A FILOSOFIA DO RITO MODERNO

 

A FILOSOFIA DO RITO MODERNO

O Rito Moderno é acusado por seus detratores de ter violado uma tradição maçônica ao adotar o adogmatismo. Não se apercebem, em suas acusações, que a verdadeira Maçonaria nunca foi dogmática.

Para ser dogmática deveria ser ou ter sido em algum momento uma religião!

A Maçonaria não é e nunca foi uma religião! 

O fato de os Maçons Operativos, em algum momento e segundo os registros sobreviventes, terem apresentado um alinhamento com a Igreja Católica nada mais revela que um fato histórico comum a todos os cidadãos residentes em países católicos na Idade Média e posterior. 

E tal comportamento não possuía alternativa pois qualquer manifestação anticatólica ou anticristã, naquele tempo de intolerância, era punida com a fogueira ou as galés, após desumana sessão de torturas, perpetrada pela - santa - inquisição, na qual qualquer inocente confessaria o mais terrível delito!

Nossa origem moderna é a mesma origem de todos os ritos hoje praticados: a Maçonaria remodelada pela Grande Loja de Londres, fundada em 24 de junho de 1717, a qual apenas teve por base as antigas tradições e costumes, tendo sido formada substancialmente por maçons aceitos (ou modernos), portanto não profissionais, mas filósofos (ou especulativos), numa época em que a ciência - levada pelas grandes descobertas e invenções daquele período - estava em alta. 

Foi nesse novo tempo que a Maçonaria adotou por princípio - a investigação ou a busca da verdade -, mesmo que transitória!

Os operativos jamais trataram disso, pois eram homens rudes, simples, iletrados, a ponto de possuírem regras de comportamento dentro e fora do local de trabalho, e tais regras seriam então indispensáveis para preservar a boa imagem da Corporação, pois o uso de palavras de baixo calão ou comportamento indecente perpetrados por homens que se dedicavam à construção de Igrejas e palácios já havia sido demonstrado antiproducente para a organização.

Tendo em vista que os maçons modernos, que tiveram origem com a reforma ou - nova forma - adotada em 1717 (Isso tanto é verdade que diversas Lojas Operativas não aceitaram como legítima nem se submeteram a nova Grande Loja de Londres em 1717, surgindo, assim, as primeiras dissidências que deram origem a outras Grande Lojas, inclusive a Grande Loja dos - Antigos -.), assumiram como tônica a busca da verdade, por certo não acolheram nenhum dogma, pois o dogma é a viseira do cientista, e tal assertiva é provada pela história: todos os cientistas que não agiram como livres pensadores não puderam perceber tudo que a natureza lhes poderia revelar, e nada mais fizeram que erguer uma ponta do véu da verdade.

Veja o caso de Copérnico e o heliocentrismo; ele acreditou, baseado nos antigos filósofos, que a órbita dos planetas em torno do Sol só poderia ser circular, pois o círculo representava a manifestação infinita e perfeita do Deus Criador; não lhe ocorreu, portanto a elipse! 

Sua tese do heliocentrismo foi importante, sem dúvida, mas incompleta em função de sua visão - mesmo que em parte - dogmática em relação a alguns princípios.

O mesmo se deu com Einstein que refugou a teoria quântica alegando que - Deus não joga dados - e em função dessa visão dogmática desenvolveu teorias outras para justificar seu pensamento, parte delas já superadas pelas novas descobertas. 
Se Einstein, mesmo conservando sua fé pessoal (que não está em discussão nesse artigo) tivesse um comportamento ou visão científica menos influenciada pelo dogma religioso teria, com certeza, atingido a mesma visão que os cientistas mais modernos possuem, a qual desenvolveram a partir das teorias de Einstein e diversos outros pensadores.

É isso que se pretende transmitir aos maçons em geral: o dogma ou os dogmas ou a visão dogmática sobre qualquer fato ou circunstância é um empecilho importante para a descoberta da verdade! E mais, o dogma é uma forma de discriminação, intolerável numa organização que, como a Maçonaria, pugna pela liberdade e a igualdade de todos, sem a qual a fraternidade é absolutamente impossível.

Os dogmas sobre os quais se baseiam nossos Irmãos que acusam o Rito Moderno de irregular, todos eles, são justamente aqueles que o Rito obedece, senão vejamos:

1) A crença em Deus, o Grande Arquiteto do Universo: o Rito Moderno não crê ou deixa de crer em Deus pois enquanto Rito Maçônico (e não sendo uma religião) não é de sua competência tratar do assunto. Segundo as antigas Constituições é o maçom individualmente que, - se bem compreender a arte, não será um estúpido ateu -, o Rito em si, apenas não utiliza a expressão Grande Arquiteto do Universo ou, em seus documentos, À Glória do Grande Arquiteto do Universo, e apenas em respeito à crença de cada um, ou seja, cada Irmão pode referir-se a Deus segundo a expressão de sua própria fé, não estando dogmaticamente constrangido a usar um padrão pré-estabelecido!

