Daemon na Tradição

O Daemon na Tradição

Se houve melhor explicação para o que seja um Daemon do que essa, eu desconheço:

"Quando o discípulo está pronto, o Mestre Aparece."

E se existir melhor exposição de quem seja o Mestre, do que essa, eu não saberia exprimir:

"O Eu é o mestre do eu, que outro mestre haveria de existir?"

O Daemon na Tradição, na Nossa Tradição, não é nenhum ser angélico, não é também nenhum ser demoníaco.

Ele é o Mestre Interno, o Verdadeiro Guardião, ou, o Eu Maior.

Sócrates, nos dirão os autores que falam sobre sua apologia, ouvia a voz de certo "Gênio", que lhe dizia com quem debater, com quem argumentar, quando ficar e quando partir.

Quando estava para ser morto, um de seus alunos disse:

"Mestre, por que não foges? Nós lhe daremos a cobertura!"

"Meu Daemon nada disse quanto a isso, se vocês ficam em lugar melhor ou se eu vou a um lugar melhor, só O Deus saberá"...

Sócrates não trocaria sua consciência por apenas mais alguns anos de vida, onde definharia até a morte, e invariavelmente teria sido esquecido nos anais da história; Ele foi um Mártir do Pensamento, e pessoas morrem, ideais são eternos.

A história de Sócrates nos lembra outra história que tem o mesmo princípio, está em MACABEUS, capítulo 6, versículos 18 à 31.

Nessa história veremos o Martírio de Eleazar.

Este era um dos doutores da Lei, na época em que Antíoco IV dominava os territórios hebraicos, tendo profanado o templo, torturou muitos para que abandonassem sua fé.

Eleazar já era velho e muito bem quisto, o Rei havia ordenado que ele comesse carne de Porco (o que é proibido aos hebreus), carne que havia sido consagrada aos ídolos.

Eleazar cuspiu a carne fora. No que os carrascos do rei, por respeito ao já idoso e sábio homem lhe disseram:

"Eleazar, nós faremos para o senhor a carne que lhe é permitida e o senhor finge que come da carne ao ídolo e pode manter-se vivo, sem profanar sua fé."

Nosso idoso responde:

"Podem mandar-me a mansão dos mortos. Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho de noventa anos chamado Eleazar passou para os costumes estrangeiros. Com meu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha e desprezo para a minha velhice. Ainda que no presente eu me livrasse do castigo humano, nem vivo nem morto conseguiria escapar das mãos do Todo-Poderoso. É por isso que me mostrarei digno da minha idade, se eu passar corajosamente para a outra vida. Para os mais moços posso deixar um exemplo honrado, mostrando como se deve morrer corajosamente e dignamente pelas veneráveis e santas leis."

Aqui os que lhe tentavam ajudar, iraram-se e o levaram para a tortura do tímpano por óleo fervente, Eleazar morreu, mas foi lembrado para sempre como herói virtuoso.

O Daemon está ligado à Aretê (Excelência).

Aretê, é um estado no qual o Homem percebe qual a Sua Postura Ideal e passa a Viver pela Virtude, aproximando-se do Ideal que tem de si mesmo, e ai está a ajuda do Daemon, do Mestre Interno.

O Mestre Interno, nesse sentido é algo de Sublime, é como receber ajuda dos Céus, contudo, esse Daemon, ainda é você... É a sua parte Perfeita que Conhece Todas as Coisas...

Sabe aquela vez, meu irmão, minha irmã, que você ouviu uma vozinha interna antes de fazer algo, e ela lhe dizia:

"Não vai"

"Não faz"

Ou então:

"Age agora"

"Faça isso"

Esse é o Daemon...

Mas sabemos que alguns Ocultistas evocam outras tradições e tomam os símbolos dos Daemons usados em Alegorias Salomônicas como se fossem literais.

Criaram para si, verdadeira Potestade Infernal, dando nomes, entregando-lhes exércitos, invocando-os com medalhões com sigilos estelares que nem sabe como foram compostos ou porque os usam, apenas mimetizam o que antigos Magistas faziam na idade média...

Esses, me perdoem os que dividem um apreço sincero pela Goétia, mas esses em sua grande maioria são PROFANOS, não sabem o que fazem, desvirtuam toda uma geração, e de forma figurada, fogem da morte filosófica, aquela que Sócrates Ouvindo O Verdadeiro Daemon suportou, esses, vendem-se para ídolos, o que Eleazar em ligação com a Sabedoria suportou...

Como é triste para nós do Círculo Esotérico, vermos essas coisas acontecendo, isso é Idolatria, se um homem não entende que os símbolos que usa não tem nada de mágico fora a concentração de todas as mentes que nele buscam algo Maior, esse homem é idólatra.

É aquele que usa estátuas de santos ou então de criaturas vermelhas e pretas (mas não entende o que seja o Escarlate e o Negrume) e até mesmo fica chateado se alguma dessas imagens se quebra, pois que é Idólatra.

Não tem para Si Daemon Algum, pois que não estavam prontos para a Apresentação do Mestre...

Nossa Tradição tem sim centenas de Explicações para Nomes usados com sincretismos, um Daemon não será um Guia Espiritual, um Daemon não será um Espírito Mensageiro, um Daemon não será um Ser de Treva, um Daemon não é um Arconte, não tem exércitos...

O Daemon de Aretê, o Daemon Socrático, o Mestre... É você, meu irmão, que se permitindo escutar a si próprio passará a aprender de si mesmo...

"Pois que para ser Senhor de Si Mesmo é preciso Ser Escravo de Si Próprio".

Salutem Punctis Trianguli