A BUSCA
Na maçonaria entramos pequenos, em trevas e assustados. Crescemos, somos inundados de luz e sentimos júbilo.
Entramos egocêntricos e somos infundidos por amor.
É um grupo que constrói, que fascina, que nos traz um testemunho que cresce através do tempo e nos indica um caminho que pode levar à sabedoria.
Independentemente do Rito ou Potência, progredimos por etapas que nos preparam para uma ascenção, para a expansão da consciência, através da reflexão.
Nesta reflexão procuramos respostas para os problemas que todo ser humano dissimula para si mesmo: o sentido da vida, o sentido da morte e a imortalidade da consciência.
As respostas a estas questões formaram uma tradição que vem se firmando através de nosso estudos – bem diferentes daqueles que as ciências e as filosofias possam nos mostrar.
As reflexões sobre questões tão transcendentais foram armazenadas pelas várias gerações de Irmãos que nos antecederam, e cada um em sua época histórica deixou seu legado com sua própria visão e entendimento.
Esse conhecimento, portanto, é uma herança da mais alta espiritualidade, que não pode e não deve ser desprezado ou considerado com pouco caso.
Agora, nós também estamos deixando nosso legado.
Quer queiramos ou não, seremos -inevitavelmente- julgados pelos nossos posteriores por nossas ações e comportamentos, pelo que fazemos ou deixamos da fazer, pois o homem percebe rapidamente as relações que existem entre as coisas.
Quais as luzes que esperamos receber? Quais as que podemos dar?
Basta um pouco de observação para avaliar a ignorância humana.
Apesar de todo magnífico avanço tecnológico -as vezes assustador- , a humanidade continua presa aos seus parcos sentidos, frágeis percepções que são filtradas por um intelecto precário.
Insegura nas percepções, equivocada nas interpretações, a humanidade ainda caminha por um mundo onde cada som, cada cor, cada forma é uma ilusão.
Acomodando-se nesse grande panorama de ilusões, satisfaz-se com as aparências e abraça tenazmente o que elegeu como verdade, consolidando seu orgulho obstinado, sem progresso, nem luz.
Esforçamo-nos com empenho para tornarmos o mundo inteligível e na realidade criamos mais relações entre as coisas do que nos dedicamos a conhecer as próprias coisas.
Estaremos observando a harmonia do Todo, procurando num processo de simbiose interiorizar a maravilha da Natureza e do Universo e ter consciência de que fazemos parte desse Todo? ou estaremos apenas criando uma imagem inteligível para nosso intelecto, sendo, portanto, um reflexo e não a própria essência?
Nessa construção mental, que por vezes resulta num conjunto de processos que dão certo, não raro ficamos envolvidos num emaranhado de ordenações simbólicas ou religiosas sujeitas sempre a padrões estabelecidos e estruturados num rigor permanente e inflexível. Com certeza esquecemos que simbolismo e mesmo citações bíblicas são parâmetros que devem nos nortear e auxiliar a descobrir verdades veladas aos olhos comuns.
O que vemos num Templo maçônico? o que compreendemos de nossos rituais?
Toda evolução espiritual ou moral inicia quando o ser humano toma consciência da imperfeição do conhecimento obtido apenas pelo seu intelecto e sentidos.
A percepção -o que sentimos- é realizado pela consciência da diferença entre o objeto e eu.
Portanto, a percepção é o terceiro ponto resultante do objeto e o eu.
Toda percepção é o vértice superior de um triângulo cuja base acarreta a própria percepção, portanto, vemos que a mente humana só apreende diferenças.
O mundo da manifestação ou mundo objetivo, portanto, só é discernível por uma triangulação efetuada pela mente.
Assim, tudo o que existe para o homem é duplo em natureza e triplo na manifestação.
Toda visão humana do mundo está sujeita ao triângulo.
Assim, nenhuma impressão nos ocorreria num mundo onde todas as partes fossem idênticas, por exemplo, não teríamos consciência de um aroma no qual vivêssemos permanentemente.
O homem só percebe o Universo que é regido pelo nº 3.
Ele é a chave de sua codificação.
Nosso sistema sensório só percebe as diferenças.
Se não fossem as diferenças, como seria para nós o Universo?
Se abolíssemos toda percepção das diferenças seríamos espectadores de um Universo indiferenciado.
O que seriam então as realidades? Teríamos ultrapassado as realidades? Estaríamos em face do Verdadeiro?
Todos desejamos ardentemente que as realidades sejam duradouras e assim queremos fixar tudo com que temos contato: fortuna, amigos, conhecimento. Buscamos riqueza, apegamo-nos às honrarias e tornamo-nos, por vezes, obstinados com aquilo que acreditamos que sabemos. Somos ansiosos em ter, suplantando o ser.
Nesse transcorrer de nossa existência, vemos e não tomamos -ou não queremos tomar- consciência que tudo que é visível desagrega-se e desaparece.
Assim, acabamos montando nossas vidas num presente mecânico, perseguido pelo passado e temerosos do futuro.
