O fazer maçônico deve refletir o estágio evolutivo da humanidade.
Não podemos imaginar que o saber e o fazer cotidiano, a praxis com suas formas, possa ser posta de lado quando da prática e o estudo maçônico.
Não entendemos mais Maçonaria desvinculada do conceito mais amplo possível de liberdade, sob pena de desconectarmos o trabalho maçônico da realidade.
Adotamos e defendemos a Liberdade Absoluta de Consciência como ideal maçônico, pois entendemos que isso representa a vitória da humanidade sobre ela própria.
Assim, conclamamos os maçons brasileiros a considerarem o que é dito no Apelo de Estrasburgo: “Que o fato de abrir os trabalhos mediante a invocação do Grande Arquiteto do Universo e de exigir que uma das Três Luzes seja o Livro Sagrado de uma religião revelada deve ser deixado à apreciação de cada Loja e de cada Obediência.”
O QUE SIGNIFICA A LIBERDADE ABSOLUTA DE CONSCIÊNCIA?
Antes de tentar conceituar e discutir filosoficamente o conceito de Liberdade Absoluta de Consciência, devemos nos debruçar em analisar as consequências de sua adoção em seus diversos aspectos práticos para o fazer maçônico:
1) Livro da Lei e invocação do Grande Arquiteto do Universo nas sessões maçônicas
– A Liberdade Absoluta de Consciênciasignifica, neste aspecto, não haver a exigência da abertura do livro sagrado de alguma religião revelada (Livro da Lei) e do trabalho maçônico ser feito à Gloria do Grande Arquiteto do Universo, assim como não haver necessidade na crença na imortalidade da alma, o que é um retorno ao que é exigido na Constituição de Anderson de 1723, onde é dito: “Portanto, quaisquer pendências ou querelas acerca de religião, cidadania ou política não devem ser conduzidas para dentro das portas das Lojas”; isso significa a união de todos os maçons, independente de suas convicções pessoais, como diz o mesmo documento: “Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer que ela fosse, hoje pensa-se mais acertado somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões particulares para si próprio, isto é, serem homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os possam distinguir; por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância.”
Além do fato de não haver a exigência da abertura do livro sagrado de alguma religião revelada e de que o trabalho maçônico seja feito à Gloria do Grande Arquiteto do Universo, a Liberdade Absoluta de Consciência não veda o acesso à Maçonaria de pessoas que não creiam em uma entidade superior metafísica, eventualmente substituindo-se esta exigência pela crença na Consciência da Humanidade.
Mas, se um dos objetivos da Maçonaria é a evolução da humanidade, como isso é afetado pela entrada de ateus nas Lojas?
Ora, basta ver que a evolução humana, em suas dimensões espiritual, moral e intelectual, não é um fenômeno restrito à religiosidade ou à crença em um deus, caso contrário teríamos que lidar com a contradição de dizer que praticantes do Budismo, religião influenciada pela Escola Advaita e que não atribui importância à crença em deuses, não possam evoluir espiritualmente.
Religião e a crença em um ou mais deuses é apenas um dos meios ou ferramentas para a evolução espiritual, não sendo o único.
2) Aceitação de todo maçom, homem ou mulher, desde que regularmente iniciado
– Neste caso, o Apelo de Estrasburgo é claro em manifestar-se pela união de todos os maçons, mulheres inclusive, independente de Rito e Obediência maçônica.
Neste caso, devemos abordar aqui a aceitação de pessoas com necessidades especiais como candidatos dignos para iniciação.
Qual seria a razão, além do Artigo 18 das Landmarks de Albert Mackey, que representa apenas uma interpretação errônea das antigas leis da Maçonaria, para a não aceitação de cegos, surdos, mudos ou cadeirantes?
Apenas pessoas com graves deficiências mentais, incapacitadas a entender o significado do trabalho maçônico, estariam excluídas de ingressar na Maçonaria.
3) Flexibilidade da ritualística da Loja e da interpretação da simbólica maçônica
– Sendo os Ritos maçônicos invenções humanas que foram sendo modificadas e adaptadas ao longo do tempo, não podemos supor que estes ritos sejam imutáveis, podendo ser adaptados pelas Lojas à sua realidade local.
Também a interpretação da simbólica maçônica não deve ser imposta às Lojas, nem a seus membros, pois que a Maçonaria deve ser adogmática, rompendo com a crença cega e fundamentalista.
4) Debates de temas políticos e religiosos em Loja
– Não há proibição de debates em Loja, incluindo debates de temas políticos e religiosos, desde que em ambiente de tolerância mútua e concórdia.
O debate religioso deve seguir o princípio da tolerância religiosa.
Em qualquer caso, fica proibido qualquer proselitismo político ou religioso.
Não é vedado aos Irmãos Aprendizes o uso da palavra, embora recomende-se a prática do silêncio como forma de fomentar seu trabalho interior.
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