Era – do latim aera, substantivo feminino, designa, dentre outros, o ponto determinado no tempo, que se toma por base ou referência para a contagem dos anos. Exemplo: a Era Cristã.
Sob esse aspecto o termo também representa o número de anos provindos a partir de algum acontecimento notável, cuja expressão época sugere o momento primordial desse episódio. É o caso bastante apropriado, por exemplo, no que se refere ao próprio começo dos tempos, ou o princípio do mundo.
Embora essa concepção seja ainda hoje especulativa, é graças a ela que muitas civilizações e religiões adotaram a sua própria “Era” relacionada à criação do mundo. Dentre outros, os Judeus, por exemplo, concebem-na a partir do Pentateuco no primeiro livro de Gênesis, enquanto que os Cristãos idealizam-na a partir do nascimento de “Jesus Cristo”.
Vulgar – do adjetivo latino vulgare, menciona dente outros o que é relativo ou pertencente ao vulgo; comum, trivial, usual.
O termo “vulgar” relacionado à “era” (tempo) está presente, segundo alguns autores, embora ainda discutível, desde que os judeus estabeleceram o título “Era Vulgar” em substituição ao “antes e depois de Cristo”, fato que viria servir de parâmetro para designar o mundialmente conhecido Calendário Gregoriano[1], já que a Era Cristã e a Era Vulgar por força das circunstâncias se tornariam análogas.
Em se tratando de Maçonaria e o seu particular calendário, neste, o primeiro ano rotulado que aparece em antigos documentos do século XVIII é o Ano da Verdadeira Luz, em latim Anno Lucis, tido como a “idade dos cortadores de pedra” (Age of Stonecutters).
Buscando dar uma classificação independente de religião, bem como também dar um caráter de universalidade à Ordem, James Anderson, autor da Constituição de 1.723, baseado nos cálculos do bispo irlandês anglicano James Usher que houvera desenvolvido um estudo relativo à criação do mundo conforme o Livro de Gênesis e nos comentários críticos da massorat[2], segundo os quais a criação do mundo teria ocorrido em 4.004 antes de Cristo, Anderson então cogitou no texto constitucional que o início da Era Maçônica havia se dado 4.000 anos antes da Era Vulgar ou Era Comum (antes de Cristo).
Embora se perceba um pequeno arredondamento de quatro anos entre o resultado proposto por Usher e o adotado por Anderson prevaleceria maçônicamente o acréscimo da constante de 4.000 anos somada à Era Vulgar[3], cujo ano teria a mesma duração do Gregoriano, com a diferença de que o ano maçônico começaria no dia 1º de março, tendo os títulos dos meses designados conforme o seu número ordinal correspondente. Exemplos: segundo Anderson, o dia 1.º de março de 2.014 da Era Vulgar (E\V\) corresponde ao dia 01 do mês 01 do ano de 6.014 da V\L\; dia 10 de junho de 2.014 da E\V\ corresponde ao dia 10 do mês 04 do ano de 6.014 da V\L\.
À bem da verdade essa inserção de Anderson não pode ser considerada como uma regra geral e única adotada pela Moderna Maçonaria (a partir de 1.717), até porque com a evolução e a proliferação de ritos e sistemas maçônicos, particularidades nesse sentido devem ser criteriosamente observadas, sobretudo sobre o ponto de vista cultural e até mesmo religioso que possa envolver o costume.
Assim é o caso, por exemplo, de uma grande parcela dos trabalhos inerentes ao franco-maçônico básico da Maçonaria anglo-saxônica, bem como o Rito Moderno, ou Francês que adotam o calendário da Verdadeira Luz conforme o anteriormente mencionado, enquanto que o Rito Adonhiramita (origem francesa) adota um calendário equinocial que, embora também mantenha a mesma constante de 4.000 acrescida à Era Vulgar, tem o ano maçônico iniciado - ao invés do dia 1º - em 21 (vinte e um) de março que corresponde ao primeiro dia do primeiro mês.
Já no caso do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito (também filho espiritual da França), provavelmente pela forte influência hebraica exercida sobre ele, adota para a Verdadeira Luz a constante de 3.760[4] somada à Era Vulgar (gregoriana) entre os dias 1º de janeiro até 20 de setembro e 3.761 entre 21 de setembro e 31 de dezembro. Nesse caso o ano maçônico tem início em 21 de março no equinócio de primavera no hemisfério Norte o que por certo aspecto até se confunde com o calendário religioso hebraico (judaico) que é lunar e geralmente começa também no ponto vernal que ocorre na meia-esfera boreal do Planeta, cujo primeiro mês tem o nome de Nissan.
Assim no simbolismo do Rito Escocês o dia 21 de março de 2.014, por exemplo, corresponde ao 1º dia do 1º mês Nissan do ano de 5.774 da Verdadeira Luz (2.014 + 3.760 = 5.774), enquanto que o dia 21 de setembro de 2.014 corresponde ao 1º dia do 7º mês Tishrei ou Tishri do ano de 5.775 da V\L\ (2.014 + 3.761 = 5.775).
A explicação para a diferença de constantes (3.760 ou 3.761) é porque o ano civil hebraico (judaico) geralmente quase coincide no seu princípio com o início da estação do outono no hemisfério Norte (21 de setembro). Assim o calendário hebraico (judaico) se constitui pelo ano religioso e pelo ano civil, cujos respectivos inícios se dão muito próximos aos equinócios de primavera e outono no Norte. O religioso no mês Nissan próximo a 21 de março e o civil no mês Tishrei ou Tishri conexo a 21 de setembro.
