Interpretação mística do Natal



O significado cósmico do Natal

Mais uma vez, no decorrer do ano, estamos às vésperas de Natal. A visão de cada um de nós sobre esta festividade difere uma da outra. Para o religioso devoto é um período reverenciado, sagrado e repleto de mistério, não menos sublime por ser incompreendido. Para o ateu é uma tola superstição. Para o puramente intelectual é um enigma, pois está além da razão.

Nas igrejas narra-se a história de como na noite mais santa do ano, Nosso Senhor e Salvador, imaculadamente concebido, nasceu de uma virgem. Nenhuma outra explicação é dada; o assunto é deixado a critério do ouvinte que o aceita ou rejeita, de acordo com o seu temperamento. Se a mente e a razão levam-no a excluir a fé, se ele vê apenas o que pode ser demonstrado aos sentidos, então, é forçado a rejeitar a narrativa como absurda e desarmónica com as várias e imutáveis leis da natureza.

Interpretações diferentes têm sido dadas para satisfazerem a mente, principalmente as de natureza astronómica. Diz-se que na noite de 24 para 25 de Dezembro, o Sol começa a sua jornada do sul para o norte. Ele é a “Luz do Mundo”. O frio e a fome exterminariam inevitavelmente a raça humana se o Sol permanecesse sempre no sul. Por isso, é motivo de grande regozijo quando ele começa a sua jornada em direcção ao norte, pelo que é então aclamado “Salvador”, pois vem “salvar o mundo”, vem para dar o “pão da vida” quando amadurece o grão e a uva. Assim, “Ele dá a sua vida na cruz (cificação) do equador (no equinócio da Primavera) e começa a sua ascensão no céu (norte). Na noite em que começa a sua jornada em direcção ao norte, o signo Virgo, a Virgem Celestial, a “Rainha do Céu”, está no horizonte astrologicamente, “o seu signo Ascendente”. Portanto Ele “nasce de uma virgem”, sem intermediários, sendo daí “concebido imaculadamente”.

Esta interpretação pode satisfazer a mente quanto à origem da suposta superstição, mas o lamentável vazio que existe no coração de todo céptico, esteja ou não ciente do facto, deve permanecer até que a iluminação espiritual seja alcançada, a qual fornecerá uma explicação aceitável tanto ao coração como à mente. Derramar tal luz sobre este mistério sublime será o nosso empenho neste livro. A concepção imaculada será o assunto da lição seguinte. Por enquanto, queremos mostrar como as forças materiais e espirituais fluem e refluem alternadamente no decurso do ano, e por que no Natal é realmente um “dia santo”.

Digamos que concordamos com a interpretação astronómica, assim como é verdadeiro o que se segue quando contemplamos o nascimento místico sob outro ângulo. O Sol nasce, ano após ano, na noite mais escura. Os Cristos Salvadores do mundo nascem também quando as trevas espirituais da humanidade são maiores. Há um terceiro aspecto de suprema importância, isto é, não há nenhuma futilidade nas palavras de Paulo quando ele fala do Cristo sendo “formado em vós”. É um facto sublime que todos somos Cristos-em-formação, de modo que quando compreendemos que temos de cultivar o Cristo interno antes que possamos perceber o Cristo externo, mais apressaremos o dia da nossa iluminação espiritual.

Citamos novamente o nosso aforismo preferido, de Angelus Silesius, cuja sublime percepção espiritual fê-lo proferir:

“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,
Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota
menos que dentro de ti, ela seja
novamente erguida. “

No solstício de Verão, em Junho, a Terra está mais distante do Sol, mas o raio solar atinge-a quase em ângulo recto em relação ao seu eixo no Hemisfério Norte, resultando daí o alto grau de actividade física. Nesta ocasião, as irradiações espirituais do Sol são oblíquas a essa parte da Terra e são tão fracas como os raios físicos quando são oblíquos.

