O símbolo que representa a ascensão gradual nos planos Intelectual, Moral e Espiritual
A história da humanidade é marcada por acontecimentos que, por sua importância, ecoaram ao longo dos tempos, influenciando na formação e desenvolvimento de povos e nações. A palavra de Deus revelada e registrada na Bíblia Sagrada durante séculos é, até hoje, uma fonte de sabedoria divina, a qual nos permite compreender, amar e respeitar o Criador acima de todas as coisas.
Figura 1A - Alegoria da Escada de Jacó |
Essa coletânea de livros sagrados possui temas que foram idealizados e organizados com o intuito de serem assimilados e de conceberem o núcleo de crenças e de doutrinas cristãs. E uma dessas temáticas que, devido sua importância e simbolismo adotado por diversas religiões, ordens e instituições, foi escolhida para ser o objetivo desta peça de arquitetura.
A Escada de Jacó: da origem ao simbolismo, conduz o irmão que ora aprecia esta peça a refletir que, ao longo dos tempos, o homem sempre buscou uma forma de se harmonizar e se conectar com DEUS, seja através de um representante, por intermédio de si mesmo ou por força do destino.
Este não é um processo exclusivo de determinada religião ou dogma, sendo necessário o constante estudo e desenvolvimento interior em busca da superioridade moral e intelectual, para que só então possamos alcançar esse azimute divino.
Nessa vertente, a Maçonaria, em determinado momento, traz esse símbolo para a Ordem que, desde então, passa a representar a ascensão gradual nos planos Intelectual, Moral e Espiritual.
É, portanto, o veículo que nos conduz à morada do Onipotente, com um longo caminho a percorrer que, ao final da senda, não só demonstra o plano "DELE" para com o homem, como o quanto o mesmo pode se desenvolver neste plano espiritual, influenciando os que estão à sua volta e deixando um legado a ser seguido em prol do bem da humanidade.
Então Jacó sonhou. Ele viu uma escada que ia da terra até o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (Gênesis 28:12) |
DESENVOLVIMENTO
Os filhos de Isaque e Rebeca
A história de Jacó é narrada em 25 capítulos do livro de Gênesis. Ele é filho gêmeo de Isaque e Rebeca, sendo um dos três principais patriarcas do povo judeu, ao lado de seu pai e de seu avô Abraão. A Bíblia conta que sua mãe não podia ter filhos e, por isso, seu pai orou a Deus, em favor dela. Ouvindo o SENHOR a oração de Isaque, os abençoou com gêmeos.
Figura 1B O livro do Gênesis revela a origem do homem e do mundo Imagem disponível em https://cleofas.com.br/quais-as-mensagens-do-livro-do-genesis/ |
Na barriga, eles duelavam e Rebeca se questionava o porquê daquilo, resolvendo consultar Deus sobre o fato. Ele lhe explicou que ela daria à luz a representantes de dois povos inimigos e que um seria dominado pelo outro.
O primeiro nasceu vermelho e peludo como um casaco de pele, fato este pelo qual lhe atribuíram o nome de Esaú.
O segundo filho veio ao mundo agarrado no calcanhar do irmão, por isso o nome Jacó, que tem significado hebraico de "ele agarrava" ou "ele agarra"
Os meninos cresceram e formaram personalidades as quais lhe diferiam e os tornavam preferidos,
Esaú pelo pai e Jacó pela mãe. Esaú, mesmo sendo o primogênito dos gêmeos, não seria o herdeiro, devido ao fato de que Deus já havia predestinado Jacó, antes do nascimento, na ocasião em que explicou à Rebeca o porquê do duelo dos dois durante a gestação.
Naquela época, o primogênito herdava o dobro das posses do pai em relação aos outros irmãos, além de privilégios sociais e religiosos.
E, um certo dia, quando Jacó cozinhava um ensopado, o mesmo se aproveitou de que o irmão que voltara cansado e com fome, lhe fazendo uma proposta de oferecer comida em troca do direito de progenitura, insistindo em um juramento feito em caráter irrevogável.
O pai, já idoso, cansado e cego, chamou Esaú e comunicou que transmitiria sua benção patriarcal, ocasião na qual lhe pediu que fosse caçar e preparasse seu prato favorito, pois logo após saborear, concederia sua benção.
