O AREÓPOGO DE ITAMBÉ E SUA INFLUÊNCIA NAS REVOLUÇÕES BRASILEIRAS


O Iluminismo ou Ilustração caracterizou-se no século XVIII, também chamado ”século da luzes” pelas suas influências culturais em todos os segmentos da sociedade humana da época ensinando o Homem a liberar-se dos excessos das autoridades, dos preconceitos das tradições das convenções e retirando-lhe a viseira intelectual que lhe embaçava a mente, fazendo com que ele enxergasse o mundo de forma real, pelo menos mais real do que vislumbrava naquela época tão sufocada pela ignorância quando os homens do poder espiritual e temporal faziam questão de submeter a humanidade incauta a toda sorte de escravidão talvez até como autodefesa de seus interesses. 

Sabiam que se o Homem se instruísse por pouco que fosse ele acabaria por modificar o mundo e esse mesmo poder ruiria por terra.

Este movimento caracterizou-se por apresentar várias tendências, tornando a Filosofia mais divulgada, fazendo com que o povo tivesse mais conhecimento da razão, vulgarizou a ciência empírica, divulgou conceitos sociais e políticos adequados e entre eles o respeito ao ser humano e a liberdade dos povos.

As idéias liberais e a propagação do conceito de democracias livres, alguns dos frutos imediatos e diretos da cultura iluminista, que pautou pelo domínio da razão, revisou todos os valores que até então norteavam o pensamento humano. 

Esta transformação social tomou conta de toda a Europa alem de, como conseqüência se propagar por todas as colônias que a maioria dos países daquele continente possuía em outras partes do mundo aonde exploravam seus míseros habitantes, exaurindo-lhes todas as riquezas naturais e a maioria das vezes, escravizando-os física ou culturalmente.

Entre os continentes explorados contavam-se as Américas do Norte e do Sul.

Estas idéias também chegaram ao Brasil para se implantar aqui definitivamente com muito suor e sangue, através dos estudantes, filhos de brasileiros e de portugueses, um pouco mais abastados que podiam mandar seus filhos estudarem na Europa especialmente nas faculdades de Coimbra em Portugal, Montpellier na França, e de Londres na Inglaterra além de outras universidades.

Estes jovens ao voltar ao Brasil, não trouxeram apenas seus diplomas de um curso superior, mas trouxeram também um pensamento novo, totalmente liberal, humano, racional de valorização do ser humano em si e essencialmente libertário com relação a sua condição de colônia de Portugal. Instigados por estas idéias e ainda pelos sucessos da Independência dos Estados Unidos em 1776 e pela Revolução Francesa em 1789, nasceu no coração e na mente daqueles jovens um desejo ainda maior de liberdade deste país.

O mesmo fenômeno ocorreu mais ou menos na mesma época em toda a América Latina.

A grande maioria destes moços foi iniciada em lojas maçônicas na Europa. 

Ao regressarem à Pátria iniciaram uma doutrinação lenta e constante que foi aumentando aos poucos culminando com a Independência do Brasil talvez não da maneira em que eles tanto sonharam, ou seja, na forma republicana, mas de qualquer forma, em fim, livres.

A maneira de propagar estes novos conceitos foi a de se reunirem secretamente, já que eram inimigos da Coroa em potencial e também para se precaver contra a repressão das autoridades portuguesas. 

As organizações libertárias eram formadas por maçons e não maçons. Havia inicialmente clubes secretos, academias e pseudolojas maçônicas e outras entidades afins. Ressalte-se que as lojas maçônicas fundadas no final de “século das luzes" especialmente no seu último quarto não eram lojas como as conhecemos hoje, pois atualmente funcionamos com uma ritualística bem definida, em templos ornamentados e bem decorados, com todos os símbolos presentes e em tempo de paz. 

As lojas daquela época eram eminentemente políticas revolucionárias, e eram tempos de revoluções que poderiam acontecer a qualquer momento. 

Acreditamos mesmo que as iniciações não obedeciam ao rigor que seguimos nos tempos atuais.