Porém, no solstício de Inverno, a Terra está mais perto do Sol. Os raios espirituais caem em ângulos rectos na superfície da Terra no Hemisfério Norte, estimulando a espiritualidade, enquanto as actividades físicas diminuem em razão do ângulo oblíquo em que o raio solar atinge a superfície do nosso planeta. Por este princípio, na noite entre 24 e 25 de Dezembro, as actividades físicas estão no seu mais baixo nível e as forças espirituais no seu mais elevado fluxo, por isso, ela é chamada a “noite mais santa do ano”. Por sua vez, o pleno Verão é a época de divertimento para duendes e entidades semelhantes interessadas no desenvolvimento material do nosso planeta, conforme demonstrado por Shakespeare no seu “Sonho de Uma Noite de Verão”.

Se nadarmos quando a maré está mais forte, alcançaremos uma distância maior com menos esforço do que em qualquer outra ocasião. É de grande importância para o estudante esotérico saber e compreender as condições especialmente favoráveis que prevalecem na época do Natal. Sigamos a exortação de Paulo, Cap. 12 aos Hebreus, atirando à distância toda carga embaraçante, como fazem os indivíduos que correm numa competição. Batamos no ferro enquanto ele está quente. Isso significa que devemos nessa época do ano concentrar todas as nossas energias em esforços espirituais para colher o que não conseguiríamos obter em nenhuma outra ocasião.

Lembremo-nos também que o aperfeiçoamento próprio não deve ser a nossa única consideração. Somos discípulos de Cristo. Se aspiramos ser distinguidos, lembremo-nos do que Ele disse: “Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o SERVO de todos”. Existe muita aflição e sofrimento à nossa volta; há muitos corações solitários e doloridos no nosso círculo de conhecidos. Busquemo-los de maneira discreta. Em nenhuma outra época do ano serão mais sensíveis aos nossos desvelos. Espalhemos a luz do Sol nos seus caminhos. Deste modo ganharemos as suas bênçãos e também as dos nossos Irmãos Maiores. Por sua vez, as vibrações resultantes promoverão um crescimento espiritual impossível de ser atingido por qualquer outro modo.

O novo elemento e a nova substância

No ano passado, o nosso Curso de Cristianismo Místico por correspondência começou com uma lição sobre o Natal, do ponto de vista cósmico. Explicamos então que os solstícios de Verão e Inverno, juntamente com os equinócios de Primavera e Outono, constituem os pontos decisivos na vida do Grande Espírito da Terra, assim como a concepção assinala o início da descida do Espírito Humano ao corpo físico, resultando em nascimento, o qual inaugura o período de crescimento até que a maturidade seja alcançada. Neste ponto começa uma época de sobriedade e amadurecimento, juntamente com o declínio das energias físicas que terminam em morte. Este acontecimento liberta o homem dos obstáculos da matéria e conduz a um período de metabolismo espiritual, por meio do qual a nossa colheita de experiências terrenas é transmutada em poderes anímicos, talentos e tendências. Estes serão postos a render juros nas vidas futuras, para que possamos crescer mais rica e abundantemente com a posse de tais tesouros e sermos considerados dignos, como “administradores fiéis”, para assumirmos postos cada vez mais elevados entre os servos da Casa do Pai.

Esta ilustração apoia-se sobre o firme alicerce da grande Lei de Analogia, tão sucintamente expressa pelo axioma hermético: “Assim como é em cima, assim é em baixo”. Baseados nisto, que é uma chave-mestra para todos os problemas espirituais, dependemos também de um “abre-te-sésamo” para as nossas lições do Natal deste ano. Assim, esperemos poder corrigir, confirmar ou completar pontos de vista dos nossos estudantes, conforme requeira cada caso.

