A evolução física das Lojas Maçónicas ao longo da história

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Da Terra ao Céu e da Superfície ao Centro da Terra: A evolução física das Lojas Maçónicas ao longo da história

Ao se compreender a evolução do local de reunião das Lojas Maçónicas, de galpões improvisados em canteiros de obras no período operativo; seguindo para casas de maçons ou salas alugadas ou emprestas em tavernas e outros estabelecimentos comerciais no período pré-especulativo ou período de transição; até a construção dos primeiros edifícios maçónicos no período dito especulativo, mais precisamente a partir do início da segunda metade do século XVIII; buscou-se analisar as características dos locais de reuniões, as salas de loja ou templos maçónicos, a partir dos diferentes ritos maçónicos praticados no Brasil. Verificou-se que a diversidade de ritos praticados no Brasil se reflecte na diversidade de decoração, características e elementos presentes nos seus locais de reuniões.

Introdução

Aquela considerada a “premier” Grande Loja, tradicionalmente dita fundada em Londres, em 24 de Junho de 1717, apresenta na sua antiga constituição, aquela elaborada pelo clérigo James Anderson, mais precisamente na edição actualizada de 1738, que quatro Lojas a fundaram. Estas quatro Lojas se reuniam: Na taberna Ganso e Grelha, ado da Igreja de São Paulo; Na taberna Coroa, ruela Parker; Na Macieira, rua Charles, distrito Jardim do Convento; E na Taça e Uvas, Linha do Canal, Westminster (…) (ANDERSON, 1738, p.109 apud DERMOTT; ISMAIL, 2016, p.40) Isto evidencia a realidade do local tradicional de reuniões das lojas maçónicas do início do século XVIII: tavernas, que eram estabelecimentos comerciais que funcionavam como bar, restaurante e, muitas vezes, também pousadas, com quartos para alugar.

Não nos iremos dedicar ao papel das tavernas, existentes há milhares de anos e que, em especial na Grã-Bretanha, berço do sistema maçónico estabelecido no mundo nos últimos três séculos, ainda exerce importante papel social. Há inúmeros artigos e livros dedicados a tal matéria (i.e.: KUMIN; TLUSTY, 2002).

Esta figura é de autoria do artista e Maçom William Hogarth. Feita em 1738, é a última de uma série de quatro pinturas intitulada de “Four Times of the Day”, que pode ser livremente traduzido como “Quatro momentos do dia” e que ilustram cenas de um dia comum em Londres naquela época. A primeira pintura era a “manhã”; a segunda, “meio-dia”; a terceira, “tarde”; e esta, a quarta e última, “noite”. Ela é de relevância à Maçonaria por ilustrar um Venerável Mestre (título relativo a presidente de uma Loja Maçónica) embriagado, sendo auxiliado a andar pelo Cobridor (em inglês, “tyler”, que corresponde ao guarda da reunião).

O Venerável Mestre está trajado com chapéu, um longo avental e um colar com um esquadro como jóia. Vê-se uma mulher despejando o conteúdo líquido de um penico sobre a sua cabeça, não se sabendo se de propósito ou não. O Cobridor leva uma espada sob o seu braço esquerdo, enquanto auxilia o Venerável Mestre embriagado a andar. Eles estão saindo da taverna “Taça e Uvas”, uma das quatro Lojas fundadoras da Grande Loja da Inglaterra. Ou seja, mais de vinte anos após a suposta fundação da Grande Loja, as suas Lojas permaneceram realizando as suas reuniões em tavernas.

Figura 1. Hogarth’s Night (1738). Fonte: Wikipedia

A figura apresenta outros elementos interessantes. Há um menino no canto inferior esquerdo, soprando uma tocha. Trata-se de um “linkboy”, que era um garoto que andava com uma tocha à noite para iluminar o caminho para pedestres em Londres, antes de surgir a iluminação pública. Graças ao seu sopro, vê-se uma família de sem-tecto abrigada abaixo da janela de um barbeiro-cirurgião, que está realizando um procedimento no nariz de um cliente. Atrás do Venerável Mestre e o seu Cobridor, vê-se um funcionário de uma das tavernas adulterando o barril de bebida. Esta prática foi eternizada numa poesia pelo poeta Matthew Prior, que era sobrinho de Samuel Prior, o proprietário da taverna “Taça e Uvas” (LEGG, 1921).

