtude de que o tipo
biológico dominante na Terra não se encontra ainda, por evolução, sensibilizado a
ponto de percebê-los e apreciá-los.
Ele corre atrás dos fictícios do mundo sensório e
corporal, ao invés de buscar os mais consistentes do mundo espiritual e da alma. O
tipo dominante não consegue ainda compreender esse novo hedonismo e apoderar-se
dele em seu benefício.
A nova vida é a do bem que opera honestamente, sem enganar,
pedindo antes o trabalho e depois a recompensa.
O homem ignorante prefere as vias
do mal, que agem desonestamente, enganando, prometendo dar muito e chegando
mesmo a dar logo alguma coisa sem nada pedir, para mais tarde retomar o que deu e
não dar o que prometeu. O caminho feito de mentira é mais atraente, para quem crê
ser bastante bravo para burlar as leis da vida, o que leva a cair facilmente numa
armadilha.
Cada qual atrai segundo a própria psicologia e obtém o que merece.
O homem comum, imerso em um mar de mistérios, não sabe se orientar,
detendo-se nos efeitos imediatos.
No altruísmo ele vê um sacrifício tangível, próximo,
real.
Vê nele um perigo para si e para os seus, de modo que tem como um dever
arrebanhar o mais que pode para si e para os seus.
Em face do altruísmo ele recua: “Dou para que dês”.
Deus e Universo, exclamando: "E quem me garante a vida?"
O assalto permanente que sofre da parte
do próximo, que ele deveria amar como a si mesmo, justifica em parte essa sua atitude
e exigiria heroísmo ter que invertê-la no oposto. Para chegar a ela terá que dar não
apenas o seu sacrifício imediato, mas para manter-se teria que lutar sozinho contra
toda uma corrente inversa - a da sociedade humana.
Todavia, há uma grande força
em sua defesa, coisa de que na Terra bem raramente se dá conta.
O homem altruísta
que, por não ter egoísmo, é espoliado de tudo, porque tal é o resultado de uma guerra
de egoísmos, para quem não ataca e se defende, tal homem atrai as forças da vida que
acorrem a fim de salvá-lo.
Elas não constituem utopia e regem o mundo.
Elas acorrem
porque esse homem personifica o maior interesse e a vontade da vida, que é a
evolução.
Mas, para compreender isto é necessária uma sensibilização moral e
psíquica, que não existe na maioria, uma precisa orientação conceitual, através da
qual se tenha compreendido o funcionamento orgânico do universo, é indispensável,
enfim, a prova resultante do controle experimental de toda uma vida.
Na realidade, funcionam inúmeras forças que a maioria ignora.
Deus, ao
sensibilizado por evolução, é uma realidade sensível.
O caminho para aproximar-se
Dele, suprema alegria, consiste na progressiva dilatação do próprio egocentrismo,
que denominamos altruísmo, isto é, o fraterno amor evangélico.
Este constitui o
método de ascensão para a felicidade, encurtando as distâncias entre o homem e Deus,
porque assim a criatura, segundo o exemplo divino, volta-se para trás a fim de
orientar as criaturas irmãs.
Quando o ser se decide dessa forma a funcionar segundo a
lei do Todo e se dispõe a despojar-se do que possui em favor do necessitado, põe em
movimento os impulsos do sistema e faz com que este funcione em seu favor, de modo
a ser de alguma forma provido e largamente compensado do que perdeu, dando
voluntariamente.
Em outros termos, ativa-se o princípio: quem beneficia seja
beneficiado e tanto mais beneficiado quanto mais beneficiou. Inicialmente, punge o
sacrifício de pôr em movimento essas forças, mas o sistema, pode-se dizer, é de uma
precisão mecânica tal que, uma vez posto em ação por quem compreende e sabe,
matematicamente dará resultado.
Certamente é necessário ter compreendido a estrutura coletiva do organismo
universal, a universal imanência de Deus, pela qual tudo "é", a orgânica natureza do
Todo, do qual cada indivíduo é parte que vive em relação e das relações com as outras
partes, célula que morre se se isolar. É necessário evoluir para sensibilizar-se de modo
a perceber essa irradiação do centro,
Deus, que rege inteiramente o sistema, até a sua
periferia, onde nós, menos evoluídos, nos encontramos. É necessário compenetrar-se
de que pobreza não existe na infinita riqueza de Deus, de que os bens são ilimitados e
constantemente irradiados, sempre prontos a saciar qualquer possível necessidade.
Deste oceano, o ser, no entanto, não poderá captar para si mais do que lhe permite a
sua capacidade receptiva, que é dada pela sua evolução, pela sua aderência ao sistema,
ou seja, pela aderência à Lei ou vontade de Deus.