A mãe, sabendo disso, instruiu Jacó para que ele se aproveitasse do momento para se beneficiar da cegueira do pai e tomar a benção para si, o que de fato ocorreu.
Quando Isaque e Esaú descobriram a farsa, nada mais poderia ser feito.
O irmão ficou enfurecido com Jacó, que pela segunda vez lhe enganava com suas atitudes traiçoeiras e, tendo em vista a situação do pai que estava à beira da morte, Esaú planejou a morte de Jacó após o luto.
A mãe, sabendo, avisa Jacó do plano mortal e o orienta ir à casa do tio Labão, irmão de Rebeca, que morava em Harã, até que passasse a ira de Esáu.
Rebeca convence Isaque a enviar o filho para Harã, com a história de que não queria ver o filho casado com uma heteia, ocasião na qual o pai o abençoa e então ele parte para Paddan - Harã.
Este momento marca a separação de sua família e dá início à segunda fase de sua vida. Então, ele havia conseguido tudo o que queria, não se importando com os meios utilizados-dos, desde que o fim fosse alcançado. Seus pecados e virtudes lhe acompanhavam e Deus utilizaria dessas circunstâncias para discipliná-lo e, ao mesmo tempo, abençoá-lo.
O sonho de Jacó
Jacó partiu de Berseba a caminho de Harã. Em determinado ponto, ele parou para pernoitar e descansar e, usando uma pedra como travesseiro, deitou-se. Sonhou com uma escada que era apoiada na terra, na qual o topo alcançava o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Ao lado dele estava o SENHOR, que assim o falou:
Fig 1–A escada por onde transitavam os anjos
Ao acordar, assustado pelo sonho que teve, disse assim: "De fato, o SENHOR Deus está neste lugar, e eu não sabia disso". Com medo e ainda confuso, disse: "Este lugar dá medo na gente. Aqui é a casa de Deus, aqui fica a porta do céu!" (Gênesis 28:16-17)
Jacó logo cedo se levantou, pegou a pedra a qual fez de travesseiro e a colocou de pé como um pilar, derramando azeite em homenagem a Deus e mudando o nome da cidade de Luz para Betel (significado bíblico: casa de Deus).
E decidiu seguir a Deus, prometendo que se ele o acompanhasse em sua viagem, lhe dando roupa e comida e lhe permitindo retornar são e salvo para casa, então faria do SENHOR, o seu Deus, firmando a promessa que aquele pilar seria a casa de D"Ele, e lhe entregaria a décima parte de tudo o que ganharia. (Gênesis 28:18-22)
Segundo Harwood (2014, p. 131), foi por intermédio desse sonho que Deus prometeu a Jacó sua proteção e confirmou sua promessa a Abraão de que o povo escolhido possuiria toda a Terra, do Rio Eufrates até o Sudoeste.
Ele também afirma que Jacó transformou em monumento a pedra que fez de travesseiro, não só como forma de homenagem, como também para marcar o lugar em que Deus esteve presente.
A Escada de Jacó na Maçonaria
De acordo com Carvalho (1996, p. 135), a inclusão da Escada de Jacó no Simbolismo Maçônico se deu por volta de 1776, quando foi pintado um Painel que pode ter tido influência do Irmão William Preston. Naquele mesmo ano, foi introduzido o estudo das Três Ordens Nobres da Arquitetura nos ensinamentos maçônicos.
Carvalho (1996, p. 135), relata que tudo leva a crer que o irmão Pintor aproveitou as Três Ordens, JÔNICA, DÓRICA e CORÍNTIA, e acrescentou também a Escada de Jacó, que há tempos já vinha sendo ensinada nas Lojas. Tal escada resumiria toda a estrutura do sonho de Jacó, sustentada em Fé, Esperança e Caridade, valores representados, respectivamente, por uma Cruz, uma Âncora e pelo Cálice com o Pão e a Mão Estendida, trilogia esta que faz parte da vida de qualquer ser humano, seja ele Maçom ou não.
O autor afirma ainda que a estilização da escada aparece ora com 17 degraus ou com 7 degraus, como consta de quase todas as interpretações esotéricas. O que não coincide com a realidade, tendo em vista que uma escada de 7 degraus seria desproporcional ao intervalo de distância entre céu e terra. É possível que em alguns painéis a escada tenha aparecido como um desenho ilustrativo sem significado quanto aos números de degraus, haja vista que no Painel de Dunckerley, a escada aparece com 3 degraus, alterando a ordem comum com 7 degraus, como era feito nas Sociedades de Mistérios. Carvalho (1996, p. 135),
O detalhe do Livro Sagrado estar ao pé da Escada não é gratuito.