E, ainda relativo ao interesse maçónico pela pintura, vê-se, à direita, um homem portando um esfregão, o que pode sugerir alusão à possível prática das lojas maçónicas da época de desenharem com carvão os símbolos maçónicos no piso do aposento utilizado para reuniões nas tavernas, e apagá-los após o término da reunião.

Assim, compreender a evolução desse modelo de funcionamento retratado na figura e registrado na constituição daquela “primeira” Grande Loja, para os modelos actuais; das tavernas aos complexos templos sagrados; é a intenção deste artigo.

Resquícios históricos

As Lojas e a evolução dos seus locais de reuniões

O termo “Loja”, na verdade, está directamente relacionado ao termo “alojamento”, no sentido de abrigar trabalhadores, sem qualquer relação com o sentido de estabelecimento comercial empregado à palavra “loja” na língua portuguesa actualmente. Este entendimento é mais nítido ao observar o termo em inglês, “lodge”, pelo qual as lojas maçónicas são chamadas nos países que adoptam tal língua, além dos termos em francês, italiano, espanhol e alemão, cujos países europeus berços de tais línguas receberam as primeiras lojas maçónicas quando da expansão a partir da Grã-Bretanha (ISMAIL, 2012).

Stevenson (2009) afirma que essas lojas eram inicialmente construções temporárias nos canteiros de obras, às vezes barracões, nas quais os maçons guardavam as suas ferramentas, trabalhavam sobre as pedras protegidos do sol ou da chuva, mas também podiam comer, descansar e, em alguns casos, até viver temporariamente. Essa visão também é seguida por Robert Cooper (2009), que cita um documento de 1491, intitulado “statue anent Masons of St. Gilles”, o qual determina que aos “mestres pedreiros” seja permitido “ter uma recreação na Loja comum” (COOPER, 2009, p.28), o que indicaria que as lojas eram grandes o bastante para reuniões recreativas, por exemplo.

Estes alojamentos, chamados de “lojas”, inicialmente tinham um carácter provisório, sendo dissolvidos ao final da construção. No entanto, conforme surgiram construções que demandavam décadas de trabalho, como as grandes catedrais, castelos e fortes, essas lojas foram sendo desenvolvidas em carácter cada vez mais permanente, com estruturas sólidas e grandes o bastante para atender dezenas de pedreiros. Anderson, na sua já mencionada segunda edição da constituição (1738, p.106-7, apud STEVENSON, 2009, p.267), relata que “lojas particulares eram tão frequentes e, na maioria dos casos, apenas ocasionais no Sul (da Inglaterra), excepto nos lugares onde grandes obras eram executadas, ou perto deles”.

Há, por exemplo, o registro de uma loja de pedreiros com edifício próprio, em Aberdeen, Escócia, em, pelo menos, 1483; que, em 1605, após alguns anos de inactividades da mesma, teria sido reparada e dividida para abrigar três escolas. Assim, vê-se não somente o tamanho e estabilidade da edificação, mas o pioneirismo escocês nesse sentido. Entretanto, há que se observar que, nesse caso, refere-se a uma loja estritamente operativa.

De fato, as três lojas maçónicas mais antigas com funcionamento que possa ser considerado pré-especulativo (concessão de graus com transmissão de modos de reconhecimento) e que se pode documentalmente comprovar são também na Escócia: a Loja de Aitchison’s Haven (BEAVER, 2017), a Loja Mãe Kilwinning e a Loja de Edimburgo “Mary Chapel” (STEVENSON, 2009); todas com séries ininterruptas de actas a partir ainda do século XVI, enquanto que as primeiras actas maçónicas inglesas datam de 1716.

No entanto, as actas dessas e de outras lojas maçónicas da Escócia que funcionavam durante todo o século XVII indicam que as mesmas funcionavam nas casas dos membros, em estalagens ou tavernas.

A primeira dessas lojas com edifício dedicado exclusivamente à Maçonaria foi a Loja de Aberdeen, que adquiriu uma casa de campo para seu funcionamento, em 1700. Em 1712, a Loja de Hamilton discutiu a possibilidade de construir uma sede, mas a proposta não prosperou. Já a primeira construção realizada com finalidade estritamente maçónica teria ocorrido, conforme afirma George Smith (1866), na sua obra “O uso e abuso da Maçonaria”, em 1765, em Marselha, na França. Mas Coil e Brown (1961, p.301) desmentem essa afirmação ao informar que “a honra de ser a primeira a fazer um edifício dedicado exclusivamente aos propósitos maçónicos foi da Filadélfia, onde o templo maçónico foi dedicado em 24 de Junho de 1755”.