Os corpos, originalmente cristalizados na terrível temperatura da Lemúria, eram demasiado quentes para conter umidade suficiente que permitisse ao espírito acesso livre e irrestrito a todas as partes da anatomia, conforme ele agora o consegue através do sangue circulante. Mais tarde, no começo da Época Atlante, os corpos possuíam sangue, mas moviam-se com dificuldade, e teriam secado rapidamente, em razão da alta temperatura interna, não fora o facto de prevalecer naquela atmosfera aquosa uma farta umidade. A inalação desse solvente atenuava grandemente o calor e abrandava o corpo, até que uma quantidade suficiente de umidade pôde ser retida nele, permitindo a respiração na atmosfera relativamente seca que aconteceu mais tarde.

Os corpos dos primitivos Atlantes eram de uma substância granulosa e fibrosa, não diferentes dos nossos actuais tendões, lembrando também madeira. Porém, com o tempo, o hábito adquirido de comer carne, capacitou o homem a assimilar albumina suficiente para construir tecido elástico necessário à formação dos pulmões e artérias, permitindo assim a livre circulação do sangue, conforme se verifica agora em todo o sistema. Na época em que aconteceram essas mudanças internas e externas, o grande e glorioso arco de sete cores surgiu no céu carregado de nuvens para assinalar o advento do Reino do Homem, onde as condições viriam a ser tão variadas como os matizes que colorem a atmosfera ao refractar a luz solar de uma só cor. Portanto, o primeiro aparecimento do arco-íris nas nuvens marcou o início da era de Noé, com as suas estações e períodos alternantes, dos quais o Natal é um deles.

Contudo, as condições prevalecentes neste período não são tão estáveis, como não o eram as dos períodos anteriores. O processo de condensação que transformou o nevoeiro ardente da Lemúria em atmosfera de umidade densa da Época Atlante, e mais tarde se liquefez em água que inundou as cavidades da terra e impeliu a humanidade para as montanhas, ainda continua. Ambas, a atmosfera e a nossa condição fisiológica estão mudando, anunciando, aos que sabem ver e compreender, a aurora de um novo dia no horizonte, a época de unificação mencionada na Bíblia como O Reino de Deus.

A Bíblia não nos deixa dúvidas a respeito das mudanças. Cristo disse que, como nos dias de Noé, assim deverá ser nos dias vindouros. Ciência e invenção encontram agora condições que não existiam anteriormente. É facto científico que o oxigénio está sendo consumido em quantidades alarmantes, alimentando as fogueiras das indústrias. Incêndios nas florestas também sorvem em grande escala o nosso stock desse elemento importante, além de aumentar o processo secante a que a atmosfera está naturalmente submetida. Eminentes cientistas afirmam que chegará o dia em que o globo não poderá sustentar a vida que depende da água e do ar para existir. As suas ideias não nos afligem tanto, pois a data que apontam ainda está muito distante. Mas, mesmo que seja assim, o destino da Época Ária é tão inevitável quanto o da Atlântida inundada.

Pudesse um Atlante ser transferido para a nossa atmosfera, seria asfixiado como um peixe fora de seu elemento natural. 

Quadros vistos na Memória da Natureza provam que os aviadores pioneiros daquela época, desmaiavam realmente quando encontravam essas correntes de ar que desciam gradualmente sobre a terra que habitavam. Tais experiências suscitavam muitos comentários e especulações. 

Os aviadores de hoje já estão encontrando o novo elemento e experimentando a sensação de asfixia, conforme experimentaram os seus ancestrais Atlantes e, por razões análogas, encontraram o novo elemento descendo do alto. Este elemento tomará o lugar do oxigénio da nossa atmosfera. 

