Podemos abordar essa questão de duas maneiras:
1) a morte é o fim, o vazio, o sono eterno, tudo se acaba com ela. Sendo essa visão do homem materialista.
2) existe transcendência para um plano espiritual, que a alma passa para um nível diferente e desconhecido.
Há uma nova vida.
É a visão do homem espiritualista.
Entre essas duas abordagens, logicamente a segunda é a menos dolorosa por estar associada com a crença de uma vida após a morte, isto traz alento ao sofrimento daquele que permanece vivo.
Sem a visão espiritualista o homem não é completo, pois sofre muito mais com a realidade de que um dia vai morrer, chegando ao fim a sua existência. “Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas. Ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para o outro.” Sócrates (469-399 a.C.)
Sendo assim, morrer, talvez, não seja de todo desagradável.
Será que viver não é a nossa “condenação”? Eis um autêntico paradoxo.
A encarnação nos conduz a várias formas de sofrimento e a uma busca incessante pela felicidade.
Ademais, a vida implica morrer um pouco a cada dia, de forma que o evento terminal ao que chamamos de “morte”, é apenas o cessar do processo da nossa estadia terrena.
Dessa forma, deveríamos, então, ter medo da vida e não da morte.
Se olharmos à nossa volta, no nosso dia a dia, tudo passa pela questão da existência e da inexistência.
Os dias, as semanas, os meses e os anos se vão.
Apenas demarcamos o tempo contando a cada pôr do sol as horas..., os séculos.
O dia se acaba, no entanto, surge outro dia; tudo que passou ficou para trás.
Mas, isso não nos mete medo, temos sempre a esperança de viver um novo amanhecer.
Por que, então, temos tanto temor da morte se acreditamos que tudo tem um novo recomeço?
Fernando Pessoa já dizia que “a morte é a curva da estrada; morrer é só não ser mais visto”.
Diante disso, é como se fossemos viajar para realizar um sonho, vivenciar uma nova realidade, uma viagem sem volta.
Porém, permanecendo vivo, apenas ausente na vida de quem fica.
Essa viagem é como um profundo sono e que vamos acordar ao amanhecer.
Ao despertar estaremos em outra dimensão, longe da percepção de quem fica.
Devemos acreditar que estaremos com os nossos entes queridos, com quem já convivemos um dia, ou mesmo os do presente mais recente.
Assim, prosseguiremos com a nossa jornada evolutiva nessa nova fase da existência. Acreditando que a vida é cheia de encontros e reencontros, o partir é um até logo; um até breve; até a próxima estação; até a próxima parada. Não importa, o mérito da questão não é se o nosso espírito vai para esse ou aquele lugar, se para o paraíso ou não.
Afinal de contas, quem somos nós para julgarmos os nossos destinos?
Há uma expressão muito comum entre os ocidentais materialistas: “A morte é a única certeza que temos na vida.”
Essa ideia nos leva a crer que tudo se acaba com ela.
Porém, todo ser humano tem um íntimo desejo pela imortalidade, pela vida eterna.
Essa vontade está intimamente relacionada pelo medo de que um dia vai ter que morrer. Qual a causa disso tudo?
A resposta mais viável para esse questionamento é que todos nós temos receio do desconhecido, daí vem o instinto da autopreservação que estimula a evitar a nossa própria extinção. Ou esse temor vem de uma experiência antiga, guardada na memória já vivida e não mais desejada?
Pode ser, também, proveniente, do exacerbado apego aos bens materiais que a vida nos oferece?
Sinceramente, não sabemos responder.
Se o nosso desejo é viver eternamente, por que, então, temos medo de morrer como se fosse o fim de tudo?
E, se fôssemos imortais será que não estaríamos desejando a nossa extinção, ou seja, a nossa própria morte?
São paradoxos para os quais não se encontram respostas, fica tudo na suposição.
Na verdade, o nosso inconsciente ainda não tem certeza dessa imortalidade do espírito. Procuramos as respostas para as nossas indagações através dos conhecimentos materiais, daí ferimos a natureza buscando explicações e destruímos a nós mesmos, com formas e conceitos doentios que nos levam ao caminho das incertezas.
De uma forma ou de outra, a morte nos assusta, porque significa não mais existir para esse mundo.
Tudo isso nos preocupa: deixar familiares, amigos, perder a nossa própria vida.
“Deus me livre de morrer!” Essa é a questão.
Porém, tudo se desfaz e “o pó volta para a terra de onde veio, e o sopro vital retorna para Deus que o concedeu” (Ecl. 12,7).
Afinal, de onde vem tanto medo?
Talvez, porque não sabemos quem realmente somos de onde viemos e para onde vamos.
Somente após a morte do nosso corpo é que podemos vivenciar outra realidade, caso ela exista.
Porém, até o presente momento não se pode comprovar essa ou aquela possibilidade (a existência ou a inexistência de outra vida).
Qualquer que seja a verdade, não temos certeza e, muito menos, consciência dela enquanto vivermos nesse mundo.
Até mesmo os espiritualistas dizem que, apesar de acreditarem na eternidade do espírito, quando a morte chega à sua família, sofrem e choram pela perda do ente querido. O apego exacerbado é o causador dessa dor, desse sofrimento.