Os registros indicam que a iniciativa de se construir uma sede própria para a Maçonaria inglesa somente ocorreu em 28 de Outubro de 1768, quando decidiu-se por um projecto “para buscar o meio mais eficaz de se criar um fundo para construir um Salão e comprar jóias, mobiliário, etc., para a Grande Loja” (LIBRARY…, 2006, p.4), o qual foi inaugurado no dia 23 de Maio de 1776. Ismail (DERMOTT; ISMAIL, 2016) credita a William Preston e Thomas Durckenley os principais esforços para tal empreendimento.

O Templo de Salomão e as Lojas Maçónicas

O ritual maçónico mais antigo historicamente aceito que se tem conhecimento, o Edinburgh Register House MS, data de 1696 e menciona no seu catecismo o Templo de Salomão, não colocando a Loja como uma réplica do mesmo, mas declarando que a primeira Loja se encontrava no pórtico daquele templo e, ao se erguer uma Loja, deve-se observar a direcção do ocidente para o oriente, como ele era em Jerusalém (CARR, 2012).

Outro catecismo antigo que faz interessante menção indirectamente relacionada ao Templo de Salomão é o de Dumfries No.4, que afirma que a “nobre arte ou ciência” foi encontrada “em duas colunas de pedra; uma não afundava e a outra não queimava” (STEVENSON, 2009, p.181) Stevenson interpreta que, a partir daí, há uma fusão do conceito dos pilares do conhecimento e das colunas do Templo de Salomão.

Ainda, o famoso Manuscrito Cooke, de cerca de 1410, afirma a tradição de que “o próprio Salomão ensinou-lhes as suas maneiras (isto é, costumes e práticas), que pouco diferem das maneiras ora em uso” (COOKE, 1410 apud HORNE, 1995, p.9), tradição essa que, também presente em outros manuscritos e documentos similares, por muitos anos alimentou as crença de que a Maçonaria possui tal antiguidade milenar e está directamente ligada ao Templo de Salomão, e não apenas simbolicamente.

Horne (1995, p.16) lamenta o facto de muitos maçons, até mesmo ditos doutos, acabam por confundir tal tradição com uma verdade, ao afirmar que “malgrado todas as indicações em contrário a respeito da origem maçónica do Templo do Rei Salomão, verificamos que nos tempos actuais também se acredita nessa tradição”. Por sorte, alguns pesquisadores sérios sobre o assunto têm levado luz à questão, como no caso de Fort (1881), que, já no século XIX, alertou para o facto de que nem nas Old Charges, no Poema Regius, ou mesmo no Manuscrito de Halliwell, há qualquer afirmação de que a Maçonaria surgiu quando da construção do Templo de Salomão.

Aspectos do Edifício Maçónico

Actualmente, os edifícios maçónicos são comumente chamados de “templos maçónicos”, em especial nos sistemas de origem latina; e de “salas de lojas” (“lodge rooms”, em inglês), em especial nos sistemas de origem anglo-saxónica. A principal diferença que se vê entre o uso de tais nomenclaturas é o aspecto sagrado nos sistemas latinos, nos quais, em muitos casos, a construção precisa necessariamente passar por uma cerimónia especial de “sagração” ou “consagração”, sendo então condizente o uso do termo “templo”; enquanto que, naqueles sistemas em que se refere ao local de reuniões como “sala da loja”, esse status sacro não se faz predominante.

Enquanto os franceses, precursores da Maçonaria latina e das suas edificações, tomaram como modelo de templo as igrejas; os ingleses, precursores da Maçonaria anglo-saxónica, tomaram como modelo de sala aquela que era a principal sala de reuniões de Londres: o parlamento inglês. Castellani (1991, p.20) corroborava com esse entendimento, ao defender que a Maçonaria do século XVIII adoptou “os modelos que lhe eram mais conhecidos: as igrejas e o parlamento britânico”.

