Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt (1749) e faleceu em Weimar (1832). É um lugar comum sempre repetido o dizer-se que Goethe é o maior homem de letras e o maior Maçom da Alemanha. As influências maçónicas na obra de Goethe mereceriam um estudo profundo. Aqui só podemos apresentar um ligeiro esboço do que foi a presença da Maçonaria nas extensas atividades deste extraordinário poeta, dramaturgo, romancista, cientista e homem de Estado.
Como romancista, foi um dos precursores do movimento romântico com Os Sofrimentos do Jovem Werther, tendo escrito também A Missão Teatral de Wilhelm Meister, Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, Os Anos de Viagem de Wilhelm Meister e As Afinidades Eletivas. Como dramaturgo, escreveu o Fausto I e o Fausto II, duas obras primas que se revelaram mais do que suficientes para inscrever definitivamente o seu nome no rol dos grandes vultos da Literatura Universal. Entre os seus escritos para o teatro merecem referência também O Grão-Copta, Ifigénia em Tauride, Egmont e Torquato Tasso. Como poeta, deixou obras primas como o Divã Ocidental e Oriental, que contribuiu para despertar o interesse da Europa pela literatura do Oriente Islâmico.
Legou-nos também epopeias como Hermann e Doroteia e inúmeros poemas líricos, elegias, epigramas e canções (Lieder). Como cientista, fez pesquisas em Botânica e Mineralogia, elaborou uma Teoria das Cores em que se manifesta em frontal oposição à Óptica newtoniana, e, no campo da Anatomia Humana, cabe-lhe a glória de ter descoberto o osso intermaxilar.
Como homem de Estado, serviu por longos anos o seu amigo, o Grão-Duque Carlos Augusto de Weimar, como conselheiro, ministro e assessor de assuntos culturais, artísticos e educacionais.
Nos seus textos autobiográficos, como Poesia e Verdade, A Campanha da França, O Cerco de Maiença e Viagens na Itália revela-se como uma testemunha privilegiada dos derradeiros anos do Ancien Régime, da Revolução Francesa e das Guerras Napoleónicas. As suas ideias artísticas, literárias e filosóficas ficaram registadas nas Conversações com o secretário e amigo Eckermann que as anotou cuidadosamente. Goethe foi submetido às provas da Iniciação Maçónica no dia 23 de Junho de 1780 na Loja “Amalia zu drei Rosen” (Amália das Três Rosas) de Weimar.
Desde então, a Maçonaria torna-se uma influência constante na sua produção literária, ao lado de outros temas iniciáticos que o fascinavam como a Cabala, a Alquimia e a Tradição Rosa-Cruz. É interessante lembrar que, por outro lado, considerava-se um paranormal, capaz de entrar em contato com o mundo invisível. Sabemos também que ele se fez iniciar, juntamente com o Grão-Duque Carlos Augusto, na Ordem da Estrita Observância Templária, e que participou também da controvertida sociedade secreta conhecida como Os Iluminados da Baviera.
Não foi ele exactamente um Maçom assíduo aos trabalhos da sua Oficina, mas esteve presente na mesma nos momentos decisivos da sua história e dedicou vários dos seus poemas à Maçonaria, como o que apresentamos abaixo, onde é evidente a influência da temática do Terceiro Grau:
Nostalgia Bem-Aventurada (Goethe)
Não o digas a ninguém, exceto aos sábios,
Pois a multidão está sempre pronta para ridicularizar.
Eu quero louvar o ser vivente
Que aspira morrer na chama.
No frescor das noites de amor,
Onde recebes e doas tua vida,
Um sentimento estranho te arrebata,
Quando brilha o archote imóvel.
Não mais permaneces encerrado
Na tenebrosa sombra;
E um desejo vivo te arrebata,
Rumo a mais elevados esponsais.
Nenhuma distância te faz hesitar,
Tu acorres a voar, fascinado pela chama.
E, finalmente, amante da luz,
Ó borboleta! – Eis que és consumida!
Enquanto não tiveres compreendido
Este “Morre e transforma-te!”,
Não passarás de um obscuro passante
Sobre a terra tenebrosa.
Pois a multidão está sempre pronta para ridicularizar.
Eu quero louvar o ser vivente
Que aspira morrer na chama.
No frescor das noites de amor,
Onde recebes e doas tua vida,
Um sentimento estranho te arrebata,
Quando brilha o archote imóvel.
Não mais permaneces encerrado
Na tenebrosa sombra;
E um desejo vivo te arrebata,
Rumo a mais elevados esponsais.
