Já faz tempo que eu observo o tempo e vejo que o tempo não nos dá tempo de aproveitarmos o tempo.
O tempo parece ter pressa e vai levando tudo com ele, deixando para trás as suas marcas com a gente e o título de idoso.
Deixa-nos com corpo e alma cheios de marcas de cansaço.
Além de deixar para trás uma alma ferida, deixa, também, para o idoso um pacto com a solidão.
É exatamente assim: com o tempo os amigos se distanciam, o celular não toca, as visitas ficam escassas.
Somente os filhos que aparecem uma vez por mês para almoçar com o pai idoso.
Esses chegam felizes e cantantes, fazem um lauto churrasco para o almoço, cujo pai não pode comer por falta de dentes, e se vão, logo depois.
Não há pernoite porque as noras não gostam de ficar fora de sua casa, à noite, e os genros não ficam porque sentem-se incomodados com os tossidos do idoso.
Aí, tudo volta à doída rotina: a solidão.
A solidão machuca muito o idoso.
E mais do que as suas dores e as suas limitações físicas, a velhice, ainda, nos apresenta a certeza de como somos insignificantes, fora de nossa fase produtiva.
Isso independente de quão importante e poderoso tenhamos sidos.
Nós, simplesmente, valemos muito pouco ou nada.
Já foi dito que outrora, a velhice era uma dignidade; hoje, ela é um peso.
Wenceslau da Cunha
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