A LINGUAGEM MAÇÔNICA



A linguagem maçônica, universalmente utilizada nas Lojas constitui-se num dos maiores patrimônios da Sublime Ordem.

Mas antes de ser encarada como um patrimônio, a linguagem maçônica é uma forma de proteção utilizada pela maçonaria, o que a distingue das demais organizações.
Além disso, em obediência aos antigos costumes (old charges), esta linguagem, apesar de não ser um landmark (que não permite alterações), é inalterável em razão da preservação de uma cultura, que por si só se constitui em patrimônio, e também como uma forma de proteção.

Em outras palavras, a maçonaria conserva em sua linguagem o vocabulário fundamental da Maçonaria de outrora, sobretudo quanto a utilização de conjugações e formas de tratamento na 2ª pessoa do plural (vós) e a tripontuação.

Portanto, podemos considerar nossa forma de expressão em loja como uma gíria maçônica.

Mas o começo dessa tradição ocorreu em 1773 quando os representantes das Lojas do Reino, reunidas em Assembléia denominada Grande Loja Nacional de França, decidiram construir o primeiro templo maçônico independente.

Sim, porque antes disso, a maçonaria, em decorrência de costumes do período operativo, se reunia em tabernas, em locais improvisados e muitas vezes adaptados, cujos adereços tinham que ser instalados na hora.

Em face dessa decisão, os maçons daquela primitiva potência precisaram emitir a cada oficina de sua jurisdição um longo convite circular, no qual empregaram um vocabulário apropriado que permanece até hoje, a começar pela invocação ao G.'.A.'.D.'.U.'..

Contudo, essa linguagem não foi inventada ao acaso. Ela já existia, mas não era de domínio de toda a maçonaria universal, que ainda estava no limiar de seu modelo especulativo e portanto, começava a abrigar membros que não tinham familiaridade com o mundo das construções.

Tal linguagem já era utilzada pelos construtures do período medieval, cujo conhecimento foi herdado dos templários, que formaram as primeiras corporações de ofício especializadas nas construções de castelos e catedrais.

No entanto, a maçonaria, para se fortalecer e proteger, precisava tornar esta linguagem universal e imutável. 
Uma aproximação com canteiros de obras operativas ainda existentes no séc. XVIII permitiu conhecer como os Mestres de Obra se faziam compreender por todos os seus colaboradores, fossem esses incultos, estrangeiros ou mudos, e ao mesmo tempo não eram compreendidos por profanos.

Nós da maçonaria atual somos os mantenedores da tradição desses Mestres de Obra. E o fazemos porque, tanto no passado, quanto no presente, a maçonaria precisou cunhar formas de autoproteção, a fim de fugir da perseguição dos opressores e dos ignorantes. 
Está aí um dos segredos maçônicos mais evidentes.

Se analisarmos as demais sociedades, veremos que todas elas têm suas características de linguagem. Todos os grupos sociais têm seus dialetos particulares, como podemos observar no mundo da medicina, no linguajar dos advogados, na gíria escolar, militar, artística. 
As igrejas também utilizam em suas práticas centenas de símbolos, mas nenhuma oferece um sistema tão coerente como o nosso e, ao mesmo tempo, tão simples e tão completo.

Por isso, através deste documento de 1773, a Grande Loja de França quis disseminar ao mundo maçônico um conhecimento restrito, em obediência aos antigos costumes, da mesma forma que permaneceu fiel às alegorias astrais, aos símbolos operativos da régua, do nível, do esquadro, do prumo, do triângulo, da cadeia de união.

É fundamental que a linguagem maçônica seja fielmente observada, principalmente em Loja, não só na palavra falada como na escrita. O tratamento maçônico é rígido, observando-se o uso da segunda pessoa, quer do singular ou do plural. Basta observar como são redigidos os diversos Rituais maçônicos usados no trabalho de uma Oficina.

Deve ser dada atenção também a peculiar terminologia maçônica, não só em nossas manifestações verbais, mas notadamente nas escritas onde são usados termos apropriados, como, por exemplo, Balaústre ao invés de ata, Prancha no lugar de carta, Coluna Gravada como proposta na Bolsa de Propostas e Informações. 
Quando tais documentos são lidos diz-se que são decifrados, quando são escritos diz-se que são gravados. Um trabalho escrito e lido pelo seu autor, dizemos tratar-se de uma Peça de Arquitetura, o que já não acontece quando se faz uma apresentação apenas verbal.

A propósito, as principais palavras usadas na Maçonaria, como o nome dos instrumentos simbólicos ou ainda, palavras próprias da nossa Ordem, como os termos Huzzé, no REAA (Vivat, no Adonhiramita), Boaz, Sólio, Pálio, Despotismo, têm significados próprios.

Outra prática usual nos escritos maçônicos é o uso de abreviaturas, que é uma forma pela qual os Maçons escrevem certas palavras, para torna-las ininteligíveis ao leitor profano. O seu emprego deve obedecer alguns critérios. Consiste em colocar a letra inicial de uma palavra grafada em letra maiúscula e seguida de três pontos em forma de triângulo com o vértice para cima. 
Quando uma única inicial se prestar a confusões, deve-se empregar mais letras, minúsculas ou mesmo maiúsculas, até a vogal seguinte que será substituída pelos três pontos e desprezadas as letras restantes. 
Se a palavra estiver no singular, usa-se apenas uma primeira letra inicial maiúscula, por exemplo, Ir.'.= Irmão. Se ela estiver no plural usa-se a primeira letra repetida duas vezes, por exemplo, IIr.'. = Irmãos.

A tripontuação  é apenas compreendida pelos Maçons, apesar de ser um estratagema simples, mas psicologicamente falando, o profano sente um bloqueio quando se depara com palavras pela metade terminadas com três pontos.

Esta forma de abreviatura maçônica também foi lançada pela Maçonaria Francesa do século XVIII, mas a prática já era corrente na Maçonaria Norte Americana. Nesta época os ingleses não utilizavam a abreviatura tripontuada, mas certos Rituais americanos abusavam de tal forma desta semicriptografia, a ponto de se tornarem incompreensíveis.

Se o Aprendiz não estiver atento quando for dada a explicação do significado dessas abreviações, dificilmente conseguirá decifrá-las. Essa prática foi adotada para dificultar o entendimento não só pelos profanos como também dos Maçons de Graus inferiores ao do Ritual que as contém. Vide o ritual de aprendiz . a seqüência N.:V.:P.:D.:S.:S. dá-me A P.:L.:E.:V.:D.:A:S.:

É importante salientar que, ao contrário do que ocorre em registros no mundo profano, onde atas e documentos NÃO devem conter abreviaturas, no mundo maçônico elas são largamente utilizadas, mas sempre seguidas dos três pontos. Por isso é incorreto utilizar a abreviatura ARLS, GOB ou GADU sem os três pontos após cada uma das letras. Isso é uma gafe maçônica.

Na correspondência maçônica somente são usadas abreviações profanas, terminadas com apenas um ponto, quando ela se destinar a alguém, pessoa ou entidade profana. No meio maçônico adota-se uma linguagem apropriada e as abreviações são feitas maçonicamente, por exemplo, Pod.'. Ir.'. e não Ilmo. Sr.

Maçonicamente também devem ser evitados tratamentos do mundo profano, como Dr. ou Sr., pois somos todos Irmãos, ou não somos?


Bibliografia consultada:
Ir.: Weber Varrasquim, 33º - Grande Loja Unida Sul Americana
Ir.: Nicola Aslan Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia Enciclopédia Maçônica. 

 

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