Como estes agrupamentos se confundiam especialmente quanto as suas denominações, sabemos que os maçons pertenceram a todos eles alem das lojas maçônicas, as quais eram filiados. Faremos uma listagem cronológica destes. movimentos com alguma dificuldade as vezes, quanto às datas de suas fundações, já que existem discrepâncias entre os autores, justamente por falta de maiores informações da época, pois tudo era secreto.

Inicialmente apenas para registrar, mencionaremos uma provável loja maçônica ou organização paramaçônica que existiu, chamada Academia Brasílica dos Esquecidos, fundada em 07.03.1724 e que teria sido a primeira loja maçônica do Brasil segundo alguns autores. 

É muito pouco provável porque não se tem respaldo histórico e documental. 

O primeiro iniciado teria sido o Padre Gonçalo Soares de França e os outros membros da Loja foram o Coronel Sebastião da Rocha Pitta e o Desembargador Caetano de Brito alem de outros filiados. Como esta Loja não teve muita atividade ela adormeceu em 04/02/1725, data esta em que suas atas foram queimadas.

As Lojas ou academias, ou outras organizações que citaremos a seguir, tiveram desde o seu inicio, atividades francamente político conspirativas.

Academia dos Renascidos. 

Fundada em 17.01.1759 em Salvador Bahia. 
A sua divisa era “Multiplicabo Dies”, o seu selo uma Phenix com a inscrição “Ut vivam” Nesta academia reuniam-se intelectuais que falavam de coisas estranhas e se comportavam de maneira diferente. Possivelmente, já estariam usando algum tipo de ritual, sem dúvida.

Sociedade Literária do Rio de Janeiro 

Fundada em 1786 por Inácio da Silva Alvarenga e Basílio da Gama, que segundo os autores era uma loja maçônica disfarçada. 
Era protegida pelo vice-rei de Portugal Dom Luiz de Vasconcelos, membro da Academia de Letras de Lisboa e grande iluminista. 
Foi substituído pelo Conde de Resende, este por sinal inimigo dos iluministas, dissolveu a dita sociedade em 1794.
Domingos Vidal Barboza, um dos inconfidentes teria pertencido a este grupo.

Inconfidência Mineira (1792) 

Talvez o maior movimento pró independência considerado pela História. 
Dela fizeram parte, dois maçons comprovadamente filiados: José Álvares Maciel e Domingos Vidal Barboza. 

Muito embora na realidade este levante tenha sido mais uma conspiração de inconfidentes endividados perante a Corte, a chama da liberdade foi apregoada em todo o seu transcorrer e Tiradentes sem ter sido Maçom é o nosso mito da Independência.

Fundação do Areópago de Itambé 

Pelo Dr. Manuel de Arruda Câmara em 1796. 
Desta instituição nasceu o germe revolucionário de 1817 e também da Confederação do Equador de 1824, sendo que, este último movimento revolucionário ocorreu numa fase em que o Brasil já estava politicamente livre de Portugal 

Muitos destes movimentos estão citados porque existiu alguma coisa, existem registros, houve alguma movimentação, os patriotas tentaram fazer uma revolução, mas em realidade por algum problema não foi levada à ação, sendo que as vezes o movimento morreu no próprio nascedouro. 

Mas com relação ao Areópago, este foi comprovadamente o berço de verdadeiros patriotas e idealistas dispostos a darem a sua própria vida em favor da causa que abraçaram com tanto ardor e que tiveram  sucesso, pois suas idéias prevaleceram finalmente.

O Areópago de Itambé, sociedade secreta criada propositalmente entre a divisa de Pernambuco com a Paraíba, longe dos maiores centros foi a primeira e verdadeira escola de revolucionários do Brasil, onde os ensinamentos foram teóricos, profundos e duradouros. 

Pregavam uma revolução doutrinada que no seu devido tempo iria inflamar a colônia trazendo sua liberdade em forma de república. O Areópago foi dissolvido em 1801, mas deixou a sua marca indelével. Era uma entidade paramaçônica.

Em 14.07.1797 teria sido fundada uma loja maçônica a bordo da fragata francesa “La Preneuse” na Bahia, pelo comandante Larcher denominada “Cavaleiros da Luz” 

Seus fundadores teriam sido: José da Silva Lisboa, Padre Agostinho Gomes, Cypriano Barata, Ignácio Bulcão, Francisco Muniz Barreto, Domingos da Silva Lisboa, José Borges Barros e o tenente Hermógenes de Aguiar Pantoja. 