Nenhuma distância te faz hesitar,
Tu acorres a voar, fascinado pela chama.
E, finalmente, amante da luz,
Ó borboleta! – Eis que és consumida!
Enquanto não tiveres compreendido
Este “Morre e transforma-te!”,
Não passarás de um obscuro passante
Sobre a terra tenebrosa.
A primeira obra de Goethe onde está presente a influência maçónica é a comédia O Grão-Copta (1791) que aborda de maneira crítica e sarcástica a figura de José Balsamo, conhecido como Conde de Cagliostro, que percorreu as cortes da Europa nos fins do século XVIII, intitulando-se Grão-Mestre da Maçonaria Egípcia e envolvendo-se em grandes escândalos antes de terminar os seus dias numa masmorra da Inquisição Romana. Na peça vemos uma cena de iniciação ao Rito Egípcio de Cagliostro, em que o autor ridiculariza o charlatanismo e a superstição, e não, evidentemente, a Maçonaria séria.
Em 1784 começou a trabalhar no poema Geheimnisse (Os Mistérios) que restou inacabado. No fragmento que chegou até nós, vemos mescladas influências maçónicas e rosacrucianas. Nele é contada a história de um peregrino, o Irmão Marcos, que chega a um misterioso edifício erigido num vale perdido, na porta do qual se vê a misteriosa imagem de algumas Rosas enlaçadas numa Cruz. Quem terá enlaçado estas Rosas na Cruz? – indaga a si mesmo, intrigado com o mistério.
Marcos é então recepcionado por uma misteriosa confraria formada por doze cavaleiros reunidos em torno de um Superior de nome Humanus. Representam eles todas as religiões e o seu objetivo é perpetuar e dar a conhecer uma mensagem sagrada, pois cada religião detém uma parte da Verdade, que deve convergir com as demais e com elas se fundir. A ideia central do poema é a de que todas as religiões e filosofias confluem para um pequeno número de ideias comuns, ligadas ao conceito de Humanidade.
Em 1795 vemos Goethe tentando escrever uma sequência para a ópera maçónica de Mozart A Flauta Mágica.
Goethe via em Mozart, iniciado na Maçonaria quatro anos depois dele, uma espécie de irmão espiritual. O que o empolgou na ópera mozartiana foi justamente a sua mensagem iniciática de cunho maçónico. Não encontrando nenhum compositor suficientemente genial para compor uma música digna de ombrear com a de Mozart para a sua obra, Goethe desistiu de terminá-la.
Ainda em 1795 escreve Goethe o enigmático Märchen (O Conto), mais conhecido como O Conto da Serpente Verde, texto obscuro pleno de imagens alquímicas em que podemos discernir também passagens inspiradas pelo Ritual do Mestre Maçon.
O ciclo de romances centrado no personagem Wilhelm Meister é a obra goethiana em que mais patente se mostra a influência maçónica. O ciclo narra a trajectória do jovem Meister que deixa uma posição social confortável para se dedicar à sua grande paixão, o teatro. No início da obra é um rapaz imaturo, no fim um homem amadurecido e cheio de experiência e sabedoria. Podemos ver no nome do personagem uma alusão ao Mestre Maçom e interpretar o complicado enredo da série como uma alegoria da marcha do Aprendiz rumo à Maestria.
Nos momentos mais críticos da sua jornada, Wilhelm Meister é ajudado por uma organização misteriosa, a “Sociedade da Torre”, onde é fácil perceber uma discreta alusão à Maçonaria.
A Ordem Maçónica também está presente em As Afinidades Eletivas. No Fausto, a obra prima de Goethe onde um velho sábio é rejuvenescido através de um pacto com o diabo (Mefistófeles) e termina por ter a alma salva após uma longa caminhada em busca de algo que o faça se sentir realizado, existem também veladas alusões à Ordem Maçónica, ao lado de um simbolismo alquímico bastante evidente.
O seguinte pensamento goethiano praticamente resume a visão que o poeta tem da Maçonaria:
A NOSSA ASSOCIAÇÃO TEM O DEVER DE DESENVOLVER, NO EU DE CADA UM DOS SEUS MEMBROS, O SENTIMENTO RELIGIOSO, SEM NENHUMA REFERÊNCIA PARTICULAR
As últimas palavras de Goethe, proferidas instantes antes de fechar definitivamente os olhos para este mundo, no dia 22 de Março de 1832, foram: Mehr Licht! ou seja: “Mais Luz!” Uma breve frase plena de ressonâncias simbólicas associadas à Maçonaria.
Adaptado de Texto de Autor desconhecido
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