José Cipriano Barata,nascido em 1762 na Bahia, ao longo de sua vida foi acusado de muitas coisas, entre elas a de ser “maçom”.
Cipriano Barata não era contra a maçonaria, e fazia diversos elogios a república romana, mas buscava adequar os seus conhecimentos filosóficos a realidade brasileira.
Além da falsa acusação de maçonaria, também é acusado de pertencer a elite econômica da Bahia, outra inverdade.
Seu pai era militar, sua família e sua origem podem ser consideradas, a partir de classificações atuais, de “classe média”.
Estudou em Portugal mas não concluiu a sua formação em matemática e em medicina, sua única graduação foi filosofia. Além de ter pertencido a “classe média” colonial, foi arrendatário e lavrador de cana.
Considerava Dom Pedro I um “tirano”, um “demônio” e um “assassino”, portanto não convém classificá-lo também como um monarquista.
Defendia as elites?
Não! Ao contrário, as atacava.
Personagens de sua época considerados heróis nacionais na historiografia tradicional foram combatidos.
Denunciava as espionagens, as ameaças, os assassinatos, as censuras promovidas pelo governo imperial.
No jornal Sentinela da Liberdade discordava dos privilégios e das isenções de classe, reclamando que o Império era feito para meia dúzia de famílias. Por estas razões, a sua vida sempre estava em risco.
Criticava a ideia de superioridade racial lusitana, enfrentava e sofria racismo.
Uma carta sua ficou famosa, pois foi aonde afirmou temer uma rebelião da “canalha africana”.
Anos depois era preso por ser “pai dos pretos” e promover “república com levante de escravos”. Cipriano Barata não foi um herói, foi uma síntese das contradições da América.
Participou da revolta que ocorreu na Bahia em 1798, conhecida como conjuração baiana ou revolta dos alfaiates. Esta última alcunha denota que foi um típico movimento popular.
Seu envolvimento nesses movimentos revolucionários lheendeu o apelido de “revolucionário de todas as revoluções”. Segundo o historiador Caio Prado Júnior, Cipriano Barata “em sua longa vida não teve um momento de descanso, dedicando às lutas populares todas as energias e seu grande talento”.
Em 1820 foi eleito deputado às cortes de Lisboa por ocasião da revolução que se iniciou na cidade do Porto. Nas reuniões, trajava roupas simples, fabricadas no Brasil e chapelão de palha, o que lhe rendeu o apelido de “farrapo”. Se não bastasse, este apelido acabou colando e todos aqueles tidos como liberais exaltados eram chamados de farrapos, ou farroupilhas.
Seu jornal Sentinela da Liberdade era irregular quanto ao número de páginas, e a sua periodicidade.
Era lançado de cárceres diferentes. Uma escrita nômade, análoga às publicações independentes dos fanzines.
Não publicava anúncios de vendas de trabalhadores negros escravizados, simplesmente recusava, defendia abolição da escravidão com direitos de cidadania aos negros.
Iniciou no jornalismo com sessenta anos de idade, objetivando “ensinar, edificar e até moralizar os homens [...].
Escrever para os da cidade e da aldeia, homens e mulheres sábios e pouco instruídos” (Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco 09.04.1823, no. 1).
A temática social era recorrente em seu jornal.
O Sentinela da Liberdade do dia 12 de janeiro de 1831. O brado “Alerta!!” é uma das características do jornal |
Destacamos o uso de seu jornal para praticar uma pedagogia política com palavras simples, contendo as novidades sobre os países americanos vizinhos, e defendendo a expulsão dos portugueses do Brasil após a independência, pois almejavam claramente recolonizar o país.
Foi um ativista político progressista que envolveu-se em revoluções, foi um americanista e anti-imperialista, combatendo ideias eurocêntricas.
Ademais, muitos dos que estudam sobre a América conhecem os nomes de Bolívar, Tupac Amaru, Jefferson e Tiradentes.
Mas poucos conhecem personagens tão importantes como Cipriano Barata, que muitas vezes passa despercebido por uma história que é contada e recontada sem levar em conta sua atuação na sociedade de sua época.
Nota
Segundo a professora potiguar Isabel Gondim, a maçonaria e a sua família o proviam de fundos na prisão, onde ele recebia este dinheiro através do padre José Custódio Dias, então responsável no Rio de Janeiro pela educação do jovem potiguar Urbano Egídio da Silva Costa Gondim de Albuquerque, futuro pai da professora Isabel Gondim.
Através do padre, o jovem Urbano conheceu o Doutor Barata, fazem amizade e Urbano passou a ter permissão de frequentar aulas com este lutador pela liberdade.
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