Sem a morte, não há vida; sem dor, não há vida.
A dor pela perda é nada mais nada menos que a visita da morte à vida.
Pensamos imaturamente que o nosso corpo nos pertence; na verdade, trata-se de um empréstimo e, como tal, um dia teremos que devolvê-lo à natureza, ao Universo.
Preserve a sua existência enquanto pode, mas desapegue-se dos seus bens e das pessoas.
Ame-as, mas flua como um rio e transcenda para uma nova vida.
Na sua trajetória, o rio sempre corre para o mar. É o seu fim...
Por que não dizer, a sua morte?
Hipoteticamente falando, será que ele não teme aquela imensidão de águas à sua frente, já que vai ser engolido e deixar de ser rio?
Pode ser que sinta um medo tão grande diante do inevitável que, se pudesse, voltaria para a sua fonte.
No entanto, isso é impossível de acontecer, ele não pode mais recuar.
Corre diretamente para o desconhecido, e o que acontece com ele? Deixa de ser rio e se torna oceano.
Que transformação maravilhosa!
Fazendo uma analogia com o reino vegetal, da mesma forma que o rio deixa de existir se entregando ao mar, uma semente quando semeada num terreno fértil, ela se transforma em trigo, milho ou qualquer outro tipo de planta, mas para isso é preciso que ela se entregue a natureza e morra para poder brotar da terra um vegetal de acordo com a sua essência.
Nesses dois exemplos, contemplamos todo o processo transformador da criação. A causa é nobre.
Porém, o homem moderno, principalmente o ocidental, cria conceitos muito mais materiais do que espirituais na sua vida.
O resultado é a ambição, o egoísmo, o apego pelos bens que possui, entre tantos outros defeitos que lhe causa infelicidade.
Existem pessoas que colocam dificuldades em tudo, e nada o preenche ou o agrada. Seu sonho é ter, possuir tudo de bom e do melhor, e nada constrói.
O tempo vai passando e as chances dele construir não são aproveitadas com as oportunidades; a ganância o deixa cego diante da realidade da vida.
A velhice vai chegando e se aproxima o dia de sua morte, a angústia bate à sua porta, e o desespero invade o seu coração.
Existe um completo vazio no seu interior, o medo de morrer passa a ser o seu companheiro cotidiano.
Por outro lado, há pessoas que na sua vida tudo acontece com certa facilidade, nada lhe falta.
Mesmo assim, se torna infeliz por ter medo de um dia perder tudo o que construiu e o que ainda poderá construir. É um apego pelos bens materiais e por tudo que o cerca.
Porém, pelo simples fato de pensar que um dia vai ter que morrer, entra em desespero. Nada sabe do desconhecido pode ser que não tenha a mesma mordomia que tem nesse mundo.
Tudo é novidade, nada se conhece, tudo é mistério.
O medo da morte é o seu autoflagelo.
Ancoremo-nos, então, no que Jesus diz: “Quem tem apego à sua vida, vai perdêl-a; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna” (Jo. 12,25).
O que se passa com a nossa sociedade?
O que se pensa da vida? T
emos meios de medir o IDH, QI, IDEB, entre tantos outros, mas não se mede a felicidade em sua plenitude.
Por que não se consegue medi-la?
Talvez, porque o homem esteja centrado nos bens materiais, no poder aquisitivo, no poder de compra, no poder em poder.
Esquece-se de que a essência e a razão da sua existência é o espírito.
Se nos conscientizarmos de que tudo aqui é passageiro, a nossa conduta mudará.
Pensando assim, não há motivo para tanto sofrimento, principalmente, se cremos em um princípio criador ao qual nossa vida pertence e que um dia teremos que devolvê-la sem nenhum questionamento.
No diálogo de Jesus com Nicodemos (Jo 3, 3-7), fica muito claro que para se ter uma nova vida, a antiga tem que morrer.
É como o barro nas mãos do oleiro: quebrou-se o vaso velho, o oleiro faz um vaso novo. O vaso é novo, mas o barro é o mesmo.
Daí, conclui-se que para se tornar um novo homem, o homem velho tem que morrer; para se tornar um bom maçom, o profano tem que morrer para os instintos egoístas.
Para isso não precisa sair do ventre da mãe mais uma vez.
Para surgir uma nova árvore, a semente necessita morrer; para vivenciarmos a paz, a guerra não pode existir; para vivermos num completo estágio de amor, o ódio tem que desaparecer do nosso interior.
Isso é renascer, ser um novo homem, nascer do alto, conhecer o Reino de Deus, o Nirvana a que Sidarta se referiu.
Toda a existência está alicerçada entre a vida e a morte.
Somos filhos e filhas da Terra, ou seja, somos a própria Terra.
Por isso a origem da palavra homem assim como humano vem de húmus, que significa filhos da terra fértil, como também, biblicamente somos originários de A vida e a morte, Adão que vem de Adamar que, em hebraico, quer dizer filhos e filhas da terra fecunda. Sendo assim, somos originalmente do pó e ao pó retornaremos, não precisamos temer essa verdade.
O Buscador - Campina Grande- PB Brasil Ano 2 - 2017
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