A igualdade não admite diferença alguma entre aqueles que são iguais.(Aristóteles


Em todas as ciências e em todas as artes o alvo é um bem; e o maior desses bens acha-se principalmente naquela dentre todas as ciências que é a mais elevada; ora, essa ciência é a política, e o bem em Política é a Justiça, isto é a utilidade geral. 

Pensam os homens que a justiça é uma espécie de igualdade e concordam, até um certo ponto, com os princípios filósofos que expusemos em nosso tratado de moral. 

Nele explicamos o que é a justiça e a que ela se aplica; e dissemos que a igualdade não admite diferença alguma entre aqueles que são iguais.(Aristóteles, A Política, pág. 64)

O símbolo da Justiça é uma balança, portada por uma mulher de olhos vendados. 

A balança tem dois pratos em perfeito equilíbrio. Esse nivelamento dos pratos da balança indica-nos, com clareza que a justiça é uma relação de causa e efeito. 

O desequilíbrio dos pratos só ocorre quando alguém, dominado pela ignorância, pelo ódio ou pela ambição, pratica ações que ferem princípios da verdade ou da ética.

A mulher de olhos vendados exprime uma simbologia perfeita, pois indica que a justiça é cega e deve ser aplicada com correção: “A Deus e o que é de Deus e a César o que é de César”. Aí está – o suum cuique dos ramos (a cada um o que é o seu).

Para que se possa ter uma idéia exata do que seja justiça, nada melhor que nos aprofundarmos nos ensinamentos de Aristóteles.

Ao apontar as virtudes éticas – sinceridade, amabilidade, brandura, pudor, urbanidade – Aristóteles se refere à justiça nesses termos: “Mas incomparavelmente mais importante é a justiça, cujo significado primário e mais geral é de obediência às leis; e, pois, que as leis ordenam o bem da comunidade civil e as virtudes que tal bem promovem, e proíbem as más ações, assim no seu mais amplo sentido, pode-se dizer que a justiça abarca todas as virtudes, e que ela é a virtude ótima e perfeita: perfeita porque quem a possui pode usar da virtude não só nas coisas próprias, senão também com respeito aos outros todos”.

Sempre que se levanta a questão que envolva a justiça, encontramo-nos diante de um duplo aspecto: mistério e problema.. Mistério porque a justiça envolve uma série de sutilezas, pendendo o sentido da coisa em si ou da realidade exata. Problema, porque se há de preservar a verdade, aplicando-se ou não a justiça.

Não podemos deixar de lado o mistério, uma vez que a aplicação da justiça, em grande parte das vezes, traz conseqüências nem sempre de acordo com os princípios que devem reger a aplicabilidade dessa virtude.

É de se ver que, em filosofia, o termo mistério está longe de significar algo contraditório. A inteligência se volta sempre de maneira resoluta na busca de decifrar algo que se apresente com um “quidem” misterioso.

A própria inteligência, por acaso, não é algo que envolve mistério? O objeto do conhecimento não é o mistério elevado a um estado de inteligibilidade?

Sempre que se busca aplicar a justiça, o objetivo central não é o Ser? Por isso mesmo é que o filósofo Jacques Maristain, na sua obra Sete lições sobre o Ser, faz a seguinte indagação:

”E o Ser não é um mistério, ora porque é rico demais em inteligibilidade, puro demais para a nossa inteligência, como nas coisas espirituais, ora porque comporta em sim mesmo uma maior ou menor resistência à inteligibilidade, o testemunho em si do não-ser, como é o caso do devir, da potência, antes de tudo, da matéria?”.

Por ventura, perguntamos nós, a má aplicação da justiça por aqueles que têm obrigação de bem aplicá-la, não e também um mistério?

Normalmente, quando se estuda um termo na busca de maior entendimento de sua significação, podemos esbarrar com dificuldades para alcançar o seu verdadeiro sentido semântico.

Nesse sentido, as palavras que causam maiores dificuldades não nos permitindo fazer uma definição clara e objetiva, são os abstratas. A maioria é realmente indefinível. Não somos nós que o afirmamos.

Se buscarmos a opinião de Kant, em a Crítica da Razão Pura encontraremos o seguinte:

“Como indica a própria palavra, definir só deve propriamente significar tudo quanto apresentar originariamente, dentro de seus limites, o conceito minucioso de uma coisa. Segundo uma tal exigência, um conceito empírico de modo algum pode ser definido, mas sim unicamente explicitado”.

O certo é que a palavra justiça engloba algo de tão extraordinária contextura que a, nosso ver, não admite definição. 

A idéia de justiça, por mais que queiramos, não se apresenta com clareza à nossa inteligência. De nada adianta o uso de palavras bonitas, metáforas extravagantes ou o uso de circunlóquios, para que alguém consiga explicar com clareza o que seja justiça.

Talvez, por causa dessa dificuldade, já entre os filósofos da Hélade a palavra justiça merecia uma atenção toda especial. 

O primeiro filósofo que procurou engrandecer não só o sentido da palavra justiça, como da própria justiça em si, foi Sócrates

Haja vista que uma das características essenciais de sua pregação filosófica era não admitir que as leis fossem desobedecidas. E provou que não falava por falar, pois quando foi injustamente condenado à morte e lhe ofereceram uma oportunidade para fugir de Atenas, negou-se a fazê-lo, afirmando que se assim o fizesse estaria desmentindo tudo o que se pregara na vida.

O certo é que justiça é algo imaterial, portanto, não comporta partes, não comporta divisões. Ela se reduz a si mesma, mas é movida no que diz respeito aos meios, na medida em que é aplicada.

Entremos agora em nosso ambiente maçônico, onde se poderia supor que a justiça fosse de caráter permanente. Contudo, muitas e muitas vezes isto não ocorre.

Nada existe que se possa comparar à justiça que, segundo Aristóteles, é a maior de todas as virtudes. 

Isto posto, podemos concluir que nada existe pior que a injustiça.

A injustiça se aplica de varias maneiras.

No meio Maçônico, uma das mais comuns é a falta do cumprimento do dever.

A Maçonaria quer que seus afiliados cresçam em virtude e em sabedoria. 

Portanto, o maçom que não busca sua melhoria, deixando de desbastar a “pedra bruta”, jogando fora os defeitos e aprimorando as virtudes que traz consigo, está cometendo uma tremenda injustiça contra si próprio.

Aquele que não estuda, que é infreqüente aos trabalhos de sua Oficina, também é injusto consigo mesmo, uma vê que não desfrutará dos benefícios que o estudo e a participação lhe proporcionariam e, sobretudo, porque não está cumprindo o que, de livre e espontânea vontade, prometeu quando de sua Iniciação.

A Loja é injusta, queiramos ou não, quando proporciona “aumento de salário” a Aprendizes ou Companheiros sem que eles mereçam. 

É direito de eles receberem instruções claras e bem ministradas a fim de que possam crescer cultural e espiritualmente.

Vamos repetir o que escrevemos em um dos nossos livros: “O maçom deve ter a justiça como um hábito, que poderíamos classificar como uma virtude moral, o que proporcionaria ao TODO maçônico  benefícios sem conta”.

Em vez de querer conceituar a justiça, o melhor que faríamos seria buscar os meios e os modos de praticá-la sempre, não só com os outros, mas também com nós mesmos.



Loja Pelicano, 233
GLESP – Or.’. de São Paulo

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