“Deus tirou a Natureza do vazio pela virtude de seu Verbo, o qual ele havia engendrado há muito tempo. Ele quis, e o Verbo engendrou um vapor, um nevoeiro ou uma fumaça imensa, e ali imprimiu sua virtude, isto é, um espírito pleno de força e potência. Esse vapor se condensou em uma água que os Filósofos nomearam universal e caótica, ou simplesmente o caos, é dessa água que o Universo foi formado: é ela que foi, como ainda é e será sempre, a matéria-prima de todas as coisas naturais [..]
Enfim, entre o céu e a terra nós só vemos vapores, fumaça e água, que, levadas pelo calor central da terra, se sublimaram e subiram de nossa esfera composta de terra e de água para a região do ar; e se pudéssemos perceber as sutis emanações ou os vapores sutis dos céus, veríamos suas influências, que descem de cima para baixo, se misturarem e se unirem com os vapores terrestres que se sublimam no alto; mas, se não podemos vê-los por causa da fraqueza de nossa visão, devemos concebê-los por meio de nosso espírito, em seguida torná-los palpáveis pela prática da Alquimia, e sentir que tudo o que acontece no microcosmo também acontece no macrocosmo, e que o que está em cima é como o que está embaixo [...].
Não podemos ir de uma extremidade à outra sem passar pelo meio.
Esse axioma dos Filósofos é e sempre será verdadeiro, e os Artistas devem realmente aprendê-lo; pois existe uma infinidade deles que erram, por não observar e não considerar esse ponto essencial o suficiente.
De fato, o céu só poderia se reduzir em terra por meio da água e do ar, e a terra não pode jamais se tornar céu, sem a água e o ar, como coisas médias entre o céu e a terra, assim como o céu muito dificilmente se reduzirá em água, sem o ar, e a terra só se tornará ar por meio da água.
O céu é sutil, puro, claro e muito volátil, a terra, ao contrário, é grosseira, espessa, tenebrosa e muito fixa, e se alguém empreendesse unir e fixar o céu, que é muito volátil, à terra, que é muito fixa, ele jamais conseguiria; mas o muito volátil voaria ao mínimo calor, e retornaria ao seu caos, abandonando o fixo.
Que um Artista tenha, portanto, sempre esse ponto diante dos olhos, isto é, saber que nunca, em qualquer tipo de coisa, o muito sutil e o muito fixo se deixam ligar e unir, sem seu meio conveniente; de outra forma ele perderá sua matéria, seu tempo e seus gastos.
Assim, quem quer que deseje reduzir o céu ou o fogo em terra, deve uni-los antes com seu meio, e então eles se unirão no mesmo instante; ao passo que, sem isso, seria necessário, por assim dizer, quase uma eternidade para uni-los.
Faça descer o céu no ar, como seu meio, eles se unirão sem combate, porque ambos são de uma natureza sutil: assim que estiverem unidos, dê-lhes água, como um meio entre o ar e a terra, eles se unirão no mesmo instante; em seguida dê-lhes a terra, dessa maneira a união se fará por graus intermediários convenientes, descendo de um grau muito sutil a um sutil, de um sutil a um mais espesso, deste a um muito espesso, e não imediatamente de um muito sutil para um muito espesso.
Ao contrário, reduza a terra em ar pela água ou por meio da água, a água em ar pelo ar, e este em céu pelo céu, pois todos são uma mesma coIsa, quanto à sua matéria e à sua origem, por isso um deve ser a ajuda e o condutor do outro, e devemos preparar um por meio do outro [...].
Observando todas essas coisas é que conheceremos o superior e o inferior de Hermes, a corrente de ouro de Homero, o anel de Platão, e que seremos convencidos de que uma coisa se transmuta em outra e se torna, pela vicissitude das coisas, a mesma ou semelhante àquela que ela foi anteriormente.”
Anton Joseph Kirchweger - Aurea Catena Homeri. 1772.
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