A MAÇONARIA: PRINCÍPIOS E VALORES FUNDAMENTAIS


Princípios gerais 

Maçonaria ou Franco -Maçonaria (de maçon, pedreiro), significa, literalmente, pedreiro‑livre, podendo traduzir-se, modernamente, por livre‑pensador. 

A palavra freemason surgiu pela primeira vez na Inglaterra em 1376, embora o mais antigo regulamento maçónico date de 1390. 

Antes desta data são praticamente inexistentes documentos sobre a Maçonaria, porque, não obstante as suas origens mergulharem na mais remota antiguidade, os seus ensinamentos, segredos e rituais sempre foram transmitidos, apenas, pela via iniciática e pela tradição oral. Maçonaria significa, pois, construção. 

O maçom constrói o seu futuro tornando -se um homem melhor. 

A Maçonaria constrói o futuro da Humanidade, tornando -a mais justa e perfeita. 

Este objetivo está inscrito, como pedra angular, nas Constituições maçónicas do mundo moderno. 

As primeiras Constituições do Grande Oriente Lusitano (G.O.L.), de 1806 e de 1821, não definiam a Maçonaria, mas a de 1836 estabeleceu, no art. 1.º que a Ordem maçónica, «tem por objeto o exercício da beneficência, o estudo da moral universal, das ciências, das artes, e a prática de todas as virtudes». 

Esta ideia -programa foi transposta, com ligeiras variantes, para as Constituições de 1840 e de 1841, até que em 1878, sob o Grão -Mestrado do Conde de Paraty, a Maçonaria é considerada «uma associação de homens livres, unidos pelos laços do amor fraternal», tendo «por prática as virtudes morais e sociais, e por fim a ilustração da humanidade». 

A Constituição, de 1926, define a Maçonaria como «uma instituição essencialmente humanitarista, procurando realizar as melhores condições de vida social». 

A Constituição em vigor, de 1990 (última revisão), define -a como «uma Ordem universal, filosófica e progressiva, fundada na Tradição à Maçonaria iniciática, obedecendo aos princípios da Fraternidade e Tolerância e constituindo uma aliança de homens livres e de bons costumes, de todas as raças, nacionalidades e crenças». 

O seu escopo é o «aperfeiçoamento da Humanidade através da elevação moral e espiritual do indivíduo». 

O Dicionário Enciclopédico Maçónico, edição mexicana de 1975, caracteriza -a como «associação universal, filosófica e progressista», que «procura inculcar nos seus adeptos o amor à verdade, o estudo da moral universal, das ciências e das artes», a fim de «melhorar a condição social do homem por todos os meios lícitos e, especialmente, pela instrução, pelo trabalho e pela beneficência». 

Os grandes valores da Maçonaria estão sintetizados na sua divisa universal: Liberdade, Igualdade, Fraternidade — Liberdade com ordem, Igualdade com respeito e Fraternidade com justiça. 

A Maçonaria portuguesa tem ainda por lema: Justiça, Verdade, Honra e Progresso. 

A Maçonaria não é uma moral nem uma religião. Admite todas as crenças e pratica a moral universal, que tem por base a primeira de todas as virtudes: amar o próximo. 

A doutrina maçônica é a mais pura das doutrinas, porque é livre de todas as limitações, escolas, teorias ou preconceitos. 

O livre-pensamento é o único caminho da procura da verdade e não pode, por isso, sofrer qualquer entrave. 

O livre-pensamento ou livre-exame, pressupõe a tolerância e o respeito pelas ideias dos outros. 

É essa a segunda virtude cultivada pelos maçons. 

A crença numa sociedade mais perfeita é a sua terceira virtude e a força aglutinadora que, em todos os tempos e em todos os lugares, congregou os «homens livres e de bons costumes» para a tarefa, sempre inacabada, de construir a fraternidade universal. 

Este objetivo, verdadeira ideia‑força, exprime -se, na linguagem maçónica, por «construção do Templo», cujo significado explica-se ao longo deste trabalho. 

O que é a Maçonaria 

A Maçonaria é, pois, uma Ordem iniciática e ritualista, universal e fraterna, filosófica e progressista, baseada no livre-pensamento. 

A Maçonaria: princípios e valores fundamentais 

Tolerância, que tem por objetivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista à edificação de uma sociedade mais livre, justa e igualitária. 

Não aceita dogmas, combate todas as formas de opressão, luta contra o terror, a miséria, o sectarismo e a ignorância, combate a corrupção, enaltece o mérito, procura a união de todos os homens pela prática de uma Moral Universal e pelo respeito da personalidade de cada um, e considera o trabalho como um direito e um dever, valorizando igualmente o trabalho intelectual e o trabalho manual. 

É uma Ordem no duplo sentido: de instituição perpétua e de associação de pessoas ligadas por determinados valores, que perseguem determinados fins e que estão vinculadas a certas regras e regulamentos. 

É iniciática, porque, como adiante veremos, só pode nela ingressar quem se submeta à cerimónia da iniciação, verdadeiro batismo maçónico, que significa, literalmente, começo, e simboliza a passagem das trevas à «luz». 

É ritualista, porque as suas reuniões ou trabalhos, como também veremos mais adiante, obedecem a determinados ritos — conjunto de formas — que traduzem, simbolicamente, sínteses de sabedoria, remontando aos tempos mais recuados. 

É universal e fraterna, porque o seu fim último é a fraternidade universal, ou seja, o estabelecimento de uma única família na face da terra, em que os homens sejam, como no seio da Ordem, verdadeiramente irmãos, sem qualquer distinção de raça, sexo, religião, ideologia e condição social.  

