A Pedra que não queria ser trabalhada!

 
Acordei, e era Meio Dia…

…tinha de cumprir a minha primeira missão, o meu primeiro trabalho, enfim, a minha Primeira Prancha. 

Mãos à Obra.

E que missão a minha!… nada mais nada menos que trabalhar uma Pedra. Vamos a isso.

Campo fora, no meio de calhaus, tropeço aqui… reviro além, e eis que descubro, maravilha das maravilhas, uma bela pedra que pela sua forma, dimensão e textura, facilmente me permitirá executar um bom trabalho… sem trabalho nenhum!

Um pequeno toque de cinzel…e (!?)… Não é possível !!! a Pedra desviou-se!?… e agora ela FALA!…

(A Pedra) – Diz-me Aprendiz, porque me escolheste para objeto do teu Primeiro Trabalho? Será que a minha forma te apraz como sentido material do caminho que decidiste encetar, ou haverá algo de excitante na minha textura que te impede de imaginar que outras Pedras existem?

(O Aprendiz) – Estou espantado, nunca imaginei que uma Pedra falasse, os Mestres a quem devo obediência não me indicaram que pedra escolher para trabalhar… eu escolho-te pela tua forma quase perfeita, pelas tuas arestas quase esquadriadas, talvez pela tua presença destacada neste campo de calhaus disformes,… sei lá, por tudo isso!

(A Pedra) – Sim, estou a ver. Pensaste tu então, pobre Aprendiz de Pedreiro, que com um mínimo de esforço realizarias um bom trabalho!? Já te passou, por acaso, pela cabeça que poderão existir Pedras que não necessitam, ou simplesmente não querem ser trabalhadas? Já imaginaste que no difícil caminho que tens pela tua frente, terás sempre que escolher as pedras mais difíceis de trabalhar, as mais necessitadas da tua atenção, do teu respeito, da tua arte de transformar sonhos em realidades, formas brutas em artefactos dignos de um Criador,… enfím, dignos do Homem? Pensa no quanto as pedras que te rodeiam necessitam de ti, tenta dar o teu melhor sem exigir nada da pedra que trabalhas, tenta fazer dela uma obra digna de ti e dos teus Mestres, o teu trabalho bem executado será o teu prémio, e assim talvez um dia sejas um Pedreiro.

(O Aprendiz) – Pedra, não sei o que te dizer, sou um pobre aprendiz que muito tem que aprender, sei apenas que, hoje e aqui contigo, recebi a primeira lição: Deverei sempre trabalhar a pedra que mais necessita, desde que ela queira! Agora preciso ir, pois é quase Meia-noite… Adeus pedra, agradeço-te a lição!

(A Pedra) – Espera Aprendiz, faz-me um pequeno favor, vira a minha face polida um pouco mais para Oriente,… assim,… já está bem! Ah, já agora retira de debaixo de mim, essa pequena pedra cinzenta… sim essa mesmo, que eu esmago sem querer há milhares de anos. Leva-a contigo, não tentes trabalhá-la; tenta apenas compreendê-la, o que já será uma tarefa quase impossível. Adeus Aprendiz

(O Aprendiz) – Adeus pedra!

Autor Desconhecido


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