Assim como no conto de Branca de Neve, a madrasta malvada da história pode representar a maneira como a criança pequena compreende os afetos.
A mãe, ao invés de ser percebida como um só ser com qualidades e defeitos, é sentida ora como alguém que provoca raiva, inveja e que nem sempre atende aos desejos infantis e ora como ser bondoso, acolhedor e amável.
Por sua vez, as irmãs postiças – de forma semelhante ao que acontece com a madrasta – podem simbolizar a parte egoísta e cruel da personalidade infantil, em oposição à parte virtuosa, representada pela heroína Cinderela. Esta dicotomia auxilia na compreensão dos afetos separadamente, enquanto não é possível integrá-los de maneira mais complexa.
A imagem materna positiva – que se contrapõe à madrasta – aparece na história no personagem da fada madrinha.
A amorosa criatura auxilia Cinderela nos momentos de dificuldade e dá a ela condições para que possa participar do baile onde conhecerá seu príncipe. Dito de outra forma, a fada oferece os recursos necessários à menina para que ela se desenvolva afetiva e socialmente.
Assim como Cinderela, qualquer criança precisa de uma base fundamental de afeto para ser capaz de se relacionar.
O sentimento interno de confiança no outro e de disposição para estabelecer ligações afetivas provém das primeiras experiências amorosas com os cuidadores, mais especificamente com aquele que cumprem a função materna. Também são estas vivências que darão subsídios para que a criança sinta-se fortalecida para lidar com situações difíceis a partir de meios próprios. Na narrativa, a fada pode representar inclusive a possibilidade de acessar estes recursos.
Pensando desta forma, o final feliz da história, em que o príncipe consegue encontrar Cinderela por meio do sapatinho de cristal, só acontece em virtude da disposição interna saudável da garota.
O “pé” pode ser pensado como aquilo que nos põe em contato com o chão, ou seja, com a realidade e com a terra (um dos mais significativos símbolos maternos).
Assim, é a partir dele que a relação entre o príncipe e Cinderela torna-se possível.
Você já havia pensado neste conto desta maneira? Já havia refletido sobre ele?
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