História da Cinderela

(ou A Gata Borralheira)


Carolina Marcello
Carolina Marcello
 
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.


A história da Cinderela, também conhecida como Gata Borralheira, é um conto de fadas extremamente popular. Podemos mesmo afirmar que esta narrativa é uma das mais famosas de sempre e até que ela tem influenciado a forma romântica como vemos o mundo.

Trata-se de uma história de amor à primeira vista, que também de temas complexos como a negligência e o abuso familiar. Apesar de todos os obstáculos, Cinderela continua sonhando e encontra a felicidade no final.

O conto de fadas ilustra o poder salvífico do amor e transmite as ideias de fé e esperança, lembrando que nossas vidas podem mudar num passe de mágica.

Cinderela: resumo da história

Introdução

Cinderela era uma menina órfã de pai e mãe que ficou sob a guarda da madrasta, uma mulher cruel, que governava a casa com a ajuda da suas duas filhas.

Entre as garotas e a protagonista não existia qualquer ligação de carinho: pelo contrário, elas invejavam a sua beleza e a humilhavam.

Conhecida como "Gata Borralheira", a jovem vestia roupas velhas e tinha que fazer todo o trabalho da casa, sendo excluída de todas as outras atividades. Com uma vida bastante solitária, ela apenas podia contar com os animais da região, que surgiam para animá-la.

Um dia, o Rei anunciou que daria um baile onde o Príncipe iria procurar a sua futura esposa e ordenou que todas as moças solteiras deveriam comparecer.

Com o auxílio dos animais, Cinderela fez um vestido com retalhos para usar no baile. As três mulheres, intimidadas pela imagem deslumbrante da menina, acabaram rasgando a roupa, para impedir que ela fosse à festa.

Desenvolvimento

Sem nada para vestir, a "Gata Borralheira" se recolheu no seu quarto, chorando e desejando que algo maravilhoso acontecesse. Foi aí que surgiu uma figura inesperada: uma mulher mais velha, que anunciou ser a sua Fada Madrinha e ter chegado para ajudá-la.

A Fada, agitando a sua varinha, vestiu e arrumou Cinderela da forma mais elegante, fazendo até surgir sapatinhos de cristal nos seus pés. Em seguida, fez aparecer uma carruagem e transformou os animais que acompanhavam Cinderela em empregados.

No final disso tudo, colocou apenas uma condição: a jovem deveria voltar para casa antes da meia-noite porque nesse horário os efeitos da magia terminariam.

Chegando na festa, a "Gata Borralheira" estava irreconhecível e todos pensavam que se tratava de uma princesa desconhecida. Assim que o Príncipe viu a moça, ficou arrebatado pela sua imagem e a puxou para dançar.

Nessa noite, um clima de romance foi crescendo entre os dois que conversaram e riram durante horas. De repente, Cinderela percebeu que estavam prestes a soar as doze badaladas do relógio e teve que sair correndo.

No caminho, ela acabou perdendo um dos seus sapatos de cristal, que o Príncipe guardou, já que era a única pista sobre a identidade da moça.

Conclusão

A partir desse momento, o Príncipe dedicou todos os seus esforços na busca daquela mulher, declarando que todas as jovens da região deveriam experimentar o sapato de cristal. Embora muitas tenham tentado fingir que eram as donas do objeto, o sapato mágico nunca servia nos seus pés.

Quando a comitiva real chegou na casa de Cinderela, a madrasta a trancou no sótão, para que só as suas filhas fossem apresentadas ao Príncipe. Mesmo com muito afinco, nenhuma conseguiu calçar o sapato. Foi aí que perceberam que a "Gata Borralheira" estava em casa e mandaram chamá-la.

Assim que ela chegou, o Príncipe reconheceu a jovem com quem tinha dançando e quando Cinderela foi experimentar o sapato, era a medida perfeita para o seu pé.

Depois do reencontro, Cinderela e o Príncipe se casaram e se mudaram para o castelo, onde governaram e viveram felizes para sempre.

A verdadeira história da Cinderela: origens do conto

Assim como outros contos de fadas, a história da Cinderela tem centenas de versões diferentes e parece ter sido influenciada por várias narrativas de origens diversas.

Uma das primeiras variantes da história surgiu na China, em 860 a.C. Depois, na Grécia Antiga, Strabo (63 a.C. - 24 d.C.) escreveu sobre uma escrava forçada a casar com o rei do Egito. Essa personagem também parece ser uma versão inicial da "Gata Borralheira".

Já no século XVII, na Itália, existia um conto popular semelhante que parece ter inspirado a versão publicada por Giambattista Basile em 1634.

Algumas décadas depois, o francês Charles Perrault, apontado como o "pai da literatura infantil", escreveu a variante que se tornou mais conhecida entre o público.

Já no século XIX, os incomparáveis irmãos Grimm, verdadeiras autoridades em matéria de contos de fadas, também escreveram a sua versão. Bem mais sombria, nesta história não existia a presença mágica da Fada.

Pelo contrário, quando escutam o choro de Cinderela, são as próprias pombas que partem em seu socorro. Perante o sofrimento da menina, as aves voam em bando na direção das irmãs cruéis e acabam furando os seus olhos com bicadas.

Ao longo do tempo, a história de Cinderela continuou sendo contada de várias maneiras. Em alguns registros, por exemplo, não é uma Fada que surge mas o espírito da mãe da garota que desce dos céus para auxiliá-la.

O que significa a história da Cinderela?

Ainda que a narrativa da Cinderela faça parte da nossa infância, é curioso pararmos para pensar e questionarmos a razão que está por trás de toda esta popularidade. O conto fala de amor e o do seu poder incalculável, capaz de transformar a nossa realidade inteira em apenas um segundo.

No entanto, a história não se resume a essa perspectiva romântica, falando também de relações familiares abusivas, injustiça e discriminação, entre outros temas atemporais.

Apesar da vida dura que leva, a protagonista ainda se permite sonhar, ter esperança e confiar na magia do mundo. A fábula da Gata Borralheira é, por isso, uma história de superação que atravessou os séculos.

Bruno Bettelheim foi um psicólogo norte-americano que estudou a simbologia dos arquétipos neste tipo de narrativas, incluindo no conto da Cinderela. 

Na obra A Psicanálise dos Contos de Fadas (1976), o autor explicou o seu significado:

Borralheira, como a conhecemos, é uma estória onde são vivenciados os sofrimentos e as esperanças que constituem essencialmente a rivalidade fraternal, bem como a vitória da heroína humilhada, sobre as irmãs que a maltrataram.







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