Estamos acostumados com o Nabuco diplomata, escritor, parlamentar. Para muitos, amplo é esse conhecimento, em face de sua valiosa contribuição nesses campos, nos quais atuou com evidência e brilhantismo, conforme registros encontrados, em abundância, na história da cultura em nosso País.
Mas entendemos haver ainda um bom crédito em seu favor, no que tange à sua atuação nos setores relacionados com a Maçonaria e com o jornalismo. Créditos, de divulgação ainda tímida, que merecem o devido relevo, por sua importância e significação.
Ninguém ignora, no Brasil, e, em especial, em Pernambuco, os registros da atuação de Nabuco no campo da Diplomacia. Tanto dirimindo dúvidas de nossas fronteiras, de que é exemplo sua missão atinente à Guiana Inglesa, como sendo adido de nossas Embaixadas em Londres e Washington ou mesmo titular dessa última, em cujo cargo faleceu.
Da mesma forma, acontece com sua presença no mundo literário, através das obras: O Abolicionismo,
Um Estadista do Império, para citar as principais.
Mais evidente ainda o conhecimento que se tem de Nabuco, quando se trata da ação parlamentar, como Deputado representante de Pernambuco, pelo Partido Liberal, fazendo da tribuna da Câmara um dos melhores instrumentos para divulgação de suas ideias e reivindicações sobre a eleição direta, a representação de outras religiões, na Câmara, que não somente a católica, e, sobretudo a abolição da escravatura com extinção total e inclusão dos libertos na vida econômico-social do País.
No entanto ainda não se deu a conhecer, no tanto que é devido, a respeito da vida maçônica de Nabuco e de sua vocação para atividade jornalística, em que teve atuação digna de maior admiração.
Faremos, aqui, alguns indicativos. Franzinos, é bem verdade, porque muitos são os méritos de Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, nascido no Recife em 19 de agosto de 1849 e criado, durante a infância, por sua madrinha, senhora do engenho Massangana.
A madrinha havia morrido, Nabuco, em consequência, vai ao encontro dos pais no Rio de Janeiro e aí se matricula no Colégio Pedro II, onde participa da redação do jornalzinho Megascopo, em que revela possuir pendores para o jornalismo. Mais tarde, já em São Paulo na Faculdade de Direito, como aluno, confirma aquela vocação, não somente escrevendo, mas também participando da criação dos jornais O Liberal, A Tribuna e O Ipiranga, divulgadores de notícias da juventude acadêmica.
Iniciou seu curso de Direito, em São Paulo, porém o concluiu na Faculdade de Direito do Recife, após o que voltou a residir no Rio de Janeiro, onde foi mais frequente com seus artigos no jornal A Reforma.
Recorda-se que foi, em São Paulo, através da Loja Maçônica “América”, em dezembro de 1868, que Nabuco foi iniciado na Maçonaria. Essa Loja pertencia ao Grande Oriente Unido, do qual era Grão-Mestre o pernambucano nascido em Olinda, Saldanha Marinho.
Também foi nesse tempo que se deu a questão dos bispos com o Imperador Pedro II – o altar e o trono –, sendo envolvida a Maçonaria, deixando sequelas que ainda hoje nos doem… Joaquim Nabuco escreveu algo sobre isso no jornal A Reforma, com a seguinte redação…
“eu sou dos que tomam parte mais ativa na campanha maçônica …contra os bispos e a Igreja. Entro até nas ideias de Feijó, de uma Igreja nacional, independente da disciplina romana…”
Terminado o primeiro mandato como Deputado, o Partido Liberal não registrou seu nome para disputar a reeleição, em face da pressão dos donos de escravo. Desgostoso, Nabuco mudou-se para a Inglaterra.
Manteve-se, no exílio a que se propusera, com os salários recebidos, como correspondente, dos jornais Do Commercio, do Rio de Janeiro, e La Razon, de Montevidéu. Aí, se vê Nabuco, um jornalista profissional.
Em 5 de outubro de 1887, Nabuco volta à Câmara, após dura campanha em Pernambuco sob a bandeira da abolição. Em 1888, o pernambucano Grão-Mestre João Alfredo, do Partido Conservador, e Chefe do Gabinete, convence o Ministro da Agricultura a apresentar na Câmara o projeto de abolição total e imediata, que em 13 de maio foi sancionado pela Princesa Isabel, passando à história com o título de Lei Áurea.
Durante o período de tramitação, o Deputado Nabuco foi incansável na tribuna, contribuindo de forma decisiva para o êxito daquele fato de inigualável dimensão humana e social.
A atividade jornalística de Nabuco, contudo, hibernou desde seu retorno ao Brasil até a sanção da Lei Áurea. Prova de seu emprenho à causa da abolição, à qual, como a história constata, se dedicou de corpo e alma. Aliás, reparando bem, essa dedicação vem dos tempos de sua juventude, quando defendeu, da forca, o escravo Tomás que havia matado o senhor, conseguindo transformar a pena de morte em prisão perpétua.
Voltou ao jornalismo, colaborando com O País, jornal de iniciativa de Quintino Bocaiúva, embora fosse o noticioso de coloração republicana. Nabuco manteve-se sempre um monarquista. Nesse retorno, esteve constante nas páginas do Jornal do Commercio, na qual publicou inclusive notícias de visita que fez ao Chile, enfeixando-as posteriormente num de seus livros famosos: Balmaceda.
Nabuco desejava fundar e dirigir um jornal. Era um de seus sonhos. Todavia um jornal cuja linha editorial fosse à do incentivo ao progresso do Brasil. Informa o escritor Licínio Barbosa, em seu livro “Deuses e Demônios” que Nabuco “com Machado de Assis, fundou o periódico A Época”, mas isso não atendia a seus sonhos que era fazer “um jornalismo político incisivo”.
Consta que em 1891 fora convidado por Eduardo Prado para dirigir um grande jornal, em São Paulo. Porém não levou avante a aceitação, decerto por não atender a seus objetivos.
Nabuco acreditava na força que um jornal poderia lhe oferecer, e disso não fez segredo ao confessar: “… a minha única ambição seria fundar e dirigir no Brasil um jornal, para impelir o país na carreira do progresso”.
Há registros de que, nesse sentido, chegou até a ser um dos fundadores do Jornal do Brasil, mas apenas limitado a essa circunstância. Faltando-lhe o riso da sorte, para ir além.
Joaquim Nabuco deixou marcas de seu amor ao jornalismo. Pugnava pela liberdade de imprensa. E aí residia um dos motivos de sua admiração pela monarquia do II Império: deixar a imprensa livre.
Ao contrário do ocorrido nos primeiros tempos da República, quando Floriano impôs restrições e censura à atividade dos jornais e desempenho do jornalismo, o que muito irritou Nabuco.
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