O Dia de Finados celebrado pelo cristianismo como conhecemos hoje foi instituído pela primeira vez na França, no século X.
O abade Odilo de Cluny sugeriu, no dia 2 de novembro de 998, que todos dedicassem aquela data para orar pelas almas dos que já se foram.
Por que celebrar este dia?
Celebramos porque o Amor não morre.
Vamos começar lá do Antigo Testamento, pra ver como o povo israelita já tinha esse costume de rezar pelos mortos a fim de conseguirem o favor de Deus para eles.
No segundo livro de macabeus, dois séculos antes de Cristo, Judas macabeu (que significa martelo), um jovem e valente guerreiro israelita, suplica a Deus junto com sua tropa por aqueles que tinham caído em combate contra os inimigos, mas que carregavam ídolos nas dobras de seus mantos (o que era um grande pecado).
Judas também mandou oferecer sacrifícios em Jerusalém afim de que Yahweh lhes perdoasse completamente essa falta, pois cria na ressurreição do corpo e queria também para seus companheiros mortos, “o magnífico prêmio que o Senhor reserva para os morrem piedosamente” (cf 2Mc12,39-45).
Já o livro de Tobias (Tb2,1-9) nos narra a coragem e a piedade de Tobit que enterra seus compatriotas sob o jugo da Assíria, arriscando ele próprio ser morto, já que era proibido aos hebreus recolherem os cadáveres de seus irmãos. Detalhe: enterrar e rezar pelos mortos são obras de misericórdia, lembra?
Desde os primórdios do cristianismo, era costume também entre os seguidores de Jesus, além de rezar pelos mortos, visitar suas catacumbas.
Estas se tornaram lugares de peregrinação, oração, catequese e também lugar onde se celebrava a eucaristia secretamente, pouco antes do raiar do dia, pois era época de forte perseguição.
Para os cristãos era muito viva a certeza de que a vida tinha tomado uma nova modalidade, que a separação causada pela morte corporal era apenas física, e que a comunhão com aqueles que tinham feito sua páscoa não havia cessado, mas era agora diferente.
“-Como assim?”
Partindo do princípio que a Igreja é a assembleia dos fiéis marcados pelo batismo, ou também podemos dizer que somos os membros do Corpo Místico de Cristo, nós, como esses membros, nos encontramos em um desses três estados: na Igreja militante (nós que ainda estamos na peregrinação terrestre), na Igreja triunfante (os que já estão no céu, na glória, contemplando a face de Deus) ou na Igreja padecente (os que estão sendo purificados no purgatório e depois entrarão também no céu).
No entanto, somos todos parte da mesma família, do mesmo corpo cuja Cabeça é Cristo, e se morremos unidos a Ele, permaneceremos unidos a Ele na vida eterna e assim também permaneceremos unidos aos nossos irmãos (os que ainda vivem sobre a terra, os que estão no céu e os do purgatório).
Dessa maneira, podemos dizer como São Paulo: “somos membros uns dos outros” (Rm12,5).
No dia de finados, como irmãos e como Igreja, pedimos e agradecemos por aqueles que já morreram mas continuam unidos a nós, pois essa união, segundo o Catecismo, “não se interrompe, pelo contrário, se vê fortalecida pela comunicação dos bens espirituais” ( CIC 955). Sta Teresinha dizia: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida”.
Nós, neste mundo em que vivemos, intercedemos por aqueles que já se foram e eles se beneficiam com nossas orações (como por exemplo, as almas do purgatório, que podem alcançar o céu por nossas preces e penitências), e nós aqui na terra somos beneficiados pelos que, já diante de Deus, pedem por nós. Isso é a comunhão dos santos!
Nem a morte nos impede de amar!
O Amor matou a morte e permanece vivo!
E nós Nele também a venceremos e então viveremos e amaremos para sempre!
O amor será sempre a fonte da nossa alegria, na terra ou no céu!
Neste dia então, não “invocamos os mortos”, até porque Jesus mesmo nos diz no evangelho que não há como eles falarem conosco ou o contrário, nem mesmo há motivos para tal, já que tudo nos foi dito através de Jesus, toda a verdade nos foi revelada. (Lc16,19-31).
Celebramos, porém, o amor que não morre, “a vida que não é tirada mas transformada” (Prefácio dos mortos I), a comunhão dos santos, a alegria de sermos Igreja, a esperança certa de que um dia nos reencontraremos definitivamente.
Então, a saudade que certamente sentimos será abolida, esquecida, nem lembraremos mais, porque estaremos unidos a Ele inexoravelmente e Nele reunidos continuaremos a amar, acima de tudo o nosso Criador, mas também os irmãos que estarão, como hoje estamos, rumo à pátria celeste.
Shalom!
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