Há alguns anos, visitei uma Loja para desempenhar uma função maçónica. Antes da reunião, notei o Venerável Mestre sentado lá em baixo, num canto, sozinho. Parecia que o peso do mundo estava nele. Fui até junto dele e sentei-me. Começámos a falar sobre a vida e a Maçonaria. Então eu disse-lhe que parecia incomodado e perguntei se havia algo errado.
Ele disse que estava frustrado porque tudo o que tentava fazer na sua Loja parecia falhar.
Lembrou que tinha planeado uma palestra numa sessão, com um bom orador. Divulgou a reunião e começou a falar sobre isso quando ainda era 1º Vigilante. Na noite da palestra, quase não havia membros suficientes para abrir a Loja. Ele sentiu-se ferido e envergonhado.
Noutra reunião, propôs fazer um churrasco envolvendo toda a Loja. Surgiram discussões entre os irmãos sobre onde realizar o evento. Um irmão ficou tão zangado com o local escolhido que saiu da loja prometendo nunca mais voltar. A Loja não era muito grande, mas parecia dividida em duas ou três facções. Cada grupo tinha as suas próprias opiniões e não demonstrava nenhum interesse em trabalhar com os outros grupos. O jovem irmão parecia estar no fim da sua sagacidade; disse até que só queria era desistir de tudo.
Acredito que temos de perceber que o sucesso e o fracasso são termos subjectivos. Em algumas lojas, é justo dizer que o Venerável Mestre teve um ano de sucesso simplesmente porque ele foi capaz de abrir a Loja na maioria das sessões – isso já é um feito. A situação é mais complicada noutras lojas. Mas a realidade é que os nossos objectivos como maçons são objectivos pessoais.
A Maçonaria dá-nos as ferramentas com as quais podemos aperfeiçoar-nos como seres humanos.
A nossa responsabilidade é de nos melhorarmos a nós próprios.
Não é nossa responsabilidade, nem é nosso direito, tentar forçar alguém a “melhorar”, já que isso pressupõe que sabemos o que é melhor para os outros.
Assume que o nosso conhecimento do seu caminho é maior do que o seu próprio conhecimento sobre ele. Também nega ao outro qualquer benefício de uma mudança que possa ser induzida e conduzida por ele mesmo. Melhoramos tomando decisões pessoais e descobrindo o que é certo para nós. Podemos muito bem acreditar que alguém está completamente no caminho errado.
Podemos até acreditar que está perdido e precisa muito de ajuda – da nossa ajuda. Com esta crença, interferimos na sua vida. Mas, ao forçá-lo numa direcção que acreditamos estar certa, podemos estar a negar-lhe a capacidade de aprender com os seus próprios erros, ou a orientá-lo numa direcção que pode não ser a correcta.
Não nos melhoramos a nós mesmos ou a outras pessoas, forçando interferências indesejadas.
Isto também é válido para indivíduos ou grupos, como uma Loja.
Muitas lojas parecem ter personalidades próprias, não muito diferentes das pessoas.
Podemos encontrar Lojas que são calorosas e amigáveis com as mãos estendidas para os visitantes e outras que são frias e indiferentes.
Algumas lojas apenas sentem e agem com sucesso, funcionando tudo como um relógio enquanto que outras têm de lutar muito.
Mais importante, algumas lojas buscam abertamente ajuda e outras não a pedem. As Lojas podem ser como as pessoas. Podemos rapidamente criar empatias com algumas Lojas (tal como com algumas pessoas). Há outras Lojas que simplesmente não têm as características que nós desejamos. Não é possível (por mais que se tente) ser um bom amigo de todos.
Não é um fracasso reconhecer que não se está na mesma página que uma outra pessoa ou uma Loja.
Todos nós percorremos caminhos diferentes e isso é o mesmo com as Lojas.
O jogo da culpa não ajuda ninguém.
Estamos numa época em que algumas Lojas procuram os aspectos mais profundos da Maçonaria; querem crescer com as ferramentas que os nossos antigos Irmãos usavam e da mesma maneira como as usavam. Mas outras lojas desejam uma vida mais simples.
É direito de todos, escolherem o seu próprio caminho.
Se está numa Loja e nada que tente fazer parece resultar, não fique desapontado.
A Loja pode simplesmente estar num caminho diferente do seu.
Todos nós temos esse direito.
Vá para outra Loja que possa estar a funcionar mais de acordo com as suas visões de Maçonaria.
Não é desleal. Não é um fracasso.
A única falha é quando permanecemos em algo que sabemos que está errado para nós.
Comentários
Postar um comentário