Nos agitamos no meio de cores, sons e formas e nem sequer nos preocupamos em saber qual é a força única que está por trás de todas essas impressões dos sentidos, e muito menos percebemos que há uma Intenção diretora que talvez seja a energia primeira. Não precisamos rotular ou dar nomes, mas compreender!
Então, o Universo apresenta-se não como uma grande máquina, mas sim como uma grande Consciência.
Poderia ser o Universo um campo de Consciência? O que vemos num Templo Maçônico?, o que compreendemos de nossos rituais? Que Irmãos foram esses que nos legaram a possibilidade de compreender o Universo, qual nosso papel como unidades viventes com consciência, através de toda essa simbologia manifesta nos Templos e na dinâmica dos Rituais?
As chaves estão aí, à disposição de todos que são aceitos pela Ordem Maçônica, não pelos Irmãos ou pelas Leis que nos regem, mas pela Egrégora formada por todas as mentes afins.
A Maçonaria hoje, é antes de tudo uma escola de comportamento, fixa-se na boa conduta, na construção moral da Humanidade.
Mas para agirmos, temos que mudar, para mudar é preciso compreender, para compreender é preciso refletir, para refletir é preciso conhecer.
E a possibilidade do conhecimento está para nós, no Templo com a simbologia e nos Rituais.
Nosso conhecimento vem da antiga Tradição.
Se estudarmos sem preconceitos (pré-conceito, suposto pré-conhecimento) nossos rituais e simbologia, verificamos que preservam ensinamentos esotéricos que remontam ao antigo Egito, Pérsia, Grécia, Oriente, que foram preservados da turba iletrada precisamente por saber-se que esta, em suas condições de ignorância e carência de educação, não poderia compreender as verdades profundas do Homem, da Natureza e de Deus.
Se retrocedermos às origens de toda Tradição, – não a Maçonaria constituida como organização – verificamos que o conhecimento primordial adquirido pelos homens que almejavam a elevação da humanidade, apareceram em todas as épocas.
Evidências históricas podem ser encontradas em todos os grupos, seitas, ordens, místicos, religiosos, ao longo dos séculos e milênios.
Ao estudarmos esses grupos obteremos delineamentos satisfatórios através do misticismo oriental cabalístico, hermético, pitagórico e gnóstico que resguardaram suas doutrinas através dos símbolos que se assemelham com uma relação que pouco diferem entre si.
Esses grupos abrigavam em seu meio, homens que buscavam o auto-aperfeiçoamento, que tivessem a capacidade de especulação científica, amplitude do horizonte mental e dedicação a ideais, pessoas notáveis por sua inteligência, perspicácia e erudição, pessoas possuindo uma vontade desenvolvida e concepções claras a respeito do trabalho a desenvolver para a elevação da humanidade.
Combatidos, perseguidos e dizimados, seus ideais mantiveram-se mostrando-nos que ideais superiores nem sempre são objetos de agrado e culto.
Citaremos algumas sociedades, grupos e místicos ilustres que foram fontes inspiradoras de pureza e moralidade em sua época e que deixaram suas raízes até nossos dias:
séc. III : maniqueistas;
séc. IV: Iamblicus (ou Jâmblico)…;
entre séc. III e IX: Magistri Comancini, Artífices Dionisianos…;
séc. IX: Cátaros, Patarini, Cavaleiros de Malta…;
séc. XII: Albigenses, Cavaleiros Templários, Hermetistas…;
séc. XIII: Trovadores, Fraternidade dos Winkelers, Apostolikers…;
séc. XIV: Misticismo Alemão (Nicholas de Basiléia), Christian Rosencreutz, os Fraticelli…;
séc. XV: Fraters Lucis (Florença), Sociedade Alquímica, Sociedade da Trolha, Templários, Irmãos da Boêmia, Rosa-Cruzes…;
séc. XVI: Ordem de Cristo, Cornelius Agrippa, S. João da Cruz, Felipe Paracelsus, Militia Crucifera Evangelica…;
séc. XVII: Rosa-Cruzes, Templários, Quietistas…;
séc. XVIII: Frater Lucis, os Cavaleiros e Irmãos Iniciados de S. João Evangelista da Ásia (ou Irmãos Asiáticos), Martinistas, Sociedade Teosófica…
Todos esses grupos em sua manifestação exotérica se apresentavam segundo às exigências de sua época histórica.
Só através de muitas e por vezes penosas formas, a alma adquire experiência, e por conseguinte, esses grupos tem sido escolas pelas quais adquirimos conhecimentos.
Somos todos peregrinos que buscamos a verdade nos assombros das diferentes fases da vida humana.
Bibliografia:
“Arcanos Maiores do Tarô” – G.O. Mebes – Ed. Pensamento
“Dicionário de Maçonaria” – J.G. Figueiredo – Ed. Pensamento
“Glossário Teosófico” – Helena P. Blavatsky – Ed. Ground
“Legado do Saber” – Max Guilmot – Biblioteca Rosacruz – GLB
“Maçonaria e Misticismo Medieval” – Isabel Cooper-Oakley – Ed. Pensamento
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