Vale a pena mencionar que é no sétimo mês (Tishrei) que ocorre o Rosh Hashaná[5], o Yon Kippur[6] e o Sucot[7].
A título de ilustração, em se tratando de Rito Escocês Antigo e Aceito e citando como exemplo os seus Supremos Conselhos norte-americanos, em linhas gerais eles adotam o termo Ano do Mundo (Anno Mundi) em lugar do título Verdadeira Luz e usam também a constante de 3.760 somada à Era Vulgar, porém a partir de 1º de janeiro até 31 de agosto e 3.761 a partir de 1º de setembro até 31 de dezembro.
Nesse particular o ano se inicia em primeiro de setembro do ano em curso e se encerra em trinta e um de agosto do ano seguinte. Os meses são designados por numeração ordinal, assim setembro é o primeiro mês, enquanto que agosto, por exemplo, é o décimo segundo e último mês.
Também na Maçonaria e conforme os costumes e práticas ainda pede-se encontrar outros cálculos inerentes ao calendário, todavia os até aqui mencionados são os principais e os que mais aparecem dentro do franco-maçônico básico.
Em resumo a Era da Verdadeira Luz pode ser encontrada nos conceitos maçônicos adicionando-se as constantes de 4.000, 3.760 ou 3.761, conforme o caso, ao ano da Era Vulgar (calendário Gregoriano).
Antes de dar por concluídas as considerações, vale a pena aqui mencionar que o ideário relacionado aos calendários maçônicos e a sua afinidade com fatos históricos e lendas religiosas do passado é apenas e tão somente simbólica, não incentivando ninguém a imaginar a existência da Maçonaria junto ao princípio do mundo. O conceito provavelmente foi idealizado no intuito de simbolizar uma antiguidade para pragmática maçônica, e não a idade da Sublime Instituição que verdadeiramente possui aproximados oitocentos anos de história.
Graças ao ufanismo de alguns somados às falsas interpretações do calendário por outros é que no Brasil arrumaram uma data equivocada para a independência do Brasil dentro da Loja Comércio e Artes como sendo no dia 20 de agosto e ainda por cima sacramentaram mais tarde o erro histórico constituindo para falsa data o Dia do Maçom.
Pelo calendário equinocial usado pela Maçonaria na época da Independência, 20º dia do 6º mês (início do sexto mês em 21 de agosto) correspondia no calendário gregoriano dia 09 de setembro da E\V\ (Boletim do GOB datado no ano 1.874 da E\V\). No dia 20 de agosto da E\V\ nem mesmo houve sessão no GOB, fato que pode ser verificado nas suas próprias atas de ouro concernentes à época.
Alguns elementos auxiliares para pesquisa e consulta bibliográfica:
Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações – Kennyo Ismail - www.noesquadro.com.br
Do Pó dos Arquivos – José Castellani – www.atrolha.com.br
Peça de Arquitetura Antonio C. Rios – Academia Maçônica de Letras do MS – COMAB.
História do Grande Oriente do Brasil – José Castellani – GOB.
Wikipédia – calendários judaicos.
PEDRO JUK
[1] O Calendário Gregoriano é um calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela maioria dos países. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII (1.502–1.585) em 24 de fevereiro do ano 1.582 pela bula “Inter gravissimas” em substituição do calendário Juliano implantado pelo líder romano Júlio César (100 – 44 a.C.) em 46 a.C.
Como convenção e por praticidade o Calendário Gregoriano é adotado para demarcar o ano civil no mundo inteiro, facilitando o relacionamento entre as nações. Essa unificação decorre do fato de a Europa ter, historicamente, exportado seus padrões para o resto do globo.
[2] Massorat - conjunto dos comentários críticos e gramaticais acerca da Bíblia - sobretudo o Velho Testamento - feitos por doutores judeus – os massoretas.
[3] Era Vulgar, Era Comum ou Era Cristã correspondem ao ano pertinente no calendário gregoriano.
[4] 3.760 - De acordo com a tradição judaica, a contagem é feita a partir da criação de Adão o primeiro homem (a Torá hebraica – primeiro livro de Gênesis). Para o cálculo do ano judaico, basta acrescentar 3760 ao ano do calendário gregoriano (levando em consideração que nos meses de setembro/outubro, começo do ano civil judaico, se acrescenta um a mais ao ano corrente).
[5] Rosh Hashaná - é o nome dado ao ano-novo judaico e significa literalmente “cabeça do ano”. Rosh Hashaná ocorre no primeiro dia do mês de Tishrei, primeiro mês do ano no calendário judaico rabínico, sétimo mês no calendário religioso e nono mês no calendário gregoriano.
[6] Yon Kippur ou Ioum Quipúr é o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do Judaísmo. No calendário judaico começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que geralmente coincide com setembro/outubro), continuando até ao seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum de 25 horas e oração intensa.
[7] Sucot (do hebraico sukkot, cabanas) é um festival judaico que se inicia no dia 15 de Tishrei de acordo com o calendário judaico. Também conhecida como Festa dos Tabernáculos ou Festa das Cabanas ou, ainda, festa das colheitas visto que coincide com a estação das colheitas em Israel, no começo do outono. É uma das três maiores festas, conhecidas como Shalosh Regalim, onde o povo de Israel peregrinava para o Templo de Jerusalém. Nos dias de hoje multidões se reúnem na oportunidade aos pés do Muro das Lamentações.
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