Hoje, modernamente se rejeita esta possibilidade, pois foi comprovado que tal fragata francesa apenas aproximou-se das nossas costas, mas não foi fundada qualquer Loja a bordo como querem alguns historiadores. Não há registro deste provável evento.

Em 1800 

O Bispo Dom José da Cunha Azeredo Coutinho funda o Seminário de Olinda que também foi um núcleo importante de doutrinação, pois no corpo docente se destacaram os Padres João Ribeiro o Padre Miguel Joaquim de Almeida Castro o “Padre Miguelinho” e Frei José Laboreiro já conhecidos como padres revolucionários e, como tais, puderam influenciar a juventude que estudava no Seminário. 

Mas não era uma loja maçônica. Era uma organização paramaçônica.

Loja “Reunião” ou União” 

Fundada possivelmente em 29/07/1800. em Niterói. 
Esta seria a primeira Loja regular fundada no Brasil, ocasião em que o comandante Landolphe representante do Círculo do Oriente da Ilha de França esteve presente e deu o reconhecimento necessário. através de uma Carta Constitutiva.

Em 1802 

Funda-se em Pernambuco a Academia Suassuna que veio substituir o Areópago e que passou para a história como a “Conspiração dos Suassunas” 
Pretendiam chamar sobre si a proteção de Napoleão Bonaparte. 

Esta conspiração não passou para a diante, pois houve delação sendo os principais lideres do movimento, foram presos. 
Já estava ali, entretanto, a semente do Areópago germinando. 
Foram seus fundadores, os Padres Francisco de Paula Cavalcanti Frei Caneca e Padre Miguelinho.

Em 05.07.1802 

Funda-se a Loja “Virtude e Razão”, na Bahia que seria segundo alguns autores, a sucessora da Loja “Cavaleiros da Luz”.

Em 1804 

São fundadas no Rio de Janeiro as Lojas “Consciência “e “Filantropia”.

Em 1809 

Funda-se em Olinda a Loja “Regeneração”, sendo considerada como a primeira loja regular de Pernambuco. Ela foi fundada pelo Padre João Ribeiro, Padre Luiz José Cavalcanti, Padre Miguel Joaquim de Almeida Castro.

Em 1812 

Funda-se na Praia Grande na freguesia de São Gonçalo a Loja “Distinctiva”.

Em 1812 

Funda-se em Recife a Loja “Restauração”.

Em 1813 

Funda-se na Bahia o Grande Oriente Brasileiro formado pelas Lojas “Humanidade” “Virtude e Razão” e “União”, lojas estas, todas de Salvador, sendo proclamado seu Grão-Mestre Antônio Carlos Ribeiro de Andrada 
Este Grande Oriente teve vida efêmera.

Cita-se em vários livros uma Grande Loja Provincial de Pernambuco formada pelas Lojas “Restauração” ”Patriotismo” e “Guatimozim”, mas não são claras as datas de fundação. 

Estas Lojas teriam sido fundadas a partir de 1812. Juntamente com estas Lojas foram criadas mais duas “Pernambuco do Oriente” e “Pernambuco do Ocidente”.

Os negociantes Antônio Gonçalves da Cruz (Cabugá) e Domingos José Martins teriam fundado as Lojas “Pernambuco do Oriente” e “Pernambuco do Ocidente depois de 1814.”.

Em 1815 

Funda-se no Rio de Janeiro a Loja “Comercio e Artes”.

Em 1816 

É instituída em Olinda a Academia Paraíso, continuadora dos ideais do Areópago de Itambé e da Academia dos Suassunas, fundada pelo padre Miguelinho e o Dr. José Luiz de Mendonça. 
A ela é atraído o espírito liberal do Padre João Ribeiro e ainda vem se ajuntar ao grupo Domingos Martins. Trabalharam no Hospital de Paraíso que Paes Barreto administrava e lá surgiu a Academia do Paraíso. 
Todos os participantes desta Academia, foram figuras importantes na Revolução de 1817.