É, pois necessário que ele funcione
de acordo com a Lei, agir com amor, sabendo irradiar, dispondo-se a dar e aplicando
assim a norma evangélica do "ama o teu próximo".
O problema está em saber acionar os impulsos do sistema de modo a pôr em
movimento essa irradiação. Se soubermos abrir as janelas de nossa alma, seremos
inundados por essa irradiação.
Mas, para economizar o esforço de abri-las, quando
não confiamos, prudentemente fazemos os nossos cálculos utilitários para nada
arriscar; encolhendo-nos em um canto, e, então, permaneceremos no quarto escuro e
Deus e Universo frio de nós mesmos a disputar com o vizinho o pouco de luz ou de calor que, apesar de
tudo, coa-se para o interior, ainda que lá fora tudo exista numa exuberante trepidação
de vida.
Mas, tal é o nosso mundo, em que as maiores guerras se fazem para disputar
o que já possuímos de uma riqueza que é infinita, conseguindo apenas destruir o que
já se encontra em nosso poder.
Desta forma, escondemo-nos em sua prisão.
Bastaria
saber abrir-lhe a porta para que nos evadíssemos.
A porta, para que se abra, exige
que recuemos um pouco, mas o homem prisioneiro, na ânsia de fugir, ao invés de
recuar um pouco para trás, avança sofregamente, buscando o exterior e, pensando em
tudo, menos no que deve fazer para se libertar, mais e mais impele a porta do lado em
que ela se fecha, mais e mais com o seu esforço tornando difícil a libertação.
Ele é um
louco.
Para desfazer certas miragens e destruir outras tantas ilusões psicológicas é
necessário ao homem a dolorosa elaboração de milênios.
O raciocínio do homem atual parece verdadeiro, porque o é apenas em parte,
pelo menos onde ele alcança com o conhecimento, isto é, no seu mundo concreto, que
representa a periferia do sistema e que ele, ignorante do resto, supõe que seja tudo.
Desfazer em altruísmo o próprio egoísmo é efetivamente uma perda, mas somente
periférica e em uma primeira fase.
Porque realmente não é perda, mas antes ganho,
quando em um segundo tempo o ser vem a pôr-se em contato com outras forças não
periféricas.
Efetivamente, o altruísmo não é vantajoso neste mundo, quando outros
seres estão dispostos a arrebatar-nos tudo e aproveitar-se de nosso sacrifício em
proveito próprio, embora com evidente perda para si.
E esta é definitiva para o
involuído que, em remotas conexões com o centro Deus, só é escassamente irradiado e,
por conseguinte, empobrecido e privado de novos suprimentos.
E, dado que nos
encontramos na periferia do sistema e que a maioria é, por involução, pouco
irradiada, a posição do prisioneiro da pobreza e da dor, sem capacidade de evasão, é
lógica e compreensível.
Não há remédio imediato.
Não resta senão deixá-lo na posição
que lhe cabe, segundo o seu grau de evolução, a espera de que os golpes da vida o
elaborem até que ele compreenda o mecanismo do sistema e consiga assim fazê-lo
funcionar em seu proveito.
É inútil querer explicá-lo antes que ele amadureça, porque
permanece incompreensível, pois que não se aceita aquilo que não se mereça
conhecer, por não se ter feito ainda o esforço de conquistá-lo.
Tudo será muito diverso para o evoluído.
Desfazer em altruísmo o próprio
egoísmo também para ele significa um prejuízo.
Mas ele pode enfrentar com
segurança esse sacrifício, porque conhece a estrutura do sistema e sabe, por isso, o que
se seguirá a esse sofrimento.
Espiritualmente ligado ao centro Deus, não vive apenas
de limitada vida periférica.
Pelo contrário, é justamente este seu sacrifício de dar
irradiando, a força decisiva que abrirá janelas que o inundarão de sol.
É este o difícil
passo para trás, o único que pode permitir-lhe abrir as portas da prisão.
É esta negação de si próprio em altruísmo, na periferia, uma afirmação para o centro Deus,
isto é, uma mobilização das forças de irradiação que esperavam essa sua atitude para
podê-lo inundar.
Porque é o ser livre que deve encontrar a chave e com ela abrir o
mistério da evolução.
E, assim, em um segundo tempo, ele será largamente
recompensado e enriquecido pelo seu empobrecimento que, na realidade se reduz a
perdas diminutas na zona periférica do sistema universal, na zona da matéria e das
ilusões.
Defrontamo-nos assim, em verdade, com um sábio cálculo utilitário que,
diferentemente do outro, conduzirá a plena satisfação e segurança de êxito.
Eis o raciocínio desse tipo de homem.
Dirige-se a Deus, dizendo: "Senhor, eu
Deus e Universo dou, empobreço-me materialmente, mas com isto eu me torno instrumento que adere
à Tua Lei, vivo segundo as linhas de força do Teu sistema.