No entanto, independente se o sistema maçónico é de inspiração latina ou anglo-saxónica, há características comuns desejáveis, mas não obrigatórias, conforme apontado por Mackey (1914): Uma Sala da Loja sempre deve, se possível, estar devidamente situada ao Oriente e ao Ocidente. Esta posição não é absolutamente necessária. Mas cabe exigir que alguns sacrifícios sejam feitos, se possível, para obter tal posição desejável. Também deve ser isolada, quando praticável, de edifícios circundantes, e sempre deve ser colocado num andar superior. Nenhuma Loja deve ser mantida no piso térreo. A forma de uma Sala da Loja deve ser a de um paralelogramo ou quadrado oblongo, pelo menos um terço maior do Oriente ao Oeste do que é de Norte a Sul. O tecto deve ser elevado, dando dignidade à aparência da sala, bem como para fins de saúde, compensando, em certa medida, o inconveniente das janelas fechadas, o que necessariamente irá deteriorar a qualidade do ar num muito pouco tempo numa sala baixa.

O atual status das Lojas físicas

Ao compreendermos a evolução do local de reunião das Lojas Maçónicas, de galpões improvisados em canteiros de obras no período operativo; seguindo para casas de maçons ou salas alugadas ou emprestas em tavernas e outros estabelecimentos comerciais no período pré-especulativo ou período de transição; até a construção dos primeiros edifícios maçónicos no período dito especulativo, mais precisamente a partir do início da segunda metade do século XVIII; dediquemos esforços para analisar as características dos locais de reuniões, as salas de loja ou templos maçónicos, a partir dos diferentes ritos maçónicos praticados no Brasil.

Para tanto, tomamos por base as descrições e layouts disponíveis nos rituais do grau de Aprendiz Maçom dos sete ritos adoptados pelo Grande Oriente do Brasil, além do Rito de York, de origem norte-americana, versão da Grande Loja do Estado de New York traduzida para o português e adoptada pela maioria das Grandes Lojas da CMSB e Grandes Orientes da COMAB.

Entre as características, levantadas, algumas possuem diferentes nomenclaturas para um mesmo elemento. Como exemplo, tem-se o “livro sagrado”, que pode aparecer como “livro das sagradas escrituras” ou mesmo “livro da lei”. O mesmo com o “altar dos juramentos”, em alguns casos chamado apenas de “altar” e, no caso do Rito Moderno, “altar dos compromissos”. Optamos por adoptar o termo mais comum entre eles, considerando que a presente pesquisa não tem objectivo terminológico, mas simbológico.

Outra regra adoptada foi quanto à forma de tais características. Optou-se por distinguir quanto à forma ou relevância, mas apenas pela visão binária do elemento estar visualmente presente ou não no local de reuniões, mesmo que apenas de forma ilustrada, ou seja, desenhado num painel ou tapete exposto no local.

Quadro 1: Quadro Comparativo de características e elementos nas Salas e Templos dos diferentes ritos maçónicos praticados no Brasil. Fonte: elaborado pelos autores.

Ao analisar o quadro apresentado, observa-se que há uma presença maior de elementos nos ritos de origem latina no que daqueles de origem anglo-saxónica, o que, acreditamos, se deve ao aspecto sagrado dado ao local de reuniões maçónicas nos primeiros, conforme mencionado anteriormente, o que pode ser reforçado ao observarmos os elementos adicionais comuns aos ritos latinos: oriente elevado, balaustrada, delta, dossel, altar dos perfumes e abóbada celeste. Tais elementos não estão directamente ligados à simbologia estritamente maçónica, ou seja, ao operativismo e à ritualística, ou mesmo com o Templo de Salomão. São elementos comuns a igrejas católicas medievais, templos sagrados majoritários no mundo latino quando do século XVIII, período inicial do surgimento dos primeiros templos maçónicos.

Os ritos que apresentaram maior concentração de elementos foram o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito Brasileiro, sendo este último inspirado no primeiro, contendo, ambos, a mesma quantidade de elementos, 22, e a mesma quantidade de graus maçónicos, 33. O rito que apresentou menor quantidade de elementos, tendo, assim, um local de reuniões mais próximo do período de transição operativo-especulativo, ou pré-especulativo, foi o Rito de Schroeder, com apenas 5 elementos: o livro sagrado, o esquadro e o compasso; castiçais junto aos três principais oficiais ou luzes; as três luzes menores (três pedestais de vela única); as pedras bruta e polida; e o painel do grau que, no caso do Rito de Schroeder, tem a forma de um tapete, o que é outra característica “pré- especulativa”. O segundo rito com menos elementos é o Rito de York (norte-americano), com 11 elementos, empatado com o seu irmão mais novo, o Ritual de Emulação (de origem britânica). Dentre os ritos latinos, os que apresentam templo mais simples são o Rito Escocês Rectificado e o Rito Moderno, cada um com, respectivamente, 16 e 18 elementos.

