Na busca de me tornar um livre pensador, eu gostaria de apresentar uma breve reflexão.
Na minha iniciação, ao abrir os olhos para a luz, eu me vi diante de um mundo totalmente novo: o maçônico.
Com base na curiosidade pela ciência e pela verdade, aquele momento me encheu a consciência de perguntas.
E para respondê-las, eu comecei a ler, pesquisar e meditar sobre os meus próprios questionamentos.
Vários autores maçônicos e não-maçônicos, pouco a pouco, me esclareceram sobre a real maçonaria.
Então, a luz, embora ainda tênue, foi vista de forma um pouco mais clara por este aprendiz.
No entanto, a minha maior surpresa foi encontrar tanta ortodoxia e tanta vaidade numa instituição dita libertária, adogmática e fraterna.
Segundo o filósofo e místico indiano Krishnamurti: “Sentindo medo, inventamos deuses, inventamos teorias, intelectualmente, teologicamente e religiosamente. Temos idéias, fórmulas relativas do que devemos ser”.
De acordo com o Ir.’. Breno Trautwein, em seu livro Dogmas e Preconceitos Maçônicos, escrito em 1997: “Os homens atuais são de uma cadeia infinita de seres, cujo progresso é resultante do trabalho e do pensamento de outros homens dedicados à verdade, não importando a intolerância dos ignorantes, dos fanáticos e dos poderosos”.
Seria a maçonaria fruto de dogmas ou da experiência apoiando a razão?
A Maçonaria é fruto do pensamento humano, do desejo do ser humano pela religião natural. Entretanto, ao examinarmos alguns de seus ensinamentos, surpresos notamos a sua decadência filosófica, caindo para um dogmatismo absurdo, além de inúmeros falsos preconceitos.
Mas o que é preconceito?
Preconceito é um juízo pré-formulado, ou seja, uma opinião que se expressa antes de uma reflexão mais profunda, sobre a sua veracidade.
Isso é fruto da ignorância, alicerçada na suposta autoridade de um indivíduo ou de um pequeno grupo, impondo a todo um conjunto social, de forma arbitrária. É do preconceito que nasce o dogma, ponto básico considerado indiscutível de uma crença religiosa, filosófica ou mesmo científica.
Dogmas são princípios aceitos como indiscutíveis ou ditos como inalteráveis. O dogmatista diz-se de pessoa com idéias autoritárias.
Segundo Albert Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Na verdade, uma boa parte de minha indignação refere-se a Albert Makey, autor de uma versão de 25 landmarks, assim como seu fã clube no Brasil, cuja definição que tem como autor o Ir.’.Castellani.
Albert Pike, elaborador da versão de apenas 5 landmarks, fruto de um amplo estudo e de uma arrasadora e erudita crítica contra o emaranhado de falsos limites, apresentados pelos autores da época, incluído, aí, o seu discípulo Albert Mackey.
Poderíamos então dizer que esses não são dogmas; que são leis; que são princípios básicos!
Mas mesmo tendo sido impostos, sem uma aprovação pela maioria, sem a análise da validade e dos benefícios para a coletividade atingida; e, por esse motivo, caracteriza o Dogma.
Neste particular refiro-me a alguns landmarks ultrapassados pelos usos e costumes do mundo de hoje e ditos como imutáveis.
E aí eu pergunto: como uma lei, feita por homens, pode ser considerada imutável, se as leis naturais se auto-ajustam para manter o universo em equilíbrio?
Não posso concordar que haja conhecedores absolutos de todo o saber maçônico.
O primeiro landmark ou princípio, como queiram chamá-lo, que precisaria estar em todas as versões, a meu ver, é “Ser Livre e de Bons Costumes”, o que resultaria no uso do bom senso, para a boa aplicação dos demais princípios necessários a nossa instituição.
Mas também não importa se um landmark, dito imutável, foi aprovado pela maioria ou não: dogma é dogma e, por isso, é anti-filosófico, anti-progressista e, portanto, contrário a Maçonaria.
O dogmatismo, na Idade Média, foi religioso e teológico, baseando-se na censura do pensamento, na condenação à morte dos hereges queimados em praça pública e para escarneamento dos fiéis.
Se olharmos a história da Inquisição, concluímos que nela figurou o dogmatismo levado às suas últimas conseqüências, até a morte, por aqueles que julgavam ter o monopólio da verdade e realmente detinham, circunstancialmente, o monopólio do poder.
Atualmente, o dogmatismo tem assumido um caráter ideológico e político, embora não inclua dogmas religiosos, cuja aceitação depende da fé, inclui teses de conteúdo econômico, social e político, discutíveis como quaisquer teses, levados à institucionalização pela intolerância e pela violência.
Fruto das idéias predominantes em nosso mundo atual, a ordem maçônica não pode fugir do seu destino de liberdade de pensamento e de opinião.
Segundo Descartes, em “Discurso do Método”, livro escrito em 1637, ele diz que: “O conhecimento e a ciência exigem trabalho, questionamentos sistemáticos e método. O dogmatismo é o pior companheiro da filosofia.”
Mas os maçons criaram vários dogmas fundamentados, ora nas proposições de potências maçônicas imperialistas, ora em suas arbitrárias e profanas legislações, que é fruto da ignorância da verdadeira maçonaria.
Segundo Validivar: “Nenhum homem é livre se a sua mente não é como uma porta de vai-e-vem, abrindo-se para fora a fim de liberar suas próprias idéias e para dentro a fim de captar as boas idéias dos outros”.
Sendo a Maçonaria fruto do pensamento humano, isto é, de livres pensadores no campo das idéias, os maçons especulativos não podem dar a outrem o direito de pensar e decidir por eles; jamais podem deixar de buscar, incessantemente, a Verdade.
Bibliografia:
“Dogmas e Preconceitos Maçônicos“, de Breno Trautwein, Editora A Trolha.
“Discurso do Método“, de René Descartes, Editora L&PM Pocket
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