Nesta mesma época fundam-se outras academias, a saber: Academia de Igarassu, na residência do capitão-mor Francisco de Moraes Cavalcanti e a Academia Universidade Democrática na residência do Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade. Ele foi associado à Academia de Paraíso. Na casa do negociante Antônio Gonçalves da Cruz (Cabula) foi fundada mais uma academia. 
Algumas destas academias depois se transformaram em lojas

Em 1819 

Funda-se o Rio de Janeiro o “Clube Recreativo e Literário da Velha Guarda” por Gonçalves Ledo que durou até 1821.

Em 17 de junho de 1822 

Funda-se no Rio de Janeiro a partir do desmembramento da Loja “Comercio de Artes” mais duas Lojas: “Esperança de Nicteroy” e “União e Tranqüilidade”, o Grande Oriente Brasiliano, era antes de mais nada um clube revolucionário cujos membros iriam influir decisivamente na Independência do Brasil.

Todas estas entidades nominadas, quer seja em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro ou em outros locais havia algo em comum: Maçons e Independência do Brasil de preferência na forma republicana. 

E esta liberdade não foi fácil de consegui-la. 
A luta pela sua concretização durou várias décadas, muito sangue se derramou. Mas ela foi envolvente e aumentou qual uma bola de neve. 
Entretanto, não fosse a obstinação de nossos heróis ela não teria sido conquistada. 
Hoje pouco se conhece sobre este período de ouro da história deste país. 
A maioria destes abnegados que deram a sua vida pela Pátria são pouco conhecidos. 
Só se menciona para uso didático a Inconfidência Mineira e o famoso Grito do Ypiranga. 
Os heróis pernambucanos estão mal lembrados.

Entre tantos heróis e mitos que desfilam perante nossos olhos, aquela máxima histórica que enfatiza que os precursores são quase sempre sacrificados, também acontece eu em Pernambuco.

Dentro do tema proposto escolhemos o nome de um grande brasileiro que nem sempre esteve citado como o principal nos relatos históricos, mas foi sem sombra de dúvida o MENTOR da Revolução Pernambucana de 1817. 

PADRE JOÃO RIBEIRO                          (Pessoa de Mello Montenegro)

Este ilustre brasileiro nasceu em Tracunhaem em 1766. Foi um menino pobre, de origem bastante humilde, porem de uma inteligência rara e alem disso dotado por Deus de um dom fora do comum, para o desenho. 
Graças a este talento, foi descoberto e apadrinhado nada menos por um dos mais importantes pernambucanos “de coração” da época, ou seja, pelo botânico, mineralogista, médico e Frade Carmelita Calçado, sócio da Academia Real de das Ciências de Lisboa, maçom Dr. Manuel de Arruda Câmara (Frei Manuel do Coração de Jesus) nascido em Pombal na Paraíba em 1752 e falecido em 1810, fundador do Areópago de Itambé, em 1796 considerado como o principal PRECURSOR da Revolução de 1817.

Evidentemente João Ribeiro não teria as mínimas chances de progredir em sua vida, caso não fosse pinçado do meio em que vivia pelo Dr. Arruda Câmara. 

João Ribeiro mostrou-se um verdadeiro artista desenhando as plantas e minérios para seu Mestre. 

Acompanhou o seu mecenas por todas as partes do país em suas pesquisas científicas, auxiliando-o com seus desenhos fiéis e perfeitos. 
Dada a sua dedicação o Dr. Arruda Câmara deu o nome da arvore da mangabeira de Riberia Sorbilis 
Tornou-se o seu amado discípulo e seu sucessor com relação às idéias de liberdade, alem de seu confidente.

Graças a sua inteligência o acervo que conhecimentos que foi adquirindo foram muito grandes. Participou da criação do Areópago de Itambé, sendo um dos seus fundadores, mas, nesta época ainda não havia sido iniciado na Maçonaria. 

Somente chegou a ver a luz em 1807 em Lisboa, juntamente com os Padres Miguel Joaquim de Almeida Castro (Padre Miguelinho) e o Padre José Luiz Cavalcanti, aliás, este último, sugeriu-lhe posteriormente a fundar uma loja no Engenho Paulista nas imediações de Olinda, a qual levou o nome de “Regeneração” a qual teria sido a primeira loja regular de Pernambuco.