2) A inexistência do Livro da Lei Sagrada nas Lojas do Rito: as antigas Constituições afirmam que o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso devem estar presentes em todas as sessões realizadas pelos maçons. 

Só recentemente na história maçônica a Grande Loja Unida da Inglaterra, tomando uma posição nitidamente dogmática, adotou a expressão Livro da Lei Sagrada, inexistente nos antigos documentos. Nas Lojas do Rito Moderno no Brasil, sobre o Triângulo da Sabedoria (ou do Venerável), repousam os livros sagrados das religiões dos integrantes da Loja. 

Assim, numa Loja constituída por cristãos, judeus e muçulmanos, os livros das três religiões estarão depositados sobre o Triângulo da Sabedoria, e não apenas o livro da religião da maioria, como ocorre em grande parte das Lojas dos demais ritos! O que nos diferencia de outros ritos é que prestamos nosso Compromisso (ou Juramento) sobre a Constituição de 1723, comumente referida como a Constituição de Anderson, autêntico e universal Livro da Lei igualmente para todos os maçons do planeta! E o fazemos não apenas por considerarmos a Maçonaria uma instituição globalmente adogmática, e por isso universal, mas por respeito à opinião individual e tolerância para com as convicções de cada um, jamais por falta de fé!

3) A não utilização da Corda de 81 nós e da Loja de Mesa: apenas a falta de conhecimento do Rito Moderno pode levar um Maçom a perpetrar tal acusação. O Rito Moderno utiliza a corda de 81 nós e a Loja de Mesa, reconhecendo neles costumes tradicionais e consolidados na Maçonaria.

4) A não utilização da Escada de Jacó: eis outra expressão da falta de conhecimento de nosso Rito. O que não utilizamos é a expressão Escada de Jacó, devido a sua conotação religiosa, portanto dogmática. O Rito, por seu respeito às convicções de cada um, adota qualquer outro termo, indiferentemente, para representar a hierarquia de graus.

5) A iniciação de Ateus: o Rito Moderno não questiona nenhum aspecto da fé pessoal de seus candidatos, pois entende tratar-se de assunto de foro íntimo, e mesmo o ateísmo é uma questão de fé pois não podemos, no estágio atual de nosso conhecimento, provar a verdade sobre o assunto.

O que interessa para o Rito Moderno é que seus candidatos sejam homens íntegros, honrados, respeitadores da Lei e da família, que sejam honestos e de caráter ilibado, gozando de bom conceito na sociedade (família, amigos, trabalho, etc.), possuindo liderança e meios de agir em benefício da evolução social e da mitigação da miséria humana.
Todos os documentos de admissão de candidatos do GOB possuem uma breve declaração dos - Princípios Gerais da Maçonaria - em que afirma:
- A Maçonaria é uma Instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista.

Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria.
Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever; da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade.

Seus fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Qualquer homem honesto que leia tal declaração e com ela não concorde, naturalmente não aceirará nosso convite de admissão.
Portanto, nada há no Rito Moderno que fira esse princípio basilar ou quaisquer outros constantes nas antigas Constituições ou em suas versões atuais! Tenhamos em mente que é a interpretação pessoal de teses, nem sempre maçônicas, que conduzem certos Irmãos a proferirem críticas sobre assunto que não dominam, inclusive o Rito Moderno e suas práticas tradicionais.

Seria o caso de questionarmos, aos demais ritos, todas as práticas enxertadas de outras tradições não maçônicas, e que, em nossos dias, por desconhecerem sua origem, nossos Irmãos praticam como se fosse a - mais pura - Maçonaria, sem que o seja, pois diversas delas foram adotadas em 1968, sob influência de Leadbeater e Adoum, de duvidoso conhecimento maçônico; portanto, adotaram costumes novos bem recentemente, mas isso é assunto para outro artigo.

A verdadeira e tradicional Maçonaria não adota nem impõe dogmas, professa princípios de aceitação universal! 

Não adota dogmas pois não possui nenhuma - revelação -, que entende ser tema apropriado para as religiões, às quais não condena, assim como não condena o pensamento dogmático.

Todo maçom é livre, inclusive para seguir qualquer religião, e não existe outra forma de ser a Maçonaria universal e representante de todas as civilizações.

O Rito Moderno é tradicionalmente reconhecido como o Rito dos Livres Pensadores, tem por princípio o respeito absoluto da liberdade de pensamento e consciência, proporcionando aos maçons o contínuo estudo em busca da verdade, mas reconhece que não detém a verdade, apenas motiva seus integrantes na sua busca incessante.

Ser contra aquilo que não conhece, não domina, não compreende, não é capaz de assimilar de alguma forma, é não apenas uma expressão dogmática e pueril, mas de arrogância, prepotência ou, pelo menos, uma confissão de limitada visão dos fatos.
 

Fonte:
Portal Maçônico-Samaúma


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