Um livro da lei acompanhado do esquadro e do compasso, e as pedras bruta e polida, são os únicos dois elementos comuns a todos os ritos. Eles, de certa forma, estão conectados aos princípios de regularidade maçónica mais comuns entre as obediências: que o compromisso ou juramento seja assumido perante as três grandes luzes (livro, esquadro e compasso), e que deve haver simbolismo baseado na Maçonaria operativa (ISMAIL, 2012).

Dentre as excepções, temos a ausência de Sol e Lua; dos estrados ou estações dos três oficiais principais; das colunas J e B; e do pavimento mosaico; apenas no Rito de Schroeder. Já o Rito de York é o único com ausência de um painel ou tapete do grau.

Há também aqueles elementos que somente estão presentes num único rito. O Rito Escocês Antigo e Aceito, conforme praticado no Brasil, apresenta as adições de mar de bronze e colunas zodiacais. O Rito Brasileiro é o único que oficialmente exige a presença das estátuas de três deuses, Athena, Hércules e Vénus, apesar de adornar os templos de outros ritos ultimamente. E o Rito Adonhiramita é o único que prevê a presença no seu templo de um sino e um altar da chama sagrada.

Considerações finais

A diversidade de ritos praticados no Brasil se reflecte na diversidade de decoração, características e elementos presentes nos seus locais de reuniões. Enquanto os ritos anglo-saxónicos tornam possível que as lojas maçónicas que os praticam trabalhem em qualquer sala fechada, bastando, para isso, que alguns móveis sejam providenciados e utensílios maçónicos que, de forma geral, cabem numa caixa, sejam levados, os ritos de origem latina demandam um maior investimento de tempo e recursos financeiros na construção ou reforma de espaços próprios para uso das lojas.

Desta forma, enquanto o primeiro grupo de ritos, o de origem anglo-saxónica, está mais próximo das práticas maçónicas pré-especulativas, do período ilustrado por William Hogarth; o segundo grupo, de origem latina, parece ter implementado elementos não-maçónicos, emprestados de outras tradições, conforme o desenvolver dos seus graus. As colunas zodiacais, por exemplo, relacionadas à Astrologia, arte distante do operativismo maçónico.

A análise realizada sobre o quadro comparativo das características apresentadas de cada rito levanta a hipótese dos ritos de origem latina terem adoptado elementos religiosos, em especial católicos, por influência da hegemonia católica nos países latinos europeus. Suposições quanto à similaridade entre o mar de bronze de uma loja maçónica e a fonte de água benta de um igreja, inclusive quanto às suas posições nos respectivos templos; assim como entre o oriente elevado e a sua balaustrada com os altares elevados com as suas grades; ou mesmo a abóbada celeste, comum entre ambos; além de outras características similares, reforçam tal hipótese e merecem atenção em eventuais futuras pesquisas.

Por fim, fica o questionamento quanto a influência que elevados preços no mercado imobiliário, em material de construção e mão-de-obra na área pode ter sobre grupos de maçons em processo de fundação de novas lojas maçónicas, quanto especificamente a escolha do rito a ser adoptado pelas mesmas.

Lucas Francisco Galdeano [1]

Kennyo Ismail [2]

Notas

[1] Lucas Francisco Galdeano tem Pós-graduação Lato Sensu em História da Maçonaria pela Universidade Cruzeiro do Sul / UDF. Actual Grão-Mestre do Grande Oriente do Distrito Federal – GODF/GOB, foi Grande Secretário Adjunto de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil (1993-2001).

[2] Kennyo Ismail é Bacharel em Administração pela UnB, com MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC e Mestrado Académico em Administração pela EBAPE-FGV. É professor de pós-graduação em História da Maçonaria na UnyLeya e em Maçonologia na Uninter.

Referências

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