Willian Preston em suas "Leituras" afirmava que a Escada de Jacó tinha uma das suas extremidades sobre a Bíblia e a outra no Céu. O céu aí é representado pela Estrela de 7 pontas dentro de um Círculo todo radiante. Carvalho (1996, p. 137)
Figura 2 Painel Moderno contendo a Escada de Jacó com 17 degraus |
Harwood (2014, p. 129) afirma que para uma escada de 7 degraus, cada degrau tem um significado, sendo que...
-o primeiro simboliza Justiça;
-o segundo, Igualdade;
-o terceiro, Bondade;
-o quarto, Boa-Fé;
-o quinto, Trabalho;
-o sexto, Paciência; e
-o sétimo, Inteligência.
Outra interpretação é de que os degraus representam....
Justiça, Caridade, Inocência, Doçura, Fé, Firmeza e Verdade.
Tomando como um todo, o simbolismo parece apontar para a ligação entre a fé e o céu, ou, como é declarado nos ensinamentos maçônicos, "Fé em Deus, Caridade, a Todos os Homens e Esperança na Imortalidade".
Para Carvalho (1996, p. 137), Miguel André de Ransay, defensor dos Stwards, traz esse simbolismo para o Rito Escocês, transformando em Símbolo Maçônico a Escada Mística dos Mistérios Mitráicos.
E anteriormente a Ransay, essa Escada já tinha uma ligação com a História Política da Escócia, na tentativa de restauração do poder na Inglaterra, primeiro com Santiago II, depois Carlos e Ransay que levam para a Maçonaria um Símbolo que era da Restauração do Trono inglês, pelos Stuwards.
De acordo com o autor, a Escada de Jacó no Rito Escocês está presente no grau 30, o de Cavaleiro Kadosh, tendo um simbolismo muito importante.
Carvalho (1996, p. 137) defende a ideia de que na interpretação de muitos Maçons, a Escada de Jacó significa uma progressão dentro da Maçonaria e que cada elevação na Ordem representaria que o Irmão avançou mais um degrau nesta Escada.
Ismail (2011) defende a ideia de que a Ordem Maçônica é um sistema de progresso moral, intelectual, filosófico e espiritual baseado em alegorias, símbolos e dramas transmitidos por meio de rituais, compreendendo graus que, quando organizados de forma sequencial, compõem um Rito. Isso leva ao entendimento de que, ao ascender aos degraus da Ordem, o maçom vai progredindo na senda maçonica.
E devido a esse sistema de progresso, a trajetória maçônica é ilustrada como uma escada, pelo fato de a escada estar relacionada ao aperfeiçoamento do ser humano.
Tal sistema de progresso é comumente identificado na Maçonaria como a Escada de Jacó.
O entendimento concebido pelo Ritual de Aprendiz sobre o 1º Grau do Simbolismo Maçônico é de que o Aprendiz, nesta fase, se dedica a entender os princípios fundamentais da Ordem.
Nesse sentido, o aperfeiçoamento interior se alicerça na busca filosófica, pelo estudo da doutrina, da simbologia, das alegorias e das instruções.
A partir dessa premissa, ao se observar um Painel de Aprendiz do REAA, percebesse que não há a presença da Escada de Jacó, como na figura 2.
Entretanto, isso não significa a ausência da influência da mesma no Rito, tendo em vista que existem degraus que representam essa ascensão de maneira implícita. Cabe, desta forma, ao Neófito a busca do conhecimento, o que muitas vezes dependerá não só de seu estudo como também de seu discernimento to sobre os Augustos Mistérios, conduzindo-lhe desta forma ao desenvolvimento da gnose.
Junior (2007, p. 51), nos leva a um entendimento sobre o simbolismo da Escada, que está representada no Templo.
A sua estrutura, em forma de quadrilongo e cujo acesso se dá por meio de escadas, possui uma parte chamada de Ocidente, de onde se recebe o conhecimento, e outra denominada Oriente, de onde provem a Sabedoria e se localizam o Venerável, o Orador, o Secretário e demais autoridades.