Existe também uma nova substância introduzindo-se na constituição humana e que substituirá a albumina. Ademais, assim como os aviadores da Época Atlante desmaiavam e eram impedidos pela corrente descendente de ar de penetrar antecipadamente na Ária, a terra prometida, assim também o novo elemento desafia os aviadores de hoje e a humanidade em geral, até que todos tenham aprendido a assimilar os seus aspectos materiais. Tal como os Atlantes, cujos pulmões são estavam desenvolvidos e sucumbiram na inundação, assim também a nova era encontrará alguns sem o “Manto Nupcial”, e portanto incapacitados para entrar nela, até que se qualifiquem num período posterior. Por isto, é da maior importância para todos saber a respeito do novo elemento e da nova substância. A Bíblia e a Ciência, unidas, fornecem ampla informação a respeito do assunto.

Na Grécia antiga, conforme mencionamos antes, religião e ciência eram ensinadas nos templos de mistério, juntamente com a arte superior e o artesanato, como uma doutrina única de vida e de ser. Contudo, esta condição foi temporariamente suspensa para facilitar determinadas fases do desenvolvimento. 

A união das linguagens religiosa e científica na Grécia antiga facilitava a compreensão dessas matérias. 

No entanto, hoje em dia, as dificuldades repousam no facto de que a religião traduziu e a ciência simplesmente transferiu os seus termos do Grego original, o que tem causado muitas divergências e a perda do elo entre as descobertas da ciência e os ensinamentos da religião.

Para chegarmos a uma desejada compreensão das mudanças fisiológicas que prosseguem agora no nosso sistema, podemos lembrar que, segundo a ciência, os lóbulos frontais do cérebro estão entre as estruturas humanas de mais recente desenvolvimento e que, proporcionalmente, este órgão é muito maior no homem do que em qualquer outra criatura. Agora, a pergunta: “Existe no cérebro alguma substância peculiar, e se existe, qual pode ser o seu significado? ”

A primeira parte da pergunta pode ser respondida por qualquer obra científica relativa ao assunto, mas o livro O Conceito Rosa-Cruz do Cosmos fornece mais subsídios, conforme transcrevemos abaixo:

“O cérebro… é formado das mesmas substâncias que compõem todas as outras partes do corpo, acrescidas de fósforo, que é peculiar somente ao cérebro. A conclusão lógica é que o fósforo é o elemento particular por meio do qual o Ego capacita-se a expressar pensamento… Descobriu-se que a proporção e variação dessa substância correspondem ao estado e fase de inteligência do indivíduo. Assim, os idiotas possuem pouquíssimo fósforo, enquanto o pensador arguto tem-no em abundância… É pois de grande importância que o aspirante, cujo veículo físico vai se utilizado no trabalho mental e espiritual, supra o seu cérebro da substância necessária a esse propósito”.

A indiscutível religiosidade dos Católicos é verificável na prática de comer peixe, alimento rico em fósforo, às Sextas-Feiras e na Quaresma. 

Ainda que o peixe pertença a uma ordem de vida inferior, O Conceito Rosa-Cruz do Cosmos não aprova a sua matança, indicando ao estudante certas verduras através das quais pode conseguir fisicamente abundância dessa desejável substância. 

Existem outros e melhores meios para essa obtenção, embora não mencionados em O Conceito.

Não foi por acaso que os Mestres da Escola de Mistério Grega denominaram assim esta substância luminosa que conhecemos por fósforo. Para eles era patente que “Deus é Luz”- a palavra grega designativa de luz é phos. Portanto, muito apropriadamente, eles denominaram a substância do cérebro, que é a avenida de ingresso do impulso divino, phos-phorus, literalmente “portador da luz”. Na medida em que formos capazes de assimilar essa substância, enchemo-nos de luz e começamos a brilhar a partir de dentro, circundando- nos, então, um halo como uma marca de santidade. O fósforo, contudo, é apenas um meio físico que possibilita a luz espiritual expressar-se através do cérebro físico, sendo a luz, em si mesma, um produto do crescimento anímico. 

