Se existe um excelente indicador no que toca à separação entre os países que respeitam e defendem a liberdade dos seus cidadãos e aqueles que limitam os direitos cívicos e humanos, esse indicador é o da legitimação ou não da existência da Maçonaria nos diferentes territórios.
Agora, que os acontecimentos no Afeganistão preocupam naturalmente todos aqueles que veem o sucedido como um retrocesso civilizacional, também a Maçonaria Regular encara com tristeza e muita apreensão o provável ressurgimento de um regime fundamentalista semelhante aos de outros que proíbem a existência de uma instituição que, como a Maçonaria, tem na evolução de cada indivíduo e na autonomia do seu caminho espiritual o cerne da sua atividade.
Com efeito, em países de maioria islâmica apenas a Turquia e Marrocos permitiram o estabelecimento de Grandes Lojas.
Convém lembrar, no entanto, que nem sempre foi assim.
Em 1907, e a seu pedido, o emir do Afeganistão, Habibullah Khan, foi iniciado como maçom mesmo contra a vontade dos seus conselheiros.
O seu reinado foi marcado pela introdução da medicina moderna e de outros avanços científicos no Afeganistão e pela instituição de várias reformas legais, revogando muitas das mais severas sanções penais e desmantelando a organização repressiva de policiamento interno que tinha sido posta em prática pelo seu pai.
Iniciativas essas a que estiveram estreitamente ligados os seus valores como maçom.
Ontem, como hoje, os inimigos da Maçonaria existem onde há fundamentalismos e muitas das ações de solidariedade maçónica, efetuadas sempre de forma discreta, incluem o apoio a vítimas desses mesmos regimes.
Por outro lado, essa mesma discrição não facilita que a perceção pública do trabalho maçónico seja a adequada, persistindo o desconhecimento ou as ideias feitas.
Em 2018, a Grande Loja de Inglaterra chegou mesmo a lançar uma campanha publicitária em jornais britânicos e iniciativas de esclarecimento público, tendo o CEO da Grande Loja escrito à Comissão de Igualdade e Direitos Humanos sobre as preocupações de que os mais de 200 mil membros fossem vítimas de discriminação e de deturpação quanto aos seus objetivos.
Por cá, a recente promulgação da lei que pretende obrigar os deputados a declararem a sua pertença à Maçonaria foi também um sinal evidente desses mesmos preconceitos e conceções erróneas sobre o que significa ser maçom e em que consiste o papel social de cada um.
Uma coisa é certa.
Há trabalho a fazer por parte da Maçonaria para que a sociedade civil entenda melhor os nossos valores e o âmbito da nossa atuação.
Em simultâneo, não desistiremos nunca de juntar a nossa voz às daqueles que contrariam os fundamentalismos de toda a espécie no cercear das liberdades, coletivas ou individuais.
Esse é, para nós maçons, um esforço continuado e que vem desde o início.
Como escreveu George Washington numa carta datada de 1793: "Alargar a esfera da felicidade social é algo digno da conceção benevolente de uma instituição maçónica. E é muito fervorosamente desejado que a conduta de cada membro da fraternidade possa tender a convencer a humanidade de que o grande objetivo da Maçonaria é promover a felicidade coletiva."
Assim tem sido. E assim continuará a ser.
Grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal - Grande Loja Regular de Portugal
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