A facilidade de acesso tolerância a meios de comunicação, em especial redes sociais virtuais, dá ao cidadão total liberdade de se expressar livremente, ao mesmo tempo em que se tem a percepção de segurança, de blindagem, por se estar atrás de um PC, celular ou tablet, onde e quando os seus atos não trazem consequências físicas, reais, imediatas.
O reflexo disto, num cenário em que se devem considerar diversos fatores, como a persistente crise política e económica, os casos de corrupção e toda a sua exploração mediática, o crescimento da classe média por meio da ascensão de uma nova classe C, com acesso a informação, mas sem escolaridade, tem sido uma maré alta e persistente de intolerância e ódio, evidente a cada momento em que se acede a redes sociais e se lê as últimas notícias.
Intolerância ideológica, política, social, racial, religiosa, sexual, dentre outras, tomam conta de pessoas menos esclarecidas, que promovem o ódio, desejando a morte daqueles considerados como diferentes e, em muitos casos, inferiores; e torna-se uma praga, uma epidemia, contaminando aqueles mais sugestionáveis.
Este público intolerante quer mudanças drásticas no país, muitas vezes alimentando um nacionalismo extremista, mas, sem interesse em se esforçar para fazer a sua parte, preferindo seguir a antiga cartilha de escolher um messias que “salve a pátria”, como os alemães fizeram com Hitler.
O filósofo Karl Popper, um liberal, defendia que a parcela tolerante da sociedade não pode ter tolerância ilimitada com os intolerantes, por risco de condenar a tolerância à morte.
Outro filósofo e liberal assumido, John Rawls, corroborava-o, ao defender que é dever da sociedade tolerante preservar os seus membros e instituições de toda e qualquer investida de intolerância, externa ou mesmo interna.
A célebre manifestação de Martin Luther King era exatamente sobre isto, sobre a sua preocupação, não com os gritos dos maus (intolerantes), mas com o silêncio dos bons (tolerantes).
Similarmente, na doutrina espírita, num dos seus livros mais célebres, há uma passagem que diz que “os maus são intrigantes e audaciosos, e os bons são tímidos. Quando os bons quiserem, predominarão”. Passagens similares podem ser encontradas noutras culturas, doutrinas e religiões.
Na Maçonaria, ensina-se a tolerância, mas também se prega o combate à tirania, à ignorância e ao fanatismo, que são causas e consequências da intolerância.
Entretanto, em vez de combater, muitos irmãos têm “entrado na onda” e feito coro em discursos de ódio.
Cabe à Maçonaria (ou seja, nós, maçons), não promover “o silêncio dos bons”, mas instruir esses irmãos, aconselhá-los e, quando necessário, repreendê-los.
Ainda, se a intolerância persistir, afastá-los, de modo a preservar os bons maçons (tolerantes e, geralmente, silenciosos) e, principalmente, a sublime instituição maçónica e os seus princípios morais, que se devem manter imaculados.
Se um Maçom discorda do princípio maçónico da tolerância, desejando que a única tolerância seja a dos demais perante a intolerância dele, se ele se sujeita aos vícios da ignorância e do fanatismo, ou é favorável à tirania, o seu lugar não é entre as nossas colunas.
Mas um outro mal, mais frequentemente observado no meio maçónico e de forma periódica, está directamente relacionado a este paradoxo da tolerância e, de certa forma, comprova a teorização de Popper sobre o mesmo.
Numa Loja há, sem sombra de dúvidas, homens bons e, portanto, tolerantes. Mas, uma vez ou outra, corre-se o risco de que um ou outro membro da Loja tenha um carácter mais ambicioso, vaidoso, mesquinho.
Neste caso, este irmão desejará ser Venerável Mestre antes de chegar a sua hora para tal, em detrimento da vontade da maioria, de outros irmãos mais bem preparados, e dos melhores interesses da Loja.
Ele é, geralmente, intolerante à ideia de vencer as suas paixões e sujeitar a sua vontade e insistirá, de diferentes formas, para que a sua vontade seja saciada.
E, por diversas vezes, vemos os bons irmãos, em nome da tolerância, silenciosos, sujeitando uma vontade colectiva e altruísta em benefício de uma individual e egoísta, permitindo que aquele irmão intolerante, por ambição e vaidade, alcance o seu intuito de se tornar Venerável Mestre.
E, em alguns desses casos, o resultado posterior é o adormecimento de muitos bons membros e, até mesmo, o abater colunas de Lojas.
A intolerância, enfim, matando a tolerância.
O individual sobrepujando o coletivo.
E a maçonaria morrendo aos poucos.
Por essa razão:
tolerância zero à intolerância dentro e fora da Maçonaria.
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