Mas o crescimento anímico capacita o cérebro a assimilar quantidades crescentes de fósforo, pelo que o método para a aquisição dessa substância em maiores quantidades não deve ser pelo metabolismo químico e sim pelo processo alquímico do crescimento anímico, o que foi totalmente esclarecido por Cristo quando Ele disse a Nicodemus:

“Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo… Aquele que n ‘Ele crê não é condenado, mas aquele que não crê já está condenado.
.
…E esta é a condenação, que a luz veio ao mundo e o homem amou mais as trevas do que a luz…
.
…Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem reprovadas as suas obras. Mas aquele que pratica a verdade aproxima-se da luz a fim de que as suas obras sejam manifestadas, porque são feitas em Deus”. (João 3:17-21).

O Natal é a época do ano de maior luz espiritual. 

Durante esta era de ciclos alternantes há marés altas e baixas de luz espiritual, como acontece com as águas do oceano. 

A primitiva Igreja Cristã marcou a concepção no Outono do ano (no Hemisfério Norte), de modo que até hoje o evento é celebrado pela Igreja Católica quando a grande onda de vida e luz espirituais começam a sua descida à Terra. 

O ponto máximo de maré é alcançado no Natal, sendo esta verdadeiramente a época santa do ano, a ocasião em que esta luz espiritual é mais facilmente contactada e especializada pelo aspirante através de actos de compaixão, gentileza e amor. 

Oportunidades para esses actos não faltam, nem mesmo para os mais pobres, porque conforme enfatizam frequentemente os Ensinamentos Rosacruzes, o serviço conta mais que o auxílio financeiro, que pode até ser prejudicial a quem o recebe. 

Todavia, “a quem muito é dado, muito será exigido” e, se alguém foi abençoado com abundância de bens do mundo, uma cuidadosa distribuição dos mesmos deve necessariamente ser observada em qualquer oportunidade de servir. 

Recordemos ainda as palavras de Cristo: “Em verdade vos digo, sempre que fizerdes isto a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fazeis”(Mat. 25:40). 

Sigamo-Lo pois, como luzes ardentes e brilhantes, mostrando o caminho para a Nova Era.

O sacrifício anual de Cristo

Você já esteve ao lado do leito de um amigo ou parente que se encontrasse prestes a passar deste mundo para o além? 

Muitos de nós já tivemos essa experiência, pois qual o lar que não foi visitado pelo Pai Tempo? 

Nem é incomum a fase que se segue ao ocorrido, à qual devemos prestar atenção especial. 

A pessoa ao transpor os umbrais do invisível, muitas vezes fica em estado de torpor. Então acorda, e vê não apenas este mundo, mas também o mundo em que está prestes a entrar. 

É muito significativo que nesses momentos ela vê pessoas que foram suas amigas ou parentes nesta vida física – filhos, filhas, esposa ou qualquer pessoa que lhe tenha sido realmente muito próxima ou muito querida – postadas ao redor do seu leito e aguardando o momento da transição. 

A mãe pode estender os braços: “Oh! é o João e como ele cresceu! Que esplêndido rapaz está!”

Deste modo ela pode reconhecer, um após outro, todos os filhos já falecidos. Estes estão reunidos em volta da sua cama à espera que ela vá unir-se a eles, invadidos pela mesma sensação que assalta as pessoas quando uma criança está para nascer neste mundo: o regozijo pela chegada de alguém que eles sentem, instintivamente, ser um amigo que regressa a eles.

O mesmo se dá com as pessoas que, tendo passado, antes ao além, reúnem-se para receber um amigo que está prestes a cruzar a fronteira e juntar-se a eles do outro lado do véu. Vemos assim que o nascimento num mundo é morte, sob o ponto de vista do outro mundo, isto é, a criança que vem a nós morre para o mundo espiritual, e a pessoa que sai do alcance dos nossos olhos ao transpor o véu pela morte, nasce em novo mundo e junta-se aos seus amigos.

“Como é em cima, assim é em baixo”. 

