CONSEQUÊNCIAS DA INICIAÇÃO - A RENDIÇÃO E ENTREGA DO "EU"

O homem Celeste deverá crescer enquanto o homem terrestre tem que diminuir!
Este processo se realiza pelo auto-esvaziamento, pela auto-negação, pela auto-destruição e pela auto-renúncia.
Até que ocorra a anulação total do ser humano dialético no peregrino.

A entrega do "eu" se realiza como um penitente, como um monge mendicante, como um precursor do caminho.

Pois é quando João consegue endireitar e liberar as veredas ao verdadeiro homem Divino no seu interior.

Então, poderá repetir o que disse João Batista: “Ele deve crescer e eu devo diminuir”.

Este processo só pode ser realizado quando o velho homem “coloca a sua cabeça no cepo”.

Porque é dessa rendição e entrega do "eu" que nasce o homem Celeste.

Não é o “eu” que recebe o homem Celeste ou o homem Celeste que “me” recebe.
Mas é pelo meu total desaparecimento que “eu” abro o caminho ao filho de Deus.

Isso, naturalmente, representa um processo que precisa ser cumprido.

À medida que o ser natural desaparece o Outro Ser Celeste poderá despertar para a vida.

Por isso, muitos perigos espreitam então o peregrino nesse caminho.

Ele corre o perigo de tomar os frutos do velho Adão pelos do novo Adão e querer deles cuidar como se fossem dele.

A velha natureza é astuciosa e o homem aferra-se de bom grado àquilo que ele tanto gostaria de conservar.

É preciso ser muito prudente nessa realização santa.

Pode acontecer que aqueles que evitamos como prostitutas e publicanos nos passem no caminho da Libertação.

Porque os homens são escravos da lei!
Todos sabem exatamente o que é ou não é permitido!
Todos sabem aconselhar uns aos outros muito bem!
Todos têm à sua disposição um conhecimento de primeira mão e a sua clarividência pessoal.

Porém, tudo isso é nada ou pelo menos é inadequado ao processo.
O alcance espiritual do estado dialético do homem natural é insuficiente.

O conhecimento, a visão e os poderes humanos da natureza são muito limitados.
O que foi posto em evidência nos relatos dos Evangelhos:

Em todos os instantes psicológicos, quando é chegado o momento crítico, quando se trata de “tudo ou nada”, os discípulos de Jesus falham na sua missão de fidelidade.
O que o Evangelho quer nos fazer entender é que a sabedoria dos homens e a sua razão são insignificantes.
Porque se trata das exigências relativas à realidade do homem Celeste.

CULTURA ESPIRITUAL
João Batista quando se encontrava na prisão, à espera da execução, enviou uma mensagem a Jesus com a pergunta:
“És tu aquele que deve vir ou devemos esperar por outro?”
Não se trata aqui de dúvida e nem de vacilação.

O objetivo é compreender que a soma da cultura espiritual da natureza é insuficiente quando se refere ao Outro Ser.
Pois em virtude do seu estado inferior, os homens caminham em dilemas e nada pode mudar essa situação.
Nem mesmo um suposto desenvolvimento esotérico.
“A soma de todo o saber é que nada sabemos”, como disse Cristão Rosacruz.

Mas então a sua sabedoria, as reformas, a soma das experiências e as aspirações à Luz, seria tudo inútil e supérfluo?

De modo algum, pois logo que a Força Espiritual da Reminiscência (como uma fraca projeção do ser Celeste no ser inferior) seja inflamada na consciência do homem e o impulsione, ele não terá mais sossego e não poderá se abster da procura.
Ele passará então a perseguir com zelo e sabedoria, a força e a beleza da terra que não existe aqui.
Nesse momento, o Fogo Divino lhe abre sulcos na carne, aflige-o com intensidade e ele tenta responder ao seu impulso.
A cultura surge na sua vida natural e ele restringe cada vez mais o que é da natureza animal.
Ele acredita ser um herói que avança para o assalto ao Olimpo dos deuses.
Mas depois vem uma pausa na sua vida.

Pois as dificuldades o sufocam e o círculo da vida se fecha em torno dele.
O peregrino se converte assim em um “habitante da terra limítrofe”, um habitante de Éfeso.
Em busca da Terra Prometida que não existe aqui.

MURALHA E TRANSMUTAÇÃO
O homem natural não pode ultrapassar a linha divisória desta terceira dimensão de vida que é como um muro.
Ele pensa que é só um “círculo de giz” e salta, mas é repelido pelo campo magnético do planeta.

Finalmente, o sofrimento o purifica e fortifica para o pleno sacrifício do egoísmo e da abnegação pessoal.
Fazendo com que ele enxergue o limite estrutural da sua vida natural.
Com isso, ele consegue perder a hipocrisia e se tornar humilde para ser "inflamado em Deus" nesta natureza.
Depois disso, ele irá depositar o seu ser-eu no sepulcro do tempo e se "aniquilar em Jesus, o Senhor".
Para permitir que o verdadeiro homem Celeste possa "ressuscitar do sepulcro com o Espírito Santo" e se elevar à Glória.

O que recebeu de Deus e construiu com o ser natural, o homem enterra com o seu “eu” no sepulcro da natureza.
Para que crescendo no Espírito Santo o peregrino chegue à Transmutação Libertadora da personalidade.

Fonte: Capítulo 12, do Livro "Dei Gloria Intacta 
Imagem: Arquivo: Efésio Santo - Renascimento do homem de Deus.

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