A Marcha do Aprendiz

 

Introdução

Cada um dos três graus simbólicos tem sua marcha particular. 

A marcha, acompanhada dos sinais especiais em cada degrau, é obrigatória para todos os maçons que entram no templo quando os trabalhos são abertos. 

O significado maçônico da marcha corresponde à técnica adotada nos três graus simbólicos para o candidato a perfeição caminhar do ocidente para o oriente isto é, das trevas para a luz.

Desenvolvimento

A marcha do aprendiz é composta de três passos iguais e retilíneos, formando uma esquadrilha, começando com o pé esquerdo e apoiado pelo direito, porque ele foi colocado no "caminho certo", porque foi "iniciado".

O esquadro representa fundamentalmente a faculdade do juízo que nos permite comprovar a retidão ou a sua falta, ou seja, a forma octogonal das seis faces que tratamos de lapidar a pedra bruta, assim como a de suas arestas e dos oito ângulos triedros nos quais elas se unem, como o objetivo de fazer com que a pedra se torne retangular, como deve ser toda pedra destinada a formar parte de um edifício. É por intermédio do esquadro que nossos esforços para realizar o ideal ao qual nos propusemos podem ser constantemente comprovados e retificados. Isto é feito de maneira que estejam realmente encaminhados na direção do ideal e que a cada passo do pé esquerdo (passividade, inteligência, pensamento), deve corresponder um igual passo do pé direito (atividade, vontade, ação) em esquadro, ou seja, em acordo perfeito com o primeiro.

Reportando-se ao zodíaco os seus três passos correspondem aos três signos, carneiro, touro e gêmeos. No primeiro passo correspondente a o signo do carneiro que está sob a influência de marte evoca a idéia de "luta". 

Touro, que inspira o segundo passo, exprime o trabalho perseverante e desinteressado. 

Quanto gêmeos, que está sob a influência de mercúrio, é considerado signo da fraternidade. 

Se nos reportarmos aos elementos, o carneiro é o signo do fogo, touro o signo da terra e gêmeos o signo do ar, indicando o primeiro passo o ardor, o segundo a concentração e o terceiro a inteligência.

Os três passos de sua marcha, os três anos do aprendiz e ainda lembrando as três viagens da iniciação, são evidentemente o símbolo do tríplice período que marcará as etapas de seu estudo e de seu progresso. Estes três períodos referem-se particularmente às três artes fundamentais (a gramática, a lógica e a retórica) a cujo estudo deve aplicar-se, ainda que deva contentar-se com dominar unicamente a primeira, por ser a perfeição da segunda e da terceira, respectivamente, o objeto do domínio dos companheiros e mestres.

A primeira entre as sete "artes liberais" - a gramática - refere-se ao conhecimento das letras (em grego gramática: "sinais, caracteres ou letras"), isto é, ao conhecimento dos princípios ou elementos simbólicos com os quais é representada a verdade. 

Neste estudo é onde principalmente deve ser demonstrada a capacidade do aprendiz, que ainda não sabe ler nem escrever a linguagem da Verdade, senão que se exercita tanto num como no outro, soletrando ou estudando uma por uma as letras ou princípios elementares nos quais pode resumir-se e nos quais pode ser traçada a origem de todas as coisas.

Há também, evidente referência dos três passos do aprendiz ao conhecimento dos três primeiros "números" ou princípios matemáticos do universo: 

- o número um, ou seja, a unidade do todo; 

- o número dois, ou seja, a dualidade da manifestação, e 

- o número três, ou seja, o ternário da perfeição. 

Este conhecimento filosófico dos três números é de verdadeira e fundamental importância, enquanto compendia e sintetiza em si todo o conhecimento relativo ao mistério supremo das coisas. 

Pitágoras o expressou admiravelmente nas palavras

A unidade é a lei de Deus (ou seja, do primeiro princípio, da causa imanente e pré-antinômica), o número (nascido da multiplicação da unidade e por meio da dualidade) é a lei do universo, a evolução (expressão da lei do ternário) é a lei da natureza”. 

Ou, segundo as palavras de Ramaseum de Tebas:

“tudo está contido e se conserve no um, tudo se modifica e se transforma por três: a mônada criou a díade, a díade produziu a tríade, e a tríade brilha no universo inteiro”.

Cabe aqui citar o axioma hermético da "câmara de reflexões": 

“visita interiora terrae: retificando invenies occultum lapidem – VITRIOL”.

Devemos adentrar a realidade do próprio mundo objetivo, e não contentar-nos com seu estudo ou exame puramente exterior, retificando constantemente nossa visão e os esforços de nossa inteligência como demonstra a cuidadosa retidão dos três passos da marcha do Aprendiz atingiremos o conhecimento da verdade que nos liberta da ilusão.

Conclusão

Concluímos que para podermos atingir a perfeição e podermos caminhar do Ocidente para o Oriente devemos primeiramente ser iniciados, dando assim o primeiro passo na busca do conhecimento.

Com base na simbologia maçônica da marcha na retidão do esquadro e no trabalho perseverante possamos cada vez mais nos desbastar a fim de nos tornarmos uma pedra polida, e que todo o símbolo, todo o rito (que são os símbolos em ação) perdem o seu valor e não passam de "afetação" desde que deixam de ser respeitados exatamente como deveriam ser.


Bibliografia

Ritual do Aprendiz Maçom, GOB, 2001.

A Simbólica Maçônica, de Jules Boucher, Ed. Pensamento, São Paulo, 14º ed., 2000.

Manual do Aprendiz Maçom: Introdução ao estudo da Ordem e da Doutrina Maçônica, de Aldo Lavagnini       

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