A Lei da Analogia, que é a mesma para o microcosmo e para o macrocosmo, diz-nos que aquilo que acontece ao ser humano sob determinada condições, deve também aplicar-se ao sobre-humano em circunstâncias análogas. Estamos aproximando-nos do solstício de Inverno (no Hemisfério Norte), dos dias mais escuros do ano, época em que a luz brilha com menos intensidade quando o Hemisfério Norte se torna frio e melancólico. 

Porém, na noite mais longa e mais escura do ano, quando o Sol retoma o seu caminho ascendente, a luz de Cristo nasce de novo na Terra e o mundo inteiro rejubila. 

No entanto, conforme a nossa analogia, quando Cristo nasce na Terra, Ele morre no céu. 

Assim como o espírito, livre ao nascer, fica fortemente enclausurado no véu da carne, que o restringe por toda a vida física, assim também o Espírito de Cristo é agrilhoado e tolhido toda vez que nasce na Terra. 

Este grande Sacrifício Anual – começa quando soam os nossos sinos de Natal, quando os alegres sons do nosso louvor e gratidão ascendem aos céus. 

No mais literal sentido da palavra, Cristo é aprisionado desde o Natal até a Páscoa.

O homem pode zombar da ideia de que existe nessa época do ano um influxo de vida e luz espirituais. 

Não obstante, isso é um facto, creiamos ou não. Nesta época do ano, no mundo inteiro, todos se sentem mais leves, diferentes, algo como se um fardo fosse tirado dos seus ombros. 

O espírito de paz na terra e boa vontade entre os homens prevalecem, e o espírito de que nós também devemos dar algo expressa-se nos presentes de Natal. 

Este espírito não pode ser negado, já que é evidente a qualquer observador e é um reflexo da grande onda de dádiva divina. 

Deus amou o mundo de tal maneira, que lhe deu o Seu Filho único ou Unigénito. 

O Natal é a época das dádivas, mesmo que a consumação do sacrifício aconteça apenas na Páscoa. Aqui se situa o ponto crucial, o ponto crítico, quando sentimos ter ocorrido algo que garante a prosperidade e a continuidade do mundo.

Quão diferente é o sentimento do Natal daquele que se manifesta na Páscoa! 

Neste último há uma expressão de desejo, uma energia que se expressa em amor sexual visando a perpetuação de si mesmo como nota-chave. Quão diferente é o amor que se expressa no espírito de dar ao invés de receber, que sentimos no Natal.

Agora, observe as igrejas. Nunca as suas luzes brilham tanto quanto neste dia e nesta noite do ano. Em nenhuma outra ocasião os sinos ressoam tão festivos do que quando proclamam para o mundo a mensagem: “O Cristo nasceu!”.

“Deus é Luz”, diz o inspirado apóstolo e nenhuma outra descrição é capaz de transmitir tanto da natureza de Deus quanto estas três pequenas palavras. 

A luz invisível, que se encontra envolvida pela chama sobre o altar, é uma representação cabal de Deus, o Pai. 

Nos sinos, temos um símbolo muito apropriado de Cristo, a Palavra, pois as suas línguas metálicas proclamam a mensagem evangélica de paz e boa vontade, enquanto o incenso, simbolizando maior fervor espiritual, representa o poder do Espírito Santo. 

Por conseguinte, a Trindade é simbolicamente parte da celebração que faz do Natal a época do ano de maior regozijo espiritual, sob o ponto de vista da raça humana que está actualmente na matéria.

Todavia, não se deve esquecer, conforme dissemos no terceiro parágrafo deste capítulo, que o nascimento de Cristo na Terra significa a Sua morte para a glória dos céus, e que, quando nos rejubilamos pelo seu regresso anual a nós, Ele de fato toma novamente sobre Si o pesado fardo físico que cristalizamos ao nosso redor, e que é agora a nossa habitação – a Terra. 