O seu pendor internacionalista não afeta a realidade da Pátria e da Nação. 

Como escreveu Fernando Pessoa, «a Nação é a escola presente para a Super-Nação futura»

Amar a Pátria e a Humanidade é outro dos deveres dos maçons. 

No final das reuniões é sempre dada a palavra a quem dela queira usar «a bem da Pátria e da Humanidade». 

É filosófica, porque, ultrapassada a fase operativa (corporações de arquitetos e construtores medievais), transformou-se, a partir dos alvores do séc. XVIII, numa associação de caráter especulativo, procurando responder às mais profundas interrogações do homem. 

Conserva, contudo, o vocabulário, os utensílios e a simbologia dos construtores dos templos. 

Afinal, o fim último da Maçonaria é, como vimos, a construção de um homem novo e de uma sociedade nova. 

Por isso, todos os seus ritos assentam na ideia de construção e são baseados na geometria, a mais nobre das artes, porque só ela permite compreender a medida de todas as coisas. 

Assim se justifica que a régua, o esquadro e o compasso continuem a ser instrumentos privilegiados do pensamento maçónico. 

É progressista, porque visa o progresso da Humanidade, no pressuposto de que é possível um homem melhor numa sociedade melhor. 

Encurtar as desigualdades e reduzir as injustiças sociais é um dos seus objetivos, através da elevação moral e espiritual do indivíduo. 

Porém, a Maçonaria não é uma instituição política e, muito menos, partidária. 

Está acima de todos os partidos e fações, coexistindo nela pessoas das mais diversas sensibilidades, crenças e ideologias. 

A política que pratica é a política no verdadeiro sentido da palavra: a «polis», como forma de servir a sociedade. 

A Maçonaria é, assim, um espaço de diálogo e de tolerância. 

A sua influência no mundo profano não se exerce diretamente, pois não estabelece diretivas nem impõe qualquer tipo de intervenção concreta, mas apenas indiretamente, através do exemplo, da pedagogia e da influência individual dos seus membros nos locais onde exercem a sua atividade: no emprego, nos partidos, nas organizações cívicas e sociais. 

Na linguagem simbólica que utiliza, o seu propósito é transformar a «pedra bruta» na «pedra cúbica», a fim de «construir o templo», ou seja, fazer com que o indivíduo, egoísta e isolado, se transforme num ser social e fraterno, cidadão de pleno direito e parte inteira, irmão de todos os homens e mulheres. 

É livre‑pensadora, porque não aceita dogmas, pratica a tolerância e respeita a liberdade absoluta de consciência. 

O maçon tem o direito de examinar e de criticar todas as opiniões e de discutir todos os problemas, sem quaisquer peias ou limitações. 

A Maçonaria é antidogmática, tanto no aspeto político, como religioso ou filosófico. 

A política e a religião pertencem ao foro íntimo de cada um e não podem ser discutidas, salvo nos termos genéricos acima referidos, para não abalar a união do povo maçónico, pois, como se disse, a instituição congrega pessoas de todas as crenças ou sem crença nenhuma, e de todas as ideologias não totalitárias. 

Assim, é rotundamente falsa a acusação que vem dos tempos do «Santo Oficio» e que foi retomada pela ditadura deposta em 25 de Abril de 1974 de que o maçon, ou pedreiro livre, é contra a religião. 

Muitos e ilustres membros da Ordem foram e são crentes e, até, bispos e cardeais. 

E destes, alguns ocuparam a cadeira de S. Pedro. 

A Maçonaria aceita, aliás, a existência de um princípio superior, simbolizado no «Supremo Arquiteto do Universo», que não tem definição e que cada um interpreta segundo a sua sensibilidade ou convicções. 

Para uns será o Deus em que acredita, para outros o Sol, fonte da vida, a própria natureza, a lei moral ou ainda a resultante de todas as forças que atuam no universo. 

Esta ideia implica o respeito por todas as religiões, pois todas são igualmente verdadeiras, sem prejuízo do necessário combate ao fanatismo e à superstição. 

Segundo as Constituições de Anderson, frade escocês do séc. XVIII, a Magna Carta da Maçonaria moderna, o maçon é obrigado a obedecer à lei moral, mas «nunca será um ateu estúpido, nem um libertino irreligioso»

Nos tempos remotos e medievais, o maçon era obrigado a perfilhar a religião do seu país. 

Mas depois do Iluminismo e das reformas modernas, considerou-se mais adequado, como, aliás, se reconhece nas referidas constituições, apenas lhe impor a religião sobre a qual todos estão de acordo, e que consiste em amar o próximo, fazer o bem e ser homem bom, de honra e probidade. 

Deste modo, a Maçonaria é uma casa de união entre ateus, agnósticos e pessoas dos mais diversos credos, que não se discutem por pertencerem à zona inviolável da consciência de cada um. 

É este o sentido de divisa maçónica: Deus meumque jus. 

Deve, porém, dizer-se que a Maçonaria dita regular, tradicional ou de via sagrada, por oposição ao ramo liberal ou laico, impõe, como veremos adiante, a crença em Deus e na imortalidade da alma, excluindo também as mulheres. 

Ao manter velhas regras de 300 anos (landmarks), apesar de apenas em 1817 terem sido reduzidas a escrito, e que teima em não adequar aos valores ético-humanistas do nosso tempo, o ramo tradicional ou anglo-saxónico exclui da dignidade maçônica três quartos da Humanidade. 

Os landmarks, como veremos adiante, são preceitos imutáveis e, por isso, alguns deles inadaptáveis ao mundo moderno. 

A Maçonaria é uma filosofia e não uma teologia.

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