Para o triunfo do Teu
Amor eu sacrifico o meu pequeno eu. Tu sabes que agir assim na periferia, onde me
encontro imerso na matéria, significa empobrecer até a morte. Mas eu não existo mais
para mim, isolado, mas na vida universal, em que Tu "és" .
Eu não quero mais a mim
mesmo mas somente a Ti, em Quem eu vivo.
Quero a Tua Lei.
Faço parte do Teu
organismo.
Sou uma célula dele, uma Tua célula.
Tu és o meu eu maior, em que
agora existo.
Então a minha morte não é mais possível.
Compete a Ti e à Tua Lei
impedi-la, e que a vida me seja dada, pois que ao meu fraco poder de defesa eu
renunciei para seguir a Tua Lei de Amor.
Não é possível que, para seguir-Te eu deva
perder a vida. Sei que esta tem fins eternos a alcançar e que eles devem ser
alcançados.
Ela não pode perder-se ao acaso e não depende da minha pobre defesa do
momento.
Seguindo-Te, eu ganho a vida. E se também morrer, não perderei senão a
minha vida menor, porque ressurgirei na Tua vida maior”.
Assim se compreende o Evangelho de São João (Capítulo XII: 24-25), quando
diz:
"Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra não
morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto".
"Quem ama a sua vida perdê-la-á e quem neste mundo aborrece a sua vida,
guardá-la-á para a vida eterna”.
A luta entre o evoluído altruísta e o mundo egoísta, que não se preocupa
senão de espoliá-lo e explorá-lo, é terrível.
A situação é tal que se procura, por todos
os meios, eliminar o benfeitor e isto exatamente por parte daqueles a quem ele
desejaria fazer o bem.
Poderosa é a resistência que o involuído opõe a quem procura
fazê-lo evolver para a felicidade e trágica é na Terra a posição dos benfeitores da
humanidade: posição de martírio!
É como querer abraçar por amor um tigre: fica
despedaçado.
Porem, a vida só em parte é terrena e não se exaure apenas do ponto de
vista humano.
O trabalho desses homens é missão e interessa também ao céu.
Dado
que à vida, se pouco interessa o indivíduo muito interessa a função que ele personifica,
sobretudo a evolutiva, então esse indivíduo se torna sagrado e forças superiores
intervém para protegê-lo no sacrifício até que a missão seja cumprida e se dê o
milagre.
Então, aciona-se o movimento da irradiação, porque o ser não a contém mais
em si, mas lhe faculta o fluxo, tornando-se-lhe um canal que permita fluir no universo,
de criatura em criatura, a divina linfa vital.
E a irradiação está pronta a lançar-se
onde a passagem é livre e desviar-se de onde há obstrução.
E assim os homens
altruístas se tornam, cada vez mais, instrumentos da Lei que, cada vez mais, nutre
esses seus canais e os exalta, enquanto funcionam segundo a direção dos seus sistemas
de forças. Tudo isto significa dar, cada vez mais amplamente, um despojamento crescente, que aterrorizaria o involuído, mas no mesmo passo significa um nutrimento
sempre mais vigoroso de forças.
Ser irradiado significa sentar-se a uma lauta mesa de
recursos ilimitados.
E o sistema é tal que quanto mais aumenta o sacrifício em dar,
mais cresce o dom que se recebe, porque com isto se sobe na hierarquia dos operários
do Senhor, com a conquista de poder e sabedoria crescentes.
Eis a estupenda realidade que está além das trevas que ocultam ao homem
comum a verdadeira estrutura do sistema.
O Evangelho concorda com tudo isto,
concluindo pela norma do "ama o teu próximo", sem dela dar explicações racionais.
Essa conclusão tem sua grande confirmação no mundo atual, que, não a podendo
compreender, a considera uma utopia.
Estas concepções, obtidas por visão com o
método intuitivo, foram aqui expostas pelo autor sob controle durante quarenta anos,
usando o método experimental, sem que elas, nos fatos por ele vividos, jamais
encontrassem um desmentido.
Se este tivesse ocorrido, teria sido gravíssimo, porque
os fatos, ainda que apenas um, teriam desmentido a Evangelho.
Muito se deve pensar
agora que o Evangelho, que parece utopia, se realmente vivido, torna tangível a
verdade que não falha.
Horizontes novos e ilimitados, inexplorados continentes do espírito, repletos
de riquezas ignoradas, vastidões abismais de infinito sobre os quais a alma se debruça,
em vertigem!
O homem ignorante não suspeita qual o futuro que ali o espera.
Além do
infinito astronômico existe o maior infinito espiritual.
E nesta Terra, grão de areia
cósmica, por um pouco de espaço e de bens, o homem, centelha divina, com que
ferocidade e estupidez mata, sem saber quem é e no que poderá tornar-se!
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