O Padre João Ribeiro quis ser ordenado sacerdote. Para tanto se matriculou no Seminário de Olinda, onde lecionou por certo tempo, para posteriormente matricular-se no Colégio dos Nobres em Lisboa.

Para conseguir transferir-se para Lisboa, valeu-se da amizade que o Dr. Arruda Câmara tinha com o Bispo José Joaquim da Cunha de, Azeredo Coutinho, que era Bispo de Olinda, nascido em Campos, maçom grau 33, fundador do Colégio de Olinda que o encaminhou com muitas recomendações para Portugal onde acabou por se ordenar sacerdote e também conhecer os mistérios da Sublime Ordem.

João Ribeiro era uma pessoa afável, bastante erudito, conhecia as ciências físicas, e filosofia. 
Era cortês e bondoso, amigo dos pobres e desvalidos. O povo o idolatrava, queria-o tão bem como se fora um iluminado. 
Ele era um admirador da filosofia do maçom francês Condorcet pertencente à Loja “Nove Irmãs”, mas mesmo assim era um religioso assumido. 
O seu prestígio social e político que ele foi um dos componentes do Governo Provisório quando eclodiu a Revolução. 
Ele não tinha ambições, era antes de tudo um revolucionário puro e que queria ver os direitos humanos respeitados.

“Arruda Câmara faleceu em 02.10.1810 e deixou uma carta para João Ribeiro onde ele menciona uma obra secreta que deveria ser enviada para a América Inglesa por ela conter coisas importantes que não convém o feroz despotismo ter dela o meu conhecimento” e ainda refere na mesma carta ”remete logo a minha circular aos Amigos da América Inglesa e Espanhola, sejam sempre unidos com esses nossos irmãos americanos porque tempo virá de sermos todos um, e enquanto não for assim, sustentem uns aos outros”.

Em 1811 

João Ribeiro teria ficado sob a proteção do Governador de Pernambuco Caetano Pinto, quando se fundou em Olinda o Horto destinado ao cultivo de plantas indígenas e plantas exóticas vindas da Ásia e Oceania, tais como fruta-pão, pimenta do Malabar, muscadeiras, girofeiros, lilases, caneleiros, corais da Índia, cacaueiro e a cana caiana. 
O Governador escolheu João Ribeiro, mas a Corte não lhe deu razão, nomeando um outro padre de origem francesa.

A Revolução de 1817 

Foi totalmente de caráter liberal e republicana. 
É necessário frisar que Pernambuco vinha mostrando características regionais especiais próprias dentro da nossa História, pois pelo fato de ter expulsado os holandeses e mesmo a “Guerra dos Mascates” de 1710, fez com que os pernambucanos se contaminassem mais cedo que as demais partes da colônia com os desejos de autonomia e nacionalismo. 
A Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa vieram ainda mais atiçar os sentimentos libertários.

O Areópago de Itambé foi o reinicio dos sentimentos de liberdade.

Em 1816 

A situação econômica na região não era nada boa. 
A vinda da Família Real trouxe problemas, com um aumento abusado de impostos. 
O algodão e o açúcar estavam com sua produção abaixo que nos últimos dez anos. 
Esta crise fez com que as idéias revolucionárias aumentassem ainda mais e fossem bem aceitas.

O planejamento do levante, também chamado por alguns como a Revolução dos Padres, já que havia cerca de setenta padres envolvidos foi feito através de sucessivas reuniões na residência do patriota maçom Domingos José Martins, nascido no Espírito Santo e radicado em Pernambuco desde 1814. 
As sociedades secretas incendiando as opiniões. Revolução marcada para o dia 05.04.1817. Governador Caetano Pinto informado, não tomou providências imediatas. 
Porem, vendo o movimento crescer manda prender várias pessoas citadas como conspiradores: Domingos José Martins, Antônio Gonçalves da Cruz, Padre João Ribeiro, o cirurgião Guimarães Peixoto, os militares Domingos Teotônio José de Barros Lima (Leão Coroado), Pedro da Silva Pedroso, José Mariano de Albuquerque Cavalcanti, Antônio Henriques Rabelo e Manuel de Souza Teixeira.