O autor afirma que para se chegar ao Oriente, a então Sabedoria, é necessário percorrer alguns degraus, que tem significados ligados às virtudes do homem.
Os quatro primeiros degraus representam Força, Trabalho, Ciência e Virtude, e os degraus que dão acesso ao Trono de Salomão são representados pela Pureza, Luz e Verdade. Junior (2007, p. 51)
Dentre essas virtudes, Junior (2007, p. 84), enaltece as três virtudes teologais, a Fé, a Esperança e Caridade.
Segundo o autor, estas devem sempre ornamentar o Espírito e o Coração dos Seres Humanos, principalmente do Maçom, sempre norteando-o no caminho que conduz à Fé no GADU, com Esperança na Moral e Caridade aos semelhantes.
Junior (2007, p. 202) reflete sobre o simbolismo e o significado dessas virtudes e sua influência na senda Maçônica, principalmente para o Aprendiz que inicia seu primeiro passo de ascensão na ordem.
É no simbolismo deste Grau que reside o objetivo principal de união de toda a humanidade.
Por este fato, o conhecimento desses degraus possui extrema importância e, consequentemente, o significado das correspondentes virtudes contribui para que o Aprendiz possa alcançar um nível de entendimento que o faça progredir não só dentro da Ordem, como também possa torná-lo um instrumento de contribuição para o progresso da Sociedade e da Humanidade.
CONCLUSÃO
A Escada corresponde a um processo pelo qual o indivíduo progride a fim de cumprir um determinado objetivo. E o simbolismo da Escada de Jacó nos leva ao entendimento de que o crescimento ocorre por etapas, na superação gradativa dos desafios, representados pelos degraus.
O homem tem o livre arbítrio para nortear sua vida da maneira que lhe convém, e muitos escolhem caminhos tortuosos para esse fim, colhendo assim o fruto amargo e o dissabor de uma vida conduzida de maneira não condizente à vontade divina.
Nesse sentido, a história de Jacó demonstra que, mesmo tendo condutas e escolhendo caminhos que contrariariam o SENHOR, Deus não desistiu de seu filho e lhe mostrou um caminho a seguir por intermédio do simbolismo da escada.
Essa história é um exemplo de que DEUS está sempre conosco, mesmo nos momentos mais difíceis, exigindo de nós nesses momentos perseverança, para que possamos avançar nos degraus da vida e alcançar nossos propósitos.
Trata-se de uma cronologia que nos remonta a Cristo que, com seu sacrifício na Cruz, viveu um processo que culminou na salvação da humanidade e que se constituiu em exemplo de abnegação por todas as gerações.
Tais situações nos levam a refletir sobre como a Fé, a Esperança e a Caridade são capazes de fortalecer o homem e de fazê-lo ultrapassar as provações desse Plano.
O Aprendiz, ora no primeiro degrau da Escada de Jacó, terá de ter em mente que o caminho de progresso escolhido por ele, por meio da Ordem Maçônica, exigirá esforços. Esforços estes que demandarão sacrifícios que conduzirão à prática das virtudes do homem, em prol do seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social.
Em face a todo o exposto pode-se deduzir que a Maçonaria é um caminho pelo qual semeamos com nossa Fé as nossas melhores sementes, usamos como adubo a nossa Esperança e fazemos dos nossos frutos a Caridade.
Ao empregar as virtudes como o fertilizante para nossa ascensão, poderemos conquistar o caminho que nos leva ao GADU e deixarmos um legado não só para os que nos são caros, mas para toda a humanidade.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri, SP. Editora Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.
CARVALHO, Francisco de Assis. Símbolos Maçônicos e suas origens. Cadernos de Estudos Maçônicos nº 8. Editora "A Trolha Londrina, PR, 1990.
D" ELIA JÚNIOR, Raymundo. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz. Editora Madras, São Paulo, SP, 2007.
HARWOOD, Jeremy. Maçonaria: Desvendando os Mistérios Milenares da Fraternidade: Rituais, Códigos, Sinais e Símbolos Maçônicos. Editora Madras, 1ª ed. São Paulo, SP, 2014.
ISMAIL, Kennyo. Vai de Escada ou de Elevador? No Esquadro, 2011. Disponível em:
ZOCCOLI, Hiran Luiz. Maçonaria Esotérica (fundamentos) 1º Grau Vol 1. Editora Curitiba, PR, 1991.
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