Francis Bacon e a crítica aos ídolos

 

Delvanir Maurílio

Em meados dos séculos XVI e XVII no reinado da Rainha Elizabeth I, a Inglaterra passava por um período de mineração e industrialização. E neste mesmo período nascia um dos mais célebres filósofos ingleses, Francis Bacon. 

Tendo exercido um significativo papel na vida política daquela sociedade, conseguiu o título de conselheiro da Coroa.  

Mas também eram muitos os inimigos que o cercavam, e quando lhe foi tomado o poder em virtude de acusações políticas, seu trabalho intelectual se tornou mais intenso.  

Dedicando-se a suas experiências, no inverno de 1626 recheava uma galinha com neve para saber quanto tempo o frio conservaria a carne, mas não resistiu o rigoroso frio e acabou falecendo com bronquite.

Em sua teoria do conhecimento, Francis Bacon propõe um novo método indutivo, o qual ofereceu uma profunda contribuição aos métodos de investigação da natureza.


Alem das contundentes críticas aos filósofos clássicos, rompeu com uma tradição filosófica de mais de dois mil anos e com a religião da época.  

Acreditava numa filosofia que favorecesse a humanidade com seus métodos experimentais, era totalmente a favor de ciência moderna que libertasse o homem de seus ídolos.

Bacon denominou ídolos as falsas noções que bloqueiam a mente e invadem o intelecto humano impossibilitando o acesso à verdade e gera dificuldades em relação às ciências, quando não os combatemos. Em sua teoria, os ídolos se classificam em quatro categorias: ídolos da tribo, ídolos da caverna, ídolos da foro e ídolos do teatro.


Os ídolos da tribo são aqueles que se apoderam da própria natureza humana e não levam em conta o aprendizado sobre o universo, produzem uma certa espécie de superstição. 

Podemos dizer que ele tem sua origem nas ações humanas, nas limitações, preconceitos, sentimentos, incompetência. 

Um exemplo é a falsa ciência da cabala de sua época que imaginava uma realidade não inexistente numérica e os alquimistas que pensavam na atividade da natureza como na atividade humana, encontrando amor e ódio pelos fenômenos.  

Ou também eles podem ser como um espelho que capta uma imagem de raio e a transmite de outra forma.

Os ídolos da caverna fazem uma alusão à alegoria da caverna de Platão. 

Para o autor,  cada um tem a sua própria caverna, tem os seu jeito próprio de interpretar a natureza, todos os indivíduos vêem sua própria luz por ângulos diferentes e cometem erros diversos.  

Com isso a luz da natureza entra em choque com a luz humana, pois cada um tem os seus ídolos da educação, do esporte, da cultura, da autoridade e daqueles que honra e admira a diversidade das falsas verdades que vão ocupando o intelecto humano.

Os ídolos do foro ou do mercado podem ser um dos mais incômodos, pois podem invadir o intelecto através das palavras. São aqueles erros encontrados nas palavras ou nos discursos humanos quando o diálogo sai ao contrário ou a palavra é distorcida pelos homens “sábios” que usam de suas oratórias para enfatizar o discurso.  

Segundo Bacon, “as palavras cometem uma grande violência ao intelecto e perturbam os raciocínios, arrastando os homens a inumeráveis controvérsias e vãs considerações” (REALE, 1990, p.339).

Os ídolos do teatro são aquelas teorias que não têm harmonia com a natureza humana ou obras filosóficas que se consagraram figurando mundos fictícios, como aquelas que encontramos na filosofia antiga ou nas tradições religiosas.  

Bacon acusa Aristóteles de ter sido um dos piores sofistas e Platão de ter confundido filosofia com teologia.

Para expulsá-los é preciso ter conhecimento dos mesmos a fim de expurgá-los da mente, além de conhecer um novo método. É a verdadeira indução o método proposto, pelo qual o homem poderia construir uma nova ciência capaz de interpretar corretamente a natureza e realizar os anseios do espírito moderno.


Referências

BACON, Francis. Novum Organum. 2.ed. Trad. José Aloísio Reis de Andrade. São Paulo: Abril cultural, 1979. (Os Pensadores)

REALE, Geovani. Historia da Filosofia. vol.II. São Paulo: Paulinas, 1990.

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