Dia 06 de Março de 1817 

No quartel houve um incidente que precipitou o início da Revolução. 
Quando foi dada a voz de prisão pelo comandante o brigadeiro Joaquim Barbosa de Castro ao capitão José de Barros Lima, este reagiu transfixando seu superior com um florete matando-o. 
Estava deflagrada a Revolução de 1817.

A seguir os revoltosos soltam da cadeia, os presos civis. O Governador capitula e refugia-se na Fortaleza do Baron, mas tem permissão para partir para o Rio de Janeiro.

É organizada uma Junta Governativa Provisória. Fazem parte dela os seguintes cidadãos: Domingos José Martins, José Luiz de Mendonça, Domingos Teotônio Jorge e o Padre João Ribeiro. 
Adotaram o sistema republicano de governo, adotaram uma bandeira e elaboraram uma lei orgânica, considerada como a primeira constituição no Brasil redigida por brasileiros. 
Segundo alguns autores o autor desta lei orgânica teria sido o Frei Caneca. 
O movimento se alastra para as capitanias vizinhas. Mas as dificuldades começam. 
Os emissários enviados aos Estados Unidos, Inglaterra e Rio da Prata não foram bem sucedidos. Foram-lhe negadas armas. 
O Padre Roma tentando entrar na Bahia para aliciar os baianos, é preso por ordem do Conde de Arcos e sumariamente fuzilado. 
A repressão começa para valer. 
Os revoltosos vão sendo derrotados e executados Padre Miguelinho, Domingos José Martins e tantos outros. 
O Governo imperial torna-se senhor da situação. Conseguem apesar de presos se safar com vida, o Frei Caneca, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva, irmão carnal de José Bonifácio, Francisco Muniz Tavares alem de outros. 
Mas, a grande maioria dos revoltosos foi passada pelas armas, após terem sido torturados. O Bispo Azeredo Coutinho não sofreu punições de qualquer espécie.

O Padre João Ribeiro, talvez o mais inflamado dos revoltosos, vê com pesar e sofrimento ruir por terra todo o seu sonho, de um Brasil livre. 
Ainda não era chegado o momento. 
Na noite de 19 para 20 de maio os revoltosos abandonam Recife. dirigindo-se para o norte. 
João Ribeiro determina acabar com sua própria vida. Dirigiu-se para o Engenho Paulista, próximo a Olinda e ingere uma porção de veneno, que trazia consigo, mas este não teve o efeito desejado. 
Então com auxilio de uma corda enforcou-se na própria capela do engenho. 
O proprietário do engenho mandou enterrar o corpo do padre no chão da própria capela. 

O general português Cogominho de Lacerda, mandou desenterrar o cadáver do suicida, e decepou-lhe as mãos.
A cabeça foi enviada ao Governador Rodrigo Lobo que determinou que ela fosse exposta no Pelourinho.

Os estudiosos da história da Maçonaria brasileira deveriam estudar melhor o papel destes padres maçons, revolucionários, que formaram uma frente poderosa como precursores da independência do Brasil. Quase não se fala neles e eles foram importantes. (Londrina, 29.03.96)

Hercule Spoladore - Loja de Pesquisas Maçônicas “BRASIL”

BIBLIOGRAFIA

AARÃO, Manoel “História da Maçonaria no Brasil”.
CASTELLANI, José “Os Maçons que fizeram a História do Brasil” , Editora “A Gazeta Maçônica” São Paulo
DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DO BRASIL. Editora Melhoramentos, São Paulo, SP.  1976, 4ª ed.
ENCICLOPÉDIA HISTÓRICA DO BRASIL - vol. III. Block Editores. Rio de Janeiro - RJ
GRANDE ENCICLOPEDIA DELTA-LAROUSSE. Editora Delta, S.A. Rio de Janeiro - 1973
FAGUNDES, Morivalde C. “A Maçonaria e as forças secretas da Revolução”. Editora Aurora - Rio de Janeiro
MARTINS, Joaquim Dias “Os Mártires Pernambucanos”.
TAVARES, Francisco Muniz “História da Revolução Pernambucana de 1817”. Editora Governo do Estado de Pernambuco- Recife - 1969
PROBER, Kurt “Cadastro Geral das Lojas Maçônicas do “Brasil". Editora IBM do Brasil - Rio de Janeiro–1975

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