Neste pesado corpo, Ele é incrustado e espera ansiosamente pelo dia da libertação. ]

Podemos compreender, naturalmente, que existem dias e noites tanto para os maiores espíritos quanto para os seres humanos; que, do mesmo modo que vivemos nos nossos corpos durante o dia, cumprindo o destino que nós mesmos criamos no mundo físico e somos liberados à noite para nos recuperarmos nos mundos superiores, assim também existe essa alternância para o Espírito de Cristo.

Parte do ano Ele habita o interior do nosso globo, e depois se retira para os mundos superiores. 

Assim, o Natal é para Cristo o começo de um dia de vida física, o início de um período de limitação.

Qual deve ser, portanto, a aspiração do místico devotado e iluminado, que compreende a grandeza da dádiva de Deus à humanidade nesta época do ano; que compreende este grande sacrifício de Cristo por nossa causa; esta dádiva de Si mesmo sujeitando-se a uma virtual morte para que pudéssemos viver esse maravilhoso amor que se derrama sobre a Terra nessa época? 

Unicamente a de imitar, mesmo em pequeníssima escala, as maravilhosas obras de Deus. 

Ele deve aspirar fazer de si mesmo um servo da Cruz como jamais o fora antes; mais disposto a seguir o Cristo em todas as coisas, sacrificando-se a si mesmo pelos seus irmãos e irmãs; colaborando, dentro da sua esfera imediata de trabalho, para a elevação da humanidade, de modo a apressar o dia da libertação pela qual o Espírito de Cristo está esperando, gemendo e labutando. 

Falamos de uma libertação permanente, do dia e do advento de Cristo.

Para concretizarmos esta aspiração na medida mais ampla, avancemos pelo ano entrante plenos de auto-confiança e fé. 

Se até aqui temos descrido da nossa capacidade de trabalhar para Cristo, ponhamos de lado essa descrença lembrando o que Ele disse: “Maiores obras que estas vós o fareis!” 

Teria Ele, que era a Palavra da verdade, dito tais coisas se elas não fossem possíveis? 

Todas as coisas são possíveis àqueles que amam a Deus. Se de facto trabalharmos na nossa própria pequena esfera, não buscando coisas maiores até termos feito aquelas que estão à mão, então descobriremos que um maravilhoso crescimento anímico pode ser alcançado, de forma que as pessoas que nos rodeiam possam ver em nós algo que não saberão definir, mas que, não obstante, ser-lhes-á evidente – verão a luz natalina, a luz do Cristo recém-nascido brilhando dentro da nossa esfera de acção. 

Isto pode ser conseguido; depende apenas de nós mesmos aceitá-Lo pela Sua palavra, cumprindo o que Ele ordenou: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus”. 

A perfeição pode parecer uma longa caminhada. E quanto mais consideramos Cristo, mais nos apercebemos como estamos longe de viver à altura dos nossos ideais. 

Não obstante, é pela luta diária, hora após hora, que finalmente chegaremos lá. 

E a cada dia algum progresso pode ser feito, algo pode ser realizado. Podemos deixar a nossa luz brilhar de tal maneira, que os homens a vejam como faróis na escuridão do mundo. 

Que Deus nos ajude durante o próximo ano a alcançar maior semelhança com Cristo do que jamais conseguimos antes. 

Vivamos a vida de tal modo que, quando outro ano tiver passado, quando contemplarmos novamente as luzes do Natal e ouvirmos os sinos chamando para as cerimónias da Noite Santa, possamos sentir que não temos vivido em vão.

Cada vez que nos damos completamente ao serviço em benefício dos outros, acrescentamos brilho aos nossos corpos-alma feito de éter. 

É o éter de Cristo que permite este nosso globo flutuar, e recordemos que, se quisermos trabalhar pela sua libertação, devemos todos desenvolver os nossos corpos-alma até ao ponto em que eles é que façam flutuar a Terra. 

Deste modo tomamos o Seu fardo e livramo-Lo da dor da existência física.


Max Heindel


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